2011/09/16

Projetos de construções universitárias nos fundos históricos




A Universidade de Lisboa está a comemorar o seu centenário. Os edifícios da Reitoria e das Faculdades de Letras e de Direito constituem o trio emblemático da Cidade Universitária que se ergueu nos anos 50 com o traço característico do arquiteto Pardal Monteiro. O fundo relativo a construções universitárias inclui projetos de arquitetura e documentação escrita relativa a variadíssimos edifícios, na sua maioria de Lisboa, mas também do Porto e de Coimbra.

Foi recentemente objeto de descrição arquivística pelas técnicas superiores da DSID (Direção de Serviços de Documentação e Informação) estando em breve disponível para consulta para os investigadores com interesse em recuperar a história das construções universitárias.

Essa história faz-se, não apenas dos projetos que resultaram em obras, em espaço edificado e hoje vivenciado, mas também dos processos de intenções, dos planos que, por algum motivo, não tiveram seguimento e que, por isso, refletem as vicissitudes dos processos políticos e decisionais que envolveram a construção dos edifícios universitários ao longo das décadas centrais do Estado Novo.

Um desses projetos nunca concluído é o projeto para a Praça da Universidade da autoria do Arquiteto M. Norberto Corrêa. O espaço que ficou entre estes edifícios hoje parque de estacionamento e relvado, foi objeto, também ele, de um projeto de intervenção urbanística que, a ser construído, lhe teria dado feição bem diferente. O projeto incluía nas suas intenções não apenas o tratamento do espaço central da cidade universitária, hoje ocupado por um extenso relvado, mas também a reorganização dos eixos de circulação envolventes até ao Campo Grande, inclusive.

Os fundos incluem um “Estudo de Composição”, datado de 1958, e um Anteprojeto, bem mais extenso e detalhado, datado de 1960. Mas num deles o arquiteto refere-se a um “Estudo Prévio para um anteplano de urbanização da Cidade Universitária de Lisboa” de 1955.

Na memória descritiva do Anteprojeto de 1960, Norberto Corrêa esclarece que procurou integrar o seu projeto, tanto quanto possível, na conceção geral do conjunto de edifícios destinado à reitoria e às faculdades de Letras e Direito, que estava previsto, desde há 20 anos, encontrando-se, nesse momento, parcialmente construído.

Refere igualmente que, em 1955, a sua intenção inicial seria desenhar um vasto espaço empedrado destinado a cortejos e cerimónias universitárias, dando total primazia à circulação pedonal e reduzindo ao mínimo o acesso a veículos, privilegiando a noção de “campus universitário”. Mas que, para este seu anteprojeto de 1960, lhe teria sido comunicado um outro sentido programático, que incluía assegurar, em boas condições, o acesso aos edifícios, e conceber um conjunto monumental na zona central.

Dando cumprimento a esta encomenda, o arquiteto apresenta um projeto com uma peça escultórica central, vertical, assente numa base em alvenaria e betão, ladeada por um extenso espelho de água, para o qual são previstos jogos de luz e água.




As dimensões e o volume da peça central foram estudados em função da altimetria dos edifícios envolventes, e em função da possibilidade de ser avistada a grande distância, “desde a ligeira encosta da Avenida [do Brasil] de acesso até à parte fronteira ao Hospital Júlio de Matos”. (p. 11). E “para enquadramento da perspetiva que de longe se abre sobre a avenida de acesso, admitem-se dois volumes de edificações sobre-elevados a rematar a Av. do Brasil”. (p. 9).

O projeto incluiu o estudo de composição de jogos de água, os quais, para dias festivos, incluíam “dois anéis de jactos de água, com orientação definida, rodeando a peça vertical”, e “duas faixas longitudinais, dispostas de cada lado nas restantes curvas, com jactos de água orientáveis” (p. 14). Este movimento seria “acompanhado luminotecnicamente pelo funcionamento de várias fiadas de projectores” (p. 14), estando prevista uma “variabilidade de intensidade, cores e tonalidades” (p. 15) em conjugação com a possibilidade de alterar a dimensão e intensidade dos jogos de água.

No seu conjunto, para além da Memória Descritiva, este Anteprojeto inclui 15 peças desenhadas, desde a planta de localização, à escala 1:2000, até aos desenhos de por menor e esquemas de jogos de água e luz, a 1:100, 1:50 e 1:20.



A proposta inclui ainda uma Estimativa de trabalhos de construção civil, da autoria do Engenheiro J. Ferry Borges, que previa, para a execução deste projeto da “Praça da Universidade”, um orçamento total de 4.300 contos.

Finalmente, este documento permite identificar outras intencionalidades, muito interessantes, qua não fariam parte do âmbito deste projeto de Praça. Assim, concretamente, pela legenda da planta de localização podemos verificar que, para o local onde atualmente se situa o Instituto de Educação e Faculdade de Psicologia, estava prevista uma “Capela da Universidade”; e para o local da atual Torre do Tombo, uma dupla de edifícios destinados a “Hall de Exposições” e “Livraria da Universidade”. Entre os dois, na zona onde o espaço relvado se torna menos largo, estava prevista uma “Estação de Metro com Centro Comercial”.

Caso tivessem sido construídos, estes equipamentos teriam, necessariamente, dado uma configuração diferente a toda a circulação de pessoas e automóveis neste espaço amplo da Cidade Universitária de Lisboa. Teria sido outra a sua vivência, a sua evolução, a sua História. 





Sem comentários: