2014/02/05

Preservação e Conservação na Biblioteca Joanina





(Imagem a preto e branco da biblioteca na Universidade de Coimbra)




Introdução

O edifício da Biblioteca Joanina alberga documentação que, a seu modo, deverá ser preservado e conservado, tornando-se desde logo o primeiro abrigo das coleções. Destacam-se, assim, vários aspetos significativos da conservação preventiva das coleções impressas, nomeadamente, o controlo de condições ambientais.
Na atualidade, a estrutura arquitetónica do edifício é vista como um elemento positivo no que diz respeito à conservação dos acervos - o edifício, como um todo, deve ser encarado como o elo muito importante da cadeia da conservação, dada a amplitude da sua área.
De facto a deterioração dos livros e documentos, cuja constituição física tanto pode conter matéria orgânica como celulósica, tem uma ligação direta com a exposição a diversos agentes de deterioração designadamente a luz, a poluição, a humidade, a temperatura ou as catástrofes naturais.
A importância das paredes e dos tetos dos edifícios que albergam as coleções deve pois revestir-se de uma atenção especial, de modo a que as características da sua construção possam contribuir para a preservação e conservação “da vida” dos documentos que as constituem. Igualmente importante para a função de preservação é o papel do espaço em que se encontra o edifício bem como o da sua envolvente.
  

A Biblioteca Joanina

A Biblioteca Joanina é uma biblioteca do séc. XVIII, situada no Palácio das Escolas da Universidade de Coimbra, no pátio da Faculdade de Direito. Sendo reconhecida como uma das mais importantes bibliotecas barrocas europeias, as suas origens remontam entre 1717 e 1728, período da sua construção, laborando na sua decoração numerosos artistas e onde se alberga um valiosíssimo acervo bibliográfico, constituído por cerca de 70 mil volumes de livros raros e antigos.

A construção do edifício da biblioteca Joanina deve o seu nome ao monarca D. João V, o Rei magnânimo, como historicamente ficaria conhecido. A sua localização geográfica está inserida num espaço na “Alta de Coimbra”, sem vegetação ao redor formando um microclima seco. Além da importância deste aspeto, esta localização foi também pensada no aproveitamento da luz natural, sendo que o edifício está orientado a sudeste a sua maior incidência solar verifica-se ao final da manhã e da parte da tarde.

O edifício é constituído por três andares, existindo um piso nobre onde se encontra guardada a maior quantidade das suas coleções e cujo interior é formado por três salas que comunicam entre si por arcos. Cada uma destas salas é constituída por estantes de dois andares, em madeiras exóticas, douradas e policromadas apoiadas em parelhas de colunas piramidais invertidas. As paredes exteriores do edifico têm 2,11 metros de espessura. O pórtico majestoso que dá acesso ao interior da biblioteca é feito em madeira de teca.



O edifício e a proteção dos documentos

“A estrutura e o equipamento dos edifícios desempenha um papel essencial na conservação dos documentos de arquivos e dos livros. A escolha de materiais de construção adequados é importante para a assegurar a sua protecção contra os elementos climatéricos (humidade, secura, iluminação solar), contra a poluição atmosférica, contra os insectos roedores e contra o fogo. O próprio local dos edifícios e a sua orientação devem ser cuidadosamente escolhidos […]” (Flieder e Duchein, 1993: 57)

Atendendo às diretivas de Flieder e Duchein (1993) e, sobretudo, às investigações de Casanovas (2006), até ao séc. XIX as condições ambientais seriam definidas pela avaliação sensorial, mais concretamente pela análise dos efeitos visíveis sobre os objectos, tomando como referência aqueles cujo comportamento podia servir de orientação, como por exemplo o caso das gavetas dos móveis que abriam mais facilmente no tempo seco ou, gravuras de papel em que aparecessem os primeiros sinais de humidade.

Os materiais orgânicos que entram na composição dos documentos em geral, torna as bibliotecas mais frágeis e facilmente deteriorareis por agentes físicos, químicos e biológicos como sejam a luz, o calor, a humidade e a poluição atmosférica, etc.

