2025/12/01

As Bibliotecas e a História - A Biblioteca de Ebla - Tell Mardikh (atual, Síria) - Parte 3

 

Tabuinhas de argila – uma escrita para a posteridade

  

 

«Na Biblioteca de Hatusa – e antes em Nipur, a sul da Mesopotâmia – apareceram tabuinhas que contêm catálogos das coleções. Nelas, como ainda não era costume dar títulos aos livros, cada obra identificava-se pela primeira linha ou por um breve resumo do conteúdo. Para evitar a dispersão dos textos, que eram muito extensos, mencionava-se o número de tabuinhas que os formava. Às vezes havia o nome do autor e outros dados acessórios. A existência desses inventários demonstra que, no século XIII a.C., as bibliotecas começavam a crescer e os leitores já não as podiam englobar com uma simples olhadela para as tabuinhas na estante.»

(Irene Vallejo, pág. 69)

 

A sobrevivência de milhares de tabuinhas providenciou aos especialistas e estudiosos uma variedade de fontes históricas, fruto do acaso arqueológico e da preferência por um certo tipo de ruínas. Os antigos arquivos e bibliotecas que chegaram ao presente estavam abandonados nos locais junto aos edifícios destruídos, como os de Ebla ou de Nuzi.

O escritor, ensaísta, editor e tradutor Alberto Manguel, antigo diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, que tem dedicado parte substancial do seu tempo ao estudo da origem e da história da escrita e da leitura, referindo-se, de forma precisa e eloquente, a páginas 235 da já referida obra Uma História da Leitura, à importância da descoberta das tabuinhas de argila mesopotâmicas, diz o seguinte: «É possível que o inventor das primeiras tabuinhas gravadas se tenha apercebido da vantagem daqueles pedaços de barro sobre a memória guardada no cérebro: primeiro, a quantidade de dados que se podiam conservar nas tabuinhas era ilimitada – podiam-se produzir tabuinhas ad infinitum, enquanto a capacidade de memória do cérebro é limitada; segundo, as tabuinhas tornavam inútil a presença do detentor da memória. De repente, um objeto imaterial – um número, uma informação, um pensamento, uma ordem – era acessível sem a presença física do mensageiro; como por magia, podíamos imaginá-lo, anotá-lo e transmiti-lo através do espaço e do tempo. Desde os primeiros vestígios da civilização pré-histórica, a sociedade humana tinha tentado ultrapassar os obstáculos da geografia, o caráter inevitável da morte, a erosão pelo oblívio.»

 


 

Ebla – conquista e destruição

Porém, o esplendor de Ebla acabou quando sua história se cruzou com a ascensão da Assíria e de Babilónia como grandes potências militares e expansionistas. Ebla, a posição geográfica que ocupava e as riquezas que tinha acumulado eram alvo de cobiça. O setor mais desenvolvido da economia eblaíta era o comércio. Ebla surge no único vale que atravessa os montes entre a planura do norte da Síria e a costa mediterrânica, numa excelente posição estratégica para controlar o comércio da madeira para a Mesopotâmia e o dos metais para a Anatólia. Ebla engloba toda a Síria e o alto vale do Eufrates. Praticamente, todas as cidades encontravam-se em posição estratégica de domínio do comércio e economia. Instrumento administrativo e comunicativo avançado é a escrita eblaíta, criada a partir da cuneiforme, elaborada pelos sumérios milénios antes. A rivalidade comercial com outras grandes cidades da região (ex.: Mari e Palmira) era, porém, permanente. No ano de 2550 a.C., o reino de Akkad conquista Mari e destrói Ebla. Um outro povo, os Amurreus, conquistarão a região e permitirão a Ebla voltar à ribalta após a catástrofe. Contudo, todos os edifícios da Ebla dos Amorreus datando de 2500 a.C. foram destruídos por volta de 1600 a.C. pelos hititas descidos da Anatólia.

 

«A escrita cuneiforme sobreviveu efetivamente aos impérios da Suméria, de Acádia e Assíria, conservando a literatura de 15 línguas e cobrindo uma região ocupada atualmente pelo Iraque, pelo Irão ocidental e pela Síria. Não somos hoje capazes de ler as tabuinhas pictográficas como língua, porque desconhecemos o valor fonético dos seus signos; conseguimos apenas ‘reconhecer’ uma cabra, uma ovelha. Mas os linguistas conseguiram reconstituir a pronúncia dos textos sumérios e acadianos mais tardios e podemos, ainda que de modo rudimentar, pronunciar sons gravados há milhares de anos.»

