2012/07/11

Profissionais e instituições: adaptabilidade do “bibliotecário” a novos contextos profissionais


(Imagem de várias lombadas de livros)

A gestão de informação, na atualidade, lança os “bibliotecários” num labirinto sem contornos epistemológicos, o qual chamamos de hibridez profissional. Devido a tal facto, despontam novas disciplinas que desenvolvem e conceptualizam novos conceitos no domínio da Biblioteconomia. A identificação e divulgação da informação perde-se in illo tempore, contudo é usual referirmos a cultura grega como uma das primeiras sistematizações explícitas do método racional (έπιστήμη), em contraposição com o saber do senso comum (δόξα).

 

A par destas sistematizações, tão familiar aos profissionais de informação, o crescimento exponencial da informação, na atualidade, rompe com os paradigmas tradicionais do conhecimento. Ao nível das Ciências da Informação, despontam novas sagezas e metodologias para identificação da informação referimo-nos sobretudo a domínios tridimensionais, tanto ao nível de softwares, como de recursos humanos e de conteúdos projetáveis. 

 

Na esteira destas vicissitudes paradigmáticas, a análise dos fluxos de informação exige uma reavaliação dos processos cognitivos (enquanto ser experiencial) e gestor de informação (enquanto ser profissional). Esta dupla atitude, mediante a informação, impele o investigador à reinterpretação de conceitos, simbologias e atitudes proactivas face à comunicação de informação. 

 

Nas Ciências da Informação, e em todos os saberes que exigem semânticas metalinguísticas, há um hiato conceptual entre a noção de dado vs informação. Dito de outra forma, a informação é muito mais do que um conjunto ordenado de axiologias linguísticas, dito de outro modo, a ato de informar processa-se através de representações intelectuais os dados e, sobretudo, a informação só ganha sentido através da descodificação de símbolos (o real só o é enquanto descodificado intencionalmente).

 

A Secretaria-Geral, reconhecendo a importância da informação e da gestão do património bibliográfico, arquivístico e museológico da educação (BAME) que se encontra à sua guarda, tem vindo a desenvolver uma visão integrada do património da Educação. Isto é, pensa de forma transversal e articulada o património bibliográfico, o património arquivístico e o património museológico. Ao nível conceptual, o olhar que lança sobre o património tem esse enfoque triplo e um bom exemplo disso são os manuais escolares. Antes de mais, os livros escolares são, como é óbvio, espécies bibliográficas. Mas no nosso entender, sobretudo tendo em conta o espólio que possuímos, os manuais podem também ser vistos como documentos de arquivo e como objetos de valor museológico.

 

Apesar desta potencialidade, à qual a Secretaria-Geral interioriza na sua missão (consagrada na sua Lei orgânica), a informação só ganha sentido enquanto útil (i.e. tomada de decisões). A informação só tem valor/sentido dentro de um certo contexto epistemológico. Desta forma, os projetos da referida Instituição têm como propósito, acima de tudo, a construção de referenciais de (re)conhecimento do património, o que implica a sua referenciação, inventariação, catalogação, tendo sempre como objetivo último a divulgação e o facultar de acesso à informação.

 

No seio desta problemática, Thomas Davenport, investigador e visionário, tende a ultrapassar a noção de tecnologia, entendendo esta como uma mera resolução final da informação. Desta forma, a informação deverá ser perspetivada como o meio ou modo de o homem compreender, criar, usar e distribuir conhecimento (o sentido das metalinguagens reside na sua descodificação). Assim, a Secretaria-Geral recolhesse que os seus destinatários não são apenas investigadores, mas sim, especialmente, os cidadãos em geral, cujas memórias e cuja construção identitária passou, em larguíssima medida, pelo património escolar de que foram utilizadores e reconstrutores, no sentido em que todos deixamos marcas no material escolar que, durante um determinado período, esteve nas nossas mãos.

 

As metalinguagens, usadas nos contextos biblioteconómicos, representam diversas culturas e atitudes científicas (são exemplo os formatos e a classificação: UMIMARC e USMARC; CDU e DDC, etc.). Assim sendo, as metalinguagens (contextos) são chaves hermenêuticas de representações e consequente gestão de informação. A própria seleção quantitativa e qualitativa de informação levar-nos-á, inevitavelmente, a um conjunto de processos cognitivos de reavaliação das organizações, diremos à capacidade de ignorar o que se apresenta não relevante ou não descodificável. Atualmente, esta atitude perante a informação representa, em si mesmo, um desequilíbrio nos novos ambientes informacionais.

