2021/04/01

Exposição Virtual: Modelos Anatómicos no Museu Virtual da Educação

A anatomia é um ramo da Biologia, cujo objeto de estudo é a estrutura interna e externa dos seres vivos. A anatomia humana constitui um campo específico, focado no estudo das estruturas e sistemas do homem. Esta ciência desenvolveu-se inicialmente através da dissecação de cadáveres, que permitia a visualização e o estudo do corpo humano. No entanto, os preconceitos religiosos dificultaram durante muito tempo este tipo de prática, o que se refletiu num avanço lento desta ciência. Durante os séculos XVIII e XIX assistiu-se a um desenvolvimento dos modelos anatómicos, paralelamente à prática da dissecação, que se tornaram extremamente minuciosos e realistas, apresentando o corpo humano de forma precisa ou algumas partes do corpo aumentadas com grande pormenor. Os modelos de cera floresceram no século XVIII e o corpo humano tornou-se acessível aos especialistas e a uma parte da população. A partir de 1822, pode referir-se Petrus Koning (1787-1834) que se dedicou à elaboração de modelos anatómicos tendo por base a técnica italiana. Outro nome de destaque nesta área é Louis Thomas Jérôme Auzoux (1797-1878), que introduziu o papel-machê nos modelos anatómicos. A sua grande inovação foi a elaboração de modelos desmontáveis, cujos órgãos internos podiam se recolocados. Devemos ainda referir Émile Deyrolle (1838-1917), naturalista francês, cujo trabalho de fabrico e divulgação de modelos anatómicos, bem como de outros espécimes, em muito contribuiu para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas de representação anatómica. Parte integrante do ensino das Ciências Naturais, a anatomia tem grande expressão nos espólios museológicos escolares através da presença de inúmeros modelos. Assim, são frequentes os torsos humanos com peças amovíveis ou modelos aumentados de vários órgãos (rim, fígado, coração, cérebro). O estudo dos vários sistemas, olfativo, auditivo, urinário ou visual, pode igualmente ser efetuado através de modelos que se desmontam e permitem aprofundar conhecimentos sobre estas áreas.


Laringe e traqueia

ME/400002/18

Escola Secundária Alves Martins

Modelo anatómico da laringe humana, formado por duas peças articuladas assentes num pino de metal sobre base de madeira. Estão representadas a musculatura, a vascularização, a traqueia e a tiroide.

Corpo Humano

ME/400002/74

Escola Secundária Alves Martins

Modelo anatómico do ser humano com abertura no troco, montado em cima de um pequeno banco de madeira. Permite estudar os músculos e o sistema nervoso, mas também os principais órgãos internos. Várias peças anatómicas encontram-se removidas do modelo.

Cérebro (Cerveau. Face externe de l´hémisphère gauche)

ME/400439/7

Escola Secundária Sebastião e Silva

Modelo anatómico de cérebro humano (face esquerda) em alto-relevo assente numa base de madeira. Trata-se de um modelo ilustrativo da morfologia externa do cérebro, usado para o estudo da morfologia do Homem que, com graus de aprofundamento diferentes, se fazia nas disciplinas de Ciências Naturais. Pertence à coleção «Anatomie Humaine» da Casa Deyrolle. Segundo informação contida nas etiquetas das peças, o conjunto de modelos que formam a coleção foi fornecido pelo Ministério da Educação em 1953.

Coração

ME/400798/133

Escola Secundária Almeida Garrett

Modelo anatómico do coração humano, composto por artérias, veias, aurícula direita e esquerda, parede cardíaca, músculo cardíaco, válvulas, átrios e ventrículos, montado sobre eixo e base de madeira. Utilizado como material de apoio didático nas aulas de Ciências Naturais/Biologia.

