2020/06/08

Jerónimo Emiliano de Andrade (1789 - 1847): patrono do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo



O Liceu Nacional de Angra do Heroísmo foi criado por Decreto de 20 de setembro de 1844, logo após, a 6 de agosto de 1846, Jerónimo Emiliano de Andrade foi nomeado reitor.

Passados quatro décadas, em 1928, Emiliano de Andrade é o patrono do Liceu, passando este a designar-se Liceu Nacional Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, designação que manteve até 1949, ano em que por decisão governamental foram retirados os nomes dos patronos à generalidade dos estabelecimentos de ensino, passando, outra vez, a Liceu Nacional de Angra do Heroísmo de 1948 até 27 de abril de 1978.

A partir de 1 de setembro, por Decreto-lei 93/86, de 10 de maio, o Secretário Regional da Educação e Cultura, Aurélio Henrique Silva Franco da Fonseca, atribui novamente o estatuto de patrono à escola secundária, passando a designar-se Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade – o patrono mantém-se, desde então, até à atualidade.

Atendendo ao estudo Alguns dados para o estudo do franciscano Pe. Jerónimo Emiliano de Andrade (1789-1847) de Manuel Cadafaz Matos (Matos, 2010), Jerónimo Emiliano de Andrade produziu uma obra de relevo, enquadrada em três grandes áreas: uma de matriz teológica, que transparece em trabalhos publicados essencialmente nos períodos de 1816-1821 e 1844-47; outra marcadamente pedagógica, que vai de 1814 até praticamente ao fim da sua vida e, por fim, outra de natureza etnográfica e histórica.

A sua Formação latinista permitir-lhe-ia, desde muito cedo, fácil acesso aos textos básicos do pensamento cristão — ponto de partida para um aprofundamento da sua vivência do Cristianismo. Em 1818, depois de ter sido nomeado lente em Artes, acabou por ser escolhido pelo vigário capitular, Cunha Ferraz, para reger a cadeira de Teologia Dogmática e Moral.

Admite-se, com efeito, que quatro ou cinco anos antes do início deste seu magistério ao serviço da cadeira de Teologia Dogmática e Moral, em Angra, o Pe. Emiliano de Andrade já era conhecido pelos seus dotes oratórios, mas, sobretudo, como professor de Latim e da Filosofia e com reconhecimento:

“[…] las lecturas y las referencias culturales de Jerónimo Emiliano de Andrade eran sobre todo las disponibles en el universo isleño […] sus biógrafos están de acuerdo en describirlo como uno de los más brillantes intelectectuales y pedagogos de su época y, es cierto, que algunas de sus obras granjearon tal éxito que tubieran varias ediciones en Portugal y en la India portuguesa” (Gonçalves, 2013, p. 468).

O seu primeiro trabalho a serem editados, serviam para compendiar algumas das lições para os seus alunos de Angra. Intitulava-se Primeiros Elementos da Lógica para uso dos Estudantes do Curso de Philosofia Racional da Cidade de Angra. Foi publicado na cidade de Angra pela Imprensa da Perfeitura em 1834. Nesta época foi também publicado um trabalho, de vocação idêntica, intitulado Primeiros Elementos da História Philosófica para uso dos Estudantes do Curso de Philosofia Racional e Moral da Cidade d’Angra.

Em 1837 o prelado angrense dava á estampa as primeiras preocupações de índole filológica: as Collecção de Vocábulos e Diálogos Francezes, para o uso dos Estudantes da Aula Pública de Língua Francesa, estabelecida nesta Cidade de Angra do Heroísmo. Na sequência deste opúsculo – e até ao ano de 1847 em que virá a falecer – verifica-se toda uma década de intensa produção de âmbito pedagógico. Importa destacar então, com efeito, os seguintes títulos: Primeiros Elementos de Éthica para uso dos Estudantes do Curso de Philosophia Racional da Cidade de Angra do Heroísmo (A. H. Imprensa da Administração Geral, 1840); Noções Primárias das Figuras de Geometria e Medição de Superfícies e Volumes de Sólidos, por meio de Desenho Linear.

Ainda, em 1846, voltavam a sair dois outros pequenos opúsculos seus, (ainda) de vocação pedagógica. Tratava-se do Resumo da História Portuguesa accommodado às lições e exercícios das escolas (A. H., na Oficina Terceirense); e o Compêndio de Arithmetica ordinária, accommodado às lições e exercícios das escolas de Instrução Primária.

No ano da sua morte, em 1847, o Padre Jerónimo ainda conseguiu ver publicados três novos trabalhos seus:  Tratou-se dos Princípios Geraes de Moral e Civilidade Christã (A. H., Tipografia do Angrense, 1847) e os Primeiros Elementos da Literatura Clássica, Oratória e Poética, para uso das lições de cor dos estudantes da Quinta Cadeira do Lyceo nacional da Cidade d’Angra do Heroísmo (Angra do Heroísmo, na mesma tipografia e mesmo ano).

Registe-se que, a partir do ano de 1847 (até 1852) proliferaram diversas edições póstumas de obras do Pe. Jerónimo de Andrade. Era o culminar da produção daquele que, entre 1843-45, dera à estampa a Topographia, ou descryção physyca, política, civil, ecclesiastica e histórica da ilha Terceira dos Açores (da Oficina do Angrense). Ele teve na sua época, a nosso ver, um significativo papel no que respeita à introdução do espírito liberal da Revolução Francesa no arquipélago dos Açores. Ele quis ser, também – e a par de outros autores ilhéus – um arauto de modernidade no seu tempo.

P. M. 


BIBLIOGRAFIA:


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DIAS, Luís Pereira (1998). As outras escolas: o ensino particular das primeiras letras entre 1859 e 1881. Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.


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MATOS, Manuel Cadafaz (2010). Alguns dados para o estudo do franciscano Pe. Jerónimo Emiliano de Andrade (1789-1847) e da sua acção espiritual, cultural e social nos açores [em linha]. Arquipélago, história, 2.ª Série, N. 14-15 (2010-2011). [Consult. 18 maio de 2020]. Disponível: <https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/1295/1/Manuel_Cadafaz_Matos_p49-66_ARQhist14-15.pdf>.


NÓVOA, António, 2003 (dir.) – Dicionário de Educadores Portugueses. Porto: Asa.


SILVA, Carlos Manique da (2002) Escolas belas ou espaços sãos? Uma análise histórica sobre a arquitectura escolar portuguesa (1860-1920). Lisboa: IIE.

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