A Biblioteca da Ajuda é uma das mais antigas bibliotecas
de Portugal, dotada de um espólio incalculável. Está situada numa das alas do
Palácio da Ajuda desde 10 de junho de 1880 e conta com 5 salas, sendo apenas 3
abertas ao público.
Nestas zonas públicas destacam-se a dimensão
das estantes, o mobiliário, os tetos decorados com “trompe-l´oeil”, as vitrinas
com várias peças manuscritas e peças da antiga oficina de encadernação da
Biblioteca Real, datadas dos séculos XVIII/XIX.
A origem da Biblioteca da Ajuda é
Biblioteca Real, antiga designação, ainda do século XV. Durante o século XVI
foi instalada no torreão poente do Paço da Ribeira. D. João V enriqueceu
amplamente o seu espólio que se perdeu durante o terramoto de 1755. Após este
acontecimento foi instalada nas casas anexas ao Paço de madeira na Ajuda. O seu
acervo foi enriquecido com a compra de espólios de grandes casas senhoriais.
Devido às invasões francesas, em 1811, a
biblioteca foi novamente transferida, desta vez para o Rio de Janeiro, formando-se
o núcleo inicial da atual Biblioteca Nacional. Incluía as livrarias do Rei, da
Casa do Infantado e os manuscritos da Coroa. Em 1821, o núcleo de manuscritos
da Casa Real é remetido para Portugal. Os cerca de 60000 mil volumes que
permaneceram no Brasil irão dar origem à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
O núcleo que veio para Portugal irá, mais
tarde, incorporar as livrarias da Companhia de Jesus (Casa Professa de São
Roque e Colégio Santo Antão), da Congregação do Oratório e do Palácio das Necessidades.
Esta Biblioteca Real foi sendo refeita através de várias iniciativas de D. João
VI e D. Miguel, dotada de um Depósito Legal e acumulando funções de arquivo e
biblioteca e de imprensa régia. Mais tarde procedeu-se à incorporação de alguma documentação
proveniente de organismos públicos, nomeadamente do Ministério do Reino. De
entre as livrarias integradas, encontram-se as seguintes: Dr. Nicolau Francisco
Xavier da Silva; Conde de Redondo; Barbosa Machado; José Freire de Monterroio
Mascarenhas; João da Mota e Silva o Cardeal da Mota; José Monteiro da Rocha;
Pedro de Melo Breyner; Convento das Necessidades, da Congregação do Oratório de
S. Filipe de Nery; Colégio dos Nobres; bispo inquisidor D. José Maria de Melo;
D. Pedro V; D, Luís e D. Carlos. Existem, igualmente, catálogos de outras
livrarias, o que faz supor que estas tenham sido igualmente integradas.
Contam-se nessa situação, as de D. Carlota Joaquina de Bourbom, D. Maria
Francisca Benedita, Cândido José Xavier Dias da Silva, Conde de Sampaio, Conde
de Vila Flor, Conde de Castro Daire, D. Luís de Sousa, Francisco Maria
Angelleli, Manuel Joaquim de Sá Braga, D. José da Silva Pessanha, Colégio de
Santo Antão e Casa Professa de S. Roque, dos Jesuítas.
A Casa Real foi responsável pela administração da
Biblioteca até à implantação da República. Os bibliotecários tinham nomeação
régia e geralmente faziam parte do corpo de secretários do Rei. É o caso de
Alexandre Herculano (1839-1877), Magalhães Coutinho (1877-1895) ou Ramalho
Ortigão (1895-1911). Após a Proclamação da República o 1.º Diretor a ser
nomeado foi Jordão de Freitas (1918-1936).
Quanto ao acervo da biblioteca, o seu catálogo
tem mais de 19.000 registos bibliográficos, incluindo manuscritos, fotografia,
iconografia, cartografia, folhetos, genealogia, obras de medicina ou
arquitetura. Inclui obras de relevo como o Cancioneiro da Ajuda, o Livro de
Traças de Carpintaria, ou Da fabrica que falece a cidade de Lisboa, de
Francisco d’Holanda.
Existem várias coleções das quais podemos
destacar:
- a coleção de manuscritos que detém 2.512 códices e
cerca de 33.000 documentos avulsos (séc. XIII a XX), incluindo 43 códices
iluminados, roteiros e atlas, bíblias, miscelâneas históricas e literárias,
além de uma importante coleção de crónicas (séc. XV a XVIII), nobiliários e
genealogias. Os 226 códices da Symmicta Lusitanica e 61 códices dos Jesuítas na
Ásia são fundamentais para a história do Oriente (séc. XVIII);
- a coleção de manuscritos musicais, considerada como
uma das mais valiosas do país, formada por 2.950 códices e 10.200 avulsos,
constituindo, a nível internacional, um dos mais importantes núcleos de música
de câmara e ópera do séc. XVIII e XIX;
- a coleção de Impressos, composta por 16.000
monografias, 11.000 periódicos, distribuídos por 1.700 títulos, para além de
60.000 volumes de Livro Antigo, do séc. XVI a XVIII. Possui uma importante
coleção de 190 incunábulos e uma coleção de Livros Raros com ca. 500 títulos,
incluindo exemplares únicos. Também se destaca o seu núcleo de atlas
holandeses, franceses e alemães (séc. XVI a XVIII) e uma coleção de folhetos
com cerca de 9000 títulos;
- as coleções de Cartografia, Iconografia e
Fotografia, são constituídas, cada uma, por cerca de 2.500 espécies, sendo
particularmente importante a documentação fotográfica do séc. XIX e princípio
do séc. XX.
MJS