(Alberto Manguel, pág. 239)

 

As pesquisas arqueológicas têm mostrado que Ebla possuía a estrutura de uma cidade monumental, com fortificações maciças rodeadas por grandes baluartes de terra. Segundo um antigo poema, Ebla foi “despedaçada como um vaso de cerâmica”. Em pouco tempo desapareceu da História. Um documento escrito por cruzados que marcharam contra Jerusalém, em 1098, menciona o local em que se situava Ebla, referindo-se a ele como “remoto posto avançado no país, chamado Mardikh”. Ebla havia sido praticamente esquecida. Depois dos hititas, Ebla vai cair no esquecimento e só irá despertar, no século XX, quando descoberta pela equipa do arqueólogo italiano Paolo Matthiae. A descoberta de Ebla pode considerar-se como a mais importante descoberta arqueológica da segunda metade do século XX, não só no que diz respeito à Síria, mas a todo o Médio Oriente moderno.

JMG

 

 

REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA:

(BIBLIOGRAFIA, WEBGRAFIA e ILUSTRAÇÕES)

 

AL-RASHID, Moudhy (2025). A Mesopotâmia antiga e o renascimento da história. Lisboa: Bertrand.

BARBIER, Frédéric (2018). De Alexandria às bibliotecas virtuais. São Paulo: EDUSP.

CAMPBELL, James W. P. (2020). The library: a world history. London: Thames & Hudson.

CASSON, Lionel (2001). Libraries in the ancient world. New Haven; London: Yale University Press.

MANGUEL, Alberto (2020). Uma história da leitura. Lisboa: Tinta-da-China.

McMURTRIE, Douglas C. (1997). O livro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

PETTEGREE, Andrew; WEDUWEN, Arthur der (2021). The library: a fragile history: London: Profile Books.

SICILIANO, Thalles (2016). As bibliotecas da antiguidade. [em linha]. [Consult. 29.04.2025]. Disponível: https://frontispicio.wordpress.com/2016/03/07/as-bibliotecas-da-antiguidade/

SOTO, Berta Erill (2023). De Alejandría a Pérgamo: 10 de las bibliotecas más importantes del mundo antíguo. [em linha]. [Consult. 25.05.2025]. Disponível:

https://historia.nationalgeographic.com.es/a/bibliotecas-mundo-antiguo_20373

THOMPSON, James Westfall (1940). Ancient libraries. Berkeley: University of California Press.

VALLEJO, Irene (2020). O infinito num junco. Lisboa: Bertrand Editora.

WIKIPEDIA (2024). Ebla. [em linha]. [Consult. 28.04.2025]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ebla


2025/11/27

Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais – Capítulo I – Portugal e as Organizações Internacionais – 2. A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos


(Imagem da Escola Protótipo de Cheshunt)

 


I – Portugal e as Organizações Internacionais

2 - A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos

 

Em 1961 foi ratificada a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE, antiga OECE) que tinha como objetivo, entre outros, a expansão económica, o emprego e a qualidade de vida dos países membros, onde se incluía Portugal.

Apesar de não ter existido uma cooperação significativa ao nível das políticas educativas, alguns países, como foi o caso de Inglaterra, estudaram e ampliaram os seus programas de construções escolares. Devido à destruição da maior parte das escolas durante a Segunda Guerra, desenvolveu-se uma experiência inovadora no condado de Hertfordshire em que o County Council definiu um prazo de 5 anos para a construção de 50 escolas.

Através de uma equipa multidisciplinar liderada pelo Arquiteto Charles Aslin, impuseram-se 3 princípios que rejeitavam os sistemas de pré-fabricação: a consciência de que cada escola é um caso específico; a noção de que os sistemas de construção têm de ser estudados para planear diferentes espaços consoante as necessidades do ensino; e a necessidade dos elementos da construção (paredes, estrutura, etc.) se combinarem entre si de forma flexível. Também se deu especial atenção à técnica de análise e planeamento de custos que permitiram a construção de escolas com muita qualidade. O primeiro edifício protótipo foi feito em 1946 em Cheshunt.

Portugal continuava à margem deste tipo de inovações e em 1950 a taxa de analfabetismo voltou a subir. Nos finais dos anos 50, o Ministro da Educação, Francisco Leite Pinto encarregou o Centro de Estudos de Estatística do Instituto de Alta de Cultura de realizar um relatório que contivesse a análise quantitativa da população escolar nos últimos 10 anos; as perspetivas de extrapolação e as futuras necessidades de edifícios, materiais e pessoal docente; a previsão dos custos, bem como as estimativas de financiamento global e hipóteses de auxílio estrangeiro para formação de mão de obra especializada; e ainda a formação de professores .

Portugal foi incluído no Projeto Regional do Mediterrâneo da OECE e a sua participação seria financiada através de verbas concedidas ao Centro de Estudos de Estatística Económica. Foi iniciado o estudo de normas de espaço, habitabilidade e conforto por parte do Grupo de Trabalho sobre Construções Escolares, que se viria a concretizar na Escola Piloto de Mem Martins.

