2011/09/23

Jornadas Europeias do Património 2011 - O Património e a Paisagem Urbana - As cidades universitárias



A construção dos polos universitários portugueses pelo meio de planos parciais de urbanização produziu e transformou profundamente os espaços urbanos em que os mesmos se inseriram. Como estudou Nuno Rosmaninho, as universidades não tiveram sempre uma dimensão urbana significativa. Na Idade Média implantaram-se no coração das cidades, mas sem as modificar substancialmente do ponto de vista físico. Só tardiamente surgiu a ideia de que à organização do ensino universitário devia corresponder um planeamento urbanístico e arquitetónico específico.

As cidades universitárias de Lisboa e de Coimbra, por exemplo, são o fruto de uma política muito recente, prosseguida pelo governo presidido por António Oliveira Salazar, que procurava a concentração das instituições de ensino superior, à semelhança do que se passava nos princípios do século XX em cidades de países europeus como a Itália, a França., a Espanha e a Alemanha. A cidade universitária de Lisboa foi construída como uma “cidade nova” em terrenos livres da zona da Palma de Cima (Campo Grande), de acordo com um Plano Geral (1935 – 1961) da autoria do gabinete dos arquitetos Porfírio Pardal Monteiro e António Pardal Monteiro.

Quanto à cidade universitária de Coimbra, esta foi concebida a partir de um Plano Geral de reestruturação dos espaços escolares já existentes na Velha Alta da cidade. Dirigida pelo arquiteto Cottinelli Telmo nos anos 1941 a 194, foi prosseguida por Cristino da Silva, entre 1949 e 1966. As obras de reestruturação operaram, na verdade, como uma profunda reforma urbanística obrigando a retificar alinhamentos, regularizar largos, alargar ruas, redistribuir espaços escolares e demolir mais de duas centenas de prédios, entre eles imóveis de interesse histórico e artístico (Observatório Astronómico Pombalino, Arco da barbacã de Almedina, um arco do Aqueduto, colégios, etc.).

As demolições extensas de edifícios com valor patrimonial revelam o desrespeito do Estado Novo pelo património antigo sacrificado que lhe preferiu o classicismo monumental que caracteriza os novos edifícios escolares.





Os processos de conceção e realização das cidades universitárias de Lisboa e de Coimbra podem ser estudados a partir da consulta dos fundos documentais produzidos pelos serviços responsáveis pelas instalações do ensino superior. Entre eles, o arquivo da Comissão Administrativa dos Novos Edifícios Universitários (CANEU), renomeada em 1957 como Comissão Administrativa das Novas Instalações Universitárias (CANIU).

Extintas em 1969, aquando da criação da Direção-Geral das Construções Escolares (DGCE), as competências dessas comissões transitaram para a Direção das Instalações Universitárias, nova unidade orgânica da recém-criada DGCE.

Constituídos por processos administrativos, por projetos de arquitetura (incluindo peças desenhadas) e por coleções de fotografias, os fundos documentais atrás citados e valorizados pelo atual Ministério da Educação e Ciência, permitem conhecer e analisar as opções urbanísticas, arquitetónicas e estéticas dos atores das transformações urbanas não só em Lisboa e Coimbra como também no Porto, aquando da construção de edifícios escolares destinados ao Ensino Superior.

As coleções de fotografias relativas ás instalações universitárias produzidas entre 1927 e 1985, são constituídas por 15 álbuns (987 fotografias), 26 sacos (2019 fotografias, 647 negativos, 8 imagens, 3 gravuras, 12 slides), 2 caixas (53 fotografias, 9 imagens).

Têm informação referente à construção arquitetónica dos edifícios escolares (maquetes; edifícios em construção; inauguração dos edifícios construídos), ao mobiliário e aos motivos decorativos dos mesmos (escultura, pintura, tapeçaria, cerâmica e azulejo).

Inclui fotografias da autoria de Horácio Novais, Otto Aver, Fotografia Império, Fotografia Alvão, Teófilo Rego, Abílio Hipólito e Louis Meyer.

Mais se informa que o Ministério da Educação e Ciência tem à sua guarda outro fundo documental de grande interesse. Trata-se do arquivo da Junta Nacional de Educação, cuja 1.ª Subsecção da 6.ª Secção (Belas Artes) é constituída por uma coleção de processos com pareceres de relatores encarregues de se pronunciar sobre o valor estético dos projetos apresentados por entidades do Estado. Refere-se ainda a existência de outra fonte documental relacionada, a Direção-Geral do Ensino Superior e Belas Artes, cujo arquivo é também custodiado pela Secretaria-Geral do extinto Ministério da Educação.






Bibliografia

 

AZEVEDO, Maria Graça –A integração da universidade na cidade. O caso das universidades no continente português. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, FLUL, 1998.

 

COSTA, Sandra Cristina de Jesus Vaz –A Cidade Universitária de Coimbra. Um projeto de modernização cultural. Utopia e realidade. Dissertação de Mestrado em História da Arte Contemporânea. Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,1999.

 

MATOS, Madalena A. Cunha As cidades e os campi. Contributo para o estudo dos territórios universitários em Portugal. Dissertação de Doutoramento em Engenharia do Território, Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 1999.

 

PASCOAL, Ana Menhert – A cidade do saber. Estudo do património artístico integrado nos edifícios projetados pelo arquiteto Porfírio Pardal Monteiro para a Cidade Universitária de Lisboa (1934-1961). Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2010.

 

ROSMANINHO, Nuno – O poder da arte. O Estado Novo e a Cidade Universitária de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006.

 

TORGAL, Luís Reis – A universidade e o Estado Novo (1926-1970). Coimbra: Livraria Minerva, 1998.




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