(Imagem de António Aurélio da Costa Ferreira)
“A questão dos
atrasados mentais, dos anormais profundos,
deu à colaboração médico-pedagógica um valor incontestável. Costa Ferreira é,
sem dúvida, a presença mais visível no campo da Médico-Pedagogia, aspecto que
acaba por explicar e justificar o momento da criação da Colónia Agrícola e do
Instituto Médico-Pedagógico. Trata-se de laboratórios onde se experimentam os
métodos recentemente importados do estrangeiro” (Ribeiro, 2010:220).
Há um profundo reconhecimento, até à
atualidade, do papel pioneiro e psicopedagógico de António Aurélio da Costa
Ferreira. Em Viver a diferença,
(Ribeiro, 2010:220), entre outros estudos, é ressaltada a visibilidade
científica e humana do Psicopedagogo. Apesar de morrer com 43 anos de idade,
António Aurélio da Costa Ferreira deixou-nos uma vastíssima obra em vários
domínios do conhecimento, desde a literatura até à pedagogia.
“A morte do Dr. António Aurélio da Costa Ferreira, foi
primeiramente sentida no nosso meio clínico e pedagógico, mas julgamos que no
Instituto Medico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa, ela o foi de uma forma
direta. […] a sua notável competência de homem de sciencia, o seu génio clinico
e as suas excepcionais qualidades de professor (para nós fundamentais no
espirito do Dr. Costa Ferreira) dando á sua sciencia predilecta, a
anthropologia, a sua aplicação á clinica e á pedagogia” (BIMPCPL, 1922:1).
O Boletim do Instituto
Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa homenageia o seu fundador e diretor, numa
edição de 1922 (A. 2, Nº 5/6, jun./set.), por motivo da sua morte, com as
seguintes palavras: notável competência
de homem de ciência, o seu génio clinico e as suas excecionais qualidades de
professor. Efetivamente, como educador, desempenhou um papel importante na
Direção da Casa Pia de Lisboa, na formação de professores, na reabilitação e
integração de crianças com necessidades educativas especiais, na promoção da
laicização do ensino e na divulgação do movimento da “Escola Nova” em Portugal.
António Aurélio da Costa Ferreira, provedor na 1ª
República, foi pioneiro da psicologia do desenvolvimento e da psicologia
escolar, defendendo a prévia detecção das aptidões de cada aluno, numa
antecipação daquilo que viria a ser a orientação vocacional e profissional”
(Xavier, 2007).
Na revista do Diário de Noticias da Madeira, do dia 18 de janeiro de 2004, e
reposto no wordpress Passos da Calçada em 2007, o madeirense Veríssimo (2004)
faz um retrato biográfico de Autrónio Aurélio da Costa Ferreira: há 135 anos
nasceu, na freguesia de Santa Luzia do concelho do Funchal, António Aurélio da
Costa Ferreira, médico, antropólogo, professor e pedagogo de renome, com lugar
de relevo na História da Educação em Portugal. Concluiu a instrução primária em
Viana do Castelo. Contudo, fez o curso liceal na cidade onde nasceu. Durante
este período da sua vida, recebeu forte influência, quanto ao gosto pela
leitura e escrita, do seu tio materno, João Joaquim de Freitas, distinto
professor de Literatura e Língua Portuguesa no nosso Liceu e bibliotecário da
Biblioteca Municipal do Funchal.
(Imagem da fachada do edifício Centro de Educação António Aurélio da Costa Ferreira)
Em 1894, António Aurélio
matriculou-se na Universidade de Coimbra para cursar Filosofia, tendo-se
licenciado em 1899. No ano seguinte, inscreveu-se em Medicina, curso que
terminou em 1905. Recebeu vários prémios nas duas faculdades. Como médico,
estagiou em Paris, Bruxelas e Lisboa.
Vereador republicano na Câmara Municipal
de Lisboa, de 1908 a 1911, defendeu várias medidas no âmbito da Educação,
Cultura, Desporto Escolar e assistência médica e social às crianças
desfavorecidas do concelho. No âmbito da atividade política, é de salientar a
sua eleição como deputado em Agosto de 1910, por Setúbal, e em 1911, pelo
círculo do Funchal. Exerceu também funções de Ministro do Fomento, de Junho de
1912 a Janeiro de 1913. No entanto, esta passagem pelo governo corresponde à
sua desilusão com a política ativa.
Nomeado para Diretor da Casa Pia de
Lisboa em Março de 1911, Costa Ferreira norteou a sua atuação dentro dos
propósitos da “Escola Nova”, concedendo plena liberdade às crianças e
encaminhando-as para as artes e ofícios conforme as aptidões demonstradas.
Incentivou igualmente as aulas de trabalhos manuais, música e desporto.
