Os princípios holísticos de interdependência, diversidade e totalidade são a base deste novo paradigma educacional, cujo objetivo é a formação integral do ser humano. O paradigma holístico não pode ser relacionado com as crenças religiosas ou dogmas. A educação holística reconhece o mundo como uma complexa rede de relações entre as diferentes partes de um todo abrangente. Da mesma forma, não são considera tão importante a aprendizagem de teorias e de modelos quando se pretende o verdadeiro desenvolvimento de mentes científicas, capazes de fazer um uso inteligente e criativo de recursos tecnológicos atuais.
Estas
perspetivas atuais têm, efetivamente, raízes nas investigações pedagógicas do século
dezanove. Desde há muito que os pedagogos se aperceberam dos inconvenientes de
ensinar fatos isolados, o método de ensino Winnetka[1],
levada a cabo por Carleton Wolsey Washburne[2], tenta solucionar a descontextualização de
conteúdos e, acima de tudo, a desigualdade do conhecimento dos alunos. Com este
critério, Washburne acreditava que as turmas deveriam ser organizadas de acordo
com os interesses e as capacidades de cada aluno.
Fonte: Bennette (1921)
“The upper-grade school is to be a very complete plant designed for a thousand children, with a large assembly hall, gymnasium, manual training and domestic science equipment, ample playfields and school gardens. As the location for this school the Board of Education has purchased the 12 acres o verlook ing the Skokie at the corner of Oak and Glendale streets. Immediately to the north is a smal! wooded park and on the west is the 4O-acre Skokie Playfield, with its ball grounds and golf course.” (Bennett, 1921:25)
Como verificamos, Bennett (1921) no Plan of Winnetka: the report of the Winnetka Plan Commission Accompanied projeta escolas de forma a estas integrarem estruturas complexa, tais como: salões de festas, ginásios, equipamentos de trabalhos manuais e de ciências, jardins escolares e campos de futebol e de golfe. Enfim, uma panóplia de equipamentos multifacetados que, a seu modo, veio facilitar a implementação do Método de Ensino Winnetka.
O reconhecido
pedagogo português, Faria de Vasconcelos[3],
cujo espólio monográfico e arquivístico se encontra na Divisão de Serviços de
Documentação e Arquivo da Secretaria-Geral da Educação e Ciência, foi um
impulsionador para este tipo de movimento de renovação do ensino, impulsionando
o desenvolvimento da autonomia moral do educando. Na prática, deveria existir
um modelo escolar no qual se confiaria aos alunos a disciplina e o seu
respetivo funcionamento.
Segundo
Duarte (2010:52), Faria de Vasconcelos, através da metodologia que implementou na sua Escola
Nova[4],
criou as bases para o processo individualizado no ensino seguido por Washburne
no Sistema Winnetka em 1914, em Chicago e por Parkhurst que, em 1922,
planificou e aplicou o denominado Plano Dal-ton que consistia num contrato de
aprendizagem, entre a criança e a escola, em que cada criança escolhe o seu
próprio ritmo de aprendizagem (de ensino individualizado) e, para isso, conta
com a ajuda do professor que lhe propõe o programa adequado com as matérias
divididas em unidades progressivamente escalonadas (cf. Meireles-Coelho, 2010:
128).
“A escola de Bierges,
considerada modelo de Escola Nova em 1912-1914, passou-se de uma pedagogia
baseada em conteúdos (como transmitir a matéria) para uma pedagogia baseada em
métodos (como aprender) e no desenvolvimento de competências em que a educação
intelectual era promovida a par com a educação moral e física, seguindo o
caminho precursor de muitos dos princípios inerentes ao pensamento pedagógico
de Spencer. Valorizava os trabalhos manuais, a cultura física (dimensão
higiénica) e a formação prática experimental, a par da educação intelectual e
científica em que a teoria seguia sempre a prática (e não o contrário) […].” (Duarte,
2010:55).
