«Para grande parte da humanidade, especialmente no Ocidente, a Biblioteca de Alexandria tem sido o mito fundador da biblioteca, o edifício ao qual conferimos muita da nossa erudição de biblioteca. Universal, compendiosa e cataclismicamente incendiada pelos Romanos ou, dependendo de como o Ocidente se sente, pelos Árabes ou pelos judeus.»
(Martin Latham, p. 102, 2023)
A Biblioteca de Alexandria (em grego clássico:
Βιβλιοθήκη τῆς Ἀλεξάνδρειας; em latim: Bibliotheca Alexandrina; em árabe: مكتبة الإسكندرية),
fundada no século III a.C., na cidade com o mesmo nome, fazia parte do império
macedónio. Construído
num curto período de onze anos, o império macedónio contribuiu com a difusão da
cultura grega no Oriente. Alexandre, “o Grande”, ou “Magno”, fundou uma grande
quantidade de cidades e promoveu a fusão da cultura grega com a dos povos
conquistados, dando origem ao Império da Macedónia. Ao perfazer trinta anos, Alexandre havia criado
um dos maiores impérios do mundo antigo, que se estendia da Grécia
até ao Egito e ao noroeste da Índia.
O mais importante epicentro do saber
Com
cerca de meio milhão de habitantes, por volta de 200 a.C., a cidade de
Alexandria assistiu à construção de um dos maiores centros de cultura, jamais
existentes, na história humana. A ideia de construir uma megabiblioteca, foi do
primeiro rei grego Ptolomeu I, que governou a zona geográfica do Egito, logo
após a morte de Alexandre. Dada a sua importância, a inauguração da biblioteca
de Alexandria tem sido apelidada de início da História Moderna; isto porque,
mais do que uma biblioteca, foi o mais importante epicentro do saber e pesquisa
que o mundo antigo conheceu. Esta antiga biblioteca ensinou algumas das mais
brilhantes mentes humanas que alguma vez existiram. Podemos mesmo afirmar que
as sementes da nossa presente cultura ocidental foram semeadas na antiga
Alexandria.
A sua
construção resultou de um processo cultural de integração de valores distintos
dos mundos grego, persa e egípcio. Adquirir um exemplar de um manuscrito de
cada um dos povos da Terra para integrar o seu acervo, constituía um dos seus
grandes propósitos. O método mais comum para adquirir “livros” passava pela
compra dos mesmos, sendo que havia vários mercados e feiras onde se podiam
adquirir. Deste modo, Alexandria concentrou em si a maior e mais importante
coleção de “livros” da antiguidade. O objetivo de Ptolomeu era possuir todas as
obras escritas existentes, não só do mundo grego, mas do restante mundo,
também.
«Embora não exista informação a esse respeito, atrevo-me a imaginar que a ideia de criar uma biblioteca universal tenha nascido na mente de Alexandre. O plano tem as dimensões da sua ambição, leva a marca da sua sede de totalidade. “Considero a Terra”, proclamou Alexandre num dos primeiros decretos que promulgou, “como minha”. Reunir todos os livros existentes é outra forma – simbólica, mental, pacífica – de possuir o mundo.»
(Irene Vallejo, p. 38, 2020)
Papel único no campo intelectual
Atualmente, por definição, biblioteca
é um lugar onde se guardam livros e outras publicações, no entanto, a
biblioteca de Alexandria contava com um instituto de pesquisa, laboratórios,
zoológico, jardim botânico, observatório astronómico e inúmeros locais de
descanso e de debate. No campo filosófico a Escola de Alexandria pretendia
rivalizar com a Escola de Atenas, na difusão do neoplatonismo e do
aristotelismo.
«A Biblioteca
abriu-se à medida da amplitude do mundo. Incluiu as obras mais importantes de
outras línguas traduzidas para grego. Um tratadista bizantino escreveu sobre
aquele tempo: “Recrutaram-se de cada povo sábios, os quais, para além de
dominarem a sua própria língua, conheciam lindamente o grego; foram confiados a
cada grupo os seus respetivos textos, e assim, de todos, se preparou uma
tradução.»
(Irene Vallejo, p. 39, 2020)
Os reis do Egito apoiavam a
biblioteca, enviando emissários para as mais variadas regiões com o propósito
de adquirirem manuscritos em todos os idiomas. Os papiros que chegavam com os
comerciantes ao porto de Alexandria, eram copiados e devolvidos aos donos.
Contudo, os inúmeros manuscritos antigos não eram apenas guardados na
biblioteca de Alexandria, eles eram usados como material de pesquisa e
referência por todos os novos eruditos e os “livros” mais importantes eram
copiados por escribas locais e trocados por mais “livros” de outros locais do
mundo antigo. Com o passar do tempo a coleção aumentou exponencialmente, sendo
possível calcular um total de 400, 500 mil “livros”, no total.
JMG
REFERÊNCIA E
SUGESTÕES:
(BIBLIOGRAFIA,
WEBGRAFIA e ILUSTRAÇÕES)
BARBIER, Frédéric (2018). De Alexandria às bibliotecas virtuais.
São Paulo: edusp.
BATTLES, Matthew (2003). A conturbada história das bibliotecas.
São Paulo: Planeta do Brasil.
CASSON, Lionel (2018). Bibliotecas no mundo antigo. São Paulo:
Vestígio.
FLOWER, Derek Adie (2002). Biblioteca de Alexandria – as histórias da
maior biblioteca da antiguidade. São Paulo: Nova Alexandria.
JEVENOIS, Pablo de (2009). Biblioteca de Alexandria – o enigma revelado.
Lisboa: Ésquilo.
LATHAM, Martin (2023). Crónicas de um livreiro. Lisboa: Edições
70.
MANGUEL, Alberto (1999). Uma história da leitura. Lisboa:
Editorial Presença.
SEGREDOS DO MUNDO (2021). Biblioteca de Alexandria – O que é,
história, incêndio e a nova versão. [em linha]. [Consult. 13.04.2023].
Disponível: https://segredosdomundo.r7.com/biblioteca-de-alexandria/
VALLEJO, Irene (2020). O infinito num junco. Lisboa: Bertrand
Editora.
WIKIPÉDIA (2020). Bibliotheca Alexandrina. [em linha]. [Consult.
12.04.2023]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bibliotheca_Alexandrina