2015/11/04

Júlio Coelho da Silva Gil



(Imagem de um acampamento da Mocidade Portuguesa, com tendas e uma fogueira)



Júlio Gil nome completo Júlio Coelho da Silva Gil, nasceu em Lisboa, 24 de abril de 1924 e veio a falecer a 11 de abril de 2004, foi um ilustrador, cartoonista, arquiteto, pintor e escritor português.


(Imagem de uma nau portuguesa)


Júlio Gil, em colaboração com os fotógrafos Augusto Cabrita e Nuno Calvet, publicou uma série estudos sobre arquitetura portuguesa, sendo o primeiro destes As mais belas vilas e aldeias de Portugal (1984). Em colaboração com o fotógrafo Nuno Calvet, escreveu Nossa Senhora de Portugal, Santuários Marianos. Entre outras, a publicação pos mortem, editada em 2014 - Azulejos da Igreja de São Lourenço – Matriz de Alhos Vedros[1], também da sua autoria.

(Imagem de um filiado da Mocidade Portuguesa, de pé, segurando uma espada junto à Cruz)


Iniciou a sua carreira de cartoonista na “escola” da Mocidade Portuguesa, ao ilustrar as publicações oficiais da referida Organização. A revista Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social em 1957 refere e homenageia Júlio Gil da seguinte forma:

“Em fevereiro de 1945, num catálogo da exposição de desenhos do filiado Júlio Gil escrevia-se: ‘Ilustrador de grande merecimento, dotado de uma maneira muito pessoal, revolucionária e presente, tem ilustrado centenas de assuntos, criando, inventando, desenhando às mãos cheias por livros, jornais e revistas. É, atualmente, aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa e talvez caiba à Mocidade essa sedutora responsabilidade. O Júlio Gil está a começar – e bem. Não é ainda aquilo que queremos que seja – mas daqui a alguns anos, quando ele for o ‘arquiteto Júlio Gil’, seja de facto aquilo que queremos’.
12 anos volvidos, esta página do ‘Guião’ vem confirmar as esperanças que a Mocidade um dia depositou em Júlio Gil ao franquear-lhe as portas do Salão Nobre do Palácio da Independência para a sua primeira exposição individual.
Para os que não creem no futuro, para os que negam a obra da Organização, esta página é um fervoroso desmentido, um irrefutável argumento contra o azedo ‘dizer mal’ dos incrédulos da nossa terra.
 Agora redobram as centenas de ilustrações suas. E, como desejou o autor das linhas do catálogo, o arquiteto Júlio Gil continua a ser um nosso camarada, um artista da Mocidade.
Esta simples e pequena página – quantos desenhos tivemos de pôr de lado – não é, pois, mais do que um preito de amizade ao nosso primeiro artista; não um reconhecimento piegas, um elogio burguês de quem se sente aliviado por dizer que gosta dos seus desenhos; mas, antes, um reconhecimento franco, viril, com espírito M. P. - que é uma coisa que Júlio Gil faz transbordar dos seus desenhos – pela sua obra dentro da Organização e fora dela.” (Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social, 1957, p. 7).

(Imagem de Vasco da Gama)


Júlio Gil, como verificamos, começou a dar os primeiros na sua arte de ilustrar, nas primeiras publicações periódicas da Mocidade Portuguesa, nomeadamente, em o Guião: revista para graduados, por tal, foi amplamente reconhecido pela Mocidade Portuguesa com um “um reconhecimento franco, viril, com espírito M. P.”

(Imagem de um cavaleiro medieval)


Na década de 50, como sabemos, o contexto artístico vive numa dualidade extremada. Por um lado, existem produçõesromânticas” que espelhavam ideias de folclóricos de felicidade (esboços de lides quotidianas) e, por outro, exibe-se o rigor das artes aplicadas, por exemplo na feitura de parietais e outro tipo de material pedagógico.


(Imagem de um cavaleiro, provavelmente Nuno Álvares Pereira)


Neste contexto, o Estado Novo difundiu obras que tinham como objetivo prioritário a apologia do regime vigente, tendo como detentor as virtudes, a raça e a continuidade das glórias passadas, esta condicionante origina obras de caráter histórico e/ou apologético e, acima de tudo, o reforço das tendências moralizantes em detrimento da realidade vivida.

(Imagem de uma Cruz num acampamento com a frase: "A Missa no Acampamento")


Júlio Gil, fortemente impregnado destes ideais, deixa transparecer nas ilustrações da revista Guião atitudes apologéticas e fortemente moralizantes, quer através de orações explícitas, quer através de evocações gloriosas. Para além deste aspeto, verifica-se que os traços dominantes espelham uma cultura dominada pelas imagens da What Disney, bem como pela BD que invadia a europa. Nesta linha estética de Gil aparece grandes nomes das artes portuguesas, tais como, Noronha da Costa, José de Lemos e Tòssan, entre outros.

“Júlio Gil das técnicas de impressão que marcam a expressão de muitos  ilustradores desta época. Grandes manchas de cor planas complementadas por um desenho de contornos negros que pretende acrescentar apenas alguns pormenores à imagem.” (Silva, 2011, p. 124)

(Imagem de Santa Isabel)


As ilustrações de Gil são muito datadas, ainda assim, como afirma Susana Silva, são reconhecidas pelas suas “cores planas” acompanhadas com traços espessos (manchas) e outros mais finos pormenorizados.

(Imagem estilizada de um jovem de perfil que confunde com a vela de um navio)


Estas ilustrações que fazem parte da publicação periódica Guião: revista para graduados, ilustrações estas que, acompanham todo o percurso da revista, desde o seu começo 1949 (n. 1, 28 de maio 1949) até ao seu términos em 1953 (n. 22, fev. 1953).





Bibliografia:


Câmara Municipal da Moita. Apresentação do livro “Azulejos da Igreja de São Lourenço” [em linha]. Moita: Município da Moita, 2014. [Consult. 28 julho 2015]. Disponível em

Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social. A. 1949-1953

Júlio Coelho da Silva Gil. Rolho: cursilhos de cristandade, Torres Vedras, Mafra [em linha]. N. 103 (mai./jun. 2004), p. 3. [Consult. 28 julho 2015]. Disponível  em

Julio Gil: um artista da Mocidade. Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social. N. 66 (mai. 1957), p. 7

Silva, Susana Maria Sousa Lopes - A ilustração portuguesa para a infância no século XX e movimentos artísticos: influências mútuas, convergências estéticas [em linha]: [S.l.: Susana M.S.L. Silva], 2011. (Tese de doutoramento em Estudos da Criança (ramo de conhecimento em Comunicação Visual e Expressão Plástica). [Consult. 28 julho 2015]. Disponível em

 P. M. 





[1] No âmbito das comemorações dos 500 anos do Foral de Alhos Vedros, o presidente da Câmara Municipal da Moita e a comissão executiva convidam para a apresentação do livro "Azulejos da Igreja de São Lourenço Matriz de Alhos Vedros", de Júlio Gil.