2019/07/03

Escola Industrial Afonso Domingues


No dia 24 de novembro de 1884 foi fundada a Escola de Desenho Industrial Afonso Domingues[1] na casa de João Cristiano Keil, na Calçada do Grilo, n.º 3-1º, sendo ministrado o curso diurno de desenho elementar e o curso noturno de desenho industrial e, posteriormente, alguns cursos profissionais.

A partir de 7 de janeiro de 1887, a escola foi transferida para o rés-do-chão do Palacete de D. Gonçalo Pereira da Silva de Sousa e Meneses, na Calçada da Cruz da Pedra, n.º 10. Logo após, em 1892, procede-se à adaptação de alguns edifícios anexos ao Asilo Dona Maria Pia, no do Convento da Madre Deus, para instalar a escola a inauguração das novas instalações ocorreu em 24 de dezembro de 1897.

Em 1900, a Escola Afonso Domingues encontrava-se perfeitamente estabelecida, com relevo para o curso de desenho elementar, de arquitetura e de máquinas. Dispunha de oficinas de pintura, fundição, carpintaria e serralharia e transformou-se num importante centro de estudos dos filhos dos mestres operários da região de Xabregas (E.S.A.D., 2010, p. 4):

“Ao longo destes anos, além dos cursos de desenho elementar e desenho Industrial, foram ministrados na escola entre outros: cursos profissionais (1886/87) com a criação de oficinas de pintura decorativa, de trabalhos em madeira e metal, carpintaria, etc. e cursos de ensino técnico, como os cursos de serralheiro mecânico, montador electricista, carpinteiro marceneiro, que funcionaram quer em regime diurno quer nocturno, os cursos profissionais de mecânica auto, instalações eléctricas, metalomecânica e produção e os cursos técnico-profissionais de manutenção mecânica, electrónica e instalações eléctricas e química, cursos do programa 15-18 de operador de laboratório, Instalações eléctricas, mecânica Auto e ainda cursos de educação e formação ao abrigo do Despacho 279/02 de 12 de abril, em regime diurno” (Escola Secundária Afonso Domingues, 2010, p. 4).


Os sucessivos directores da referida escola, para além de desempenharem funções de professores, detêm várias competências profissionais, tais como pintores, manualistas, etc. João José Vaz[2] foi pintor marinhista, professor e o primeiro director da Escola entre 1884-1926, sucedendo-lhe na direcção, entre 1926-1955, o engenheiro mecânico João Furtado Henriques.[3] Entre 1955-1967, o reconhecido autor de manuais escolares e engenheiro mecânico Avelino Marques Poole da Costa[4] assume a direção da Escola Industrial Afonso Domingues.


O Decreto-lei n.º 37.028, de 25 de agosto de 1948, implementou um programa de construção de edifícios escolares do ensino profissional: adaptações, ampliações e melhoramentos e escolas novas. No caso específico da Escola Industrial Afonso Domingues foi decretada a construção de um novo edifício sito na Quinta das Veigas, em Marvila, actualmente Rua Miguel de Oliveira.

Segundo Martins (2009, p. 99), o projecto da Escola Industrial Afonso Domingues, da autoria do Arquitecto José Silva Costa[5], seguiu o Anteprojecto Tipo elaborado para as escolas profissionais apresentado pela Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário (JCETS), conforme a Memória Descritiva e Justificativa datada de 21 de dezembro de 1950, e obedecia ao mesmo espírito que presidira à concepção do projecto tipo para as Escolas Técnicas Elementares (1947) a existência de três corpos: aulas, ginásio e oficinas.




A 10 de dezembro de 1950 foi apresentado ao Ministro das Obras Públicas um plano geral de edificação de escolas, em que se incluía a Escola Industrial Afonso Domingues, com uma estimativa de 10.000 contos, e cuja construção deveria ser subsidiada pelo Fundo de Auxílio Americano.

O programa apresentado à Junta de Construções para o Ensino Técnico e Secundário pelo Ministério da Educação Nacional, em fevereiro de 1951, impunha a existência de uma área de 3.400 m² de espaço para oficinas, gabinetes de mestres e depósitos de materiais e ferramentas, ultrapassando, largamente, os 700 m2 previstos para a mesma finalidade.

A construção seguiu um projecto tipo, sendo composta por três edifícios, inaugurados no dia 1 de outubro de 1956, possuindo campos de jogos e pátios, inseridos numa zona arborizada, numa área total aproximada de 20.000 m2. O custo total desta obra foi 22.000.00$00. A escola foi entregue ao Ministério da Educação Nacional no dia 24 de maio de 1956:




No ano letivo de 1956/1957, a Escola Industrial Afonso Domingues já se encontrava instalada em edifício próprio construído na Quinta das Veigas, em Marvila. Esta infra-estrutura evoluída permitiu oferecer excelentes condições de ensino, nomeadamente, com o recurso a diversas oficinas bem equipadas e laboratórios especializados.



