2010/09/17

Miguel Ventura Terra e a arquitectura liceal do início do século

 
(Imagem do arquiteto Miguel Ventura Terra)


Em 2011 decorrerá um século sobre a inauguração do edifício da Escola Secundária de Pedro Nunes. Um centenário que vale a pena assinalar.


O projeto original, da autoria de Ventura Terra, foi concebido para albergar o 'Liceu Central da 3ª zona de Lisboa', conhecido à época por 'Liceu da Lapa', uma vez que funcionava, desde 1906, num prédio alugado para o efeito na Rua do Sacramento à Lapa.


Miguel Ventura Terra (1866-1919) concluía arquitetura em 1886, na Escola de Belas Artes do Porto, mas instala-se, de seguida, em Paris, onde completa a sua formação. Regressado a Portugal, em 1896, irá conseguir imprimir, na Lisboa ainda refém de um ecletismo oitocentista, várias marcas de um outro entendimento do objeto arquitetónico, assente em princípios de funcionalidade e de racionalidade. Exemplos disso são a intervenção na Câmara dos Deputados, na sequência do incêndio Palácio de São Bento em 1895, ou projetos emblemáticos como o Teatro Politeama e a Sinagoga de Lisboa (1905).


Mas a sua contribuição para a renovação da imagem da capital tem um ponto forte nos edifícios destinados a liceus: Camões (1907) e Pedro Nunes (1909) inaugurado já pela República em 1911, a que se deve acrescentar o projeto inicial para o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho (1913) que viria a ser inaugurado já depois da sua morte, em 1933/34.


Depois do Liceu Camões, Ventura Terra desenvolve, no projeto do Pedro Nunes, um programa arquitetónico que espelha a mesma valorização dos princípios higienistas dominantes na época, patentes na preocupação com aspetos como a iluminação, o arejamento, a circulação, e na especial importância conferida às instalações destinadas à educação física.


Na linha das conceções pedagógicas dominantes, é dada particular atenção às instalações dedicadas ao ensino das ciências e geografia, organizadas em torno dos laboratórios e respetivos anfiteatros, traduzindo a valorização de um ensino apoiado na observação e na experimentação. O programa arquitetónico obedece ainda ao propósito de manter os alunos dentro do espaço escolar, contemplando para tal espaços destinados a refeitório e salas de estudo.
O mais interessante, neste conjunto de preocupações e no desenho que as concretiza, é o contraste absoluto que terão provocado nas vivências escolares à época, se pensarmos que muitas escolas estavam instaladas em edifícios provisórios, sem quaisquer condições para as funções letivas, muito menos espaços complementares – de refeições, de estudo, de recreio, etc. – sem os quais não é possível a criação de um sentido global de escola.

 

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