Arnaldo
Redondo Adães Bermudes nasceu a 29 de setembro de 1863 no Porto, filho de Félix
Redondo Adães, comerciante e de Cesina Romana Bermudes, originários da Galiza.
Frequentou
a Academia Portuense de Belas Artes e concluiu arquitetura na Escola de Belas
Artes de Lisboa, em 1886. Completou a sua formação em Paris, na École des
Beaux-Arts, regressando a Portugal em 1894. Nesse mesmo ano foi premiado com a
2.ª medalha na Exposição do Grémio Artístico de Lisboa.
Em
1895 candidatou-se à Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos
Portugueses, proferindo um discurso em que apelou à dignificação das condições
profissionais dos arquitetos portugueses. Nesse âmbito, em 1902 redigiu os
estatutos da Sociedade dos Arquitetos Portugueses, juntamente com Rosendo Carvalheira,
Ventura Terra, Alfredo Aragão Machado e António Dias da Silva. Outra das suas
preocupações foi a organização de um novo regulamento de segurança para as
classes operários.
Em 1897 foi-lhe adjudicada a conceção de um bairro de casas económicas, o Bairro do
Arco do Cego, em Lisboa, que realizou recorrendo ao conceito de cidade jardim.
Em
1898 obteve o 1.º prémio no concurso para projetos tipo de escolas primárias, o
que levou à sua nomeação para adjunto da Direção-Geral de Instrução Pública
(1899) e para Diretor das Construções Escolares (1901 – 1906). No desempenho de
funções, ficou responsável pelo processo de construção de cerca de 300 escolas
em Portugal. A sua visão sobre este assunto estabelecia uma relação entre o
desenvolvimento do ensino elementar e o progresso das nações, reconhecendo o
impacto da qualidade dos edifícios escolares no desenvolvimento físico e
intelectual dos alunos. O regulamento do concurso para os edifícios escolares
denota a grande influencia dos princípios do movimento higienista.
As
escolas Adães Bermudes constituíram uma tentativa de inverter a situação de
analfabetismo em Portugal. Os edifícios tinham traços característicos,
integrando-se nas vilas e cidades, harmonizando-se ao nível da fachada e das
proporções. Destinavam-se a um sexo e tinham capacidade para cerca de 50
alunos, incluindo a sala de aula e a residência do professor, com planta, em
formato de L e piso térreo. Estavam incluídos no projeto os vestiários (átrio),
uma aula de desenho, recreio coberto e instalações sanitárias. Na fachada
existia um frontão triangular e três janelas. A casa do professor compunha-se
por 2 andares: no primeiro, a sala de jantar, cozinha e sanitários; no segundo,
dois quartos. Este era o projeto tipo base que sofreu alterações, dependendo do
número de aulas e do tipo de escola. A organização pedagógica do espaço escolar
seguia o modelo da escola única, sem divisão por classes ou atividades. Não
existia qualquer espaço específico para biblioteca, museu ou laboratório, nem
qualquer tipo de mobiliário definido.
Foram
construídas 184 escolas deste modelo entre 1902 e 1912. Neste ano Adães
Bermudes integrou uma Comissão encarregue de fixar normas técnicas e
higiénicas, bom como de rever os projetos tipo existentes. Foram concluídas em
1914 e publicadas em 1916 na revista A
Construção Moderna, ficando conhecidas como as Normas de 1917. O documento articulou normas arquitetónicas,
médicas e pedagógicas.
Adães Bermudes foi igualmente responsável pelos projetos da Escola Central Primária de Santa Cruz (Coimbra, 1905-1907), do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa (Tapada da Ajuda, 1910) e da Escola Normal Primária de Lisboa (Quinta de Marrocos, Benfica, 1913). Para além das escolas, foram da sua autoria outros projetos marcantes como os Paços do Concelho da Câmara Municipal de Sintra (1908); o mausoléu dos benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1908); e ainda vários prédios de habitação, sendo distinguido com um Prémio Valmor (edifício sito na Avenida). Em 1914 foi um dos membros da equipa que levou a cabo o Monumento ao Marquês de Pombal, inaugurado em 1934. Dirigiu também várias intervenções de conservação e restauro em monumentos nacionais (Palácio Nacional de Sintra, Convento de Mafra, Palácio de Queluz, Mosteiro dos Jerónimos, Museu Nacional de Arte Antiga, Museu Nacional de Belas Artes de Lisboa).
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS
