2011/12/29

"Portugal Maior" - Um Manual Escolar para o Ensino Técnico


(Imagem extraída da obra Portugal Maior - Livro de Leituras para o Ensino Técnico Profissional. Pode observar-se do lado esquerdo vários indivíduos de diferentes nacionalidades, sob o escudo português. Do lado direito, surge um mapa com rotas delineadas que têm Portugal como origem)


A propósito de “Portugal Maior – Livro de Leituras para o Ensino Técnico Profissional”, organizado por Augusto Reis Góis e Antonino Henriques, com colaboração do Dr. Virgílio Couto, que integra o património bibliográfico à guarda desta Secretaria-Geral, tece este texto algumas breves notas e considerações sobre o surgimento e importância, em Portugal, do ensino técnico profissional.

Na sua 18.ª edição, datando do início da década de 70, reúne uma seleta de textos de diversos autores da História e Literatura portuguesas e apresenta-se profusamente ilustrado, contando neste particular com a colaboração de nomes importantes, como Calvet de Magalhães, Júlio Santos e Júlio Gil.

À parte o facto de dirigir-se ao Ensino Técnico, apresenta-se como um manual escolar típico da época; textos que apelam aos valores da integridade do Império (“Portugal Continental”; “Ilhas Adjacentes”; “Portugal Ultramarino”) e que realçam a importância da preservação dos valores morais e do trabalho (“Os Caminhos de Deus”; “A Mão e a Ferramenta”). Do texto de encerramento (“Portugal Maior”), de autoria de José Ferreira Bossa, deriva o título da obra.

No que respeita ao tipo de ensino em questão, técnico-profissional, a que o livro se dirige, constitui uma modalidade de ensino vocacional que, para além da instrução geral, procura integrar de um modo rápido o aluno no mercado de trabalho. Com este propósito, o aluno recebe, além de formação geral, a possibilidade de aprender na prática os conhecimentos teóricos e especiais, dentro da formação que escolhe, permitindo-lhe adquirir um extenso conjunto de conhecimentos, capacidades e habilidades. As suas características variam consoante o país e o sistema educativo adotado, uma vez que cada país tem as suas especificidades, necessidades próprias e políticas.


(Capa da obra Portugal Maior - Livro de Leituras para o Ensino Técnico Profissional)

Em Portugal, é no decurso do século XIX que surgem as mais importantes medidas legislativas que visam a criação e regulamentação do ensino industrial, ministrado em escolas de artes e ofícios. Durante este período surgem, por todo o país, escolas industriais e de desenho industrial, com uma forte componente prática. Augusto de Aguiar, grande reformador do ensino técnico, foi responsável por uma importante reforma do ensino industrial e comercial outorgando, por exemplo, ao Instituto Comercial de Lisboa, a capacidade de conferir diplomas de ensino superior aos estudantes do então chamado Curso Superior de Comércio. A ele se deve a criação das Escolas Industriais e de Desenho Industrial que vieram a difundir-se pelo país.

Durante o período do Estado Novo, o ensino técnico vai registar um crescimento significativo, sobretudo a partir da publicação do Decreto n.º 37 029, de 25 de Agosto de 1948, que define o Estatuto do Ensino Profissional Industrial e Comercial. O ensino técnico é então consagrado como um dos ramos do ensino secundário, paralelamente ao ensino liceal.

 “As escolas do ensino profissional, industrial e comercial são assim classificadas: a) Escolas técnicas elementares, destinadas a ministrar exclusivamente o ensino das matérias do ciclo preparatório; b) Escolas industriais, destinadas a ministrar, associado ou não ao ciclo preparatório, o ensino de todos ou de alguns dos seguintes cursos industriais: complementares de aprendizagem, de formação profissional, de aperfeiçoamento e de mestrança, ou ainda os cursos especiais referidos na alínea d) do n.º 1 do artigo anterior; c) Escolas comerciais, destinadas a ministrar, associado ou não ao ciclo preparatório, o ensino de todos ou de alguns dos seguintes cursos comerciais: complementares de aprendizagem, de formação profissional e de aperfeiçoamento, ou ainda o curso especial de habilitação para o ingresso nos institutos comerciais; d) Escolas industriais e comerciais, destinadas a ministrar o ensino mencionado nas duas alíneas anteriores.” (Ensino Técnico Profissional – Reforma, Estatuto, 1950:28)