O papel, cujo constituinte essencial é a celulose, é muito higroscópico, e por isso é extremamente sensível às variações do clima: em contacto com o calor e a humidade pode oxidar-se e hidrolisar-se tornando-se muito quebradiço e amarelecido. Deste modo, torna-se necessário manter estabilizadas as condições atmosféricas no interior dos edifícios que albergam as coleções.

Os agentes de deterioração biológica: microrganismos, insetos, fungos, bactérias e roedores são os fatores que provocam estragos mais frequentes nos documentos gráficos.

No que diz respeito à Biblioteca Joanina, esta assenta num edifício antigo que oferece uma grande proteção arquitetónica, embora seja desprovido de equipamentos mecânicos para controlo das condições ambientais no seu interior. Esta situação é permitida porque os materiais de construção deste edifício garantem uma proteção máxima dos documentos contra diversos agentes, designadamente, fontes luminosas, humidade, temperatura, poluição atmosférica e agentes de deterioração biológica:

 “Assim, é importante expor e guardar os objectos em ambientes higrotérmicamente estáveis e compatíveis com os diferentes materiais em presença, de maneira a mitigar o risco de danos nos objectos que constituem as colecções. Por exemplo, películas fotográficas e suportes digitais requerem armazenagem a baixas temperaturas e a baixos níveis de humidade relativa, para que seja possível assegurar a sua longevidade. Por outro lado, o pergaminho e o papel são materiais que solicitam níveis de humidade relativa a superiores a 50%, no caso de se pretender uma boa flexibilidade. Actualmente, há provas científicas que sugerem que o papel manterá a sua estabilidade química e o seu aspecto químico por mais tempo quando sujeito a valores de armazenagem baixos e constantes de temperatura (abaixo dos 10ºC) e de uma humidade relativa entre 30 a 40%.” (Catarina, 2010)

Ainda, de acordo com a Catarina (2010), nesta Biblioteca não há problemas com insetos papirógrafos devido ao facto de as estantes serem feitas de madeira de carvalho, que para além de serem muito densas, absorvem o excesso da humidade do ar, dificultam a penetração dos insetos e ao mesmo tempo emitem um odor que os repele.

No edifício da Biblioteca Joanina não há sinais de ventilação natural a funcionar constantemente mas, as salas são grandes, os tetos são altos e o edifício tem grandes janelas envidraçadas, com grossas cortinas. Em dias de mais calor recorre-se à abertura destas janelas, embora por períodos curtos de tempo - permitindo o controlo da luz solar e a circulação do ar, obtendo assim uma boa climatização no seu interior.

Um dos maiores perigos para as bibliotecas são os insetos que atacam os livros propagando-se pelas paredes e pelo ar. É muito difícil impedir completamente que os insetos penetrem nos locais de conservação, sobretudo sob a forma de ovos ou larvas microscópicas, implicando medidas de desinfestação. A Biblioteca Joanina contorna este problema de uma forma muito interessante, invulgar e eficaz, ou seja, no seu interior habita uma colónia de morcegos que durante a noite se alimentam de traças, baratas e todos os insetos danosos. Durante o dia eles permanecem escondidos entre as estantes não atrapalhando o normal funcionamento da biblioteca.

A presença dos mamíferos alados requer um cuidado adicional para prevenir danos causados pelos seus dejetos nas madeiras das mesas. Assim, todos os dias ao fechar a biblioteca, um funcionário cobre as mesas com umas toalhas de couro e de manhã remove-as e limpa o chão.




Bibliografia

CATARINA, Inês Nazaré (2010). Análise das condições higrotérmicas na Biblioteca Joanina da Universidade Coimbra. Coimbra: Faculdade de Ciências e Tecnologia: Universidade de Coimbra, Departamento de Engenharia Mecânica.

CASANOVAS, Luís Efrem Elias (2006). Conservação Preventiva e Preservação das obras de arte: Condições-ambiente e espaços museológicos em Portugal. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

FLIEDER, Françoise; DUCHEIN, Michel (2006). Livros e Documentos de arquivo preservação e conservação. Lisboa: Associação Portuguesa de Bibliotecários Arquivísticas e Documentalistas.


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