 

 MJS

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais. Lisboa, Secretaria Geral do Ministério da Educação, 1997.

  

2025/11/24

Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais – Capítulo I – Portugal e as Organizações Internacionais – 1. A União Internacional dos Arquitetos


(Imagens de escolas modelo)

 

I – Portugal e as Organizações Internacionais

1. A União Internacional dos Arquitetos

 

No primeiro capítulo, as autoras referem a situação de Portugal após o final da Segunda Guerra Mundial: persistia a mesma organização do espaço escolar e ministrava-se o mínimo de conhecimentos.

Em 1948 fundava-se a União Internacional dos Arquitetos (UIA), resultado da fusão entre a Reunião Internacional dos Arquitetos (RIA) e o Comité Permanente Internacional de Arquitetura (CPIA), com o objetivo de promover o contato entre arquitetos de todo o mundo. Portugal teve uma Secção Portuguesa (SPUIA) da União Internacional de Arquitetos.

Em 1952 a UIA apresentou à UNESCO um relatório preliminar da futura Carta das Construções Escolares, um documento que iria definir os requisitos mínimos para a conceção e execução das escolas. Neste documento são abordados vários temas sobre a falta de escolas, a saber:

- a escassez de escolas devia-se ao alargamento do ensino obrigatório, ao aumento populacional, às deslocações da população, à degradação dos edifícios escolares existentes e à guerra;

- para fazer face à escassez de escolas seria necessário ter em consideração a disponibilidade financeira do país, os materiais e a mão de obra disponíveis, a capacidade industrial, os métodos de construção e produção, bem como as condições climáticas e topográficas;

- apesar de não existirem soluções universais seria importante analisar a política educativa do país, realizar um estudo sobre as necessidades de escolas e preparar um plano de ação tendo em conta estes dois itens;

- era recomendada uma colaboração nacional e internacional entre arquitetos, pedagogos e outros especialistas que poderiam recomendar as áreas mínimas de construção.


(Imagens e plantas dos tipos de escolas propostas pelo Ministério de Instrução Pública)


Em 1959 foi ratificada a Carta das Construções Escolares que só foi divulgada em Portugal em 1965, traduzida pelo Engenheiro Macêdo Gonçalves. Foram aqui enunciados os quatro princípios fundamentais para a edificação das escolas:

1 - Avaliação das necessidades:

As escolas deveriam ser construídas tendo em conta os estudos demográficos e a distribuição populacional. As escolas deveriam estar integradas em planos de urbanização e a aquisição dos terrenos seria feita de raiz;

2 - Distribuição das escolas:

Deve ter-se em conta o número de alunos e a concentração por grupos escolares. Nos meios rurais, a distância que os alunos têm de percorrer é um dos fatores a ter em consideração, bem como a tranquilidade e a salubridade do terreno, ou seja, a orientação em relação aos elementos da natureza e proteção contra elementos nocivos como poluição, por exemplo. Os acessos aos edifícios escolares devem reduzir os perigos do tráfego. A área base de uma escola seria de 20 m2 por aluno, sem contar com as instalações desportivas.

3 - A escola:

As escolas devem ser construídas à escala dos alunos, funcionando como uma extensão das suas habitações. Os três elementos fundamentais da construção de um edifício são: a “unidade pedagógica” (pequena comunidade de crianças com o seu espaço para jogos e serviços anexos), os “espaços comuns” (áreas para diferentes atividades e jogos) e os serviços administrativos.

4 - Realização das construções

Um plano de construções escolares deve ser bem definido e regulamentado, tendo em conta os recursos locais e a mão de obra, os meios de comunicação e o grau de desenvolvimento industrial. 

 

MJS

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais. Lisboa, Secretaria Geral do Ministério da Educação, 1997.


2025/11/20

As Bibliotecas e a História - A Biblioteca de Ebla - Tell Mardikh (atual, Síria) - Parte 2

 


As tabuinhas, ao estilo de uma moderna biblioteca, eram colocadas de modo ordeiro em prateleiras. Na sua generalidade, tratava-se sobretudo de textos comerciais e administrativos, económicos, diplomáticos, religiosos, até mesmo epistolares, que nos introduzem na vida do palácio.

«Em 1984, descobriram-se em Tell Brak, na Síria, duas tabuinhas de argila quase retangulares, datando do quarto milénio antes da nossa era. Vi-as, um ano antes da Guerra do Golfo, numa vitrina banal no Museu de Arqueologia de Bagdade. São objetos simples, pouco impressionantes, ambos portadores de umas marcas discretas: um buraquinho em cima e uma espécie de esboço de animal ao centro. Um desses animais talvez seja uma cabra e, nesse caso, o outro será provavelmente uma ovelha. O entalhe, dizem os arqueólogos, representa o número dez. Toda a nossa história começa com estas duas modestas tabuinhas.»