Globo ocular

ME/400956/116

Escola Secundária Augusto Gomes

Modelo anatómico de olho humano, utilizado como material de apoio didático nas aulas de Ciências Naturais/Biologia, desmontando-se facilmente para fácil estudo da constituição e observação do interior do olho. Trata-se de um modelo muito ampliado do olho humano, assente numa base circular, representando as suas diferentes estruturas constituintes. É desmontável e pode observar-se a esclerótica; a córnea; a íris; a pupila; o cristalino; músculos específicos; nervos específicos e nervo ótico.

Aparelho auditivo

ME/400956/118

Escola Secundária Augusto Gomes

Modelo anatómico de ouvido humano, apresentado em corte transversal, assente numa base retangular, utilizado como material de apoio didático nas aulas de Ciências Naturais/Biologia. Desmonta-se para fácil observação e estudo da constituição do ouvido: externo, médio e interno. Na face anterior observa-se, da direita para a esquerda, o pavilhão auditivo; o canal auditivo externo; osso temporal; tímpano, martelo, bigorna e estribo (peças colocadas por encaixe); canal semicircular; nervo auditivo; cóclea (peça de encaixe) e trompa de Eustáquio. Contém legenda em inglês na base.

 

MJS







2021/03/29

Educação Social: Revista de Pedagogia e Sociologia - Adolfo Lima e Libânio da Silva

A publicação Educação social: revista de pedagogia e sociologia, foi editada entre 1924 e 1927 e dirigida por Adolfo Lima. A Empresa Literária Fluminense foi a editora da referida publicação periódica e a Imprensa Libânio da Silva foi a tipografia impressora responsável.

A Empresa Literária Fluminense, fundada em 1905, era especializada no setor de edições técnicas e, por sua vez, a Empresa Libânio da Silva[1]  foi a tipografia que trouxe à luz as páginas de pedagogia social:


“A sociologia e a pedagogia estão ligadas. Se esta é, de facto, baseada na psicologia, ela tem, todavia, o seu ideal e a sua pratica adento da sciência social. A pedagogia fica entre as fronteiras da psicologia e da sociologia.” (Lima, 1924:1)

Como verificamos, o debate pedagógico, nesta década, é um boomerang entre a antiga e a nova educação, a primeira centrada na retórica e outra na filosofia. Adolfo Lima, diretor da publicação Educação social, revista de pedagogia e sociologia,  foi advogado, pedagogista e escritor ligado aos movimentos libertários e de renovação pedagógica que tiveram ação em Portugal durante a 1.ª República Portuguesa.

Adolfo Lima (1874-1943)

Bacharel em direito pela Universidade de Coimbra, foi professor de metodologia na Escola Normal Primária de Lisboa, onde produziu uma notável obra no domínio da pedagogia:

 

“[…] proeminente professor e reputado pedagogo da nossa 1.ª República, desenvolveu o seu projeto educativo, com maior acuidade, na Escola Oficina n.º 1, no bairro da Graça, em Lisboa, e na Escola Normal Primária de Lisboa, em Benfica […]. De facto, nos primeiros 20 anos do nosso século, bem poderíamos dizer que a Escola Oficina n.º 1 se constituiu num verdadeiro ex libris da educação nova em Portugal, como o testemunham numerosos elogios prestados por personalidades como João de Barros, Agostinho da Silva, Adolfo Coelho, entre outros.” (Silva, 2014:66)


Foi professor livre de sociologia no curso livre de artes de representar na Associação da Classe dos Artistas Dramáticos (1908), nos serviços educativos da Voz do Operário, na Sociedade de Estudos Pedagógicos, na Liga de Acção Educativa, mas também no ensino secundário particular em diversos colégios de Lisboa, no Liceu Pedro Nunes (1911-1923). Foi diretor interino e professor de metodologia da Escola Normal Primária de Lisboa (pediu a exoneração em 1921).

 

O primeiro responsável da secção portuguesa da Liga Internacional Pró-Educação Nova, tarefa que exerceu até à data da sua prisão em 1927. Adolfo Lima era defensor de uma pedagogia social ou sociológica, onde a educação estava ligada à realidade social. Foi igualmente o principal defensor da escola única, cabendo-lhe aliás a conceção das "escolas primárias superiores" em 1919, criadas por iniciativa de Leonardo Coimbra, de encerradas mais tarde por António Sérgio. 

