(Imagem a preto e branco da biblioteca na Universidade de Coimbra)
Introdução
O edifício da
Biblioteca Joanina alberga documentação que, a seu modo, deverá ser preservado
e conservado, tornando-se desde logo o primeiro abrigo das coleções.
Destacam-se, assim, vários aspetos significativos da conservação preventiva das
coleções impressas, nomeadamente, o controlo de condições ambientais.
Na atualidade, a
estrutura arquitetónica do edifício é vista como um elemento positivo no que
diz respeito à conservação dos acervos - o edifício, como um todo, deve ser
encarado como o elo muito importante da cadeia da conservação, dada a amplitude
da sua área.
De facto a deterioração
dos livros e documentos, cuja constituição física tanto pode conter matéria
orgânica como celulósica, tem uma ligação direta com a exposição a diversos
agentes de deterioração designadamente a luz, a poluição, a humidade, a temperatura
ou as catástrofes naturais.
A importância
das paredes e dos tetos dos edifícios que albergam as coleções deve pois
revestir-se de uma atenção especial, de modo a que as características da sua
construção possam contribuir para a preservação e conservação “da vida” dos
documentos que as constituem. Igualmente importante para a função de
preservação é o papel do espaço em que se encontra o edifício bem como o da sua
envolvente.
A Biblioteca Joanina
A Biblioteca Joanina é uma biblioteca do séc. XVIII, situada
no Palácio das Escolas da Universidade de Coimbra, no pátio da Faculdade de Direito.
Sendo reconhecida como uma das mais importantes bibliotecas barrocas europeias,
as suas origens remontam entre 1717 e 1728, período da sua construção, laborando
na sua decoração numerosos artistas e onde se alberga um valiosíssimo acervo
bibliográfico, constituído por cerca de 70 mil volumes de livros raros e
antigos.
A construção do edifício da biblioteca Joanina deve o seu
nome ao monarca D. João V, o Rei magnânimo, como historicamente ficaria
conhecido. A sua localização geográfica está inserida num espaço na “Alta de
Coimbra”, sem vegetação ao redor formando um microclima seco. Além da
importância deste aspeto, esta localização foi também pensada no
aproveitamento da luz natural, sendo que o edifício está orientado a sudeste a
sua maior incidência solar verifica-se ao final da manhã e da parte da tarde.
O edifício é constituído por três andares, existindo um
piso nobre onde se encontra guardada a maior quantidade das suas coleções e cujo
interior é formado por três salas que comunicam entre si por arcos. Cada uma
destas salas é constituída por estantes de dois andares, em madeiras exóticas,
douradas e policromadas apoiadas em parelhas de colunas piramidais invertidas. As
paredes exteriores do edifico têm 2,11 metros de espessura. O pórtico majestoso
que dá acesso ao interior da biblioteca é feito em madeira de teca.
O edifício
e a proteção dos documentos
“A estrutura e o equipamento dos edifícios
desempenha um papel essencial na conservação dos documentos de arquivos e dos
livros. A escolha de materiais de construção adequados é importante para a
assegurar a sua protecção contra os elementos climatéricos (humidade, secura,
iluminação solar), contra a poluição atmosférica, contra os insectos roedores e
contra o fogo. O próprio local dos edifícios e a sua orientação devem ser
cuidadosamente escolhidos […]” (Flieder e Duchein, 1993: 57)
Atendendo às diretivas de Flieder e Duchein (1993) e,
sobretudo, às investigações de Casanovas (2006), até ao séc. XIX as condições
ambientais seriam definidas pela avaliação sensorial, mais concretamente pela
análise dos efeitos visíveis sobre os objectos, tomando como referência aqueles
cujo comportamento podia servir de orientação, como por exemplo o caso das
gavetas dos móveis que abriam mais facilmente no tempo seco ou, gravuras de
papel em que aparecessem os primeiros sinais de humidade.
Os materiais orgânicos que entram na composição dos
documentos em geral, torna as bibliotecas mais frágeis e facilmente
deteriorareis por agentes físicos, químicos e biológicos como sejam a luz, o
calor, a humidade e a poluição atmosférica, etc.