(Alberto Manguel, pág. 55)

 

A Escrita Cuneiforme – uma inscrição para a posteridade

A escrita cuneiforme dos sumérios é adaptada às exigências da língua eblaíta, de origem semita. O sistema gráfico cuneiforme é constituído por símbolos em forma de cunho, marcados na argila por meio de uma cana com uma ponta em forma de cunha. Na sua origem os símbolos representavam, em forma de pictograma, os objetos. Mais tarde, os símbolos evoluíram e passaram a representar uma só consoante. Tratou-se, de facto, de uma grande revelação, pois, até então, pensava-se que no terceiro milénio apenas os sumérios utilizassem a escrita e não se imaginava que as cidades sírias pudessem ter adotado, por sua vez, esse tipo de escrita.

 «Com o intuito de preservar as raras terras férteis, os mesopotâmios inventaram novas técnicas de irrigação e procedimentos arquitetónicos extraordinários e, para organizar uma sociedade crescentemente complexa, com as suas leis, edictos e regras comerciais, esses novos residentes urbanos desenvolveram, pelo final do quarto milénio, uma arte que modificaria para todo o sempre a natureza da comunicação entre os seres humanos: a arte da escrita.» 

(Alberto Manguel, pág. 234)

 

Ebla – uma biblioteca enciclopédica, 300 anos antes de Alexandria

Embora já se tivesse conhecimento de inscrições em escrita cuneiforme desde o século XVII, essas inscrições eram tidas como indecifráveis e, por vezes, consideradas mesmo como simples ornamentos. Tabuinhas com “pegadas de pássaros”, assim se referiam a essas inscrições. Acresce o facto da própria escrita cuneiforme ter sofrido alterações pela evolução que registou o que se reflete nas diferentes características e subtilezas encontradas nos fragmentos. Encontraram-se tabuletas com dados gerais sobre obras com referências à autoria, número de linhas e diversas informações complementares do documento.

Verificou-se, igualmente, que estes povos tinham alcançado um tal nível de cultura que os conduziu, mesmo, à elaboração de um dicionário e da primeira obra literária escrita: a “Epopeia de Gilgamesh”.

 

«A escrita cuneiforme sobreviveu efetivamente aos impérios da Suméria, de Acádia e Assíria, conservando a literatura de 15 línguas e cobrindo uma região ocupada atualmente pelo Iraque, pelo Irão ocidental e pela Síria. Não somos hoje capazes de ler as tabuinhas pictográficas como língua, porque desconhecemos o valor fonético dos seus signos; conseguimos apenas reconhecer uma cabra, uma ovelha. Mas os linguistas conseguiram reconstituir a pronúncia dos textos sumérios e acadianos mais tardios e podemos, ainda que de modo rudimentar, pronunciar sons gravados há milhares de anos.»

(Alberto Manguel, págs. 238 - 239)

 

De facto, entre as composições mitológicas e epopeias, sobressai a “Epopeia de Gilgamesh”, o épico da primeira dinastia babilónica, escrita um milénio antes de Homero (1900 a.C.). Gilgamesh, considerado o Ulisses assírio, é um herói em busca da imortalidade. Entre os diversos factos que aí são relatados, figura o dilúvio, confirmando, assim, a Bíblia; embora com um fundo teológico diferente. A versão mais completa que chegou aos dias de hoje consta de doze tabuinhas de argila. O babilónico antigo (2000 - 1500 a.C.), com o seu esplendor literário, é representado, também, por inúmeras inscrições, de onde sobressai o célebre “Código de Hamurabi”.

 

(continua)

JMG

2025/11/17

Peça do mês de novembro/2025

 


Catálogo de material didático


Catálogo de material didático de Max Kohl, fundador de uma oficina de mecânica em 1876 em Chemnitz, Alemanha e que aí permaneceu até sua morte em 1908. Fornecia instrumentos científicos para laboratórios e universidades. Após a morte de Max, a empresa foi constituída como Max Kohl AG. As instalações foram destruídas na Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, a empresa tornou-se estatal na Alemanha Oriental como Volksseigener Betrieb, VEB, mais tarde como VEB Polytechnik. No Museu há várias peças de Física deste construtor ilustradas nestes catálogos, um de 1908 e outro já com a empresa Max Kohl AG no início da segunda década do século XX.

A peça está inventariada com o número ME/402709/277 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária Rodrigues de Freitas.


MJS


2025/11/13

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Sebastião e Silva (1914 – 1972)

 

(Imagem do autor retirada da internet)


 

José Sebastião e Silva nasceu em Mértola a 12 de dezembro de 1914, filho de António José Sebastião e de Maria Emília Nobre Silva. Em 1930 concluiu o Curso Geral dos Liceus em Beja e em 1933 terminou o Curso Complementar de Ciências dos Liceus em Évora. Entre 1933 e 1937 fez o Curso de Ciências Matemáticas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Seguiu-se a carreira docente, dando explicações e lecionando em vários colégios privados.