 

A Secretaria-Geral do Ministério da Educação tem por missão a preservação, salvaguarda e tratamento do património da Educação. Este desígnio inclui responsabilidades sobre o património quer das escolas, quer das diversas entidades que compõem a estrutura organizacional do Ministério da educação. Por outro lado, e mercê das suas funções e história institucional, a Secretaria-Geral possui um riquíssimo espólio patrimonial, que inclui objetos, espécies bibliográficas e material de arquivo.

 

É exigido aos profissionais da informação a exegese do sentido e, consequentemente, uma súmula dos estímulos recebidos através da informação. Ou seja, a análise da informação requer uma dialética entre as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e novas habilidades de recolha e análise de dados: esta perspetiva requer uma integração harmoniosa entre tecnologia, vivência, cultura e informação. Desta forma, as organizações, atualmente, caracterizam-se por novas formas de gestão que, a seu modo, representam uma rutura com os modelos tradicionais baseados em motivação, recompensa e punição dos recursos humanos.

 

A informação, no contexto atual, deverá repensar-se como informação completa do meio ambiente. Esta visão holística requer, por si, uma análise para além das engenharias, ou seja, todos os processos de informação deverão ter como modelo as TIC, valores e crenças, uso de informação, políticas de disseminação de informação, sistemas de informação e, finalmente, as tecnologias como complemento.

 

Na perspetiva de Lev S. Vygotsky, com grandes influências em Piaget, a esmagadora maioria dos processos de assimilação de conhecimento são, na verdade, processos de internalização. Ou seja, o desenvolvimento cognitivo é sempre o resultado de uma atividade de mediação. O processo de internalização deverá entender-se como a reconstrução interna de uma operação externa: um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal, ou seja, uma operação designada como atividade externa é reconstruída a partir de intuições internas.

 

Não devemos olvidar de que a tomada de decisões numa organização é atribuída, sem exceção, aos indivíduos que a compõem. A atividade profissional é exclusivamente humana, desta forma, o sucesso de modelos de gestão da informação está fortemente vinculado aos comportamentos e ações individuais e coletivas. Portanto, a organização enquanto tal exerce grande influência neste processo interno vs. Externo.

 

Reforça, assim, a ideia de que a condição humana só existe enquanto indivíduo. Ou seja, a consciência tem uma dimensão individual, contudo, todo o ser humano é produto coletivo, social e histórico. O indivíduo conhece por meios universais, vivemos no mundo produzindo os nossos pensamentos pessoais, mas para comunidade o próprio trabalho faz parte da comunidade onde estamos inseridos. Nesta atividade é-nos exigido uma grande capacidade racional, não só individual, mas também de cariz coletivo.

 

Na Secretaria-Geral, nos referidos contornos informacionais, o estudo dos fatores internos e/ou externos manifesta-se com sucesso na criação, seleção, sistematização e disseminação de informação. Sendo que as hermenêuticas da informação são indispensáveis para a criação de significados, construção de conhecimento e tomada de decisões. Dito de outro modo, a reconversão de modelos mentais em conceitos, símbolos, metáforas, etc. são vetores de externalização necessários para a sobrevivência das bibliotecas e da cultura impressa em geral.

 

O ambiente organizacional, em si mesmo, impele a atitudes cognitivas de interpretação do meio circundante. Esta situação exegética desencadeia a criação de significados e exige, por si, empenho dos recursos humanos da organização para a interpretação novos ambientes com a finalidade de aprofundar inter-relações, a todos os níveis. A complexidade da ciência e da tecnologia exigem alternativas urgentes e mais sofisticadas para otimizar os impactos cumulativos de uma sobre a outra:

 As bibliotecas espelham os bibliotecários e vive-verse. O indivíduo constitui o pilar fundamental de todas as organizações. Grosso modo, é neste patamar que é comparável a Organização com o Indivíduo, no sentido em que o conhecimento emana do ser vivente e reflete-se na sua criação. Para além deste facto, a valoração do indivíduo como “cérebro” e gestor de informação é uma questão a salutar.

