Adelaide
de Jesus Damas Brazão Cabete nasceu em Elvas a 25 de janeiro de 1867, filha de
Ezequiel Duarte Brazão e Balbina dos Remédios Damas Brazão, trabalhadores
rurais. Foi uma das principais figuras do feminismo português, humanista,
professora, autora, médica ginecologista e obstetra.
O seu
pai morreu quando ainda era bastante jovem, pelo que teve de trabalhar na
agricultura desde cedo e em atividades domésticas nas casas das famílias mais
abastadas. Dada esta situação, não frequentou a instrução primária, mas
aprendeu a ler e escrever sozinha.
Casou
aos 18 anos com o sargento e militante republicano Manuel Ramos Fernandes
Cabete. Defensor dos direitos das mulheres, incentivou Adelaide a prosseguir os
seus estudos: fez o exame de Instrução Primária em 1889, o curso dos liceus em
1894 e os exames da Escola Politécnica em 1895. Posteriormente mudou-se para
Lisboa onde prosseguiu a sua instrução na área da medicina. Em 1896
matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica. Concluiu o curso em 1900 com a tese Proteção às mulheres grávidas pobres como meio
de promover o desenvolvimento físico das novas gerações, com o objetivo de
incentivar o governo a intervir no melhoramento da situação das mulheres
grávidas.
Especializou-se
em Ginecologia e Obstetrícia, estabelecendo o seu próprio consultório. Procurou
difundir os cuidados materno-infantis, a importância da instrução e os cuidados
básicos da grávida e da criança. O seu primeiro artigo foi publicado no Jornal Elvense em 1901 com o título: Instrua-se a mulher.
Em
1908 fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas em parceria com Ana de
Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo. Pretendiam a emancipação das mulheres
e o sufrágio feminino. Adelaide participou em vários movimentos
propagandísticos republicanos, escrevendo vários artigos e discursando. Teve
uma atividade relevante no 5 de outubro de 1910.
A
partir de 1912 envolveu-se em inúmeras organizações que reivindicavam o voto
feminino: a Liga Portuguesa Abolicionista, a Cruzada das Mulheres Portuguesas,
as Ligas da Bondade e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde
assumiu o cargo de presidente desde 1914. Nesse ano trabalhou como médica
escolar e professora de Higiene, Puericultura, Anatomia e Fisiologia no
Instituto Feminino de Educação e Trabalho em Odivelas.
Em
janeiro de 1916 Manuel Cabete faleceu, mas Adelaide continuou o seu trabalho
como ativista e como médica.
Em
1929 partiu para Luanda, onde continuou envolvida nas causas femininas e na
escrita de artigos de especialidade. Lutou pelo direito de acesso à saúde e
reivindicou a construção de uma maternidade pública, o que acabou por acontecer
em Lisboa em 1932 com a Maternidade Alfredo da Costa. Em 1933 foi a primeira e
única mulher a votar em Luanda.
Após
um acidente em 1934, regressou a Lisboa, onde acabou por falecer a 14 de setembro
de 1935.
Ao
longo da sua vida Adelaide Cabete participou em vários congressos como
palestrante: Congresso Internacional das Ocupações Domésticas (Bélgica, 1913),
Congresso Internacional Feminino (Itália, 1923), Congresso Internacional das
Mulheres (Estados Unidos, 1925), I e II Congressos Feministas da Educação
(Lisboa, 1921 e 1928) e os Congressos Abolicionistas (Lisboa, 1956 e 1929).
Foram
vários os artigos que publicou, destacando-se sempre a preocupação médica,
social e feminista: Papel que o Estudo da
Puericultura, da Higiene Feminina, etc deve desempenhar no Ensino Doméstico
(1913); Proteção à Mulher Grávida
(1924); A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas
(1924); artigos diversos nas revistas Alma
Feminina (1920-1929), Educação, Educação Social, O Globo, A Mulher e a Criança,
Pensamento, O Rebate, Renovação
(1925-1926).
Adelaide
Cadete, para além da sua reivindicação dos direitos das mulheres, lutou para
que as condições de acesso à saúde fossem alargadas, como o direito a uma
licença de maternidade de um mês
Fonte
principal: Dicionário de educadores
portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.
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