(Imagem de Vergílio Ferreira retirada da internet)
Vergílio
Ferreira deu nome a inúmeras ruas em todo o país, a uma biblioteca em Gouveia
(Distrito da Guarda) e a uma escola secundária em Lisboa, na freguesia de Carnide,
denominada Escola Secundária Vergílio Ferreira.
Vergílio António Ferreira nasceu em Melo (Gouveia), a
26 de janeiro de 1916, e faleceu em Lisboa, a 1 de março de 1996. Em 1920, os
pais emigram e Vergílio Ferreira é entregue, juntamente com os seus irmãos, aos
cuidados de tias maternas.
Em 1922, com dez anos de idade, ingressa no Seminário
do Fundão onde permanecerá até 1932:
“Vergílio Ferreira narra
com competência, munido de conhecimento próprio, a vida no seminário nas
décadas de 30 e 40. A angústia, a solidão e o temor a Deus e aos padres
perfeitos. A incerteza da vocação e os castigos da palmatória. A dúvida
constante. O penar facilmente concebível no semblante de António, que se trava
de razões pessoais e familiares, maldizendo a própria existência, é cruelmente
exposto pela mãe, que a certa altura lamenta a tristeza do filho e se interroga
se a morte na infância não teria sido melhor destino.” (Silva, 2020).
Em 1940, conclui a licenciatura em Filologia Clássica,
na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em
1942 começou a sua carreira como professor de Português, Latim e Grego. Foi como
escritor que se distinguiu no panorama da literatura portuguesa a partir dos
anos quarenta do século XX.
Foi em 1953 que
Vergílio publicou sua primeira coletânea de contos, “A Face Sangrenta”. Em 1959
publicou a “Aparição”, livro que lhe rendeu o Prêmio “Camilo Castelo Branco” da
Sociedade Portuguesa de Escritores. No mesmo ano, ingressou no Liceu Camões, em
Lisboa, e ficou até a sua aposentadoria, em 1982. Dois anos depois, em 84, foi
eleito sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras.
“[…] Vergílio Ferreira torna-se
ainda mais frontal, mais assertivo. O queixume e o sarcasmo das suas
anotações transformam-se em ironia e auto-ironia. Finalmente consegue não estar
sempre em carne viva. Passa a ser até capaz de gozar consigo mesmo: de modo que
o anúncio do Conta-Corrente
I, já noticiada nos jornais e nos cafés, está a despertar uma
grande efervescência. Às pessoas a quem já dei o livro morderam nele com avidez
[…].” (Marques, 2016).
As suas obras
receberam influências do existencialismo, dos clássicos gregos, do neorrealismo,
da perspetiva metafísica, da simbólica e, de certa forma, do niilismo. Essa
mistura de abordagens e influências resultou em um vasto acerto e na
originalidade dos escritos do autor:
“[…] é
muito interessante a descrição fenomenológica que Vergílio Ferreira nos
apresenta dos sentidos, de tal modo que nos diz: ‘os nossos sentidos não são
uma relação parcial de nós com o mundo e a vida, mas um modo específico de
despertar a nossa unidade, um pretexto especializado ou acentuado de reevocar
através dele a nossa totalidade’.“(Ganho, 2012).
Em 1992 foi
eleito para a Academia das Ciências de Lisboa, além disso, recebeu o Prêmio
Camões, atribuído por um júri luso-brasileiro.[1]
Literariamente,
começou por ser neorrealista (anos 40), com "Vagão Jota" (1946),
"Mudança" (1949), etc. Mas, a partir da publicação de "Manhã
Submersa" (1954) e, sobretudo, de "Aparição" (1959), Vergílio
Ferreira adere a preocupações de natureza metafísica e existencialista. A sua
prosa, que entronca na tradição queirosiana, é uma das mais inovadoras dos
ficcionistas deste século.
O ensaio é outra das grandes vertentes da sua obra que, aliás, acaba por influenciar a sua criação romanesca. Temas como a morte, o mistério, o amor, o sentido do universo, o vazio de valores, a arte, são recorrentes na sua produção literária. Além disto, Vergílio Ferreira deixou-nos vários volumes do diário intitulado "Conta-Corrente". Das suas últimas obras destacam-se: "Espaço do Invisível", "Do Mundo Original" (ensaios), "Para Sempre" (1983), "Até ao Fim" (1997) e "Na tua Face" (1993). Recebeu o Prémio Camões em 1992.
BIBLIOGRAFIA:
CALAFATE, Pedro (s.d.) “Vergílio Ferreira (1916-1997)”. [em linha]: Filosofia Portuguesa [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/1910j.html
GANHO, Maria de Lourdes Sirgado (2012). Vergílio Ferreira: uma aproximação existencial [em linha]: Cultura: Revista de História e Teoria dasd ideias, Vol. 30, 2012, p. 215-224 [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://journals.openedition.org/cultura/1707
MARQUES, Joana Emídio (2016). “As polémicas de um escritor
em contracorrente” [em linha]: Observador, 28 de janeiro de 2016 [Consult.
22 de maio de 2020]. Disponível: https://observador.pt/especiais/vergilio-ferreira-um-escritor-corrente/
PENSADOR (s.d). Biografia de Vergílio Ferreira [em linha]. Matosinhos: 7graus. [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://www.pensador.com/autor/vergilio_ferreira/biografia/
SECRETARIA-GERAL
DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA (s.d.). Escola Secundária Vergílio Ferreira, Lisboa [em linha]. Lisboa: Direção de Serviços de Documentação e de Arquivo
[Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: http://arquivo-ec.sec-geral.mec.pt/details?id=50591
SILVA, Ivo Rocha da (2020). “O confinamento
na Manhã Submersa de Vergílio Ferreira” [em linha]: Público,
15 de abril de 2020. [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://www.publico.pt/2020/04/15/p3/cronica/confinamento-manha-submersa-vergilio-ferreira-1912057
[1]
Prémio Camões - instituído em 1988
pelos governos português e brasileiro com vista a estreitar os laços culturais
entre os vários países lusófonos e enriquecer o património literário e cultural
da língua portuguesa. O
Prémio Camões foi instituído inicialmente pelo Protocolo Adicional ao Acordo
Cultural entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da República
Federativa do Brasil, de 7 de setembro de 1966, que cria o Prémio Camões,
assinado em Brasília, em 22 de junho de 1988, aprovado por Portugal através do
Decreto n.º 43/88, de 30 de novembro.
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