2023/05/18

As Bibliotecas e a História - Alexandria, a Biblioteca Desaparecida (Parte I)

«Para grande parte da humanidade, especialmente no Ocidente, a Biblioteca de Alexandria tem sido o mito fundador da biblioteca, o edifício ao qual conferimos muita da nossa erudição de biblioteca. Universal, compendiosa e cataclismicamente incendiada pelos Romanos ou, dependendo de como o Ocidente se sente, pelos Árabes ou pelos judeus.»

(Martin Latham, p. 102, 2023)


Aspeto provável de Alexandria
Fonte: segredosdomundo.r7.com


A Biblioteca de Alexandria (em grego clássico: Βιβλιοθήκη τῆς Ἀλεξάνδρειας; em latim: Bibliotheca Alexandrina; em árabe: مكتبة الإسكندرية), fundada no século III a.C., na cidade com o mesmo nome, fazia parte do império macedónio. Construído num curto período de onze anos, o império macedónio contribuiu com a difusão da cultura grega no Oriente. Alexandre, “o Grande”, ou “Magno”, fundou uma grande quantidade de cidades e promoveu a fusão da cultura grega com a dos povos conquistados, dando origem ao Império da Macedónia.  Ao perfazer trinta anos, Alexandre havia criado um dos maiores impérios do mundo antigo, que se estendia da Grécia até ao Egito e ao noroeste da Índia.

 

O mais importante epicentro do saber

Com cerca de meio milhão de habitantes, por volta de 200 a.C., a cidade de Alexandria assistiu à construção de um dos maiores centros de cultura, jamais existentes, na história humana. A ideia de construir uma megabiblioteca, foi do primeiro rei grego Ptolomeu I, que governou a zona geográfica do Egito, logo após a morte de Alexandre. Dada a sua importância, a inauguração da biblioteca de Alexandria tem sido apelidada de início da História Moderna; isto porque, mais do que uma biblioteca, foi o mais importante epicentro do saber e pesquisa que o mundo antigo conheceu. Esta antiga biblioteca ensinou algumas das mais brilhantes mentes humanas que alguma vez existiram. Podemos mesmo afirmar que as sementes da nossa presente cultura ocidental foram semeadas na antiga Alexandria.

A sua construção resultou de um processo cultural de integração de valores distintos dos mundos grego, persa e egípcio. Adquirir um exemplar de um manuscrito de cada um dos povos da Terra para integrar o seu acervo, constituía um dos seus grandes propósitos. O método mais comum para adquirir “livros” passava pela compra dos mesmos, sendo que havia vários mercados e feiras onde se podiam adquirir. Deste modo, Alexandria concentrou em si a maior e mais importante coleção de “livros” da antiguidade. O objetivo de Ptolomeu era possuir todas as obras escritas existentes, não só do mundo grego, mas do restante mundo, também.

 

«Embora não exista informação a esse respeito, atrevo-me a imaginar que a ideia de criar uma biblioteca universal tenha nascido na mente de Alexandre. O plano tem as dimensões da sua ambição, leva a marca da sua sede de totalidade. “Considero a Terra”, proclamou Alexandre num dos primeiros decretos que promulgou, “como minha”. Reunir todos os livros existentes é outra forma – simbólica, mental, pacífica – de possuir o mundo.»

(Irene Vallejo, p. 38, 2020)

 

Papel único no campo intelectual

Atualmente, por definição, biblioteca é um lugar onde se guardam livros e outras publicações, no entanto, a biblioteca de Alexandria contava com um instituto de pesquisa, laboratórios, zoológico, jardim botânico, observatório astronómico e inúmeros locais de descanso e de debate. No campo filosófico a Escola de Alexandria pretendia rivalizar com a Escola de Atenas, na difusão do neoplatonismo e do aristotelismo.

«A Biblioteca abriu-se à medida da amplitude do mundo. Incluiu as obras mais importantes de outras línguas traduzidas para grego. Um tratadista bizantino escreveu sobre aquele tempo: “Recrutaram-se de cada povo sábios, os quais, para além de dominarem a sua própria língua, conheciam lindamente o grego; foram confiados a cada grupo os seus respetivos textos, e assim, de todos, se preparou uma tradução.»

(Irene Vallejo, p. 39, 2020)

Os reis do Egito apoiavam a biblioteca, enviando emissários para as mais variadas regiões com o propósito de adquirirem manuscritos em todos os idiomas. Os papiros que chegavam com os comerciantes ao porto de Alexandria, eram copiados e devolvidos aos donos. Contudo, os inúmeros manuscritos antigos não eram apenas guardados na biblioteca de Alexandria, eles eram usados como material de pesquisa e referência por todos os novos eruditos e os “livros” mais importantes eram copiados por escribas locais e trocados por mais “livros” de outros locais do mundo antigo. Com o passar do tempo a coleção aumentou exponencialmente, sendo possível calcular um total de 400, 500 mil “livros”, no total.


JMG

 

REFERÊNCIA E SUGESTÕES:

(BIBLIOGRAFIA, WEBGRAFIA e ILUSTRAÇÕES)


BARBIER, Frédéric (2018). De Alexandria às bibliotecas virtuais. São Paulo: edusp.


BATTLES, Matthew (2003). A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Planeta do Brasil.


CASSON, Lionel (2018). Bibliotecas no mundo antigo. São Paulo: Vestígio.


FLOWER, Derek Adie (2002). Biblioteca de Alexandria – as histórias da maior biblioteca da antiguidade. São Paulo: Nova Alexandria.


JEVENOIS, Pablo de (2009). Biblioteca de Alexandria – o enigma revelado. Lisboa: Ésquilo.


LATHAM, Martin (2023). Crónicas de um livreiro. Lisboa: Edições 70.


MANGUEL, Alberto (1999). Uma história da leitura. Lisboa: Editorial Presença.


SEGREDOS DO MUNDO (2021). Biblioteca de Alexandria – O que é, história, incêndio e a nova versão. [em linha]. [Consult. 13.04.2023]. Disponível: https://segredosdomundo.r7.com/biblioteca-de-alexandria/


VALLEJO, Irene (2020). O infinito num junco. Lisboa: Bertrand Editora.


WIKIPÉDIA (2020). Bibliotheca Alexandrina. [em linha]. [Consult. 12.04.2023]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bibliotheca_Alexandrina


2023/05/15

Peça do mês de maio/2023

 


Embutideira

 

Embutideira utilizada em contexto das práticas pedagógicas do Curso Tecnológico de Artes e Ofícios. Trata-se de um cubo, utilizado frequentemente em trabalhos de ourivesaria, em que cada face apresenta vários semicírculos embutidos que permitem dar formas aos metais.

Está inventariado com o número ME/402679/179 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária do Restelo.


MJS