O arquiteto
Fernando Lima, de nome completo
Fernando José Miranda de Vasconcelos Mourão da Silva Lima, foi associado número 28 da Mocidade
Portuguesa e, simultaneamente, Membro do Concelho
Geral da mesma Organização. Foi ilustrador, redator e diretor
de uma das mais prestigiadas revistas para graduados
da Mocidade Portuguesa: Guião: revista para graduados e Talha-Mar: revista
para graduados (o último
título é continuação do Guião).
Fernando Lima colaborou na revista Guião a partir da publicação número 11 de janeiro/fevereiro de 1951 até ao seu desfecho, em 20 de setembro
de 1953. Nesta publicação periódica ilustrou vários artigos, coordenou a Secção Manta de retalhos
(sobre atividades culturais diversas)
e também desempenhou funções de redator.
Enquanto redator, destacamos o conto Sou capaz: um problema em que não se repara, onde Fernando Lima (Lima, 1952:9) ressalta a permeabilidade dos jovens para o ato de aprendizagem orientada: “serão […] práticas miúdas que levarão ao autoconvencimento: – ‘sou capaz!’ e, daí, à confiança em si indispensável […].” Lima (1952:18) sublinha que uma das pedagogias mais eficazes para a formação de graduados é o uso de doutrinas pré-estabelecidas, tal como o sistema de construção em série Meccano1:
“Começaremos pela experienciazinha barata (entenda-se por
tal a que não envolve riscos
de qualquer espécie).
Servem perfeitamente a construção de engenhocas (género
‘Meccano’ ou outras muitas), o microscópio que se compra e pelo qual se desperta
o interesse pelas mil formas admiráveis do mundo maravilhoso da Natureza […]” (Lima, 1952:9)
O Guião findou
a sua publicação em 1953, não obstante, foi reeditado
em abril de 1958 com o nome de Talha-mar: revista para graduados. Fernando
Lima, então Comandante de Falange,
assumiu funções de diretor desta nova revista para graduados
desde o número 1 (5 abril de 1958), até ao número 12 (20 de setembro de 1958). Posteriormente, o Comandante de Falange Mouzaco Dias substituiu Fernando Lima, e, assumiu funções de diretor a 4 de outubro
de 1959, com o número
13
de Talha-mar.
A dedicação
de Fernando Lima a esta nova revista para graduados, segundo entendemos, foi sobretudo
na esfera estética – a arte, tal como a ciência, para este ilustrador
é uma unidade:
“Arte e ciência não são compartimentos estanques, mas sim aspectos dum mesmo todo; visões parcelares – e reduzidas, claro – duma só unidade. É como se tivéssemos filtrado um raio de luz branca num prisma de cristal: não poderíamos dizer, em boa verdade,
que essa luz fosse mais vermelha do que azul, mais amarela do que anilada, mais verde ou mais laranja do que violeta. O branco é tudo isso somado!” (Lima, 1958b:5)
A ideia de arte como uma soma de visões parcelares que culminam na unidade é, pois, uma ideia muito cara ao Regime: o Estado Novo é a garantia da independência e unidade da nação, do equilíbrio de todos os seus valores orgânicos e da aliança de todas as energias criadoras.
“Se acham bem, eu chamaria
a isto [2.º Encontro Nacional
dos Graduados em Viseu] formação portuguesa – o amor às terras e às gentes,
e ao que estas conseguiram daquelas para chegar ao que nós somos: é por raízes
ao sol; mostrar que continua
onde muitos creem e afirmam
que só começa.” (Lima,
1958:7)
A este respeito, Lima (1958a:7)
afirma que “não procuremos coisas esquisitas; procuraremos coisas boas. O que é novo não é, por simples
definição, bom.” Existe, efetivamente, a necessidade de procurar o bom único.
Esta valoração acompanhada
a ideia de patriotismo, onde gentes e terras são exaltadas.
___________________
1Meccano é uma marca inglesa, do início do século XX, que ficou mais intimamente associada, a um "sistema de construção" em forma de "brinquedo educativo" que permitia a construção de mecanismos em miniatura. A marca Meccano foi usada também como nome da empresa que fabricava o brinquedo originalmente, a Meccano Ltd. O Meccano pode ser considerado um brinquedo, no entanto, ele é um sistema complexo o suficiente para também ser utilizado na criação de protótipos em projetos de engenharia.
* *
*
Este ilustrador foi responsável por cerca de 30% das ilustrações da publicação periódica Guião. Fernando
da Silva Lima assinou as suas criações
de formas distintas: F. Silva
Lima, F.S.L., FL, e, finalmente, F.S. Lima.
As suas ilustrações
versavam sobretudo cenas de acampamentos da Mocidade Portuguesa e jogos de xadrez.
Não admira, portanto,
que nos anos oitenta
Fernando Lima tivesse constituído a associação Grupo de Xadrez de Macau,
registada a 9 de março de
1987 no 2.º Cartório
Notarial de Macau, para divulgar e desenvolver o xadrez em todas as modalidades e componentes culturais, desportiva
e recreativa
(Cf. 2.º Cartório Notarial de Macau,
1987).
Fernando Lima, em Guião demostrou ser um ilustrador eclético, ilustrando as hierarquias dos filiados da Mocidade
Portuguesa (Guião, n. 13, 1951:8-9), projetando problemas de xadrez (Guião, n. 17-22), para além de desenhar vivências
humorísticas da Organização.
O arquiteto
Lima, com traços rápidos e
curvilíneos, numa estética despojada de pormenores, esboça paisagens onde o homem e as sua obras estão sempre onipresentes. As ilustrações ganham autonomia e, desta forma, trespassam as mensagens
escritas – exibem-se, assim, imagens em movimento e repletas de humor, como são o caso dos peixes de guarda-chuva (Guião, n. 18, 1952:20),
o acertar
do relógio (Guião, n. 17, 1952:19), o que vale são os enfermeiros (Guião, n. 11, 1951:14).