 

Qual será a postura do “bibliotecário” perante as novas exigências na gestão do conhecimento?

 

Sebastià i Salat, uma investigadora reconhecida nesta área, reporta-se ao problema atual dos curricula vitae face às novas exigências de informação. Digamos, a descontinuidade e a competitividade são as palavras-chave para a compreensão do problema proposto anteriormente em forma de pergunta. A descontinuidade entende-se como as mudanças de estratégias e de alternativas na gestão de conhecimento, por tal, impõe-se a competitividade através da especialização que, a seu modo, assegura o “equilíbrio” exigido das novas arquiteturas de informação. 

 

No caso particular dos “bibliotecários” é imprescindível a sua adaptabilidade às novas tecnologias — capacidade de comunicação interpessoal, disposição para a aceitar e assumir mudanças, tanto ao nível tecnológico como cognitivo. Assim, as confluências da inovação e das condições favoráveis de mercado produzem novos serviços que, a seu modo, requerem novas competências e perfis profissionais:


(Esquema que apresenta a criação de necessidades e perfis profissionais: as inovações e o mercado geram necessidade de novos serviços e estes exigem novos profissionais)
 

Como verificamos na Figura 1, o mercado em geral (criação e consumo de informação, no nosso caso) e a inovação tecnológica potenciam novos serviços e perfis profissionais. Esta indagação é um alerta para os bibliotecários do futuro, na medida em que o sucesso do seu estatuto profissional requer novos perfis e mutação na cadeia de valores (eliminação da resistência à mudança). Qualquer perfil profissional requer conhecimentos, habilidades e atitudes (componentes científicos, cognitivos, afetivos e motivacionais). Perante tal complexidade, Muñoz Cruz (1998) nas sextas Jornadas Españolas de la Documentación interroga-se sobre o perfil e o papel dos novos gestores de informação:


“¿Cuál es el perfil del gestor de la Información? El gestor de información se ocupará de la planificación estratégica y la coordinación de todos los recursos relacionados con la información y participará en el diseño e implantación del sistema de información de la organización, a través de la coordinación de todos aquellos departamentos que manejan información. Esa es la labor que tiene encomendada para el siglo XXI y su formación ha de estar en consonancia con esta necesidad potencial que se detecta desde hace algunos años.” (Muñoz Cruz, 1998)

Como verificamos, Muñoz Cruz interroga-se acerca da hibridez e atitude dos bibliotecários perante a gestão da informação no século XXI. A globalização impõe-se em todos os domínios do saber e, por conseguinte, a matéria-prima do bibliotecário já não é o documento mas a informação: a gestão da informação e a respeitabilidade da missão e a estrutura cognitiva da biblioteca são os ativos invisíveis com maior impacto de competitividade.

 

O desenvolvimento dos serviços de informação requer técnicas de investigação que permitam os gestores de informação analisarem novas necessidades e antecipar formas de uso: o gestor deve conhecer metodologias tanto qualitativas como quantitativas para analisar o uso e aceção dos serviços dentro da biblioteca.

 

PM

 

 

2012/07/05

Pedagogia em ação




A expressão παιδαγωγός (paidagogós) dá origem a pedagogo. O παιδαγωγός não era, entre os gregos, um pedagogo ou um académico especializado; era um escravo responsável por conduzir crianças. Etimologicamente, a formação da palavra pedagogo processa-se por aglutinação. παιδαγωγός é uma expressão que surge da aglutinação de παιδός (genitivo de πας, criança), e άγω (conduzir). Assim, o παιδαγωγός é aquele que conduz a criança.


Atualmente, a noção de pedagogo desenha-se com outros traços epistemológicos e sociais. Segundo pensamos, a evolução da consciência coletiva produz um conjunto de saberes holísticos que, a seu modo, induz uma certa hibridez no perfil do pedagogo – a memória da humanidade já não está confinada nas bibliotecas, mas sim em contínua reconstrução. Neste cenário imprevisível, a tarefa do pedagogo deverá reconstruir ações transdisciplinares:

 

“A tecnologia não permite que se sustente mais o mestre-transmissor de conteúdos - isso pode ser feito, a partir de agora, por softwares interativos mais completos, abrangentes e dinâmicos. Mas cabe ao novo professor atuar de uma forma muito mais importante, como uma espécie de arquiteto cognitivo […]” (Ramal, 2002)

 

A noção de pedagogo como arquiteto cognitivo requer um dinamismo atento ao mundo do conhecimento. O pedagogo enquanto projetor, executor e supervisor de obras intelectuais reconstrói comunidades de aprendizagem capazes de comunicar aprender, coletivamente.

