2024/02/29

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adelaide Cabete (1867 – 1935)

 

(Imagem da autora retirada da internet)


Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete nasceu em Elvas a 25 de janeiro de 1867, filha de Ezequiel Duarte Brazão e Balbina dos Remédios Damas Brazão, trabalhadores rurais. Foi uma das principais figuras do feminismo português, humanista, professora, autora, médica ginecologista e obstetra.

O seu pai morreu quando ainda era bastante jovem, pelo que teve de trabalhar na agricultura desde cedo e em atividades domésticas nas casas das famílias mais abastadas. Dada esta situação, não frequentou a instrução primária, mas aprendeu a ler e escrever sozinha.

Casou aos 18 anos com o sargento e militante republicano Manuel Ramos Fernandes Cabete. Defensor dos direitos das mulheres, incentivou Adelaide a prosseguir os seus estudos: fez o exame de Instrução Primária em 1889, o curso dos liceus em 1894 e os exames da Escola Politécnica em 1895. Posteriormente mudou-se para Lisboa onde prosseguiu a sua instrução na área da medicina. Em 1896 matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica. Concluiu o curso em 1900 com a tese Proteção às mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações, com o objetivo de incentivar o governo a intervir no melhoramento da situação das mulheres grávidas.

Especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia, estabelecendo o seu próprio consultório. Procurou difundir os cuidados materno-infantis, a importância da instrução e os cuidados básicos da grávida e da criança. O seu primeiro artigo foi publicado no Jornal Elvense em 1901 com o título: Instrua-se a mulher.

Em 1908 fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas em parceria com Ana de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo. Pretendiam a emancipação das mulheres e o sufrágio feminino. Adelaide participou em vários movimentos propagandísticos republicanos, escrevendo vários artigos e discursando. Teve uma atividade relevante no 5 de outubro de 1910.

A partir de 1912 envolveu-se em inúmeras organizações que reivindicavam o voto feminino: a Liga Portuguesa Abolicionista, a Cruzada das Mulheres Portuguesas, as Ligas da Bondade e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde assumiu o cargo de presidente desde 1914. Nesse ano trabalhou como médica escolar e professora de Higiene, Puericultura, Anatomia e Fisiologia no Instituto Feminino de Educação e Trabalho em Odivelas.

Em janeiro de 1916 Manuel Cabete faleceu, mas Adelaide continuou o seu trabalho como ativista e como médica.

Em 1929 partiu para Luanda, onde continuou envolvida nas causas femininas e na escrita de artigos de especialidade. Lutou pelo direito de acesso à saúde e reivindicou a construção de uma maternidade pública, o que acabou por acontecer em Lisboa em 1932 com a Maternidade Alfredo da Costa. Em 1933 foi a primeira e única mulher a votar em Luanda.

Após um acidente em 1934, regressou a Lisboa, onde acabou por falecer a 14 de setembro de 1935.

Ao longo da sua vida Adelaide Cabete participou em vários congressos como palestrante: Congresso Internacional das Ocupações Domésticas (Bélgica, 1913), Congresso Internacional Feminino (Itália, 1923), Congresso Internacional das Mulheres (Estados Unidos, 1925), I e II Congressos Feministas da Educação (Lisboa, 1921 e 1928) e os Congressos Abolicionistas (Lisboa, 1956 e 1929).

Foram vários os artigos que publicou, destacando-se sempre a preocupação médica, social e feminista: Papel que o Estudo da Puericultura, da Higiene Feminina, etc deve desempenhar no Ensino Doméstico (1913); Proteção à Mulher Grávida (1924); A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas (1924); artigos diversos nas revistas Alma Feminina (1920-1929), Educação, Educação Social, O Globo, A Mulher e a Criança, Pensamento, O Rebate, Renovação (1925-1926).

Adelaide Cadete, para além da sua reivindicação dos direitos das mulheres, lutou para que as condições de acesso à saúde fossem alargadas, como o direito a uma licença de maternidade de um mês

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


2024/02/26

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Maria Ulrich (1908 - 1988)


(Imagem da autora retirada da internet)

Maria de Lima Mayer Ulrich nasceu a 9 de março de 1908 em Coimbra, filha de Rui Enes Ulrich, professor catedrático, e de Genoveva Lima Mayer. Estudou em França e Inglaterra e considerava que a ascendência alemã do seu pai e francesa da sua mãe em muito contribuíram para a sua educação e perspetiva da sociedade.

A família Mayer veio para Portugal cerca de 1840. Carlos Mayer, avô de Maria, pertenceu ao grupo d’ Os Vencidos da Vida. A sua mãe esteve sempre ligada à cultura e conviveu com inúmeras personalidades desse mundo.

Maria Ulrich foi educada em casa nos primeiros anos da sua vida, mas em 1921 partiu para França onde prosseguiu os seus estudos no Pensionnat St. Joseph. Em 1934 o seu pai foi nomeado embaixador em Londres e Maria acompanhou a família. Aí teve acesso a uma enorme diversidade cultural e política, contrastante com a situação vivida em Portugal.

Em 1935 regressou e ficou dececionada com o panorama cultural português e com o atraso que se vivia. Conheceu Júlia Guedes, presidente da Ação católica Portuguesa. Em 1938, Maria foi convidada para Presidente da Juventude Independente Católica Portuguesa, aproveitando a organização para dinamizar a sociedade. Participou em várias campanha e inquéritos nacionais e concluiu que a educação era o principal problema em Portugal.

Em 1950 deixou a organização para acompanhar novamente a família a Londres e elaborou as bases de um projeto de formação de educadoras de infância. Contatou com as escolas Montessori e com as escolas de educadoras francesas, aprofundando os seus conhecimentos de pedagogia. Quando regressou fundou em 1954 a Escola de Educadoras de Infância. O seu objetivo era formar profissionais competentes e interventivas socialmente, transmitindo valores humanos e democráticos.

Em 1957 fundou a Associação de Pedagogia Infantil, constituída pela Escola de Educadoras de Infância e pelo Colégio O Nosso Jardim. Em 1969 criou a biblioteca Infantil À Descoberta, aberta a toda a comunidade. Em 1974 inaugurou um Centro de Documentação na Escola de Educadoras de Infância, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1986 criou a Associação Casa Veva de Lima, em homenagem à sua mãe.

Juntamente com Berta Peixoto lançou as bases da Fundação Maria Ulrich, com o objetivo de promover ações de formação nas áreas da educação e cultura. A educadora faleceu em 1988 e em 1989 foi instituída a Fundação, visando a construção de uma nova humanidade.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003. 


MJS