A invenção da
escrita pode ser considerada uma das descobertas mais marcantes da humanidade.
O ato de escrever exige suporte e instrumentos próprios para que possa ser
realizado. Como tal, por instrumento de escrita entende-se qualquer objeto ou utensílio
utilizado para o desenho de signos gráficos sobre um determinado suporte.
“A
escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir de
definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas
eras: antes e a partir da escrita. [...] Vivemos os séculos da civilização da
escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita
substitui a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a
religião escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não existe
história que não se funde sobre textos” (Higounet, 2003).
Ainda assim, não
nos cabe fazer uma análise da evolução dos materiais e dos suportes de escrita,
mas sim uma breve descrição dos objetos deste tipo, utilizados em contexto
escolar e presentes no Museu Virtual da Educação. O manuseamento de objetos de
escrita por parte dos alunos é fundamental para a aquisição de competências ao
nível da língua e da grafia.
A pena foi o
instrumento de escrita por excelência, perdurando até aos nossos dias e estando
ainda, simbolicamente, ligada à literatura. No entanto, os avanços tecnológicos
que se fizeram sentir desde o século XVIII transformaram amplamente não só a
aprendizagem da escrita, como também a generalização das canetas metálicas, dos
aparos, do giz ou das lousas que tiveram um impacto enorme no ensino.
Lápis de carvão e apara-lápis
Não existem exemplares dos
chamados lápis de carvão no Museu Virtual,
uma vez que se trata de um material de rápido desgaste. No entanto não poderíamos
deixar de o mencionar pela importância que teve ao nível do ensino e da
educação.
Uma das primeiras referências a este instrumento foi feita por
Konrad von Gesner (1516-1565) que descreve um invólucro de madeira no qual era
inserida a grafite. O fabrico industrial dos lápis teve início em 1760 através
da fábrica fundada por Kaspar Faber,
passando a designar-se, a partir de 1898 “Faber-Castel”. Em Portugal podemos apontar a fundação da
Fábrica “Viarco” em 1936.
Face a outros instrumentos, o lápis apresentava a vantagem de
poder ser afiado e facilmente apagado devido à invenção, posterior, do
apara-lápis e da borracha.
Também não existem exemplares de borrachas no Museu Virtual, e o
seu uso só foi divulgado a partir da segunda metade do século XIX, com a
descoberta do processo de vulcanização desta matéria.
A produção de “afia-lápis” ou “apara-lápis” desenvolveu-se cerca
de 1880, com a produção em massa de lápis. Elaborados em diferentes tipos de
materiais e com diversos formatos, os afia lápis tornaram-se indispensáveis no
processo de escrita.
As posteriores inovações na produção de lápis dizem respeito à
melhoria da sua forma externa e acabamento.
Caneta
As canetas de aparo, à semelhança do lápis, substituíram o uso da
pena. No entanto, tinham de ser mergulhadas num recipiente com tinta, o
tinteiro, que também passou a ter grande destaque no plano dos instrumentos de
escrita.
A caneta de madeira com aparo metálico foi amplamente usada no meio escolar até a década de 1950, aquando da introdução da caneta esferográfica. O aparo condicionava a letra e a forma de escrita.
A
constante necessidade de mergulhar a caneta em tinta fez com que se levassem a
cabo várias tentativas para juntar um depósito de tinta à caneta – a caneta de
tinta permanente. Em 1884, Lewis Edson Waterman produziu pela primeira vez que
caneta deste tipo, embora só viessem a ser comercializadas em maior escala no
século XX.
Tinteiro
O tinteiro tornou-se uma peça imprescindível com a difusão da caneta.
Elaborado em diferentes materiais e com diferentes formatos, transformou-se num
objeto eminentemente prático ou de distinção. O Museu Virtual da Educação
dispõe de vários modelos elaborados em metal, vidro ou cerâmica pintada, de
utilização ligada ao funcionamento das atividades letivas ou meramente
decorativos.
O ato de escrever com pena
implicava a incessante necessidade de a mergulhar num tinteiro – a este
respeito, muito sublinham que esta rotina tornava a escrita irregular e morosa.