 

Segundo Eduardo Franco (Franco, 1999), a história da pedagogia em Portugal, não pode ser feita sem um profundo conhecimento, ao longo dos tempos, do ideário pedagógico que se impôs na formação da mentalidade portuguesa. Sendo que a ação realizada por estadistas e educadores, médicos e professores, arquitetos e pedagogos, entre tantos outros, contribui para formatar um modelo que deve assegurar a consolidação da identidade nacional e a preparação para a nova sociedade industrial em espaços que preservem a saúde das crianças e lhes permitam progredir de forma sistemática nas aprendizagens escolares (cfr. Nóvoa, s.d.).


Escusado será dizer que a comunidade científico-educacional alimenta-se dos professores e legitima-se através de uma reflexão sobre eles. Deste modo, não espanta que também os pedagogos sejam excessivos nas referências aos professores, pois esta é a melhor maneira de valorizarem o seu próprio trabalho.

 

Atendendo ao exposto, descrevemos no quadro seguinte um conjunto significativo de pedagogos portugueses que, a seu modo, influenciaram o ato de aprender e ensinar em Portugal e que, como verificamos, estão disponíveis na biblioteca da Direção de Serviços de Documentação e Arquivo da Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência.














Bibliografia:


 

FRANCO, José Eduardo (1999). Brotar Educação – História da Brotéria e da Evolução do seu Pensamento Pedagógico (1902-1996). Lisboa: Roma Editora.

 

NÓVOA, António (s.d). Educação 2021: para uma história do futuro [on-line].

<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/670/1/21232_1681-5653_181-199.pdf> [Consulta: 15 junho 2012]

 

PEÇA, Américo (2006). Sérgio Niza: a Construção de uma democracia na acção educativa [on-line]: Educação, Temas e Problemas; N.º 1, Ano 1 (2006)

<http://www.ciep.uevora.pt/revista/revista1/entrevista_sergio_niza.pdf > [Consulta: 15 junho 2012]


RAMAL, Andrea Cecília. (2002).  “Pedagogo: a profissão do momento”. [on-line]. Gazeta Mercantil; 6 de março de 2002.

http://www.idprojetoseducacionais.com.br/artigos/PEDAGOGO.pdf > [Consulta: 15 junho 2012]

 

 

PM




2012/06/20

Tratamento documental de manuais escolares - Os pressupostos adotados pela Direção de Serviços de Documentação e de Arquivo do Ministério de Educação e Ciência


(Imagem de vários livros abertos e sobrepostos)

 

A Lei n.º 47/2006 de 28 de Agosto, alínea b, artigo 3.º descreve o manual escolar como um recurso didático-pedagógico relevante, ainda que não exclusivo, do processo de ensino e aprendizagem, concebido por ano ou ciclo. Constitui um instrumento de apoio ao trabalho autónomo do aluno que visa contribuir para o desenvolvimento das competências e das aprendizagens definidas no currículo nacional para o ensino básico e para o ensino secundário, apresentando informação correspondente aos conteúdos nucleares dos programas em vigor, bem como propostas de atividades didáticas e de avaliação das aprendizagens, podendo incluir orientações de trabalho para o professor.

 

“O manual escolar desempenha uma função central no processo educativo, quer pelo seu papel de mediador entre o currículo prescrito e o currículo programado e planificado, quer pela sua função de legitimação cultural que veicula uma dada informação […].”(Viseu, 2009:3178)

 

A par da referida lei, Viseu (2009:3178) sublinha que a essência do manual escolar restringe-se a processos educativos e, acima de tudo, é o mediador entre a lei e a informação. A Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência, nomeadamente, a Direção de Serviços de Documentação e Arquivo (DSDA), reconhece a importância da gestão do património bibliográfico, arquivístico e museológico da educação (BAME) que se encontra à sua guarda.

