2024/07/04

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: António Arroio (1856 - 1934)

 

 

(Imagem do autor retirada da internet)

António José Arroio nasceu a 19 de fevereiro, no Porto, filho de José Francisco Arroio, compositor, músico e primeiro diretor do Teatro Nacional São João e de Rita Xavier de Rosola Arroio. Tendo nascido no seio de uma família ligada à música, teve uma sólida formação nesta área.

Em 1878 concluiu o curso de Engenharia na Academia Politécnica do Porto e iniciou a vida profissional na construção dos caminhos de ferro da Beira Alta, Beira Baixa, Sul e Sudoeste. Este cargo permitiu-lhe contatar diretamente com diferentes regiões de Portugal, recolhendo informação para a obra Notas sobre Portugal que publicou em 1908/09.

Entre 1881 e 1890 passou a trabalhar no Ministério das Obras Públicas, sendo responsável pela inspeção e receção de material vindo de estrangeiro. Entre 1886 e 1890 viajou pela Europa e viveu em Bruxelas durante 4 anos, contatando com a elite intelectual belga.

Entre 1890 e 1926 foi nomeado Inspetor do Ensino Elementar Industrial e Comercial. No âmbito deste cargo, redigiu vários relatórios sobre as escolas técnicas salientando a importância da correspondência entre as matérias lecionadas e as necessidades económicas das regiões abrangentes.

Para este educador existia uma relação direta entre o grau de desenvolvimento económico de um país e o seu grau de cultura. O ensino devia ser especializado e descentralizado, fazendo uma ligação entre as escolas técnicas e as industrias locais. Apesar da sua visão utilitarista do ensino, também defendeu a importância do ensino do desenho e da música, como forma de expressão do indivíduo.

Em 1890 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador pela região de Paredes. Em 1900 foi vogal da Comissão Portuguesa da Exposição Universal de Paris e em 1908 foi um dos fundadores da Liga de Educação Nacional.

Em 1916 participou num ciclo de conferências organizado pelo Ministério da Instrução Pública, debruçando-se sobre o desenho no ensino primário.

Em 1926 tonou-se vogal do Conselho Superior de Obras Públicas, cargo que ocupou até 1928.

Publicou várias obras sobre literatura, arte e música: Soares dos Reis e Teixeira Lopes (1899), A Música de Wagner e a Arte do Canto (1906 – 1907), O Canto Coral e a sua Função Social (1909), O Caso do Monumento ao Marquês de Pombal (1914), Singularidades da Minha Terra (1917), entre outros.

António Arroio faleceu em 1934 e foi atribuído o seu nome à então recém-criada Escola Industrial António Arroio de Artes Aplicadas, atualmente Escola Artística de António Arroio.

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

 MJS

 

2024/07/02

Nos 500 anos do nascimento de Camões - D. Manuel II e Camões - “O rei que amava os livros” (Parte I)

 

No ano em que se comemoram 500 Anos do Nascimento de Luís de Camões, passam 32 anos sobre a morte de D. Manuel II (02-07-1932), um dos maiores colecionadores, estudiosos e divulgadores do seu nome e da importância da sua obra.

 

(Imagem de Camões. Retirada da internet)

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da morte libertando

                                                                 (Os Lusíadas, Canto I)

 

1. Nascimento, infância e formação

D. Manuel II, nascido em 1889, foi o terceiro filho do rei D. Carlos e da rainha D. Amélia. O primeiro foi D. Luís Filipe, Príncipe Real, o segundo foi uma menina, Maria Ana, que nasceu prematura e teve muito pouco tempo de vida, e o terceiro, nascido no Palácio de Belém, foi D. Manuel, futuro rei D. Manuel II.

D. Manuel, junto com o irmão, usufruiu de uma educação cuidada e rigorosa, apoiada pelos melhores professores e mestres da época (José Maria Rodrigues, Manuel Maria de Oliveira Ramos e Alexandre Rey Colaço), seguindo horários e programas de estudo de grande rigor e exigência. A pedido expresso da mãe, a rainha D. Amélia, os seus professores e perceptores deviam “esquecer” o berço do príncipe e do infante e exigir deles o cumprimento e a dedicação ao estudo, e aos deveres, pedidos a qualquer outra criança da sua idade. O horário diário e semanal era estipulado no início de cada ano e os cadernos e manuais escolares dos príncipes, bem como os seus professores, acompanhavam-nos para todo o lado, seguindo as obrigações das muitas deslocações que eram exigidas à Família Real. Até determinada altura, D. Manuel seguiu o mesmo percurso pedagógico que o irmão até que, o papel que esperava este último (D. Luís Filipe), começou a pedir outro tipo de formação.


D. Manuel II, por Henrique Medina (1948).

(Fonte: www.fcbraganca.pt)

 

 

2. Regicídio e revolução

No início de tarde de 1 de fevereiro de 1908, tudo veio mudar para a família real portuguesa. Cerca das 17:00 horas da tarde, D. Manuel perde o pai e o irmão, assassinados no Terreiro do Paço, acabando de chegar de mais uma estada em Vila Viçosa, no Alentejo. Nesse dia, o infante estava ansioso não só por rever os pais e o irmão, mas também porque iria assistir nessa noite à estreia da ópera Tristão e Isolda, em São Carlos. Tendo ficado ferido apenas num dos braços, e restando-lhe a sua mãe, D. Manuel, dadas as contingências, sobe ao trono de Portugal para reinar poucos anos (1908-1910). Com a revolução republicana e a implantação da república, a Família Real é obrigada a deixar o país e a procurar o exílio.

D. Manuel, desde tenra idade, mostrou sempre um gosto e uma apetência natural pelas artes, a literatura e, muito especialmente, a música. Até final da vida, será grande frequentador de concertos e récitas operáticas e, ele próprio, um exímio executante de piano e órgão, nunca tendo perdido o contacto com o seu professor e amigo Alexandre Rey Colaço. Desde cedo, os livros também já eram alvo do seu interesse e paixão, pois, como refere a historiadora Maria Cândida Proença, já em jovem D. Manuel visitava a Real Biblioteca da Ajuda e o bibliotecário responsável, Ramalho Ortigão, mostrando grande interesse e curiosidade pelos trabalhos aí desenvolvidos. Nas suas viagens ao estrangeiro, em visita a parentes terá, igualmente, conhecido bibliotecas de destaque como a do tio Aumale, Henri d’Orléans (tio da Rainha D. Amélia).

A implantação da república e a consequente permanência no exílio, vieram trazer ao monarca deposto a tranquilidade e a disponibilidade, não só para se dedicar à audição e prática da sua música e compositores preferidos, mas também para a pesquisa, recolha e análise das obras literárias (monografias, manuscritos e outros importantes documentos) que lhe foram tão caras – um trabalho aturado e minucioso que valeu ao monarca uma posição nos lugares cimeiros da história e investigação da literatura portuguesa, ao lado de nomes como Barbosa Machado e António Joaquim Anselmo.

 

(continua)

 

JMG