Apresentamos as vinte e seis ilustrações assinadas por Fernando
Lima publicadas no Guião: revista
para graduados:
(Desenho de um jovem olhando para as escadas onde se encontra uma bandeira com as quinas de Portugal)
Guião, n. 13 (mai./jun. 1951), p. 8
(Desenho de um jovem que inicia a subida das escadas junto das quais se encontra uma bandeira com três castelos)
Guião, n. 13 (mai./jun. 1951), p. 9
(Desenho de um jovem que continua a subida das escadas junta das quais se encontra uma bandeira com três castelos e uma salva)
Guião, n. 13 (mai./jun. 1951), p. 9
(Desenho de um jovem que continua a subida das escadas junta das quais se encontra uma bandeira com as quinas e duas salvas)
Guião, n. 13 (mai./jun. 1951), p. 9
(Desenho de um castelo com três torres no topo das das escadas. Ao lado uma junta das quais se encontra uma insígnia)
Guião, n. 13 (mai./jun. 1951), p. 9
(Desenho estilizado de um filiado da Mocidade Portuguesa tocando acordeão junto de uma fogueira)
Guião, n. 11 (mai./jun. 1951), p. 10
(Desenho estilizado de um filiado da Mocidade Portuguesa segurando uma tocha)
Guião, n. 11 (mai./jun. 1951), p. 5
(Desenho de um filiado da Mocidade Portuguesa junto do qual estão várias imagens desenhadas: um acampamento, mantimentos e desporto)
Guião, n. 11 (mai./jun. 1951), p. 7
(Desenho de um filiado da Mocidade Portuguesa que segura uma balança: de um lado encontra-se um saco de dinheiro e do outro, mais pesado, o emblema da Mocidade)
Guião, n. 11 (mai./jun. 1951), p. 8
(Desenho de um acampamento da Mocidade Portuguesa, onde se observa uma torre de madeira no topo da qual está um filiado e uma bandeira da Mocidade)
Guião, n. 11 (mai./jun. 1951), p. 9
(Desenho de um filiado da Mocidade Portuguesa que se encontra sentado e ferido. Está a ser tratado por outro filiado)
Guião, n. 11 (mai./jun. 1951), p. 14
(Desenho de um filiado da Mocidade Portuguesa que se encontra num caminho, pedindo indicações a um indivíduo)
Guião, n. 17 (abr. 1952), p. 19
(Desenho de um filiado da Mocidade Portuguesa que se está a fardar. Ao longe, outros filiados estão a marchar)
Guião, n. 17 (abr. 1952), p. 21
(Desenho de um homem pendurado num relógio no topo de uma torre)
Guião, n. 17 (abr. 1952), p. 19
(Desenho de um jovem atrás dos vidros de uma janela)
Guião, n. 20 (out./nov. 1952), p. 15
(Desenho de humorístico de um caçador na selva à procura de um leão que , na verdade, se encontra atrás dele)
Guião, n. 20 (out./nov. 1952), p. 21
(Desenho de dois peixes que se encontram a conversar dentro de água)
Guião, n. 18 (mai. 1952), p. 20
(Desenho de um fantasma que assusta um humano)
Guião, n. 20 (out./nov. 1952), p. 6
(Desenho de um tabuleiro de Xadrez - Problema N.º 1)
Guião, n. 17 (abr. 1952), p. 20
(Desenho de um tabuleiro de Xadrez - Problema N.º 2)
Guião, n. 18 (mai. 1951), p. 19
(Desenho de um tabuleiro de Xadrez - Problema N.º 3)
Guião, n. 19 (jun. 1952), p. 15
(Desenho de um tabuleiro de Xadrez - Problema N.º 4)
Guião, n. 20 (out./nov. 1952), p. 21
(Desenho de um tabuleiro de Xadrez - Problema N.º 6)
Guião, n. 22 (jan. 1953), p. 16
(Desenho de uma mão com 2 dedos esticados junto da frase "de conversa"
Guião, n. 18 (mai. 1952), p. 18
P.M.
BIBLIOGRAFIA:
2.º CARTÓRIO NOTARIAL DE MACAU (1987).
Anúncio: Grupo de Xadrez de Macau [em linha]:
escritura lavrada em 9 de março de 1987, a fls. 39 e segs. do livro de notas
n.º 433-A, do 1.º Cartório Notarial
de
Macau.
<http://bo.io.gov.mo/bo/i/87/12/anotariais_cn.asp?printer=1> [Consult. abril 2018]
LIMA, Fernando (1958). “Ao chegar: encontro
58.” in: Talha-mar: jornal
dos graduados, N. 8 (julho 1958),
p. 1-7
(1958a). “Linhas de
rumo:
acampar.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 11 (setembro
1958), p. 1-7.
(1952). “Sou
capaz!” in: Guião: revista
para
graduados, N.
20 (out./nov. 1952), p. 9, 18.
(1958). “Tema à espera:
10 amigos.” in: Talha-mar:
jornal dos graduados, N. 3 (maio 1958b), p. 5.
SILVA, Susana Maria
Sousa Lopes (2011). A ilustração portuguesa para a infância no século
XX
e
movimentos artísticos: influências
mútuas,
convergências estéticas [em
linha]: [S.l.:
Susana M.S.L. Silva],
2011. (Tese de doutoramento em Estudos da Criança
(ramo
de
conhecimento em Comunicação Visual
e
Expressão
Plástica).]. Disponível em <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/19682>. [Consult. abril
2018].
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