 

Tecnicamente, este património tem vindo a ser tratado de uma forma integrada, ou seja, cada tipologia documental é perspetivada no seu espaço sociocultural e, desta forma, tratado numa conjetura recíproca - o manual escolar não é perspetivado per si mas em correlação com os fundos documentais existentes – tendência biblioteconómica à qual as regras de catalogação estão a dar alguma importância, sobretudo as ISBD(A).[1]

 

Todos os fundos documentais existentes na DSDA possuem manuais escolares, não obstante, esta documentação mantém-se integrada nos espólios respetivos, o que facilita as pesquisas browsing e, acima de tudo, respeita a integridade da documentação (i.e. reconstrução de coleções, fundos, estudos locais, personalidades, etc.). Destacam-se os seguintes fundos detentores de manuais escolares:

§  Bibliotecas e Museu do Ensino Primário;

§  Ministério da Instrução Pública;

§  Grupo de Trabalho do M.E. para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses;

§  Construções Escolares;

§  Gabinete de Estudos e Planeamento;

§  Bibliotecas populares;

§  Fundo Geral;

§  António Ginestal Machado;

§  Faria Vasconcelos;

§  José Baptista Martins;

§  Escola Ferreira Borges;

§  Escola Marquesa de Alorna;

§  Escola Rodrigues Sampaio;

§  Escolas Secundária David Mourão Ferreira;

§  Instituto António Aurélio da costa Ferreira.

 

Atendendo à necessidade de reintegrar os manuais escolares no contexto da história da educação, a DSDA adota uma definição formal para o tratamento documental desta documentação:

 

“Adotámos a designação de ‘manual escolar’ porque se trata de livros manuseáveis […], albergam saberes básicos essenciais e porque esses saberes que se transmitem nos manuais são parte de uma matéria ou disciplina do currículo escolar.” (Santos, 2006)

 

A definição anterior remete para o conceito de manual escolar enquanto conteúdo, embora existam várias formas para estudar este material didático na perspetiva catalográfica:

§  Antologias - coleção de trabalhos escolares (compêndio);

§  Guia do professor;

§  Guia do aluno;

§  Literatura adjuvante (ex.: silabários, atas escolares, etc.);

§  Estudos de caso – estudos específicos sobre educação.

 

O conceito de manual escolar, em si mesmo, poderá apresentar uma aceção restrita ou lata. Segundo entendemos, a noção conveniente às boas práticas BAME deverá ser abrangente às cinco alíneas anteriores. Esta prática apresenta resultados tanto ao nível da catalogação como da indexação, classificação e pesquisa final.

 

Este património bibliográfico, como o entende a DSDA, tem uma dimensão museológica, não só devido às suas encadernações, design, formato, mas também devido às suas ilustrações. Destacamos, assim, alguns artistas de renome que ilustraram os manuais escolares portugueses, tais como Almada Negreiros, Dário Sousa Rodil, Calvet de Magalhães, Raquel Roque Gameiro, etc.

 

Todos estes elementos são objeto de estudo, na verdade, a DSDA detém uma Biblioteca Histórica da Educação que visa a excelência no tratamento e, consequentemente, na sua disseminação. Como tal, todos os dados referentes a notas gerais (i.e. portarias, adendas, etc.), ilustradores e coautores não são omissos.

 

Nesta linha de exegese, a própria classificação e/ou indexação dos manuais escolares obedece a regras estritamente rígidas; as notações seguem a seguinte hierarquia semântica:

1.        Área do conhecimento;

2.        Tipologia;

3.        Grau de ensino;

4.        Nome geográfico (usado como assunto).

 

Esta classificação pré-coordenada ajudar-nos-á a cruzar pesquisas entre os diversos descritores (Thesaurus Europeu do Sistema Educativo).

 

 

BIBLIOGRAFIA  RECOMENDADA:

 

CARVALHO, Maria da Graça Serreira pena (2010). O manual escolar como objecto de design [on-line]: Tese apresentada às Faculdade de Auquitectura da Universidade Técnica de Lisboa para a obtenção do grau de Doutor em design

<http://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/2791/1/Tese%20vol.1%20CD.pdf> [Consulta: maio 2012

 

 

COSTA, Fernando Monteiro da (2010). Da Capo al Coda, manualística de Educação Musical em Portugal (1967-2004): configurações, funções, organização [on-line]: Tese de doutoramento em História, Faculdade de Letras Universidade do Porto, 2010

<http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/51228/2/tesedoutfernandocosta000116641.pdf> [Consulta: maio 20129

 

 

MAGALHÃES, Justino (2006). O manual escolar no quadro da história cultural, para uma historiografia do manual escolar em Portugal [on-line]:  Sísifo. Revista de Ciências da Educação; Vol. 1 (2006), p. 5-14

<http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/01-Justino.pdf> [Consulta: Maio 2012]

 

 

PANEK, Bernadette (2006). Livro de artista: uma integração entre poetas e artistas [on-line]: Anais, IV Fórum de pesquisa científica em arte, Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2006

<http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/anais4/bernadette_panek.pdf> [Consulta: maio 2012

 

 

RIBEIRO, Ângelo (2005). A imagem da imagem da obra de arte no uso dos manuais de Educação Visual [on-line]: Tese de Mestrado Educação, Tecnologia Educativa, Julho 2005

http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3961/1/A%20imagem%20da%20imagem%20da%20arte%20no%20uso%20dos%20manuais%20de%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Vi.pdf > [Consulta: maio 2012]

 

 

SANTO, Esmeralda Maria (2006). Os manuais escolares, a construção de saberes e a autonomia do aluno, auscultação a alunos e professores [on-line]: Revista Lusófona de Educação; Vol. 8 (2006), p. 103-115

<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n8/n8a07.pdf> [Consulta: maio 2012]

 

 

SANTO, Esmeralda Maria (2006). “Os manuais escolares, a construção de saberes e a autonomia do aluno : auscultação a alunos e professores “[on-line]: Revista Lusófona de Educação; N.º 8 (2006), p. 103-115

< http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n8/n8a07.pdf> [Consulta: junho 2012]

 

 

VISEU, Floriano (2009). O manual escolar na prática docente do professor de matemática [on-line]: Actas do X Congresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009

 

 

PM

 



[1] International Standard Bibliographic Description for Older Monographic Publications (Antiquarian).


2012/06/12

Peça do mês de Junho



Sineta

Sineta utilizada para chamar os alunos para as aulas, datada de 1935 e colocada no átrio da escola A peça pertence à Escola Secundária Dr. Júlio Martins, Braga, com o número de inventário ME/400531/109.

Em 1889 foi criada, em Chaves uma Escola Industrial, que absorveu a anterior Escola de Desenho Industrial. Orientada para o apoio à área industrial, o curriculum escolar contava com Aritmética e Geometria elementar, Português, Língua Francesa e Desenho industrial. Em 1891, devido à reorganização do ensino industrial e comercial por João Franco, a escola foi extinta. Em 1919, volta a ser criada uma Escola Industrial e Aula Comercial pela mão do ministro Júlio Martins, embora sem um edifício construído de raiz. Os cursos ministrados eram os de Serralharia Mecânica e de Carpintaria Civil. Em 1922 foi introduzido o curso de Trabalhos Femininos. Posteriormente, a escola passou a designar-se Escola Industrial e Comercial de Júlio Martins, funcionando nas antigas instalações da Escola de Desenho Industrial, onde permaneceu até 1961. Com a reforma do ensino em 1948 foram introduzidos mais cursos na Escola que passou a designar-se de Escola Industrial e Comercial de Chaves. Em 1978, a instituição volta a mudar de nome, adotando como patrono o Dr. Júlio Martins.

O sino, ou sineta, é um instrumento metálico, geralmente com formato de campânula, que contém uma peça metálica no seu interior denominada badalo. É utilizado para produzir sons mais ou menos fortes quando o badalo bate na campânula. Pode igualmente produzir som através de um martelo exterior.

Este objeto encontra-se mais associado à cultura católica, comandando a vivência diária das populações. Colocados nas igrejas anunciavam acontecimentos, como festas, atos religiosos, acidentes, entre outros. Neste caso, trata-se de uma sineta escolar, cuja função era igualmente marcar o tempo – a entrada e a saída das aulas.

 

 

Bibliografia e informação adicional:

http://www.geira.pt/museus/tema1/index.asp?id=15

 

 

Para consultar a história da Escola Secundária Dr. Júlio Martins, Braga:

http://esb3-drjuliomartins.org/inicio.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Secund%C3%A1ria_Dr._J%C3%BAlio_Martins

 

 

MJS


2012/05/29

Programas escolares dos anos 90



Os currículos escolares estão em constante evolução, quer ao nível formal, quer ao nível do conteúdo, devido às mudanças políticas e sociais da sociedade. Diremos, a reelaboração sucessiva dos curricula deve-se, grosso modo, às reformas da educação e à consequente adequabilidade da escola à sociedade.

