2025/12/29

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adães Bermudes (1863 – 1947)

 

(Imagem do autor retirada da internet)

Arnaldo Redondo Adães Bermudes nasceu a 29 de setembro de 1863 no Porto, filho de Félix Redondo Adães, comerciante e de Cesina Romana Bermudes, originários da Galiza.

Frequentou a Academia Portuense de Belas Artes e concluiu arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, em 1886. Completou a sua formação em Paris, na École des Beaux-Arts, regressando a Portugal em 1894. Nesse mesmo ano foi premiado com a 2.ª medalha na Exposição do Grémio Artístico de Lisboa.

Em 1895 candidatou-se à Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses, proferindo um discurso em que apelou à dignificação das condições profissionais dos arquitetos portugueses. Nesse âmbito, em 1902 redigiu os estatutos da Sociedade dos Arquitetos Portugueses, juntamente com Rosendo Carvalheira, Ventura Terra, Alfredo Aragão Machado e António Dias da Silva. Outra das suas preocupações foi a organização de um novo regulamento de segurança para as classes operários.

Em 1897 foi-lhe adjudicada a conceção de um bairro de casas económicas, o Bairro do Arco do Cego, em Lisboa, que realizou recorrendo ao conceito de cidade jardim.

Em 1898 obteve o 1.º prémio no concurso para projetos tipo de escolas primárias, o que levou à sua nomeação para adjunto da Direção-Geral de Instrução Pública (1899) e para Diretor das Construções Escolares (1901 – 1906). No desempenho de funções, ficou responsável pelo processo de construção de cerca de 300 escolas em Portugal. A sua visão sobre este assunto estabelecia uma relação entre o desenvolvimento do ensino elementar e o progresso das nações, reconhecendo o impacto da qualidade dos edifícios escolares no desenvolvimento físico e intelectual dos alunos. O regulamento do concurso para os edifícios escolares denota a grande influencia dos princípios do movimento higienista.

As escolas Adães Bermudes constituíram uma tentativa de inverter a situação de analfabetismo em Portugal. Os edifícios tinham traços característicos, integrando-se nas vilas e cidades, harmonizando-se ao nível da fachada e das proporções. Destinavam-se a um sexo e tinham capacidade para cerca de 50 alunos, incluindo a sala de aula e a residência do professor, com planta, em formato de L e piso térreo. Estavam incluídos no projeto os vestiários (átrio), uma aula de desenho, recreio coberto e instalações sanitárias. Na fachada existia um frontão triangular e três janelas. A casa do professor compunha-se por 2 andares: no primeiro, a sala de jantar, cozinha e sanitários; no segundo, dois quartos. Este era o projeto tipo base que sofreu alterações, dependendo do número de aulas e do tipo de escola. A organização pedagógica do espaço escolar seguia o modelo da escola única, sem divisão por classes ou atividades. Não existia qualquer espaço específico para biblioteca, museu ou laboratório, nem qualquer tipo de mobiliário definido.

Foram construídas 184 escolas deste modelo entre 1902 e 1912. Neste ano Adães Bermudes integrou uma Comissão encarregue de fixar normas técnicas e higiénicas, bom como de rever os projetos tipo existentes. Foram concluídas em 1914 e publicadas em 1916 na revista A Construção Moderna, ficando conhecidas como as Normas de 1917. O documento articulou normas arquitetónicas, médicas e pedagógicas.

Adães Bermudes foi igualmente responsável pelos projetos da Escola Central Primária de Santa Cruz (Coimbra, 1905-1907), do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa (Tapada da Ajuda, 1910) e da Escola Normal Primária de Lisboa (Quinta de Marrocos, Benfica, 1913). Para além das escolas, foram da sua autoria outros projetos marcantes como os Paços do Concelho da Câmara Municipal de Sintra (1908); o mausoléu dos benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1908); e ainda vários prédios de habitação, sendo distinguido com um Prémio Valmor (edifício sito na Avenida). Em 1914 foi um dos membros da equipa que levou a cabo o Monumento ao Marquês de Pombal, inaugurado em 1934. Dirigiu também várias intervenções de conservação e restauro em monumentos nacionais (Palácio Nacional de Sintra, Convento de Mafra, Palácio de Queluz, Mosteiro dos Jerónimos, Museu Nacional de Arte Antiga, Museu Nacional de Belas Artes de Lisboa). 

 Em 1909 desempenhou o cargo de Secretário da Comissão de Estudo das Construções nas Regiões Sísmicas; em 1911 foi vogal do Conselho de Arte e Arqueologia e do Conselho Superior de Instrução Pública, bem como Secretário da Comissão dos Monumentos Nacionais; em 1926 foi Chefe de Repartição da Direção-geral de Belas-Artes do Ministério da Instrução Pública; e entre 1929 e 1933, foi Diretor do Serviço de Monumentos Nacionais do Ministério do Comércio e Comunicações. Entre 1917 e 1933 foi professor de Construção e Resistência dos Materiais, Geometria Descritiva e Perspectiva na Escola de Belas-Artes de Lisboa, exercendo importante influência sobre toda uma geração de arquitetos.

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


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