Em 2011 decorrerá um século sobre a
inauguração do edifício da Escola Secundária de Pedro Nunes. Um centenário que
vale a pena assinalar.
O projeto original, da autoria de Ventura Terra, foi concebido para albergar o
'Liceu Central da 3ª zona de Lisboa', conhecido à época por 'Liceu da Lapa',
uma vez que funcionava, desde 1906, num prédio alugado para o efeito na Rua do
Sacramento à Lapa.
Miguel Ventura Terra (1866-1919) concluía arquitetura em 1886, na Escola de
Belas Artes do Porto, mas instala-se, de seguida, em Paris, onde completa a sua
formação. Regressado a Portugal, em 1896, irá conseguir imprimir, na Lisboa
ainda refém de um ecletismo oitocentista, várias marcas de um outro
entendimento do objeto arquitetónico, assente em princípios de funcionalidade e
de racionalidade. Exemplos disso são a intervenção na Câmara dos Deputados, na
sequência do incêndio Palácio de São Bento em 1895, ou projetos emblemáticos
como o Teatro Politeama e a Sinagoga de Lisboa (1905).
Mas a sua contribuição para a renovação da imagem da capital tem um ponto forte
nos edifícios destinados a liceus: Camões (1907) e Pedro Nunes (1909)
inaugurado já pela República em 1911, a que se deve acrescentar o projeto
inicial para o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho (1913) que viria a ser
inaugurado já depois da sua morte, em 1933/34.
Depois do Liceu Camões, Ventura Terra desenvolve, no projeto do Pedro Nunes, um
programa arquitetónico que espelha a mesma valorização dos princípios
higienistas dominantes na época, patentes na preocupação com aspetos como a
iluminação, o arejamento, a circulação, e na especial importância conferida às
instalações destinadas à educação física.
Na linha das conceções pedagógicas dominantes, é dada particular atenção às
instalações dedicadas ao ensino das ciências e geografia, organizadas em torno
dos laboratórios e respetivos anfiteatros, traduzindo a valorização de um
ensino apoiado na observação e na experimentação. O programa arquitetónico
obedece ainda ao propósito de manter os alunos dentro do espaço escolar,
contemplando para tal espaços destinados a refeitório e salas de estudo.
O mais interessante, neste conjunto de preocupações e no desenho que as
concretiza, é o contraste absoluto que terão provocado nas vivências escolares
à época, se pensarmos que muitas escolas estavam instaladas em edifícios
provisórios, sem quaisquer condições para as funções letivas, muito menos
espaços complementares – de refeições, de estudo, de recreio, etc. – sem os
quais não é possível a criação de um sentido global de escola.
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