O Liceu Nacional de Angra do Heroísmo foi criado por Decreto de 20
de setembro de 1844, logo após, a 6 de agosto de 1846, Jerónimo Emiliano de Andrade foi nomeado reitor.
Passados quatro décadas, em 1928, Emiliano
de Andrade é o patrono do Liceu, passando este a designar-se Liceu Nacional Padre Jerónimo Emiliano
de Andrade, designação que manteve até 1949, ano em que por decisão
governamental foram retirados os nomes dos patronos à generalidade dos
estabelecimentos de ensino, passando, outra vez, a Liceu Nacional de Angra do
Heroísmo de 1948 até 27 de abril de 1978.
A partir de 1 de setembro, por Decreto-lei
93/86, de 10 de maio, o Secretário Regional da Educação e Cultura, Aurélio
Henrique Silva Franco da Fonseca, atribui novamente o estatuto de patrono à
escola secundária, passando a designar-se Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade – o patrono
mantém-se, desde então, até à atualidade.
Atendendo ao estudo Alguns dados para o estudo do franciscano Pe. Jerónimo Emiliano de
Andrade (1789-1847) de Manuel Cadafaz Matos (Matos, 2010), Jerónimo Emiliano de Andrade produziu uma obra de relevo, enquadrada em
três grandes áreas: uma de matriz teológica, que transparece em trabalhos
publicados essencialmente nos períodos de 1816-1821 e 1844-47; outra
marcadamente pedagógica, que vai de 1814 até praticamente ao fim da sua vida e,
por fim, outra de natureza etnográfica e histórica.
A sua
Formação latinista permitir-lhe-ia, desde muito cedo, fácil acesso aos textos
básicos do pensamento cristão — ponto de partida para um aprofundamento da sua
vivência do Cristianismo. Em 1818, depois de ter sido nomeado lente em Artes,
acabou por ser escolhido pelo vigário capitular, Cunha Ferraz, para reger a
cadeira de Teologia Dogmática e Moral.
Admite-se,
com efeito, que quatro ou cinco anos antes do início deste seu magistério ao
serviço da cadeira de Teologia Dogmática e Moral, em Angra, o Pe. Emiliano de
Andrade já era conhecido pelos seus dotes oratórios, mas, sobretudo, como
professor de Latim e da Filosofia e com reconhecimento:
“[…] las lecturas y las
referencias culturales de Jerónimo Emiliano de Andrade eran sobre todo las
disponibles en el universo isleño […] sus biógrafos están de acuerdo en
describirlo como uno de los más brillantes intelectectuales y pedagogos de su
época y, es cierto, que algunas de sus obras granjearon tal éxito que tubieran
varias ediciones en Portugal y en la India portuguesa” (Gonçalves, 2013, p. 468).
O seu
primeiro trabalho a serem editados, serviam para compendiar algumas das lições
para os seus alunos de Angra. Intitulava-se Primeiros Elementos da Lógica
para uso dos Estudantes do Curso de Philosofia Racional da Cidade de Angra.
Foi publicado na cidade de Angra pela Imprensa da Perfeitura em 1834. Nesta
época foi também publicado um trabalho, de vocação idêntica, intitulado Primeiros
Elementos da História Philosófica para uso dos Estudantes do Curso de
Philosofia Racional e Moral da Cidade d’Angra.
Em
1837 o prelado angrense dava á estampa as primeiras preocupações de índole filológica:
as Collecção de Vocábulos e Diálogos Francezes, para o uso dos Estudantes da
Aula Pública de Língua Francesa, estabelecida nesta Cidade de Angra do
Heroísmo. Na sequência deste opúsculo – e até ao ano de 1847 em que virá a falecer
– verifica-se toda uma década de intensa produção de âmbito pedagógico. Importa
destacar então, com efeito, os seguintes títulos: Primeiros Elementos de
Éthica para uso dos Estudantes do Curso de Philosophia Racional da Cidade de
Angra do Heroísmo (A. H. Imprensa da Administração Geral, 1840); Noções
Primárias das Figuras de Geometria e Medição de Superfícies e Volumes de
Sólidos, por meio de Desenho Linear.
Ainda,
em 1846, voltavam a sair dois outros pequenos opúsculos seus, (ainda) de
vocação pedagógica. Tratava-se do Resumo da História Portuguesa accommodado às
lições e exercícios das escolas (A. H., na Oficina Terceirense); e o Compêndio
de Arithmetica ordinária, accommodado às lições e exercícios das escolas de
Instrução Primária.
No ano
da sua morte, em 1847, o Padre Jerónimo ainda conseguiu ver publicados três
novos trabalhos seus: Tratou-se dos Princípios
Geraes de Moral e Civilidade Christã (A. H., Tipografia do Angrense, 1847)
e os Primeiros Elementos da Literatura Clássica, Oratória e Poética, para
uso das lições de cor dos estudantes da Quinta Cadeira do Lyceo nacional da
Cidade d’Angra do Heroísmo (Angra do Heroísmo, na mesma tipografia e mesmo
ano).
Registe-se
que, a partir do ano de 1847 (até 1852) proliferaram diversas edições póstumas
de obras do Pe. Jerónimo de Andrade. Era o culminar da produção daquele que,
entre 1843-45, dera à estampa a Topographia, ou descryção physyca, política,
civil, ecclesiastica e histórica da ilha Terceira dos Açores (da Oficina do
Angrense). Ele teve na sua época, a nosso ver, um significativo papel no que respeita
à introdução do espírito liberal da Revolução Francesa no arquipélago dos
Açores. Ele quis ser, também – e a par de outros autores ilhéus – um arauto de
modernidade no seu tempo.
P. M.
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