No âmbito da formação de professores,
lecionou Pedologia, Higiene Geral e Higiene Escolar na Escola Normal de Lisboa,
a partir de 1915. Costa Ferreira entendia que o tempo do mestre-escola estava
ultrapassado. Já não bastava ensinar a ler, escrever e contar. O futuro
professor deveria, por isso, possuir conhecimentos sobre Pedologia, Higiene
Escolar, Trabalhos Manuais e Ginástica. A individualização do ensino e a
importância do desenvolvimento dos sentidos mereceram também a sua atenção.
Por outro lado, há que referir a sua
dedicação às crianças com necessidades educativas especiais, principalmente na
Casa Pia de Lisboa. Desenvolveu, assim, vários esforços conducentes à
reabilitação, ensino e integração social dos, então, designados por “anormais
pedagógicos”, gagos e surdos-mudos. Para os “anormais pedagógicos”, criou, em
1912, a Colónia de S. Bernardino, em Atouguia da Baleia, próximo de Peniche. No
ano seguinte, dedicou-se ao curso de formação de professores para surdos-mudos.
Em sua homenagem, a partir de 1929, o
Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa recebeu a denominação de
Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, seu fundador. Igualmente, o seu
nome está associado ao Instituto de Inovação Educacional.
No relatório Surdocegueira: um modelo de Intervenção, resultante de um ciclo de
semanários realizados em lisboa, novembro de 2013, com participantes da Casa
Pia e da Universidade Lusíada de Lisboa (Antunes, 2013:9-10), são descritas
competências e valências atuais do Centro de
Educação e Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira:
“[…] que o
CED António Aurélio da Costa Ferreira se constitua como um possível parceiro de
intervenção numa dinâmica de saberes e competências que permitam o
desenvolvimento global e facilitação da integração das pessoas surdocegas nos
seus contextos de vida […]. Em Portugal, nos anos 60, a oferta de educação para crianças e jovens com
deficiência era ainda muito insuficiente. Somente se mantinham nas escolas
regulares as designadas classes especiais, o Instituto António Aurélio da Costa
Ferreira (AACF), e algumas estruturas da Segurança Social. O Instituto AACF,
desenvolveu um importante papel na educação especial das crianças que não se
encontravam dentro dos padrões da normalidade, durante a Ditadura Nacional
implementada a partir do golpe militar no ano 1926 e, também, na formação de
professores especializados” (Antunes, 2013:9-10).
Atendendo à formação disponibilizada
no Site da Casa Pia (Casa Pia de Lisboa, 2014), verifica-se que a missão do
então Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, agora Centro de Educação e
Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira, não morre, ao invés, amplia
a sua função para fazer face à dificuldade dos novos tempos, assim, as suas
linhas de ação estendem-se a:
- Resposta educativa e formativa ao nível de educação e reabilitação;- Respostas sociais – Centro de Atividades Ocupacionais (CAO);- Respostas Sociais de Lar Residencial;- Respostas formativas – Formação e Qualificação de adultos/as com deficiência e incapacidade;- Unidade de formação de curta duração.
Usando as palavras textuais da missão
do atual Centro de Educação e Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira
(Casa Pia de Lisboa, 2014), verificamos que este é um equipamento da Casa Pia
de Lisboa que se destina à Educação e Reabilitação de crianças, jovens e
adultos surdo-cegos, na sua resposta localizada na Freguesia de Alvalade, e,
também, à Formação e Qualificação de Adultos com Deficiência na sua resposta
localizada na Freguesia de Belém.
“O CED AACF é um Centro dinâmico, ativo e
proativo, com vários projetos globais em andamento “ (Candeias e Martinho,
2012:3).
Como verificamos, (Cf.
Candeias e Martinho, 2012:3),a intervenção do Centro de Educação e
Desenvolvimento AACF não se restringe à população local, constituindo-se como
uma resposta única ao nível nacional, definindo como destinatários as pessoas
com deficiência sensorial, designadamente surdo-cegas.
O CED António Aurélio da Costa Ferreira tem como
objetivo desenvolver programas de reabilitação, formação e integração de
crianças e jovens com deficiência, designadamente as crianças e jovens surdo-cegos,
com vista à sua reabilitação e inclusão educativa, ocupacional, profissional e
social.
Para o cumprimento do seu objetivo, dotou-se da mais
avançada técnica no domínio da reabilitação de indivíduos surdo-cegos,
indispensáveis em alguns casos para a melhoria da qualidade de vida em aspetos
básicos como o acesso à informação, mobilidade, controle do ambiente e, acima
de tudo, comunicação.
