2011/05/18

Dia Internacional dos Museus


(Imagem de várias silhuetas observando quadros num museu. Retirado do site amusearte)

No início do corrente mês de maio tiveram lugar, em Lisboa, dois eventos importantes para a gestão do património cultural. Assinalando-se hoje, 18 de maio, o Dia Internacional dos Museus, e realizando-se, amanhã, uma apresentação do projeto do Museu Virtual da Educação, justifica-se trazer a este espaço uma síntese das tendências atuais ao nível da gestão do património cultural que as diversas intervenções nesses dois eventos revelaram.

No dia 2 de maio, teve lugar no Cinema S. Jorge, um seminário sobre ‘Políticas de Património Cultural’, uma organização conjunta do ICOM e do ICOMOS cujos diretores, Luís Raposo e José Aguiar, moderaram as duas mesas de oradores. O objetivo era promover um debate sobre as recentes políticas na área do património, ouvindo um leque bastante vasto de personalidades como, por exemplo, Luís Campos e Cunha, Luís Calado, Nuno Vassalo e Silva, Raquel Henriques da Silva, Fernando António Baptista Pereira, ou Walter Rossa. Foi pedido a cada interveniente uma breve opinião sobre os pontos mais críticos das atuais políticas culturais e a apresentação de sugestões para o ciclo político que se avizinha.

Entre as muitas questões levantadas na sessão foram especialmente ressaltadas as seguintes preocupações:

• A questão da viabilidade financeira dos projetos culturais e a necessidade de dar visibilidade aos seus resultados. Para qualquer projeto na área do património cultural, é cada vez menos admissível ignorar a ponderação da sua sustentabilidade económica e aferir os seus benefícios e resultados. Os investimentos na cultura têm de ser justificados em função dos seus produtos e dos efeitos educativos que estes produzem sobre os públicos a que se destinam.

• A necessidade de repensar as instituições museológicas, não apenas ao nível da rede e distribuição dos equipamentos, mas a sua estrutura e modos de funcionamento. Foram salientadas as vantagens das estruturas museológicas ‘leves’, que não assumam como principal missão a concentração de avolumadas reservas patrimoniais, mas privilegiem, sobretudo, o seu papel educativo e de divulgação.

• A importância do conhecimento dos públicos e da orientação dos projetos culturais em função dos seus interesses, necessidades e enriquecimento cultural. Os museus e as suas atividades não devem ser pensados a partir dos espólios que possuem, mas em função dos seus visitantes. Há que inventar novas narrativas expositivas que tenham eco junto daqueles a quem se destinam.

• A ponderação da existência de um número crescente de cidadãos anónimos empenhados na defesa de um património que sentem como seu. A voz da ‘opinião pública’ tem cada vez mais peso e impacto, até porque existem, hoje em dia, inúmeros instrumentos (internet, blogues, petições...) que permitem exprimir opiniões, contestar opções e pressionar as instituições na tomada das suas decisões.

Dois dias depois, a 4 de maio, teve lugar no Museu Nacional de Arte Antiga uma sessão de apresentação do Plano Nacional de Conservação e Restauro.

A cerimónia foi aberta pelo diretor do IMC, João Brigola, mas foi a António Candeias, Diretor do Laboratório de Conservação e Restauro José de Figueiredo, que coube a explicitação detalhada do Plano. O Secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, encerrou a sessão.

Segundo os oradores, o Plano então apresentado justifica-se pela necessidade de regular a atividade da Conservação e Restauro e de tornar operacional a aplicação da Lei do Património (lei 140 /2009). Para atingir tais objetivos, várias ações concretas foram enunciadas:

• A criação de um «Conselho Regulador» desta atividade, que reunirá representantes do IMC, do IGESPAR, da BN, da DGARQ, das Direções Regionais de Cultura e das associações profissionais;

• A reestruturação interna dos serviços do Instituto José de Figueiredo, através da fusão do «Departamento de Conservação e Restauro» com o «Laboratório de Conservação e Restauro» numa estrutura única, um «Centro de Conservação e Restauro José de Figueiredo»;

• Um conjunto diversificado de parcerias e protocolos com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) na área da Conservação e Restauro;

• A apresentação de candidaturas aos mecanismos internacionais de financiamento, designadamente o EEA Grants, no âmbito do qual Portugal apresentou o Projeto SAPPHIRE - Saphegard Actions for de Preservation of Portuguese Heritage: Inovation, Reabilitation and Education.

No quadro das ações concretas, mereceu especial destaque o anúncio de criação da RENACOR - Rede Nacional de Conservação e Restauro (RENACOR), que reunirá vários departamentos do IMC, e IGESPAR, Direções Regionais de Cultura, e outras instituições.

Esta rede terá como funções, entre outras, a promoção de sessões de sensibilização sobre prevenção e restauro, a organização de cursos de atualização para profissionais no ativo; a realização de Intervenções ao nível da gestão de risco e da prevenção; o apoio à atividade desenvolvida no terreno, designadamente na regulação de concursos e adjudicação de empreitadas ou na monitorização e acompanhamento de intervenções em curso por meio de inspeções de equipas técnicas.

Do conjunto destas duas iniciativas sobressai, como tendência comum, a necessidade de tornar a gestão do património mais eficaz e, simultaneamente, mais transparente, dando visibilidade aos produtos e aos resultados das iniciativas culturais. Naturalmente, os efeitos dos projetos culturais não podem ser medidos através de uma contabilidade estreita, mas avaliando o retorno que produzem ao nível do enriquecimento educativo dos públicos a que se destinam. Não se pode subjugar a cultura às lógicas da gestão financeira, mas deve pensar-se a cultura como um território de criação de valor, com efeitos indiretos, mas expressivos, sobre o perfil económico do país. Em época de crise, mais que nunca, há que ter presente o poder de atração de investimentos e de visitantes que o prestígio cultural exerce, e ser capaz de reconhecer os benefícios que advêm da imagem de Portugal enquanto país culturalmente interessante.


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