A construção dos polos universitários portugueses pelo meio de
planos parciais de urbanização produziu e transformou profundamente os espaços
urbanos em que os mesmos se inseriram. Como estudou Nuno Rosmaninho, as
universidades não tiveram sempre uma dimensão urbana significativa. Na Idade
Média implantaram-se no coração das cidades, mas sem as modificar
substancialmente do ponto de vista físico. Só tardiamente surgiu a ideia de que
à organização do ensino universitário devia corresponder um planeamento urbanístico
e arquitetónico específico.
As cidades universitárias de Lisboa e de Coimbra, por exemplo, são
o fruto de uma política muito recente, prosseguida pelo governo presidido por
António Oliveira Salazar, que procurava a concentração das instituições de
ensino superior, à semelhança do que se passava nos princípios do século XX em
cidades de países europeus como a Itália, a França., a Espanha e a Alemanha. A
cidade universitária de Lisboa foi construída como uma “cidade nova” em
terrenos livres da zona da Palma de Cima (Campo Grande), de acordo com um Plano
Geral (1935 – 1961) da autoria do gabinete dos arquitetos Porfírio Pardal
Monteiro e António Pardal Monteiro.
Quanto à cidade universitária de Coimbra, esta foi concebida a
partir de um Plano Geral de reestruturação dos espaços escolares já existentes
na Velha Alta da cidade. Dirigida pelo arquiteto Cottinelli Telmo nos anos 1941
a 194, foi prosseguida por Cristino da Silva, entre 1949 e 1966. As obras de
reestruturação operaram, na verdade, como uma profunda reforma urbanística
obrigando a retificar alinhamentos, regularizar largos, alargar ruas,
redistribuir espaços escolares e demolir mais de duas centenas de prédios,
entre eles imóveis de interesse histórico e artístico (Observatório Astronómico
Pombalino, Arco da barbacã de Almedina, um arco do Aqueduto, colégios, etc.).
As demolições extensas de edifícios com valor patrimonial revelam
o desrespeito do Estado Novo pelo património antigo sacrificado que lhe
preferiu o classicismo monumental que caracteriza os novos edifícios escolares.
Os processos de conceção e realização das cidades universitárias
de Lisboa e de Coimbra podem ser estudados a partir da consulta dos fundos
documentais produzidos pelos serviços responsáveis pelas instalações do ensino
superior. Entre eles, o arquivo da Comissão Administrativa dos Novos Edifícios
Universitários (CANEU), renomeada em 1957 como Comissão Administrativa das
Novas Instalações Universitárias (CANIU).
Extintas em 1969, aquando da criação da Direção-Geral das Construções
Escolares (DGCE), as competências dessas comissões transitaram para a Direção
das Instalações Universitárias, nova unidade orgânica da recém-criada DGCE.
Constituídos por processos administrativos, por projetos de
arquitetura (incluindo peças desenhadas) e por coleções de fotografias, os
fundos documentais atrás citados e valorizados pelo atual Ministério da
Educação e Ciência, permitem conhecer e analisar as opções urbanísticas,
arquitetónicas e estéticas dos atores das transformações urbanas não só em
Lisboa e Coimbra como também no Porto, aquando da construção de edifícios
escolares destinados ao Ensino Superior.
As coleções de fotografias relativas ás instalações universitárias
produzidas entre 1927 e 1985, são constituídas por 15 álbuns (987 fotografias),
26 sacos (2019 fotografias, 647 negativos, 8 imagens, 3 gravuras, 12 slides), 2
caixas (53 fotografias, 9 imagens).
Têm informação referente à construção arquitetónica dos edifícios
escolares (maquetes; edifícios em construção; inauguração dos edifícios
construídos), ao mobiliário e aos motivos decorativos dos mesmos (escultura,
pintura, tapeçaria, cerâmica e azulejo).
Inclui fotografias da autoria de Horácio Novais, Otto Aver,
Fotografia Império, Fotografia Alvão, Teófilo Rego, Abílio Hipólito e Louis
Meyer.
Mais se informa que o Ministério da Educação e Ciência tem à sua
guarda outro fundo documental de grande interesse. Trata-se do arquivo da Junta
Nacional de Educação, cuja 1.ª Subsecção da 6.ª Secção (Belas Artes) é
constituída por uma coleção de processos com pareceres de relatores encarregues
de se pronunciar sobre o valor estético dos projetos apresentados por entidades
do Estado. Refere-se ainda a existência de outra fonte documental relacionada,
a Direção-Geral do Ensino Superior e Belas Artes, cujo arquivo é também
custodiado pela Secretaria-Geral do extinto Ministério da Educação.
Bibliografia
AZEVEDO, Maria Graça –A
integração da universidade na cidade. O caso das universidades no continente
português. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional
e Local, FLUL, 1998.
COSTA, Sandra Cristina de Jesus Vaz –A Cidade Universitária de Coimbra. Um projeto de modernização cultural.
Utopia e realidade. Dissertação de Mestrado em História da Arte Contemporânea.
Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,1999.
MATOS, Madalena A. Cunha As
cidades e os campi. Contributo para o estudo dos territórios universitários em
Portugal. Dissertação de Doutoramento em Engenharia do Território, Instituto
Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 1999.
PASCOAL, Ana Menhert – A
cidade do saber. Estudo do património artístico integrado nos edifícios
projetados pelo arquiteto Porfírio Pardal Monteiro para a Cidade Universitária
de Lisboa (1934-1961). Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Teoria
do Restauro. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2010.
ROSMANINHO, Nuno – O poder
da arte. O Estado Novo e a Cidade Universitária de Coimbra. Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006.
TORGAL, Luís Reis – A
universidade e o Estado Novo (1926-1970). Coimbra: Livraria Minerva, 1998.
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