Partido destes substratos intelectuais descrito por Duarte (2010:55), uma das primeiras preocupações de Washburne foi reabilitar o programa oficial das escolas públicas americanas, o qual, na sua conceção, deveria passar por modificações para atender às exigências da sociedade e as diferenças individuais, para uma educação personalizada.
Um outo influenciador, não menos importante, dos ideais de Washburne foi John Dewey (1859-1952), este filósofo foi representante da corrente pragmática e marcado pelo instrumentalismo filosófico, isto é, pelo o desejo de romper com uma filosofia clássica ligada às classes dominantes, para torná-la um instrumento que permitiria os homens se adaptarem melhor ao mundo moderno. A sua filosofia política também visa o desenvolvimento da individualidade, isto é, a autorrealização por meio da democracia, concebida não como uma forma de governo, mas como uma participação de indivíduos na ação coletiva. Finalmente, sua pedagogia, intimamente ligada ao seu ideal democrático, visa dar aos estudantes os meios e o caráter necessário para participar ativamente da vida pública e social.
Continua: Método de Ensino Winnetka, Parte II
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[1] Winnetka é uma
povoação próxima de Chicago (EUA), onde, em 1915, se iniciou uma experiência de
ensino influenciada pelas ideias de John Dewey. Carleton Washburne foi o criador do sistema de
ensino Winnetka, e como a maioria dos inovadores da educação, partiu de sua
própria experiência educativa mais do que de teorias.
[2] Carleton Wolsey Washburne (1889-1968) foi um educador americano sobejamente conhecido pelos arrojados programas escolares, tais como o Plano Winnetka. Washburne frequentou a Escola de Chicago, gerida por John Dewey e Francis Parker, antes de se formar na Universidade de Stanford (1912) e concluir o seu doutorado em educação na University of California (1918). Depois de lecionar na Escola da Califórnia (1912-14) com o estatuto de Chefe no Science Department at San Francisco State Teachers College (1914–19), Washburne voltou a Illinois como superintendente em Winnetka, onde promoveu a educação infantil, criado escolas de ensino médio. Permanece em Winnetka até 1943 como presidente da Winnetka Summer School for Teachers e, a partir de 1932, do Winnetka Graduate Teachers College. Mais tarde, foi presidente da Progressive Education Association (1939-43) e da New Education Fellowship (1949-56). Durante e após a Segunda Guerra Mundial, Washburne desempenhou um papel importante na reorganização do sistema de escolas públicas da Itália (1943-1949). Para além deste cargo, também dirigiu a Graduate Division and the Teacher-Education Program at Brooklyn College, Nova York (1949-1960). Concluiu a sua carreira como um distinto professor de educação na Michigan State University em East Lansing (1961–67).
[3] António de Sena Faria de Vasconcelos Azevedo ou
simplesmente Faria de Vasconcelos
ou A. Faria de Vasconcelos
(1880-1939), bacharel em leis formado pela Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra, no dia em que recebeu esse diploma (12-06-1901) entregou-o ao pai e
partiu para Paris e depois para a Bélgica, tendo feito o doutoramento em
Ciências Sociais na Universidade Nova de Bruxelas. Tornou-se professor
universitário e um prestigiado pedagogo associado ao movimento Escola Nova.
[4] A Escola Nova,
também chamada de Escola Ativa
ou Escola Progressiva, foi um
movimento de renovação do ensino, que surgiu no fim do século XIX e ganhou
força na primeira metade do século XX. O fim mais importante da Escola
Ativa era o impulso espiritual da criança e o desenvolvimento da autonomia
moral do educando. Ferrière debatia-se contra a moral feita de fórmulas e
defendia a liberdade reflexiva, em que o indivíduo já senhor do ambiente guia a
sua vontade de forma a servir-lhe a inteligência. A autonomia dos alunos tem,
na sua obra, o ponto fulcral. Para ele, o ideal da escola seria o de libertar o
aluno da tutela do adulto para o colocar sob a tutela da própria consciência
moral.
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