2022/10/20

Invenções que mudaram o mundo: o motor de combustão

Motor de explosão a dois tempos

ME/152171/100

Escola Secundária Infante D. Henrique

Instrumento utilizado em contexto das práticas pedagógicas nas aulas de Física/ Mecânica. Trata-se de um modelo de motor de combustão interna de mecanismo simples, ou seja, ocorre um ciclo de admissão, compressão, expansão e exaustão de gases a cada volta do eixo. Ao contrário do motor de quatro tempos, as etapas de funcionamento não ocorrem de forma bem demarcada, havendo admissão e exaustão de gases simultaneamente. Os dois tempos são por um lado, compressão e admissão, e por outro escape e transferência de calor.



O motor de combustão é uma máquina que transforma a energia proveniente de uma reação química- combustão- em energia mecânica. A combustão ocorre no interior de uma câmara do motor que contém um pistão responsável pela criação do movimento. Os dois tipos de motores mais importantes utilizam como combustível a gasolina ou gasóleo e o motor Diesel.

São geralmente constituídos por uma câmara de combustão e um número variável de cilindros verticais. Para que o combustível chegue ao motor é preciso um depósito, uma bomba de injeção de combustível e um carburador, que transforma o combustível liquido em gasoso.

A invenção deste motor teve vários contributos desde o século XVII, quando Christiaan Huygens teve a ideia de utilizar pólvora para acionar as bombas de água que forneciam o Palácio de Versalhes.

Em 1794 Thomas Mead registou um motor a gás e Robert Street registou um motor de combustão interna que utilizou pela primeira vez um combustível líquido.

O primeiro motor de combustão interna a ser patenteado em 1823 deve a sua autoria a Samuel Brown Este projeto utilizava a pressão atmosférica para funcionar e teve aplicação industrial. Em 1826 surge o primeiro registo de um carburador feito por Samuel Morey nos Estados Unidos.

Em 1854 Eugenio Barsanti e Felice Matteucci inventaram e registaram a patente de um motor de combustão utilizando o principio do pistão líquido que ficou conhecido como o motor Barsanti-Matteucci.

Em 1864, Nikolaus Otto patenteou o primeiro motor a gás atmosférico. Mais tarde, em 1876, em conjunto com Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, registaram o motor a quatro tempos. Karl Benz, em 1879 registou o motor a gasolina de dois tempos, iniciando a produção comercial de veículos com este tipo de motor. Em 1892 Rudolf Diesel desenvolveu o motor de ignição por compressão (a diesel), patenteado em 1893.

Motor de explosão a quatro tempos

ME/152171/101

Escola Secundária Infante D. Henrique

Instrumento utilizado em contexto das práticas pedagógicas nas aulas de Física/Mecânica. Trata-se de corte de um motor de explosão montado numa base donde se eleva um corpo metálico formado por uma superfície circular que se prolonga por um semicilindro. Da parte central deste, sai para a esquerda, um tubo de admissão e para a direita um tubo idêntico de expulsão de gases, ligados a uma engrenagem que aciona os êmbolos. Na parte esférica, é visível uma alavanca com eixo excêntrico para a transmissão de movimento. Na parte anterior da peça, junto da base, vê-se uma manivela circular que ao ser acionada faz rodar duas rodas dentadas em plástico, fazendo a demonstração do movimento. Os quatro tempos do motor são: admissão; compressão; combustão; e escape. 


Seguiram-se anos de múltiplos aperfeiçoamentos e avanços na área do motor de combustão. Em 1925 Jonas Hesselman utiliza a injeção direta de gasolina num motor com velas de ignição. Em 1935 Hans von Ohain juntamente com Ernst Heinkel desenvolvem o primeiro motor a jato e em 1939 concretiza-se o primeiro voo com este tipo de motor.

A partir dos anos 50 desenvolve-se um motor de quatro tempos nos Estados Unidos, bem como o conceito de motor de pistão livre, sem manivela. A durabilidade e a velocidade que permitiram mudaram a forma de viajar, encurtando distâncias e permitindo uma rapidez notoriamente mais elevada.


 MJS


2022/10/17

Bibliomania - Colecionando Livros e Manuscritos (Parte II)

 

«Não há coleção tola ou ridícula quando feita com arte, gosto e conhecimento»

                                                                                    Rubens Borba de Moraes

 

«De facto, ainda hoje, depois de me tornar livreiro, me parecem bizarras as pessoas que nos compram livros como quem nos dá uma palmada encorajadora nas costas, a dar alento para continuarmos nesta nobre luta.»

                                                                                            Carlos Maria Bobone

 

 

                                                               ©DSDA

 

O primeiro autor citado em epígrafe – Rubens Borba de Moraes (1899 - 1986) – foi um bibliotecário, bibliófilo, bibliógrafo, historiador e pesquisador brasileiro que desempenhou um papel importantíssimo no universo da bibliografia brasiliana. Tendo-se formado em Letras na Europa (Genebra), dedicou a sua vida aos livros e à biblioteconomia. Organizou algumas coleções de livros mas foi, também, ele próprio, um colecionador de livros que angariou enorme prestígio. Rubens era uma pessoa objetiva, prática e direta, que aproveitava todas as situações com que se deparasse para realizar pesquisas ligadas ao seu interesse bibliográfico. Qualquer oportunidade que aparecesse levava-o a correr bibliotecas na expectativa de encontrar novas descobertas de livros escritos sobre o Brasil. Seguia exaustivamente a pista dos livros que lhe interessavam, o que muitas vezes o levava a viajar por múltiplos países. Borba de Moraes dedicou-se especialmente a colecionar os autores brasileiros do período colonial.