Posteriormente tornou-se investigador no Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa do Instituto de Alta Cultura. Foi bolseiro desta instituição entre 1940 e 1942, tendo publico os seus primeiros trabalhos na Portugaliae Mathematica.

Em 1942 tornou-se 2.º Assistente na Faculdade de Ciências de Lisboa. Em 1943 obteve novamente uma bolsa para trabalhar no Istituto Nazionale di Alta Matemática em Roma. Entre 1943 e 1946 esteve em Itália, tendo publicado alguns dos seus trabalhos nos Rendiconti dell’ Academia Nazionale dei Lincei e colaborado com o Istituto Nazionale per le Applicazioni del Calcolo.

De regresso a Lisboa em 1946, continuou como 2.º Assistente. Em 1949 concluiu o doutoramento em Ciências Matemáticas com a tese “As funções analíticas e a análise funcional”. Em 1950 publicou a Introdução às modernas teorias algébricas: curso de complementos de álgebra.

Em 1951 foi nomeado Professor Catedrático de Matemáticas Gerais e Cálculo Infinitesimal e das Probabilidades no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Em 1957, foi publicado a Introdução à teoria das distribuições. Foi docente de Análise Superior até que foi nomeado para a Presidência da Comissão para a Modernização do Ensino da Matemática nos Liceus Portugueses. Neste âmbito elaborou vários textos didáticos para o 6.º e 7.º anos dos Liceus. Em 1958, em parceria com Silva Paulo, publicou o Compêndio de Álgebra: 3.º ciclo e em 1960, Geometria analítica plana: 7.º ano dos liceus.

A partir de 1960 regressou à Faculdade de Ciências de Lisboa, como regente da cadeira de Análise Superior, aqui permanecendo até 1970.

No âmbito da pesquisa científica, o autor desenvolveu diversas atividades: foi sócio fundador da Sociedade Portuguesa de Matemática, dirigiu o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, foi consultor do Laboratório de Física e Engenharia Nucleares, integrou a Comissão Portuguesa da União Matemática Internacional e o Comité Executivo do Groupement des Mathématiciens d’ Expression Latine.

O seu grande contributo ao nível do ensino secundário foi a renovação dos currículos da disciplina de Matemática, quer a nível de conteúdo, quer a nível de métodos de ensino. Um dos pontos essenciais era assegurar que a linguagem complexa e o carácter abstrato da disciplina seriam transformados numa linguagem acessível aos alunos.

Para Sebastião e Silva, o ensino da Matemática tinha três grandes objetivos na formação integral dos discentes: o desenvolvimento do espírito crítico e da autonomia mental; o desenvolvimento do espírito de investigação; e a criação de hábitos úteis.


MJS 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

2025/11/10

As Bibliotecas e a História - A Biblioteca de Ebla - Tell Mardikh (atual, Síria) - Parte 1

  

«Sem exceção, todas as bibliotecas do Próximo Oriente deixaram de existir e caíram no esquecimento. Os escritos daqueles grandes impérios permaneceram sepultados nas areias dos desertos ao pé das suas cidades destruídas, e os restos descobertos da sua escrita eram indecifráveis. O esquecimento foi tão completo que, quando os viajantes encontraram inscrições cuneiformes nas ruínas das cidades aqueménidas muitos pensaram que eram simples decorações nas jambas das janelas e portas. Depois de séculos de silêncio, foi a paixão dos investigadores que desenterrou os seus vestígios e conseguiu decifrar as línguas esquecidas das suas tabuinhas.»

(Irene Vallejo, pág. 70)


 

Ebla – centro literário e de saber


No Próximo Oriente antigo, bibliotecas e arquivos como hoje os conhecemos, não existiam. Hoje em dia, as funções principais que atribuímos aos arquivos são as de preservar o património documental de uma determinada sociedade e cultura e facilitar o seu acesso e recuperação. No antigo oriente, os arquivos encontravam-se em templos e palácios e apenas os monarcas, sacerdotes e escribas a eles tinham permissão de aceder.

Um dos mais importantes e destacados centros literários e de saber que se desenvolveram nesta região localizava-se na cidade-estado de Ebla (atualmente conhecida como Tell Mardikh), uma antiga cidade localizada no norte da Síria, a cerca de 55 Km a sudoeste de Alepo. Na época do Império Romano encontrava-se na fronteira entre Roma e o Oriente, enquadrando-se na história de um conflito milenar pelo controlo das passagens das caravanas e da riqueza que estas transportavam. Constituiu-se como uma importante cidade-estado em dois períodos: no início do 3.º milénio a.C. e, novamente, entre 1800 e 1650 a.C.

