Alexandre Herculano (1810 - 1877)
Desde a criação do Liceu Alexandre Herculano, em
1906/1907, até à atualidade, como sede de Agrupamento de Escolas Alexandre
Herculano, esta instituição de ensino do Porto sempre ostentou o nome do
pensador/historiador como patrono.
Quem era Alexandre Herculano? A sua educação literária
começou com o estudo do latim e latinidade nas aulas dos padres congregados de
S. Filipe Nery, do hospício das Necessidades, sendo seu mestre o padre Vicente
da Cruz. Preparava-se
para continuar os preparativos indispensáveis para a matrícula na Universidade
de Coimbra, mas em 1827, cegando seu pai, e sofrendo seu avô materno um grande
revés da fortuna, pela falta de pagamento de somas importantes de que era
credor como mestre nas obras da Ajuda, faltaram-lhe os recursos; contudo, Alexandre
Herculano não desanimou do seu propósito de se ilustrar, e conseguiu aprender
particularmente as língua francesa, inglesa e alemã, matriculando-se no
primeiro ano da Aula do comércio em 1830, seguindo o curso de Paleografia, a
que então se chamava Diplomática, na Torre do Tombo, regido por Francisco
Ribeiro Dos Guimarães, no ano lectivo de 1830-1831.
Desta época data a primeira revelação que teve da
literatura alemã, que lhe fez a Marquesa de Alorna, como ele próprio confessa
na biografia que escreveu daquela ilustre senhora. Contava 21 anos, e já o
jovem estudante, com os conhecimentos variados que adquirira, bem mostrava que
a sua mocidade fora bem dedicada ao estudo. Animavam-se então naquela época os
ânimos políticos; a guerra civil com todos os seus horrores absolutistas,
enchia de presos as cadeias do reino só pelo crime de serem liberais, e nas
praças públicas eram os patíbulos levantados consecutivamente.
Alexandre Herculano viu-se obrigado a interromper os estudos
para seguir a voragem da revolução; inimigo de todas as opressões, e estrénuo
defensor da liberdade, uniu-se aos constitucionais, e sendo implicado na
malograda revolta de infantaria n.º 4 em 31 de agosto de 1831. Por Decreto de
17 de julho de 1833 foi nomeado segundo bibliotecário da Biblioteca Pública do
Porto, e exercia ainda esse cargo, quando rebentou a 10 de setembro de 1836 o
movimento em Lisboa contra a Carta Constitucional. Herculano mandou logo no dia
17 um ofício ao presidente da câmara municipal dando a sua demissão, dizendo
que partia para Lisboa, porque prestara a maior fé à Carta Constitucional.
Em 1843 efectuou-se novo contrato, e os Panoramas de
1853 e 1854 têm muitos artigos de Alexandre Herculano, que mais tarde se
publicaram em livros. Em 1852, conjuntamente com o marquês de Niza, fundou o
jornal político O País, em que fez veemente oposição ao governo. Dois
anos mais tarde organizou outro jornal, intitulado O Português. A
Academia Real das Ciências intentou a publicação dos Monumentos históricos
de Portugal, desde o século VIII até ao século XV, começando por distribuir
em épocas os trabalhos de indagação e catalogação dos mesmos monumentos, e
devendo a primeira parte abranger os do século VIII até ao ano de 1280. Esta
obra Importantíssima foi encetada, e compunha-se de três partes: Escritores,
Diplomas e Cartas, Leis e Costumes.
Alexandre Herculano havia sido nomeado sócio
correspondente em 21 de fevereiro de 1844, efectivo em 13 de fevereiro de 1852
e de mérito em 14 de junho de 1850. Ninguém mais habilitado do que ele poderia
ser chamado para um trabalho daquela ordem, para o qual eram precisos grandes
conhecimentos de diplomática e de paleografia, e a maior prática de rever
arquivos. Em 6 de junho do 1853 saiu de Lisboa Alexandre Herculano, em direcção
à Beira, onde até setembro visitou todos os arquivos e bibliotecas.
