(Imagem de uma pilha de livros, no topo da qual se encontra um deles aberto)
"What is a thematic biography?
A thematic biography is not merely a biography,
which is an account of the events of a particular person’s life. One could
easily write a biography without ever engaging in the more intimate, more
interesting questions a thematic biography entails." (Yourdictionary,
2013)
Uma bibliografia é, antes de mais, uma lista estruturada e
ordenada de referências bibliográficas (ex.: autores, títulos, artigos de
revistas, etc.) com características comuns. Para além desta noção
biblioteconómica, o conceito de bibliografia designa, também, a incursão à bibliográfica estatística ou mesmo aos
repertórios bibliográficos – a estruturação de referências bibliográficas em
bibliografia e consequente estudo bibliométrico é, na atualidade, uma área em
plena expansão científica e transversal a todos as áreas métricas do saber
estatístico das ciências sociais.
Entre nós, em Portugal, dão-se os primeiros passos (a
esmagadora maioria dos mestrados em ciências
documentais ainda não integraram a disciplina nos seus curricula). Ainda
assim, surgem alguns mestrados de grande valor epistemológico que, em si mesmo,
são um fruto de investigações ao mais alto nível da estruturação de bibliografia.
A título de exemplo destacamos a investigação de Mestrado, em biblioteconomia,
da Mestre Lígia de Melo Arruda. A investigação intitulada Efeito Bradfordiano na Produção Documental no Tempo de D. Pedro V: 1837-1861[1]
é, acima de tudo, uma homose entre a bibliografia e a estatística, ou seja,
entre a sageza quantitativa e qualitativa.
Pretendemos sublinhar que, já nos finais do século dezanove, se
podem encontrar as primeiras investigações sobre o estudo da matéria-prima
bibliografia – Paul Otlet[2],
como bem verificou Santos (2007), deu à bibliografia um caráter científico. As
suas propostas estão expostas no Traité de Documentation: le livre sur le
livre: théorie et pratique, publicado em 1934.
Na
contemporaneidade, os estudos sobre a obra de Otlet têm sido retomados por
inúmeros pesquisadores, tais como W. Boyd Rayward, professor da Universidade de
Chicago, biógrafo de Otlet; Michael Buckland, professor da Universidade da
Califórnia; Bernd Frohmann, professor da Faculdade de Estudos de Informação e Média
do Canadá; José Lopes Yepes, da Universidade Complutense de Madrid, entre
outros.
As bibliografias são, como verificamos, matéria-prima de
diversas áreas do saber. Neste contexto, as bibliografias
temáticas são as mais aconselháveis a não-especialistas e a investigadores
que começam a esboçar e rasurar caminhos metodológicos. Este material didático,
que em si mesmo é um documento, pode muito bem, estar reintegrado em documentos
primários, tais como finais de monografias ou seriados, enciclopédias,
revistas, etc. Não obstante, existem extensas bibliografias temáticas que são
elaboradas ad hoc – por editoras,
bibliotecas especializadas, entre outras.
A esmagadora maioria das bibliografias temáticas são produto
direto de pesquisas em bases de dados especializadas, umas altamente
especializadas (por ex.: Web of Knowledge, Scielo – Scientific Electronic
Library Online, Scopus, Mediline, etc.), outras, são elaboradas por gestores de
informação (i.e. bibliotecários, arquivistas e museólogos). Ainda assim, é
indispensável a realização de bibliografias imparciais e representativas:
“[…] é importante a realização de bibliografias com base
na imparcialidade, representatividade e exaustividade: estes são critérios
objetivos de avaliação científica. Citar é muito mais do que prefaciar a ideia
de um autor, citar é sobretudo, tomar conhecimento da ciência através de outrem
— projetando conhecimentos no futuro e, intersubjectivamente, informamos e
divulgamos a ciência.” (Maximino, 2006:63)
Em virtude da diversidade dos núcleos temáticos do trabalho,
a bibliografia temática tem o objetivo de facilitar a consulta às fontes de
informação utilizadas na nossa pesquisa. Como toda categorização, a designação
dos textos nos assuntos está subordinada a um critério de escolha, que, nesse
caso, consiste na identificação da matriz temática de cada fonte de informação
(cf. Freires, 2007:193)
As bibliografias, vistas deste modo, devem
apresentar-se de uma forma analítica, para que sejam um forte manancial
científico de informação para todo o tipo de investigadores. Sejam quais forem
os tipos de modelos que se utilizem, a verdade é que todas as bibliografias têm
um uso potencial porque representam um grupo de material reunido por um
princípio comum.