O papel era um artigo precioso que devia ser usado com sabedoria e parcimónia
para propósitos bem definidos.
A dificuldade com o
reabastecimento de tinta começou a ser solucionada em fins do século XIX com o
aperfeiçoamento das canetas-tinteiro, que tinham algum tipo de reservatório de
tinta para garantir maior autonomia a quem escrevia. O problema nesse caso era
o preço elevado que fazia delas, ao menos inicialmente, objetos de uso
profissional e não uma ferramenta com a qual qualquer pessoa podia escrever. Os
jovens escolares, por exemplo, continuaram, décadas afora, a escrever com a
velha pena de metal, provocando, nas salas de aula, as frequentes, desastrosas
e desastradas consequências que invariavelmente resultavam dos tinteiros
entornados sobre as carteiras.
Há ainda a acrescentar que
o crescimento dos índices de alfabetização em grande parte do mundo ao longo da
primeira metade do século XX provocou uma nova demanda por instrumentos de
escrita que fossem, simultaneamente, baratos e confiáveis, demanda essa que só
viria a ser plenamente satisfeita com a popularização das canetas
esferográficas, um invento dos anos quarenta que se popularizou ao longo dos
anos cinquenta.
Fato curioso a respeito
das esferográficas e que vale a pena recordar é que o início de sua
comercialização resultou em um fenômeno muito parecido, ao ocorrido
recentemente em relação aos tablets, com filas de compradores ansiosos e
todas as unidades postas à venda rapidamente esgotada.
O mata-borrão era um instrumento utilizado
em conjugação com o papel mata-borrão e destinava-se a absorver a tinta em
excesso deixada pelas canetas de aparo ou penas ou para remover um borrão de
tinta.
Geralmente em
formato de peça oscilante, o mata-borrão fez parte do material escolar
utilizado até aos anos 70.
O papel mata-borrão é um tipo de papel muito absorvente. É usado para absorver
o excesso de substâncias líquidas, tal como tinta ou óleo da superfície do
papel de escrita ou outros objetos.
Atualmente existe uma espécie de papel mata-borrão feito exclusivamente para fins de
conservação. Quimicamente purificado, livre de lenhina, ácido e tamponado com
carbonato de cálcio (pH 8,5). A este respeito veja-se os Procedimentos básicos para a conservação de documentos com suporte em
pergaminho da Direção Geral de Arquivos (DGARQ).
Bibliografia:
FARIA,
Maria Isabel ; PERICÂO, Maria da Graça (1988). Dicionário
do livro: terminologia relativa ao suporte, ao texto, à edição e encadernação,
ao tratamento técnico. Lisboa : Guimarães Editores.
DOMINGOS, Sónia (s.d.). Procedimentos básicos para a conservação de
documentos com suporte em pergaminho [on-line]: Lisboa: [Direção-Geral de
Arquivos], Divisão de Preservação, Conservaão [sic.] e Restauro
<http://dgarq.gov.pt/files/2008/10/norma_pergaminho.pdf> [Consulta: Maio de 2012]
GOMES, Eduardo de Castro
(2008). A escrita na História da humanidade [on-line].
<http://dialogica.ufam.edu.br/PDF/no3/Eduardo_Aspectos_da_escrita_na_Historia_da_humanidade.pdf>
[Consulta: Maio de 2012]
HIGOUNET, Charles (2003). História concisa da escrita. 10.ª
edição. São Paulo: Parábola Editorial.
PAIVA, Vera Lúcia Meneses de
Oliveira (ca 2008) História do material
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<http://www.veramenezes.com/historia.pdf
> [Consulta: Maio de 2012]
PORTAL SÃO FRANCISCO (2012).
História do lápis
[on-line]. Brasil: Colégio de São francisco
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-lapis/>
[Consulta: Maio de 2012]
PINHO,
Fábio Assis (2006). Aspectos éticos em representação do
conhecimento: em busca do diálogo entre Antonio García Gutiérrez, Michèle Hudon
e Clare Beghtol [on-line]:
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação.
<http://www.enancib.ppgci.ufba.br/premio/UNESP_Pinho.pdf
> [Consulta: Maio de 2012]
MJS
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