 

Mesopotâmia – importância e desenvolvimento


Entre o quarto e o quinto milénio antes de Cristo, a sociedade organizada em molde urbano, na bacia mediterrânica, desenvolvia-se, apenas, na região da Mesopotâmia (correspondente, sensivelmente, ao atual Iraque). A região era atravessada por dois grandes e importantes rios: o Tigre e o Eufrates, sendo que aí se encontravam cidades como: Lagash, Kish, Um, Uruk e Ur. Durante três milénios esta área foi considerada a mais rica e evoluída, pois controlava as vias de comércio que provinham da China e da Índia. Até cerca de 1968, os arqueólogos supunham, mesmo, que as civilizações urbanas eram uma peculiaridade quase exclusiva da Mesopotâmia. Na realidade, quando na Grécia e na Itália ainda se vivia da caça e se habitava em cabanas e os egípcios ainda se encontravam no alvorecer da sua civilização, esta região do globo já demonstrava enorme progresso e desenvolvimento.

 

«Nas margens dos rios da Mesopotâmia não havia juncos de papiro, e outros materiais como a pedra, a madeira ou a pele, eram escassos, mas a argila era abundante. Por isso os sumérios começaram a escrever sobre a terra que sustentava os seus passos. Conseguiam uma superfície para escrever modulando pequenas massas de argila de cerca de vinte centímetros de comprimento, com uma forma retangular e plana, parecidas aos nossos tablets de sete polegadas. E desenvolveram um estilo de escrita à base de fendas de buril na argila mole.»

(Irene Vallejo, pág. 68)

 


Mesopotâmia – esplendor cultural


Possivelmente, os mais antigos espécimes de escrita autêntica até hoje descobertos, são os que se encontraram em dois bocados de basalto bem trabalhados, com cerca de quatro polegadas quadradas: um (a placa de Hoffman) está no Seminário Teológico Geral, em Nova Iorque, e o outro, no Museu da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia. Ambos vieram da Mesopotâmia e mostram uma forma pictográfica muito primitiva dos caracteres pré-cuneiformes da região. A sua data só pode conjeturar-se – talvez a de 6000 a.C. esteja, mais ou menos, certa. Quase tão antigos, e também gravados com carateres cuneiformes, são dois bocados de pedra fina (diorito esverdeado) adquiridos por A. Blau, próximo da cidade de Uruk (no atual Iraque), em 1886, conhecidos por «monumentos Blau», posteriormente adquiridos pelo Museu Britânico, local onde se conservam. Embora a leitura da sua iconografia seja algo controversa, têm sido datados de cerca de 5500 a 5000 a.C.

 

«Desde a origem que os leitores exigem livros em formatos adaptados ao uso que lhes tencionam dar. As primitivas tabuinhas da Mesopotâmia eram placas de argila, em geral quadradas, mas por vezes oblongas, com sete ou oito centímetros de largura, que se seguravam comodamente numa mão. Um livro consistia de várias dessas tabuinhas, provavelmente guardadas numa bolsa de couro ou numa caixa, para que o leitor pudesse tirar uma atrás da outra, numa ordem determinada. É possível que os mesopotâmios também possuíssem livros encadernados de maneira muito semelhante à dos nossos volumes; há monumentos funerários em pedra neo-hititas que representam objetos semelhantes a códices – talvez uma série de tabuinhas ligadas umas às outras dentro de uma capa – mas nenhum desses livros chegou aos nossos dias.»

(Alberto Manguel, pág. 171)

Bibliotecas de argila


Das ruínas das antigas cidades da Babilónia e da Assíria têm-se retirado grandes quantidades de placas de argila, de todos os tamanhos e formas, o que dá um testemunho inequívoco de que os antigos Acádios, Babilónios e Assírios possuíam materiais de escrita muito próprios e que conseguiram perdurar. As placas de argila aportam marcas em forma de cunha que ainda hoje testemunham a capacidade e a atividade criativa destas antigas culturas.

Em 1975, uma expedição arqueológica conduzida por Paolo Matthiae, que há onze anos se encontrava a proceder a escavações nas ruínas da antiga Ebla, trouxe à luz do dia a sala dos arquivos de estado do grande palácio de Ebla, o que constituiu um extraordinário achado histórico. Já antes, em 1924, tinham sido encontradas várias tabuletas de argila datadas de entre 4100 a.C. e 3100 a.C., na quarta camada do templo da deusa Ishtar, em Uruk. O mesmo em Ur e Adab. Nippur, na mesma região, também revelou uma enorme quantidade de plaquinhas de argila – muitas delas de cunho literário –, mas, também, sobre muitas outras áreas do conhecimento como, por exemplo: matemática, astronomia, história, compêndios religiosos, códigos de leis e tratados, etc. –, que permitem perceber que naquele local habitou uma população que prezava o conhecimento e que o pretendia perpetuar.

