2012/05/22

Instrumentos de escrita no Museu Virtual da Educação

A invenção da escrita pode ser considerada uma das descobertas mais marcantes da humanidade. O ato de escrever exige suporte e instrumentos próprios para que possa ser realizado. Como tal, por instrumento de escrita entende-se qualquer objeto ou utensílio utilizado para o desenho de signos gráficos sobre um determinado suporte.

“A escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita. [...] Vivemos os séculos da civilização da escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não existe história que não se funde sobre textos” (Higounet, 2003).

 

Ainda assim, não nos cabe fazer uma análise da evolução dos materiais e dos suportes de escrita, mas sim uma breve descrição dos objetos deste tipo, utilizados em contexto escolar e presentes no Museu Virtual da Educação. O manuseamento de objetos de escrita por parte dos alunos é fundamental para a aquisição de competências ao nível da língua e da grafia.

A pena foi o instrumento de escrita por excelência, perdurando até aos nossos dias e estando ainda, simbolicamente, ligada à literatura. No entanto, os avanços tecnológicos que se fizeram sentir desde o século XVIII transformaram amplamente não só a aprendizagem da escrita, como também a generalização das canetas metálicas, dos aparos, do giz ou das lousas que tiveram um impacto enorme no ensino.


(Imagens de dois apara lápis)

 

Lápis de carvão e apara-lápis


Não existem exemplares dos chamados lápis de carvão no Museu Virtual, uma vez que se trata de um material de rápido desgaste. No entanto não poderíamos deixar de o mencionar pela importância que teve ao nível do ensino e da educação.

Uma das primeiras referências a este instrumento foi feita por Konrad von Gesner (1516-1565) que descreve um invólucro de madeira no qual era inserida a grafite. O fabrico industrial dos lápis teve início em 1760 através da fábrica fundada por Kaspar Faber, passando a designar-se, a partir de 1898 “Faber-Castel”. Em Portugal podemos apontar a fundação da Fábrica “Viarco” em 1936.

Face a outros instrumentos, o lápis apresentava a vantagem de poder ser afiado e facilmente apagado devido à invenção, posterior, do apara-lápis e da borracha.

Também não existem exemplares de borrachas no Museu Virtual, e o seu uso só foi divulgado a partir da segunda metade do século XIX, com a descoberta do processo de vulcanização desta matéria.

A produção de “afia-lápis” ou “apara-lápis” desenvolveu-se cerca de 1880, com a produção em massa de lápis. Elaborados em diferentes tipos de materiais e com diversos formatos, os afia lápis tornaram-se indispensáveis no processo de escrita.

As posteriores inovações na produção de lápis dizem respeito à melhoria da sua forma externa e acabamento.


(Imagens de canetas de aparo, com e sem estojo)

 

Caneta

As canetas de aparo, à semelhança do lápis, substituíram o uso da pena. No entanto, tinham de ser mergulhadas num recipiente com tinta, o tinteiro, que também passou a ter grande destaque no plano dos instrumentos de escrita.

A caneta de madeira com aparo metálico foi amplamente usada no meio escolar até a década de 1950, aquando da introdução da caneta esferográfica. O aparo condicionava a letra e a forma de escrita.


(Imagens de aparos para canetas)

A constante necessidade de mergulhar a caneta em tinta fez com que se levassem a cabo várias tentativas para juntar um depósito de tinta à caneta – a caneta de tinta permanente. Em 1884, Lewis Edson Waterman produziu pela primeira vez que caneta deste tipo, embora só viessem a ser comercializadas em maior escala no século XX.


(Imagens de tinteiros)

 

Tinteiro

O tinteiro tornou-se uma peça imprescindível com a difusão da caneta. Elaborado em diferentes materiais e com diferentes formatos, transformou-se num objeto eminentemente prático ou de distinção. O Museu Virtual da Educação dispõe de vários modelos elaborados em metal, vidro ou cerâmica pintada, de utilização ligada ao funcionamento das atividades letivas ou meramente decorativos.

O ato de escrever com pena implicava a incessante necessidade de a mergulhar num tinteiro – a este respeito, muito sublinham que esta rotina tornava a escrita irregular e morosa. O papel era um artigo precioso que devia ser usado com sabedoria e parcimónia para propósitos bem definidos.

