2024/03/14

Peça do mês de março/ 2024

 




Pote para tingimento

 

Pote para tingimento utilizado no sector de Tinturaria dos antigos cursos de têxteis. Tem a função de preparar os corantes para tingir os tecidos. É constituído por uma base em cobre, na qual se encaixam 2 potes em porcelana e um outro em aço inoxidável, com pegas em madeira e aço respetivamente. A base constitui um recipiente que, sujeito a uma fonte de calor, permite o aquecimento dos potes que contêm os corantes.

Está inventariado com o número ME/401092/29 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária Campos Melo.


MJS


2024/03/11

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Agostinho da Silva (1906 - 1994)

(Imagem retirada da internet)

George Agostinho Baptista da Silva nasceu a 13 de fevereiro de 1906 no Porto, filho de Francisco José Agostinho da Silva e de Georgina do Carmo Baptista e Silva. Viveu em Figueira de Castelo Rodrigo até aos 6 anos, regressando ao Porto em 1912 para iniciar os seus estudos na Escola Primária de São Nicolau e posteriormente, em 1914, na Escola Industrial Mouzinho da Silveira. Concluiu os seus estudos secundários no Liceu Rodrigues Freitas em 1924.

Entre 1924 e 1928 concluiu a licenciatura em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto com 20 valores. Em 1930 fez o Doutoramento também na Universidade do Porto com a dissertação O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas. Iniciou igualmente uma colaboração com a revista Seara Nova, que se manteve até 1938.

Em 1931 deslocou-se a Paris para efetuar estudos na Sorbonne e no Collège de France. Regressou a Portugal em 1933 onde lecionou no ensino secundário em Aveiro até 1935. Nesta data foi demitido do ensino por não assinar a Lei Cabral: obrigatoriedade de todos os funcionários públicos a declarem que não participavam em organizações secretas.

Em 1935 conseguiu uma bolsa de estudos para Espanha no Centro de Estudos Históricos de Madrid. A iminência da Guerra Civil fez com que regressasse a Portugal em 1936.

Em 1939 fundou o Núcleo Pedagógico Antero de Quental. Entre 1940 e 1945 publicou os Cadernos Iniciação e entre 1941 e 1946, os Cadernos Antologia. Tendo sido preso pela polícia política em 1943, abandonou o país no ano seguinte e rumou à América do Sul.

Em 1947 passou a viver no Brasil, onde residiu até 1969. Durante estes anos trabalhou no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro; lecionou na Faculdade Fluminense de Filosofia; exerceu funções docentes na Universidade Federal de Paraíba e em Pernambuco; em 1954, juntamente com Jaime Cortesão, organizou a Exposição do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo, entre muitas outras atividades. Em 1958 obteve nacionalidade brasileira, perdendo direito à nacionalidade portuguesa.

O regresso a Portugal, após a morte de Salazar, foi marcado pelo ensino e pela produção literária. Dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Lisboa e foi consultor no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. Em 1987 recebeu a Grã-cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Em 1990, numa colaboração com a RTP concedeu 13 entrevistas que com o título Conversas Vadias.

Em 1992 readquiriu a nacionalidade portuguesa e veia a falecer a 3 de abril de 1994.

No que respeita à sua linha de pensamento, podemos distinguir duas fases, uma anterior à ida para o Brasil e outra, posterior a essa data. Na primeira fase, Agostinho da Silva, foi influenciado pela pedagogia moderna, defendendo o papel da escola na formação de cidadãos preparando-os para a vida ativa. Na obra Sanderson e a Escola de Oundle (1941) Agostinho referiu que no estado atual, a educação tradicional conduzia ao individualismo, dominado pela posse e pela rivalidade. A “nova escola” deveria privilegiar o instinto criador e a descoberta através de uma nova organização da sala de aula que promoveria o trabalho em grupo, sem castigos ou prémios.

Na segunda fase, marcada pela sua deslocação ao interior do Brasil em 1952, o educador encontrou uma realidade social caracterizada pela entreajuda e pelo espírito comunitário, ou seja, uma realidade semelhante à de Portugal durante a I Dinastia.

O autor fez uma análise da história de Portugal, uma vez que pensava ser necessário uma revisão ou correção da sua leitura, destacando alguns momentos. O primeiro foi a fundação de Portugal, que opôs Afonso Henriques à sua mãe. Foi um momento negativo que influenciou para sempre o percurso da nação. O segundo momento, positivo, foi a expansão para o sul através do combate aos muçulmanos, que imbuiu os portugueses do espírito de sacrifício e de despojamento, semelhante ao dos Templários. O outro momento positivo foi a introdução do culto joaquimita da Idade do Espírito Santo pela Rainha Santa Isabel. Por último, Agostinho referiu a organização da população em concelhos autónomos durante a I Dinastia o que contribuiu positivamente para o desenvolvimento de um espirito de partilha comunitária. O foco foi totalmente afastado da época dos Descobrimentos.

Na sua obra Educação de Portugal, escrita em 1970 e apenas publicada em 1989, Agostinho fez uma síntese do seu pensamento educativo: a escola era uma instituição bloqueada que reproduzia os defeitos morais da sociedade. Retomando a teoria do bom selvagem, reconheceu que o problema não estava no indivíduo, mas sim na civilização e na escola que perpetuava as desigualdades sociais. Quando a civilização atual se esgotasse seria a altura do aparecimento de uma nova escola.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


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