Tendo compilado e analisado criticamente as mais importantes obras já escritas no Brasil, o exemplo de Borba de Moraes é ideal para introduzir a ideia que um colecionador de livros e manuscritos pode abordar a sua tarefa sob diferentes pontos de vista. Há colecionadores, por exemplo, que concentram toda a sua atenção e recursos sobre uma época específica, outros sobre uma determinada figura ou acontecimento histórico, outros ainda sobre uma atividade que sobre eles exerce um forte fascínio ou com a qual têm uma particular afinidade. O colecionar sobre uma determinada figura ou tema científico, por exemplo, permite desbravar e conhecer os meandros da investigação e do conhecimento humano. De qualquer modo, colecionando de um modo mais alargado, mais estreito e aprofundado, ou de forma mais seletiva, o segredo recai sempre em fazer escolhas e colecionar com verdadeiro gosto íntimo e pessoal. Uma coleção, seja ela feita de livros ou de outros objetos, reflete, no limite, o mais íntimo do seu possuidor. Resulta num testemunho e memória familiar que perdura. Mais do que revelar o gosto do colecionador em inventariar, catalogar e descrever as peças que o fascinam, revela, acima de tudo, o modo como olhou para os objetos e a importância que atribuiu ao situá-los no contexto da História; nomeadamente, da sua história particular, inscrevendo-os, assim, num trajeto de continuidade, de curso de vida, do qual também fez parte.

 

                                                                                               ©DSDA 

Não há mal nenhum em colecionar pensando em termos de investimento e retorno financeiro – muitos colecionadores prosperaram e aumentaram a sua grande coleção graças e isso, comprando e vendendo –, de um modo geral, livros raros e manuscritos valorizam apreciavelmente com o passar do tempo, às vezes algo lentamente, mas valorizam com certeza e segurança, ao contrário de outros bens transacionados no vasto mercado da arte e do colecionismo, ultrapassando e não sendo afetados por determinado tipo de consequências e flutuações. Neste contexto, os leiloeiros especialistas, os livreiros antiquários e os colecionadores empedernidos, desempenham um papel específico e determinante no desenrolar das vendas e aquisições e na composição e evolução do mercado. Se é verdade que o mundo dos livros e dos livreiros está repleto de histórias que parecem emanadas dos próprios livros, também não será menos verdade que muitas das ideias feitas, caprichos e obstinações emanam dos desmandos do colecionismo.

Carlos Maria Bobone (n. 1993), da mais nova e recente geração de livreiros alfarrabistas portugueses, ele próprio descendente e herdeiro pessoal da nobre profissão, refere na narrativa em que se empenhou após anos de prática e contacto direto com o mundo dos livreiros e das livrarias – “A Religião dos Livros”:

«[…] no fim do século XIX e princípios do século XX assistiu-se a uma espécie de época dourada para o comércio do livro. Conseguiam-se produzir livros a um preço acessível, a leitura tornou-se realmente um dos entreténs da burguesia, pelo que a sua grande exploração enquanto objeto de lazer se dá nesta altura. Enquanto as bibliotecas setecentistas são constituídas maioritariamente por livros técnicos ou religiosos, nas bibliotecas do fim do século XIX vê-se claramente a transformação do livro em papel para toda a obra. É natural, então, que o comércio também acompanhe a variação. Fascículos, edições populares, edições ilustradas, clubes do livro, edições monumentais, catálogos, quase todas as técnicas que vemos hoje no mercado livreiro tiveram os seus primórdios por esta altura. […]»

O livreiro de livros raros ou antigos tem de conhecer e dominar uma série de pormenores que o livreiro de livros usados pode dispensar. Por exemplo, é absolutamente necessário conhecer os vários tipos de encadernação e ornamentação de pastas, guardas e lombadas, verificar a existência de capas de brochura, marcas de posse e/ou dedicatórias, estado geral dos folios e demais marcas impercetíveis que contribuam para a valorização ou desvalorização do livro. O mercado do livro raro, lidando com peças de coleção, tem de estar atento a determinadas características e detalhes que muitas vezes não saltam à vista, e que, consequentemente, podem desvalorizar ou, pelo contrário, tornar o exemplar “único”, extremamente disputado e valorizado entre os seus pares.

JMG

Bibliografia:


ANTUNES, Cristina (2017). Rubens Borba de Moraes: anotações de um bibliófilo. São Paulo: Publicações BBM.

AZEVEDO, Pedro de (2021). Vida com Livros – Livros com Vida, vol. I. Lisboa: ed. do autor.

BOBONE, Carlos Maria (2022). A religião dos livros. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.

FEBVRE, Lucien e MARTIN, Henri-Jean (2000). O Aparecimento do Livro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

MANGUEL, Alberto (2018). Embalando a Minha Biblioteca. Lisboa: Tinta-da-China.

MARTINS, José Vitorino de Pina (2007). Histórias de Livros para a História do Livro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

PINHEIRO, Ana Virgínia (1989). Que é livro raro?: uma metodologia para o estabelecimento de critérios de raridade bibliográfica. Rio de Janeiro: Presença.

RUIZ, Pilar (2004). A bibliofilia, uma paixão… dicionário breve. Amadora: Ediclube - Edição e Promoção do Livro, Lda.