 

A dificuldade com o reabastecimento de tinta começou a ser solucionada em fins do século XIX com o aperfeiçoamento das canetas-tinteiro, que tinham algum tipo de reservatório de tinta para garantir maior autonomia a quem escrevia. O problema nesse caso era o preço elevado que fazia delas, ao menos inicialmente, objetos de uso profissional e não uma ferramenta com a qual qualquer pessoa podia escrever. Os jovens escolares, por exemplo, continuaram, décadas afora, a escrever com a velha pena de metal, provocando, nas salas de aula, as frequentes, desastrosas e desastradas consequências que invariavelmente resultavam dos tinteiros entornados sobre as carteiras.


(Imagens de tinteiros)

 

Há ainda a acrescentar que o crescimento dos índices de alfabetização em grande parte do mundo ao longo da primeira metade do século XX provocou uma nova demanda por instrumentos de escrita que fossem, simultaneamente, baratos e confiáveis, demanda essa que só viria a ser plenamente satisfeita com a popularização das canetas esferográficas, um invento dos anos quarenta que se popularizou ao longo dos anos cinquenta.

 

Fato curioso a respeito das esferográficas e que vale a pena recordar é que o início de sua comercialização resultou em um fenômeno muito parecido, ao ocorrido recentemente em relação aos tablets, com filas de compradores ansiosos e todas as unidades postas à venda rapidamente esgotada.



(Imagens de mata-borrão)


 Mata-borrão

O mata-borrão era um instrumento utilizado em conjugação com o papel mata-borrão e destinava-se a absorver a tinta em excesso deixada pelas canetas de aparo ou penas ou para remover um borrão de tinta.

Geralmente em formato de peça oscilante, o mata-borrão fez parte do material escolar utilizado até aos anos 70.

O papel mata-borrão é um tipo de papel muito absorvente. É usado para absorver o excesso de substâncias líquidas, tal como tinta ou óleo da superfície do papel de escrita ou outros objetos.

Atualmente existe uma espécie de papel mata-borrão feito exclusivamente para fins de conservação. Quimicamente purificado, livre de lenhina, ácido e tamponado com carbonato de cálcio (pH 8,5). A este respeito veja-se os Procedimentos básicos para a conservação de documentos com suporte em pergaminho da Direção Geral de Arquivos (DGARQ).

 

 

Bibliografia:

 

FARIA, Maria Isabel ; PERICÂO, Maria da Graça (1988). Dicionário do livro: terminologia relativa ao suporte, ao texto, à edição e encadernação, ao tratamento técnico. Lisboa : Guimarães Editores.

 

 

DOMINGOS, Sónia (s.d.). Procedimentos básicos para a conservação de documentos com suporte em pergaminho [on-line]: Lisboa: [Direção-Geral de Arquivos], Divisão de Preservação, Conservaão [sic.] e Restauro

<http://dgarq.gov.pt/files/2008/10/norma_pergaminho.pdf>  [Consulta: Maio de 2012]

 

 

GOMES, Eduardo de Castro (2008). A escrita na História da humanidade [on-line].

<http://dialogica.ufam.edu.br/PDF/no3/Eduardo_Aspectos_da_escrita_na_Historia_da_humanidade.pdf> [Consulta: Maio de 2012]

 

 

HIGOUNET, Charles (2003). História concisa da escrita. 10.ª edição. São Paulo: Parábola Editorial.

 

 

PAIVA, Vera Lúcia Meneses de Oliveira (ca 2008) História do material didático [on-line].

<http://www.veramenezes.com/historia.pdf > [Consulta: Maio de 2012]

 

 

PORTAL SÃO FRANCISCO (2012). História do lápis [on-line]. Brasil: Colégio de São francisco

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-lapis/> [Consulta: Maio de 2012]

 

 

PINHO, Fábio Assis (2006). Aspectos éticos em representação do conhecimento: em busca do diálogo entre Antonio García Gutiérrez, Michèle Hudon e Clare Beghtol [on-line]: Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação.

<http://www.enancib.ppgci.ufba.br/premio/UNESP_Pinho.pdf > [Consulta: Maio de 2012]


 

MJS



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