2020/12/31

Património imaterial de Portugal: Falcoaria


Em 2010, a arte da Falcoaria foi declarada património imaterial da humanidade, consagrando uma das mais antigas relações entre o homem e as aves.

A origem desta atividade encontra-se, provavelmente, no Extremo Oriente, mas existem vários registos arqueológicos da sua prática noutras regiões como o Irão, o Egipto, a Turquia, entre outros.

A falcoaria é, por definição, a arte de criar e treinar aves de rapina, nomeadamente falcões, para a caça. Este método milenar foi transmitido de geração em geração, chegando aos dias de hoje.

Em Portugal, pensa-se que esta modalidade terá sido trazida aquando das invasões muçulmanas. Está devidamente assinalada desde a fundação da nacionalidade.

O período de esplendor da falcoaria foi, sem dúvida, a época medieval, podendo destacar-se o reinado de D. Fernando. Era uma arte dominada pelas elites aristocráticas, um verdadeiro símbolo de estatuto social elevado. É importante não esquecer que ovos e crias destes pássaros eram dispendiosos e era preciso bastante tempo, espaço e recursos financeiros para treinar as aves.

A perda da independência portuguesa fez diminuir a dedicação a esta arte, muito embora tenha sido publicado em 1616 a Arte da Caça de Altaneria, de Diogo Fernandes Ferreira, uma compilação dos conhecimentos da época relativamente à caça com falcões.

Após a restauração da independência, a realeza volta a investir na falcoaria mandando construir a Real Falcoaria de Salvaterra de Magos, que se destacava entre os países da Europa.

Com o desenvolvimento das armas de fogo e as Invasões Francesas, a Falcoaria foi uma prática votada ao abandono, sem nunca desaparecer por completo.

Atualmente caracteriza-se por uma dedicação às aves de presa, respeitando a sua natureza. O declínio desta prática deve-se ao abandono rural, pelo que se torna muito importante a preservação desta tradição.

A candidatura foi apresentada pelo município de Salvaterra de Magos, localidade com ampla tradição nesta área.

Para mais informações sobre esta tradição milenar poderá aceder à página da Falcoaria Real de Salvaterra de Magos ou à Associação Portuguesa de Falcoaria

 

MJS

2020/12/28

Património imaterial de Portugal: Fado


O Fado foi a primeira expressão artística a ser declarada pela UNESCO como património cultural imaterial da humanidade em Portugal, em 2011.

A origem deste característico estilo musical perde-se no tempo: alguns estudiosos apontam para os Cânticos Mouros dos bairros de Lisboa, outros para uma fusão entre a música africana e as canções em voga nos séculos XVIII e XIX, mas nada é certo.

Fado é uma palavra de origem latina e significa “destino, o que lhe moldou o carácter mais denso e grave, a referência à saudade e às emoções fortes.

O que é consensual é que o Fado nasceu na Lisboa oitocentista, em contexto popular ou até marginal de convívio e lazer. Na Lisboa boémia cantavam-se os temas do quotidiano que se inspiravam em ambientes frequentados por prostitutas, marinheiros ou marialvas.

Apesar desta inspiração marcadamente popular, aristocracia também se rendeu aos encantos do Fado. O mito do envolvimento amoroso do Conde de Vimioso com Maria Severa Onofriana (1820 – 1846), ficará para sempre um referencial da comunidade.


A partir de 1870, o Teatro de Revista começa a integrar o Fado nos momentos musicais. Durante esta fase, a guitarra define-se como o acompanhamento por excelência deste tipo musical.

O Fado esteve igualmente ligado a eventos festivos populares em Lisboa, em representações teatrais ou até ao carnaval. A rádio teve uma importância fundamental na divulgação deste estilo, apesar da censura, em 1927, ter travado a sua evolução. Entre os fados mais antigos que conhecemos encontra-se o Fado do Marinheiro, modelo para as composições futuras. Daqui nasceram vários estilos como o fado castiço, boémio, aristocrata, corrido, entre outros.

A partir da década de 30 do século XX, o fado tem uma ampla divulgação, com novos espaços e interpretes e com o aparecimento das Casas de Fado na zona do Bairro Alto bem como as companhias de fadistas profissionais. A censura deixou algumas marcas na sua evolução, tendo-se perdido um pouco o caráter de improviso para dar espaço à profissionalização.

Os primeiros registos discográficos datam do início do século XX, mas com um mercado nacional incipiente.

O início do cinema sonoro em Portugal vem dar um novo fôlego ao Fado, integrando fadistas nos seus elencos: Amália Rodrigues, Fernando farinha, Hermínia Silva, Berta Cardoso, Deolinda Rodrigues, Raul Nery ou Jaime Santos.

Os anos de ouro do Fado incluem as décadas de 1940 a 1960, quando surgem os grandes nomes e os grandes interpretes. Se anteriormente as letras eram anónimas, agora o fado mistura-se com a poesia e com alguns dos maiores poetas portugueses, a par do enorme contributo do compositor Alain Oulman. Amália Rodrigues torna-se um ícone do Fado.


A partir do 25 de abril de 1974, o Fado, conotado com o regime anterior, é um pouco posto à margem das novas elites intelectuais. Essa importância só será retomada com a estabilização da democracia.

Para mais informações, visita virtual e visita ao Roteiro do fado em Lisboa, aceda ao Museu do Fado


MJS