Conforme referido, o ensino técnico era, assim, realizado em escolas técnicas profissionais que, dependendo dos tipos de cursos ministrados, podiam assumir a designação de “escolas industriais”, “escolas comerciais”, “escolas industriais e comerciais”. Foram, igualmente, criadas as “escolas femininas”, “escolas de artes decorativas” ou “escolas práticas de agricultura”. As escolas onde era ministrado tanto o ensino comercial e industrial como o ensino agrícola tinha a designação genérica de “escolas técnicas”, passando a ser aplicada esta designação a quase todas as novas escolas criadas a partir do final da década de 1960, independentemente do curso que ministravam. Até ao final de 1968, também existiam as escolas técnicas elementares, onde apenas era realizado o 1.º grau do ensino técnico, as quais foram então transformadas em escolas preparatórias do ensino secundário.

Na década de 1950, a industrialização do país conduz a uma crescente procura de cursos industriais e na década seguinte, assiste-se a uma aproximação entre o ensino técnico e o ensino liceal, no que viria a tornar-se o ensino secundário unificado. O Decreto-Lei n.º 47 480 de 2 de janeiro de 1967 consagra a unificação do 1.º ciclo do ensino liceal e do 1.º grau do ciclo preparatório do ensino técnico. Surge, assim, o ciclo preparatório do ensino secundário, com a duração de dois anos.


(Imagem extraída da contracapa da obra Portugal Maior - Livro de Leituras para o Ensino Técnico Profissional. Pode observar-se um monarca a cavalo, rodeado de símbolos de Portugal e da cristandade)


Nas palavras de M. Tavares Emídio, em “Sistema de Ensino em Portugal”:

“O final da década de quarenta assistiu à promulgação dos estatutos do ensino liceal e do ensino técnico, cujos modelos se vão manter praticamente inalterados até ao ano letivo de 1968-69, quando entrou em funcionamento o 1.º ano do ciclo preparatório do ensino secundário. De modo coerente com o sistema sócio-político vigente, as duas vias do ensino secundário – a liceal e a prática – reproduziam nas suas estruturas, objetivos e métodos duas realidades sociais, económicas e culturais claramente diferenciadas.” (Sistema de Ensino em Portugal, 1981:192)

Quando Veiga Simão ocupa a pasta de ministro da Educação, é publicada a primeira Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 25 de Julho de 1973) que prevê a fusão do ensino técnico com o liceal. A formação profissional passaria a ser destinada aos que possuíssem a habilitação do ensino básico ou do Curso Geral ou Complementar do ensino secundário e optassem por essa formação. Aquela ideia é posta em prática logo após o 25 de abril de 1974. Em 1975, o ensino técnico foi extinto e integrado no ensino liceal, dando lugar, em 1976, ao ensino secundário unificado.

Tratando-se de um manual escolar, conforme dito de início, o manual aqui objeto de análise integra uma parte importante e mais vasta do espólio bibliográfico pertença deste ministério.

Aqui, estudantes, investigadores e público em geral, podem encontrar muitos e diversos antigos manuais escolares (portugueses e de outras origens), dirigidos a diferentes graus e tipos de ensino.

 

Aceda aqui à ficha bibliográfica de “Portugal Maior”.


P. M. 


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

 

ALVES, Luís Alberto Marques, et al. (2009). Ensino Técnico (1756-1973). Lisboa: Secretaria-Geral do Ministério da Educação.

 

CARVALHO, Rómulo de (1996). História do ensino em Portugal (2.ª ed.), Lisboa: Gulbenkian.

 

ENSINO TÉCNICO PROFISSIONAL – REFORMA, ESTATUTO (1950), Lisboa: Imprensa Nacional.

 

I CONGRESSO NACIONAL DO ENSINO TÉCNICO PROFISSIONAL – sumário das comunicações (1958), Porto: Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis.

 

SILVA, Manuela; TAMEN, M. Isabel (1981). Sistema de ensino em Portugal. Lisboa: Gulbenkian.

 


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