“[…], enfatizamos a importância que demos às comparações,
complementações e confrontos das situações, bem como às experiências e temas
comuns relatados pelas fontes orais, sempre em diálogo com a bibliografia
temática, no sentido de compreender e conceber a história, a partir da
experiência vivida pelo sujeito.” (Bezerra, 2012:17)
No entender de Bezerra (2012:17), o diálogo entre as
bibliografias temáticas e as experiencias vividas é um modo e meio de
compreensão da história factual.
A anterior noção de bibliografia com acento intersubjetivo
ultrapassa qualquer definição encestada por Faria e Pericão (2008) no Dicionário do livor Estas autoras
entendem a bibliografia temática como conjunto de referências bibliográficas
ordenadas e subordinadas a uma determinada matéria – esta percetiva sintetiza
conceitos tradicionalistas da biblioteconomia – a bibliografia como forma
aliada a um dado conteúdo. Desta forma, desenraíza-se a bibliografia, de uma
forma definitiva, das ciências sociais e do individuo que a produz!
Em suma, uma bibliografia temática não é apenas uma
bibliografia, mas, um relato dos acontecimentos da vida das pessoas em
particular (Cf. Yourdictionary, 2013).
Bibliografia:
ARRUDA, Lígia Maria de Melo (2012). Efeito
Bradfordiano na produção documental no tempo de D. Pedro V : 1837-1861
[on-line]: Dissertação para apresentação
da obtenção do grau de Mestre em Ciências Documentais no Curso de Mestrado em
Ciências Documentais.
BEZRRRA, Edmundo Cunha Monte (2012). Migrações xukuru do ororubá: memórias e
história, (1950-1990) [on-line]: Universidade federal de Pernambuco, Centro
de Filosofia e Ciências Humanas, Mestrado em História.
FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da
Graça (2008). Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico. Coimbra :
Almedina.
FREIRES, Thiago Gaudêncio Siebert
(2007). Relações entre a Ciência da
Informação e as Ciências da Comunicação: um estudo dos conceitos de
representação documentária, mediação e comunicação científica [on-line] :
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Biblioteconomia e
Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.
MAXIMINO, Pedro (2006). Metodologia
para a avaliação de coleções: estudo aplicado a uma biblioteca portuguesa [on-line]:
Association of European Research Libraries; The DART-Europe E-theses Portal (DEEP); CUBC:
Universitat de Barcelona, Cop. 2005-2007
SANTOS, Paola (2007). “Paul Otlet: um
pioneiro da organização das redes mundiais de tratamento e difusão da
informação registrada” [on-line]: Ciência da Informação; Vol. 36, N.º 2
(may/aug. 2007).
UNIVERSITÉ DE LIMOGES ( 2013 ).” Nouveaux
actes sémiotiques” [on-line]: PULIM = Presses Universitaires de Limoges;
ISSN - 1961-8999
YOURDICTIONARY (2013). What is a thematic biography? [on-line]: April 17th, 2013
[Consulta: 22 de abril 2013]
P.M
[1] Esta
dissertação incide sobre a produção documental em Portugal, no período de vida
do monarca D. Pedro V, 1837-1861. As bases de dados de recolha de informação
foram: a Biblioteca Nacional de Portugal, a Biblioteca Nacional Digital e o
catálogo da Rede Municipal de Bibliotecas de Lisboa. Tendo em conta as várias
formulações no campo da bibliometria, o denominado efeito bradfordiano foi o
foco desta investigação com a análise dos autores, casas editoriais/
tipografias, locais de produção, tipo de documentos e áreas temáticas mais
produtivos.
[2] O Traité de Documentation expressa a maturidade do
pensamento de Paul Otlet sobre a organização do conhecimento. É, de fato, a
primeira sistematização sobre a documentação, que resultou de suas reflexões
sobre o trabalho realizado no IIB. Nele, Otlet expõe os princípios fundamentais
da documentação e da bibliologia. A bibliologia, contudo, não é uma criação de
Otlet. O termo foi cunhado em 1802 por Gabriel Peignot, que a caracterizou como
uma ciência que estudava o livro. No Traité de Documentation, Otlet toma
a bibliologia como ponto de partida para o desenvolvimento da documentação. Ao
longo dos cinco capítulos do Traité de Documentation, Otlet define os
principais conceitos do novo campo - como o termo documento -, desenvolve as
metodologias do trabalho da documentação, define seu campo de estudos e suas
relações com as demais ciências, faz um estudo detalhado do livro, apresenta os
produtos do desenvolvimento tecnológico de sua época e suas aplicações à
documentação, propondo, por fim, uma rede universal de informação e
documentação. (cfr. Santos, 2007)
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