Francisco
Adolfo Coelho nasceu em Coimbra a 15 de janeiro de 1847, filho de João Gaspar
Coelho e de Francisca do Carmo Coelho. Teve uma infância difícil, perdendo o
pai aos 19 meses.
Após
os estudos preparatórios, ingressou na Universidade de Coimbra com 15 anos.
Ficou bastante desiludido com o ambiente universitário, abandonando os estudos
dois anos depois, centrando-se nos autores alemães, marcados pelo positivismo e
espirito cientifico, em Comte e Spencer.
As
áreas em que mais se destacou foram a filologia, a etnografia e a educação,
sobretudo no que dizia respeito à pedagogia e aos métodos de ensino. Adolfo
Coelho teceu várias críticas ao estado da educação: os manuais que não se
ajustavam do ponto de vista metodológico; a reduzida frequência das escolas; e
ainda a deficiente formação dos professores. A sua visão da educação
orientou-se para a integração, visando não só a formação letiva, mas também a
formação de caráter. Pretendia a introdução do trabalho manual como parte da
componente letiva, orientando o aluno para a sua vida ativa.
No que
respeita à pedagogia, apresentou A Questão do Ensino nas Conferências do
Casino, publicada em 1872, onde defendeu a importância do ensino para elevar o
homem e conduzi-lo ao seu destino. A educação deveria ser uma prioridade no
plano de reformas do país, laica e com liberdade de investigação e de
pensamento.
Entre
1882 e 1883 participou na criação do Museu Pedagógico Municipal de Lisboa e da
sua biblioteca. Em 1883 foi nomeado diretor da Escola Rodrigues Sampaio.
Colaborou com Jaime Moniz na reforma do ensino secundário entre 1894 e 1895,
tendo redigido os programas de Português, Francês e Geografia.
Em 1901
lecionou a cadeira de Pedagogia na Escola de Habilitação para o Magistério
Secundário. Posteriormente em 1911, assumiu essa função na Escola Normal
Superior da Universidade de Lisboa, bem como a cadeira de Metodologia Geral das
Ciências do Espírito.
Ao
nível da etnologia, fez várias
investigações recolhendo material sobre costumes, festas, crenças e tradições
populares por todo o país. Em 1890 apresentou o seu estudo sobre esta matéria
no Esboço de um Programa para o Estudo
Antropológico, Patológico e Demográfico do Povo Português. Em 1892 publicou
Os Ciganos em Portugal e em 1896, o Plano para o estudo da tradição portuguesa –
Portugal e Ilhas Adjacentes e o Plano
da Exposição Etnográfica Portuguesa. O seu interesse por esta área relacionou-se
com a construção de fundamentos para a educação.
No
âmbito da filologia, apresentou um
plano de estudos para a criação de uma cadeira no Curso Superior de Letras (que
se viria a tornar a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), o que se
concretizou em 1878 com o surgimento da Filologia Comparada. Adolfo Coelho foi,
assim, professor de Filologia Românica Comparada e de Filologia Portuguesa.
O
pensamento educacional de Adolfo Coelho pode sintetizar-se, de forma muito
breve e linear, nos seguintes pontos:
- a
educação pública era a resposta à decadência moral e cultural do país;
- a
educação devia submeter-se à razão crítica;
- a
mudança de mentalidade devia ter como base a educação;
- a
criança devia ser o sujeito da aprendizagem;
- a
existência de jardins-escola era fundamental como forma de educar a criança
antes do ensino primário;
- o educador
deveria respeitar a atividade mental e física da criança, tendo em conta a sua
idade;
- a
relação entre a distribuição dos graus de ensino e a seleção social assumia
grande relevância;
- a
educação não significava apenas instrução;
- a
educação popular não se podia limitar à alfabetização;
- a
reforma da educação não implicava um corte total com o passado;
- a
inclusão de elementos tradicionais na educação, ou seja, o material pedagógico
do povo contribuiria para o sucesso educativo;
- a
instrução devia partir do simples para o complexo;
- o
trabalho manual era imprescindível na educação;
- o ensino geral e o ensino pessoal deviam ser
distintos;
- a
articulação entre o ensino primário elementar e o ensino primário superior
facilitaria a implementação de um projeto educativo, bem como a criação de uma
escola-modelo;
- a
formação do cidadão devia ser privilegiada;
- o
ensino livresco devia ser abandonado, os professores deviam ter formação e as
escolas deveriam ser dotadas de material pedagógico apropriado.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS
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