Sendo em março de 1856 nomeado guarda-mor da Torre do
Tombo, Joaquim José da Costa Macedo, que pouco tempo antes pedira a sua
exoneração de sócio e de secretário perpétuo da Academia, por grandes
desinteligências que o tornavam incompatível nesta corporação com alguns dos
seus colegas, Alexandra Herculano declarou terminantemente na sessão de 31 do
referido mês, que em vista daquela nomeação, não podia voltar à Torre do Tombo,
em consequência da incompatibilidade de privar com o novo guarda-mor; e como os
seus trabalhos para a publicação dos Monumentos Históricos exigiam as
suas frequentes visitas ao arquivo nacional, resignava os serviços que poderia
prestar, e assim demitia-se do cargo de vice-presidente, e até mesmo de sócio.
A Academia em 9 de outubro do mesmo ano, deu-lhe novo
diploma de sócio, que ele aceitou, e em dezembro tornou a elegê-lo
vice-presidente. Herculano, numa carta datada de 27 deste mês, não só persiste
na resolução de não ocupar a vice-presidência, mas declara-se morto para as
letras, enquanto se achar colocado pelos poderes públicos entre a humilhação e
o silêncio, entre a desonra e a abstenção, porque a pátria tinha o direito de
exigir tudo de seus filhos, menos o aviltamento. Foi esta a razão por que
deixou os Monumentos Históricos e a História de Portugal, em que
também trabalhava, e a vida activa das letras, entregando-se à agricultura na
quinta do Calhariz, pertencente aos duques de Palmela, no concelho de Sesimbra,
que por esse tempo trazia arrendada, indo desterrar-se mais tarde, em 1867, para
Vale de Lobos, onde se conservou até falecer.
Em 8 de outubro de 1857 fora aposentado o guarda-mor
da Torre do Tombo, e Alexandre Herculano tinha de novo aberta a porta daquele
arquivo público, e como sócio da Academia, que se encarregara dos Monumentos
históricos, voltou à sua tarefa até 1873, mas por sua morte deixou
incompleta, apesar de ficarem muito adiantadas as três partes. A História da
Inquisição, e a maneira como descreve no 1.º volume da História de
Portugal a batalha de Ourique, negando a aparição de Cristo ao fundador da
Monarquia, levantaram contra ele as iras de todo o clero, que não se fartava de
o invectivar por toda a forma, tanto em folhetos, como em jornais religiosos, e
até nos próprios púlpitos, chegando a acusá-lo de inibidor das glórias
portuguesas.
Os últimos anos da sua vida foram quase dedicados aos
trabalhos agrícolas, prestando assim grandes serviços à agricultura. Poucas
vezes vinha à Lisboa, e a última vez foi no primeiro de setembro de 1877 para
visitar o imperador do Brasil, retirando-se para Vale de Lobos já, bastante
doente, falecendo no dia 13, conforme dissemos. O seu cadáver ficou depositado
na igreja da Azóia, em Santarém, no jazigo do general Gorjão, e no dia 15
realizaram-se exéquias solenes, a que concorreu muita gente de Lisboa,
representantes de toda a imprensa periódica, de corporações, da Academia Real
das Ciências, deputados, ministros, etc. Suas Majestades, o Rei D. Luís e
Senhora D. Maria Pia, também se fizeram representar. Em
1888 foi colocado, no Mosteiro dos Jerónimos no centro da Sala do Capítulo, o
túmulo de Alexandre Herculano delineado por delineado por Eduardo Augusto da Silva. Em 1940 é
modificado, sendo deixada singelamente apenas a arca tumular.
BIBLIGRAFIA:
COENTRÃO,
Abel (2019). Reabilitação
do liceu Alexandre Herculano não teve concorrentes [em linha]. Lisboa: Jornal Públio [Consult. 5 maio de
2019]. Disponível: https://www.publico.pt/2019/01/03/local/noticia/reabilitacao-liceu-alexandre-herculano-nao-concorrentes-1856566
DICIONÁRIO HISTÓRICO (s.d.). Carvalho e Araújo (Alexandre Herculano
de). [em linha]. [Consult. 5 de maio de 2019].
Disponível: http://www.arqnet.pt/dicionario/herculanoalex.html
DIREÇÂO-GERAL
DIO PATRIMONIO CULTURAL (2003). Liceu
Alexandre Herculano [em linha]. [Consult. 5 de maio]. Disponível: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/6853117/
NÓVOA,
António (coord.) (2003). Liceus de
Portugal: histórias arquivos memórias. Lisboa: ASA.
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