Grande contributo adveio do facto do material natural que abundava na região da Mesopotâmia ter propiciado a criação e utilização de pequenos blocos ou tabuletas, inscritos na chamada escrita cuneiforme, dando origem a verdadeiras “bibliotecas de argila”.

 

(continua)

JMG


2025/11/06

Exposição virtual: "O Cérebro Humano"

 

O cérebro humano é o órgão vital do sistema nervoso e, juntamente com a medula espinal, constitui o sistema nervoso central. O encéfalo é constituído pelo cérebro, tronco cerebral e cerebelo. Este órgão não só controla a maior parte do corpo, como também processa e coordena as informações que lhe chegam através do sistema sensorial, tomando as decisões necessárias.

Protegido pelos ossos do crânio, o cérebro divide-se em 2 hemisférios, e estes em quatro lobos: frontal (funções de pensamento abstrato e raciocínio), temporal (funções de processamento de estímulos auditivos), parietal (funções de receção e processamento de outros estímulos sensoriais) e occipital (funções de processamento dos estímulos visuais).

O cérebro é, na verdade, uma “máquina” complexa, com funções ainda não totalmente conhecidas pela ciência. É o centro de controle das funções vitais do organismo: processa as informações dos sentidos; é responsável pelo raciocínio, memória, linguagem, cálculo, criatividade e outras; é responsável pelo controle motor que permite caminhar, falar, etc; regula as funções vitais como a manutenção da temperatura, a sede, a fome ou a respiração; é ainda o centro das emoções e do nosso comportamento.

Esta exposição integra várias peças do espólio museológico escolar que incluem imagens parietais, modelos anatómicos desmontáveis e quadros didáticos.

 

 

Imagem parietal do corpo humano/Encéfalo

ME/400439/777

Escola Secundária Sebastião e Silva

Quadro parietal da autoria de P. Sougy, representativo do encéfalo humano, utilizado para ilustrar matérias nas aulas de Biologia. No quadro são visíveis as várias estruturas esquemáticas e coloridas, sobre um fundo negro, apresentado o encéfalo em cortes transversais e longitudinais. O cérebro é o principal órgão e centro do sistema nervoso em todos os vertebrados, e em muitos invertebrados.

 

Imagem parietal do corpo humano/Encéfalo

ME/402606/38

Escola Secundária Quinta do Marquês

Imagem parietal utilizada em contexto pedagógico, para apoio visual nas aulas de Biologia. Sob um fundo branco, surgem seis imagens do cérebro humano, sem legendas nem título. O cérebro é o principal órgão e centro do sistema nervoso em todos os vertebrados, e em muitos invertebrados. As representações, de carácter naturalista, apresentam vários cortes transversais e longitudinais do cérebro, bem como tecido celular.

 

Cérebro

ME/400257/2

Escola Secundária Infanta D. Maria

Modelo anatómico do cérebro humano em corte transversal, apresentando a espinal-medula e a sua ligação ao encéfalo pelo bolbo raquidiano. As comunicações entre a medula, cérebro e cerebelo são asseguradas pelo tronco cerebral que estabelece a transmissão de informações através dos pedúnculos (feixes de fibras nervosas). Estes elementos de ligação constituem o encéfalo posterior, sendo visíveis neste modelo didático para ilustração dessas matérias nas aulas de Biologia.


Cérebro

ME/400439/31

Escola Secundária Sebastião e Silva

Modelo anatómico de cérebro humano (corte antero-posterior mediano) em alto-relevo assente numa base de madeira. Trata-se de um modelo ilustrativo da morfologia externa do cérebro, usado para o estudo da morfologia do Homem que, com graus de aprofundamento diferentes, se fazia nas disciplinas de Ciências Naturais. Pertence à coleção «Anatomie Humaine» da Casa Deyrolle. Segundo informação contida nas etiquetas das peças, o conjunto de modelos que formam a coleção foi fornecido pelo Ministério da Educação em 1953.

 

Cérebro

ME/403910/63

Escola Secundária de Arouca

Modelo de cérebro humano utilizado em contexto das práticas pedagógicas de Ciências Naturais para estudo e observação. Este modelo é articulado e pode abrir-se para que se observe a anatomia interna das várias estruturas que o constituem, como o cerebelo e o bolbo raquidiano.

 

Cérebro

ME/403076/21

Escola Secundária de S. Pedro do Sul

Modelo anatómico didático, representando o cérebro humano, utilizado nas aulas de Biologia e Ciências Naturais, permitindo visualizar a sua composição e deste e o seu modo de funcionamento. As peças são amovíveis.


