2024/03/04

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adolfo Coelho (1847 – 1919)


(Imagem do autor retirada da internet)


Francisco Adolfo Coelho nasceu em Coimbra a 15 de janeiro de 1847, filho de João Gaspar Coelho e de Francisca do Carmo Coelho. Teve uma infância difícil, perdendo o pai aos 19 meses.

Após os estudos preparatórios, ingressou na Universidade de Coimbra com 15 anos. Ficou bastante desiludido com o ambiente universitário, abandonando os estudos dois anos depois, centrando-se nos autores alemães, marcados pelo positivismo e espirito cientifico, em Comte e Spencer.

As áreas em que mais se destacou foram a filologia, a etnografia e a educação, sobretudo no que dizia respeito à pedagogia e aos métodos de ensino. Adolfo Coelho teceu várias críticas ao estado da educação: os manuais que não se ajustavam do ponto de vista metodológico; a reduzida frequência das escolas; e ainda a deficiente formação dos professores. A sua visão da educação orientou-se para a integração, visando não só a formação letiva, mas também a
formação de caráter. Pretendia a introdução do trabalho manual como parte da componente letiva, orientando o aluno para a sua vida ativa.

No que respeita à pedagogia, apresentou A Questão do Ensino nas Conferências do Casino, publicada em 1872, onde defendeu a importância do ensino para elevar o homem e conduzi-lo ao seu destino. A educação deveria ser uma prioridade no plano de reformas do país, laica e com liberdade de investigação e de pensamento.

Entre 1882 e 1883 participou na criação do Museu Pedagógico Municipal de Lisboa e da sua biblioteca. Em 1883 foi nomeado diretor da Escola Rodrigues Sampaio. Colaborou com Jaime Moniz na reforma do ensino secundário entre 1894 e 1895, tendo redigido os programas de Português, Francês e Geografia.

Em 1901 lecionou a cadeira de Pedagogia na Escola de Habilitação para o Magistério Secundário. Posteriormente em 1911, assumiu essa função na Escola Normal Superior da Universidade de Lisboa, bem como a cadeira de Metodologia Geral das Ciências do Espírito.

 

Ao nível da etnologia, fez várias investigações recolhendo material sobre costumes, festas, crenças e tradições populares por todo o país. Em 1890 apresentou o seu estudo sobre esta matéria no Esboço de um Programa para o Estudo Antropológico, Patológico e Demográfico do Povo Português. Em 1892 publicou Os Ciganos em Portugal e em 1896, o Plano para o estudo da tradição portuguesa – Portugal e Ilhas Adjacentes e o Plano da Exposição Etnográfica Portuguesa. O seu interesse por esta área relacionou-se com a construção de fundamentos para a educação.

No âmbito da filologia, apresentou um plano de estudos para a criação de uma cadeira no Curso Superior de Letras (que se viria a tornar a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), o que se concretizou em 1878 com o surgimento da Filologia Comparada. Adolfo Coelho foi, assim, professor de Filologia Românica Comparada e de Filologia Portuguesa.

O pensamento educacional de Adolfo Coelho pode sintetizar-se, de forma muito breve e linear, nos seguintes pontos:

- a educação pública era a resposta à decadência moral e cultural do país;

- a educação devia submeter-se à razão crítica;

- a mudança de mentalidade devia ter como base a educação;

- a criança devia ser o sujeito da aprendizagem;

- a existência de jardins-escola era fundamental como forma de educar a criança antes do ensino primário;

- o educador deveria respeitar a atividade mental e física da criança, tendo em conta a sua idade;

- a relação entre a distribuição dos graus de ensino e a seleção social assumia grande relevância;

- a educação não significava apenas instrução;

- a educação popular não se podia limitar à alfabetização;

- a reforma da educação não implicava um corte total com o passado;

- a inclusão de elementos tradicionais na educação, ou seja, o material pedagógico do povo contribuiria para o sucesso educativo;

- a instrução devia partir do simples para o complexo;

- o trabalho manual era imprescindível na educação;

-  o ensino geral e o ensino pessoal deviam ser distintos;

- a articulação entre o ensino primário elementar e o ensino primário superior facilitaria a implementação de um projeto educativo, bem como a criação de uma escola-modelo;

- a formação do cidadão devia ser privilegiada;

- o ensino livresco devia ser abandonado, os professores deviam ter formação e as escolas deveriam ser dotadas de material pedagógico apropriado.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


 


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