Libânio da Silva (1854-1916)

Libânio da Silva, em 1908, escreveu o Manual do tipógrafo, de lições tecnológicas para os que iniciavam a aprendizagem na tipografia. Este manual foi a grande obra de referência da tipografia portuguesa veio a colmatar o vazio existente no país, não só na formação técnica como também na criação de trabalho criativo e inovador.

Libânio da Silva fez da sua empresa – a Imprensa Libânio da Silva – um modelo da própria arte tipográfica. Em sociedade, foi também editor: Guimarães, Libânio & Cª e Libânio & Cunha-Editores.

 

“A ligação à cultura, ao ensino e à intervenção politica como forma de legitimação nas artes gráficas também não mudou muito. Libânio cumpriu todos estes pontos: trabalhou para clientes culturais; escreveu um manual de tipografia e era conhecido pelas condições de aprendizagem das suas oficinas; escreveu e conferenciou sobre as condições de trabalho e as tabelas de preço das tipografias.” (The Ressabiator, 2010)

Libânio da Silva participou nos movimentos de afirmação da força dos tipógrafos em Portugal, designadamente na dinamização associativa, e conquistou prémios de trabalhos gráficos em exposições nacionais e estrangeiras. Apresentado em 1913, como "industrial e escritor", na Comissão Organizadora da Exposição Nacional de Artes Gráficas de Lisboa.

 

 P. M.

 

BIBLIOGRAFIA:

 

LIMA, Adolfo (1924). “Educação social.” Educação social: revista de pedagogia e sociologia; A. 1, n.º 1 (10 Jan. 1924), p. 1-4

 

________ (1915). “A escola e a criança.” Boletim pedagógico; A. 1, n.º 7 (15 Set. 1915), p. [85]-8

 

________ (1924). “A escola única.”  Educação social; A. 1, n.º 2 (25 Jan. 1924), p. 27-29

 

________ (1924). “Os períodos da evolução da criança: ciclos da educação, cotejo dos autores.” Educação social; A. 1, n.º 17/18 (15 Set. 1924), p. 320-328

 

THE RESSABIATOR (Junho 10, 2010). Fatalismo ou quê? [em linha]. [Consult. 2 de fevereiro de 2021]. Disponível: https://ressabiator.wordpress.com/tag/libanio-da-silva/

 

SILVA, António (2014). “Adolfo Lima e a introdução do teatro escolar educativo em Portugal” [em linha]: Revista Portuguesa de Educação Artística, Vol. 4 (2014). [Consult. 2 de fevereiro de 2021]. Disponível: https://rpea.madeira.gov.pt/index.php/rpea/article/view/45

 

TIPOGRAFOS.NET (cop. 2007). “Libânio da Silva (1854-?)” [em linha]: Tipográfico [Consult. 2 de fevereiro de 2021]. Disponível: http://www.tipografos.net/portugal/libanio-silva.html

 



[1] Libânio Venâncio da Silva (1854-1916) começa a trabalhar na Lallemant Fréres Typographie, importante empresa lisboeta da época. Autodidata, cedo procurou conhecer os segredos da tipografia e todos o apontam como modelo quer de operário, quer de empresário. Ficou conhecido como mestre Libânio, lidou com as grandes figuras da época, amou o teatro e foi colaborador de jornais, tradutor e poeta. Em 1899 foi um dos entusiastas da homenagem portuguesa a Émile Zola, tendo produzido na sua tipografia o jornal Pró-Justiça. Tratou-se de uma homenagem dos operários do Livro em Portugal e apresenta, no final, um poema de Libânio da Silva ao seu "herói entre os heróis". Morre em 1916, em Lisboa, sem ver concretizada a ideia da Escola de Artes Gráficas.