O papel, cujo constituinte essencial é a celulose, é
muito higroscópico, e por isso é extremamente sensível às variações do clima:
em contacto com o calor e a humidade pode oxidar-se e hidrolisar-se tornando-se
muito quebradiço e amarelecido. Deste modo, torna-se necessário manter estabilizadas
as condições atmosféricas no interior dos edifícios que albergam as coleções.
Os agentes de deterioração biológica: microrganismos,
insetos, fungos, bactérias e roedores são os fatores que provocam estragos
mais frequentes nos documentos gráficos.
No que diz respeito à Biblioteca Joanina,
esta assenta num edifício antigo que oferece uma grande proteção arquitetónica,
embora seja desprovido de equipamentos mecânicos para controlo das condições
ambientais no seu interior. Esta situação é permitida porque os materiais de
construção deste edifício garantem uma proteção máxima dos documentos contra
diversos agentes, designadamente, fontes luminosas, humidade, temperatura,
poluição atmosférica e agentes de deterioração biológica:
“Assim, é
importante expor e guardar os objectos em ambientes higrotérmicamente estáveis
e compatíveis com os diferentes materiais em presença, de maneira a mitigar o
risco de danos nos objectos que constituem as colecções. Por exemplo, películas
fotográficas e suportes digitais requerem armazenagem a baixas temperaturas e a
baixos níveis de humidade relativa, para que seja possível assegurar a sua
longevidade. Por outro lado, o pergaminho e o papel são materiais que solicitam
níveis de humidade relativa a superiores a 50%, no caso de se pretender uma boa
flexibilidade. Actualmente, há provas científicas que sugerem que o papel
manterá a sua estabilidade química e o seu aspecto químico por mais tempo
quando sujeito a valores de armazenagem baixos e constantes de temperatura (abaixo
dos 10ºC) e de uma humidade relativa entre 30 a 40%.” (Catarina, 2010)
Ainda, de acordo com a Catarina (2010), nesta Biblioteca não
há problemas com insetos papirógrafos devido ao facto de as estantes serem
feitas de madeira de carvalho, que para além de serem muito densas, absorvem o
excesso da humidade do ar, dificultam a penetração dos insetos e ao mesmo
tempo emitem um odor que os repele.
No edifício da Biblioteca Joanina não há sinais de
ventilação natural a funcionar constantemente mas, as salas são grandes, os
tetos são altos e o edifício tem grandes janelas envidraçadas, com grossas cortinas.
Em dias de mais calor recorre-se à abertura destas janelas, embora por períodos
curtos de tempo - permitindo o controlo da luz solar e a circulação do ar,
obtendo assim uma boa climatização no seu interior.
Um dos maiores perigos para as bibliotecas são os
insetos que atacam os livros propagando-se pelas paredes e pelo ar. É muito
difícil impedir completamente que os insetos penetrem nos locais de conservação,
sobretudo sob a forma de ovos ou larvas microscópicas, implicando medidas de
desinfestação. A Biblioteca Joanina contorna este problema de uma forma muito
interessante, invulgar e eficaz, ou seja, no seu interior habita uma colónia de
morcegos que durante a noite se alimentam de traças, baratas e todos os
insetos danosos. Durante o dia eles permanecem escondidos entre as estantes
não atrapalhando o normal funcionamento da biblioteca.
A presença dos mamíferos alados requer um cuidado
adicional para prevenir danos causados pelos seus dejetos nas madeiras das
mesas. Assim, todos os dias ao fechar a biblioteca, um funcionário cobre as
mesas com umas toalhas de couro e de manhã remove-as e limpa o chão.
Bibliografia
CATARINA,
Inês Nazaré (2010). Análise das condições
higrotérmicas na Biblioteca Joanina da Universidade Coimbra. Coimbra: Faculdade
de Ciências e Tecnologia: Universidade de Coimbra, Departamento de Engenharia
Mecânica.
CASANOVAS,
Luís Efrem Elias (2006). Conservação Preventiva
e Preservação das obras de arte: Condições-ambiente e espaços museológicos em
Portugal. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
FLIEDER, Françoise;
DUCHEIN, Michel (2006). Livros
e Documentos de arquivo preservação e conservação. Lisboa: Associação
Portuguesa de Bibliotecários Arquivísticas e Documentalistas.
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