Em Julho de 2012 de surge o Jornal do Aurélio
(Ano 1, Nº 1, julho 2012), este dedica o seu conteúdo a reflexões sobre
deficiências várias à descrição de vivências do CED António Aurélio da Costa
Ferreira da Casa Pia de Lisboa e a curiosas reportagens. É com agrado que
apresentamos a página de entrada de
Jornal do Aurélio e toda a equipa envolvida:
(Imagem do cabeçalho do "Jornal do Aurélio")
JORNAL DO AURÉLIO
Jornal do CED António Aurélio da Costa Ferreira da Casa Pia
de Lisboa
Rua Alberto Oliveira
1700 - 020 Lisboa
Tel.: 21 793 59 63
Fax: 21 793 48 40
E-mail: sec.aurecliocferreira@casapia.pt
FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO:
Madalena Antunes
ORGANIZAÇÃO EDITORIAL Fátima Martinho
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
Professores: Ângelo Caetano, António Martins,
Cláudia Pereira, Isabel Cerdeira, Isabel
Valdeira, Rita Ribeiro.
Educadoras de Infância: Paula Liques, Rita Mora.
Técnicos: Alexandra Silveira, Daniela
Custódio, Dina Candeia, Fátima Martinho, Manuel
Morgado, Patrícia Santos.
Intérprete de LGP: Sofia Figueiredo
Assistentes Técnicos: Francisco Gonçalves, Vítor Santos.
PAGINAÇÃO E GRAFISMO Fátima Martinho
REVISÃO: Cláudia Pereira
FOTOGRAFIA Cláudio Ferreira, Daniela Custódio, Fátima
Martinho, Rita Mora, Rita Ribeiro,
Gabinete de
Comunicação da C.P.L.
P.M.
BIBLIOGRAFIA:
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O
DR. AURÉLIO DA COSTA FERREIRA. (1922). Boletim
do Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa; A. 2, N. 5/6
(Jun.-Set. 1922), p. 1-3.
ANTUNES, Madalena; et al.
(2013). Surdocegueira: um modelo de
intervenção: relatório provisório
[on-line]. Lisboa. Casa Pia de Lisboa.
CANDEIAS, Dina; MARTINHO, Fátima (2012). “Notícias: um
CED em movimento” [on-line]: Jornal do
Aurélio: Jornal do CED António Aurélio da Costa Ferreira da Casa Pia de Lisboa;
A. 1, N. 1 (Jun. 2012), p. 3
CASA PIA DE LISBOA (2014). CED António Aurélio da Costa Ferreira [on-line]. Lisboa: Casa Pia
de Lisboa, Ensino e formação, Centros de Educação e Desenvolvimento.
COORDENAÇÃO NACIONAL PARA A SAÚDE MENTAL;
ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DO SISTEMA DE SAÚDE (2006). Rede de
referenciação hospitalar de psiquiatria da infância
e da
adolescência (documento técnico de suporte) [on-line]. 2006.
FERNANDES, Rogério (1979). A pedagogia portuguesa Contemporânea. Lisboa: Of. Gráfica da Liv.
Bertrand, 1979. (Biblioteca Breve; 37).
FERREIRA, António Aurélio da Costa (1922). História natural da criança: duas lições
[on-line]: Lisboa: Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa.
http://www.sg.min-
[Consul. 7 março 2014].
FERREIRA, António Aurélio da Costa (1920). Algumas lições de psicologia e pedologia.
[on-line]: Lisboa: Lumen.
FERREIRA, António Aurélio da Costa (1922). História natural da criança: duas lições
[on-line]: Lisboa: Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa.
http://www.sg.min-
[Consul. 7 março 2014].
JORNAL DO AURÉLIO: Jornal do CED António Aurélio da
Costa Ferreira da Casa Pia de Lisboa [on-line]. Lisboa: Casa Pia de Lisboa.
NÓVOA, António (dir.) (1993). A imprensa de educação e ensino: repertório analítico (século XIX-XX).
Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. (Memórias da educação).
RIBEIRO, Cláudia Pinto (2010). “Viver na diferença… a
Casa Pia de Lisboa como espaço de inclusão” [on-line]. Revista da Faculdade de Letras; Vol. 11, 3ª Série (2010), p.
219-236.
RIBEIRO, Cláudia Pinto (2009). Os outros: a Casa Pia de Lisboa como espaço de inclusão da diferença.
[Porto: s.n.]. (Tese de doutoramento em história apresentada Universidade do
Porto, Faculdade de Letras).
RIBEIRO, Cláudia Pinto (2011). “Por terras de frança:
viagem pedagógica de um Professor Casapiano” [on-line]. Cultura, Espaço & Memória; N.º 1 (mar. 2011), p. 249-261.
SILVA, Maria Odete Emygdio da (2009). “Da exclusão à
inclusão: concepções e práticas” [on-line]: Revista
Lusófona de Educação; Nº 13 (2009).
VERÍSSIMO, Nelson (2004). “António Aurélio da Costa
Ferreira: um grande educador madeirense” [on-line]: Passos na Calçada; (Jan. 2004)
XAVIER, Jorge Barreto (2007). Colégio Maria Pia. Maria Pia School [on-line]. 2007-2008
Sem comentários:
Enviar um comentário