 As escolas industriais e comerciais foram extintas em Portugal depois do 25 de abril de 1974, como sabemos, foi instituída uma via unificada para o ensino, compreendendo o 7.º, 8.º e 9.º anos, terminando com a ramificação do ensino liceal e o ensino técnico, que marcara o futuro de tantas gerações. Consequentemente, o Decreto-Lei n.º 80/78, de 27 de abril, transforma a designação da Escola Industrial em Escola Secundária Afonso Domingues.




A Escola foi oficialmente extinta a 23 de março de 2010, por despacho de Secretário de Estado da Educação. O argumento então utilizado pelo governo do corredor para instalação da linha do TGV, para ligar Chelas ao Barreiro nunca se concretizou, sendo suspenso em 2012.

A Escola Secundária de Afonso Domingues, sita em Marvila, recebeu um ofício da Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, no passado dia 28 abril, com a informação de que a escola foi extinta por Despacho do Senhor Secretário de Estado da Educação de 23 de março de 2010 e que teria de encerrar até 31 de agosto de 2010.



P. M. 



BIBLIOGRAFIA:

CARVALHO, Rómulo de (1996). História do ensino em Portugal: desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar-Caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2.ª edição.

DIAS, Luís Pereira (1998). As outras escolas: o ensino particular das primeiras letras entre 1859 e 1881. Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.

ESCOLA SECUNDÁRIA DE AFONSO DOMINGUES (2010). Regulamento interno [em linha]. Lisboa: Escola Secundária Afonso Domingues [Consult. 11 de jun. 2019]. Disponível: https://web.archive.org/web/20081010045858/http://www.esec-afonso-domingues.rcts.pt/docs/regulamento_interno.pdf

MARTINS, Maria Filomena Fernandes Pires (2009). Edifício escolar e ideologias: estudo comparativo dos edifícios das Escolas Técnicas Industriais Afonso Domingues e Marquês de Pombal [em linha]. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Instituto de Ciências da Educação [Consult. 11 de jun. 2019]. Disponível: http://recil.grupolusofona.pt/handle/10437/1158

NÓVOA, António, 2003 (dir.). Dicionário de Educadores Portugueses. Porto: Asa.

SILVA, Carlos Manique da (2002). Escolas belas ou espaços sãos? Uma análise histórica sobre a arquitectura escolar portuguesa (1860-1920). Lisboa: IIE.





[1] Afonso Domingues foi o nome dado à escola de desenho industrial para homenagear o nomeado arquiteto quatrocentista do Convento da Batalha.
[2] João José Vaz (Setúbal, 9 de março de 1859 - Lisboa, 17 de Fevereiro de 1931) foi um pintor e professor. Matriculou-se em 1872 na Academia das Belas-Artes de Lisboa. Ingressou no ensino em 1884, como professor e director na Escola Industrial Afonso Domingues. Em 1912 faz parte da comissão encarregada pelo Governo de formular a reorganização do ensino industrial e comercial nos graus elementar e médio. Dois anos mais tarde, em 1914, instalou o curso comercial na Escola de Desenho Industrial de Setúbal.
[3] João Furtado Henriques (?-1969) licenciado em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, professor do ensino técnico, chefe interino da Repartição de Pedagogia Direcção Geral do Ensino Comercial e Industrial. Na década de quarenta, Furtado Henriques publicou vários manuais escolares de desenho de máquinas, geometria e tecnologia metalomecânica.
[4] Avelino Marques Poole da Costa (?-1972) foi engenheiro mecânico e electrotécnico. Professor do ensino técnico, director da Escola Industrial Afonso Domingues (1955-1967) e autor de autor e co-autor de manuais escolares de desenhos de máquinas e de lições de electricidade.
[5] José da Costa e Silva (Vila de Povos, Vila Franca de Xira, 25 de julho de 1747 - Rio de Janeiro, Brasil, 21 de março de 1819)  foi um arquiteto português que trabalhou em seu país e no Brasil. Em Bolonha estudou com Petronio Francelli e Carlos Bianconi, adquirindo conhecimentos de arquitectura, geometria, perspectiva, aritmética, mecânica e hidrostática. Obteve vários prémios e distinções na Academia, e em 1775 foi nomeado Académico de Honra. Antes de regressar a Portugal, apresentou um projeto à Academia de São Lucas de Roma e, por isso, foi reconhecido como Sócio de Mérito da escola. Ainda em Itália foi convidado a ser professor da Universidade de Coimbra, mas declinou o convite.