MJS


2025/11/03

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Sebastião da Gama (1924 – 1952)

 

(Fotografia do autor retirada da internet)

 

Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão a 10 de abril de 1924, filho de Sebastião Leal da Gama e de Ana Cardoso da Gama. Realizou a instrução primária na sua terra natal e em 1934 matriculou-se no Liceu Nacional de Setúbal que frequentou até aos 14 anos, quando foi diagnosticado com tuberculose óssea.

A família mudou-se para o Portinho da Arrábida, por indicação médica e passou a estudar sozinho com o apoio de um explicador. Em 1941 concluiu os exames do 6.º ano e, já em Lisboa, terminou o 7.º ano no Liceu Pedro Nunes.

Em 1942 ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde Cursou Filologia Germânica. Concluiu o curso em 1947 com a tese de licenciatura “A Poesia Social no século XIX”. Neste ano foi diagnosticado com tuberculose renal incurável.

Colaborou com a imprensa periódica da época, nomeadamente o Mundo Literário (1946-1948), a Árvore e a Távola Redonda. Em 1945 publicou Serra-Mãe, em 1946, Loas a Nossa Senhora da Arrábida e em 1947, Cabo da Boa Esperança.

Em 1947/48 iniciou a carreira docente na Escola Industrial e Comercial João Vaz, em Setúbal. Entre 1948 e 1950 estagiou na Escola Industrial e Comercial Veiga Beirão em Lisboa. Durante este período escreveu o Diário, publicado postumamente em 1958.

Entre 1950 e 1952 lecionou Português e Francês na Escola Industrial e Comercial de Estremoz, tendo falecido neste ano com a idade de 27 anos.

A grande obra do autor foi o Diário, que reflete os seus anos como professor estagiário, em que conjugou a sua vertente poética com a vertente pedagógica. Alguns dos aspetos a destacar são o respeito pelos saberes dos alunos, com os quais o professor pode e deve aprender; o respeito pela diferença e a lealdade; a noção que a aula é um espaço de relação e de camaradagem.

A questão da disciplina também foi importante: deve ser aceite e não imposta. Os alunos deveriam ter uma autodisciplina, encarando o professor como um companheiro.

Toda a sua obra ficou intimamente ligada à Serra da Arrábida. Em agosto de 1947 enviou cartas a várias personalidades pedindo uma intervenção na defesa deste espaço. Esta situação culminou na criação da Liga para a Proteção da Natureza em 1948.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

MJS


2025/10/30

Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais - Apresentação

 

Da autoria de Filomena Beja e Júlia Serra, a obra Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais tem como propósito divulgar o património escolar construído e o valor do fundo documental sobre as construções escolares.

O objetivo do presente artigo e dos que se seguirão, será dar a conhecer, de forma sucinta, o conteúdo da obra, de extrema relevância para a o estudo da história do ensino em Portugal.

Seguir-se-á a lógica interna da subdivisão por capítulos (p. 5):

 




Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume III – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário da Escola Piloto à Área Aberta. Casos Especiais. Lisboa, Secretaria Geral do Ministério da Educação, 1997.


MJS



2025/10/27

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: João Dias Agudo (1898 – 1984)

 

(Imagem do autor retirada da internet)


João Dias Agudo nasceu a 14 de agosto em Mouriscas, Abrantes, filho de Manuel Dias Agudo e de Maria Marques.

Em 1916 concluiu o curso da Escola Normal, em Castelo Branco e iniciou a sua carreira docente em diversas escolas: de 1916 a 1919, Alvega; de 1919 a 1922, Macieira de Alcobaça; de 1922 a 1935, Póvoa da Galega; de 1935 a 1954, Lisboa.

Lecionou igualmente na Escola Académica, tendo-se reformado com 56 anos devido a discordâncias no que respeitava à situação política e aos métodos de ensino. A partir de então dedicou-se às questões do cooperativismo e à publicação de obras e artigos.

As suas produções foram de dois tipos, a educação e o cooperativismo, colaborando com vários periódicos como a Revista Escolar, a República, a Luta ou o Diário de Lisboa.

Em 1942 publicou O Sincretismo Infantil. O prestígio deste educador deveu-se ao facto de ter sido um dos poucos a colocar em prática várias experiências tendo por base o método global de Decroly.

Em 1945 publicou a sua grande obra de referência na área educativa, A Criança e a Educação, dividida em 6 capítulos: Ideias modernas sobre a criança; Fatores de desenvolvimento físico da criança; Evolução e fatores do desenvolvimento mental; Atividades morais e sociais da criança; A prática na educação construtiva; O educador. Em 1947, saiu do prelo Educação para a paz, que marcou o inicio de uma fase mais filosófica e sociológica.

Em 1951 criou o Boletim Cooperativista, sob a inspiração de António Sérgio. Durante a sua vida denotou sempre uma preocupação cooperativista e ética com a classe docente, sobretudo com os professores primários.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS