O Carnaval da
aldeia de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros em Trás-os-Montes, é uma
das ancestrais celebrações portuguesas, tendo sido considerado património
cultural imaterial da humanidade pela UNESCO em 2019.
Inseridos nesta tradição estão
os Caretos de Podence, imagens misteriosas e diabólicas que percorrem as ruas
durante os festejos de Carnaval, brincando com os transeuntes. Trata-se de
grupos de rapazes envergando trajes de franjas coloridas, chocalhos à cintura e
máscaras de lata ou couro com nariz pontiagudo. Na cabeça utilizam um capuz de
onde sai uma longa cauda. As crianças seguem esta tradição e são designados por
facanitos.
(Imagem da celebração do Carnaval dos Caretos de Podence. Retirada da internet)
As origens deste ritual são
incertas: alguns situam-na no período romano, outros ao Neolítico. São
tradições ligadas à entrada na primavera e à necessidade de boas colheitas. Os
fatos que envergam, com toda a sua cor, espelham esse regresso à vida e à cor.
O Careto é, assim, a figura do “diabo à solta”, com os seus excessos de euforia
após os longos meses de inverno e tudo lhe é permitido, exceto a entrada na
Igreja.
A tradição esteve em risco de
se perder durante os anos 60, devido à partida dos homens para a guerra e à
emigração. Nos anos oitenta, com o regresso dos emigrantes e a criação da
Associação dos Caretos de Podence, esta tradição revitalizou-se.
O Carnaval de Podence também
conhecido por Entrudo Chocalheiro tem dois momentos fundamentais: os casamentos
a fingir no Domingo Gordo e o desfile e Queima do Entrudo na terça-feira de
Carnaval.
Os casamentos a fingir, ou Pregão Casamenteiro, é uma tradição em que vários populares se deslocam para os pontos mais elevados da aldeia e anunciam os “casamentos” dos solteiros da terra. Munidos de um funil de grandes dimensões, os populares fazem um noivado fictício entre solteiros cujas personalidades são absolutamente opostas. No dia seguinte ao anúncio o suposto noivo vai visitar a noiva e tomar com ela o pequeno almoço.
(Imagem do traje tradicional dos Caretos de Podence. Retirada da internet)
A queima do entrudo encerra as
festividades: durante este momento é queimada uma figura semelhante ao diabo
que representa o ano que terminou e que se purifica.
Para divulgar esta tradição, foi criada em 2004 a Casa do Careto, onde se encontram pinturas de Graça Morais, Balbina Mendes e outros artistas, fotografias, fatos, chocalhos, máscaras e todos os objetos ligados a esta celebração.
MJS
1 comentário:
A festa dos caretos de Podence é uma celebração que vale bem a pena conhecer. Como transmontano, orgulho-me de conhecer esta celebração que encerra um ciclo e dá entrada a um novo ciclo na Vida das gentes. Obrigado à MJS por este artigo !!
Miguel Moura
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