 

“Deste modo, entendemos o desenho curricular como um conceito mais global que origina os programas de diferentes disciplinas. Essa construção decorre dos movimentos de adaptação da Escola à realidade cultural, social, política e histórica. Esse efeito de reajustamento é fundamental porque explica uma parte significativa das dinâmicas de renovação curricular.” (Custódio, 2010:236)

 

Como afirma Custódio (2010:236), o desenho curricular é, por assim dizer, o grande responsável da conceção dos programas de diferentes disciplinas, sendo que a escola está em contante adaptação à sua realidade sociocultural e histórica – a escola de hoje é bem diferente da de outrora! 

 

“Cuidar para que haja uma melhor utilização dos recursos e programas disponíveis para a educação resultará em um maior rendimento, e poderá ainda atrair novos recursos. A urgente tarefa de satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem poderá vir a exigir unia realocação dos recursos entre setores. […] Agora, mais do que nunca, a educação deve ser considerada uma dimensão fundamental de todo projeto social, cultural e econômico.” (UNESCO, 1999)

 

A UNESCO (1999), a este respeito, declara que a utilização adequada de recursos – programas escolares – resultará em rendimento escolar e, sobretudo, no redimensionamento de novos projetos socioculturais. O conceito de currículo, assim entendido, como um conjunto de experiências intencionais de aprendizagem vs. ensino resulta, certamente, de uma panóplia de intensões e propósitos explícitos que, a seu modo, interferem no quotidiano da vida escolar.

 

Tendo em linha de conta a realidade sociocultural escolar e, em consonância com os objetivos da UNESCO, o Artigo 9.º (Centros de Recursos), Diário da República, 1.ª Série, N.º 202 de 1 de setembro de 1990, declara que:

 

“Ao abrigo do n.º 3 do artigo 41.º da Lei de Bases do Sistema Educativo, e sem prejuízo do cumprimento de um plano de apetrechamento das escolas progressivamente integradas na experiência, é instituída em concreto uma rede de recursos, que permita simultaneamente reforçar aquele apetrechamento, racionalizando a utilização dos respectivos recursos.” (D.R., 1.ª Série, 1999)

 

A Lei de Bases do Sistema Educativo[1], n.º 46/86, aprovada a 14 de outubro, define princípios fundamentais de organização e funcionamento do sistema educativo, incluindo, a partilha integrada de recursos e pedagogias. Os curricula, em si mesmo, trespassam qualquer tipo de investigações neutras, antes, traduzem-se em tradições seletivas, desencadeando, por este motivo, motivações políticas e sociais ao nível da história da educação. Protótipo destas perspetivas são, efetivamente, os programas escolares da década de noventa.[2]

 

Na esmagadora maioria, os problemas do ensino público da referida década pautam-se por um complexo conjunto sociocultural estreitamente ligado às preocupações estratégicas dos países membros da Comunidade Europeia. O Ministério da Educação, Direcção-Geral da Educação e Cultura (2007), no relatório Estrutura dos sistemas de ensino, formação profissional e ensino para adultos na Europa, delineia propósitos políticos sobre as referidas conjeturas educacionais:


A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, ao estabelecer os objetivos e organização do ensino secundário, define-o como um ciclo único de ensino pós-obrigatório, com a duração de três anos, organizado segundo formas diferenciadas, orientadas quer para o prosseguimento de estudos, quer para a vida ativa, devendo ser assegurada a permeabilidade entre estas duas vias.

 

- A LBSE estabelece ainda os objetivos, as condições de acesso e modelos da organização da formação profissional, enquanto modalidade especial da educação escolar. Com o intuito de diversificar e aumentar a oferta de formação profissional, através de uma rede de escolas de iniciativa local, utilizando recursos públicos e privados, foram criadas, em 1989, as escolas profissionais (Decreto-Lei n.º 26/89, de 21 de Janeiro).

 

- O regime de criação, organização e funcionamento destas escolas foi objeto de alteração em 1998 (Decreto-Lei n.º 4/1998, de 8 de Janeiro), visando a consolidação das respetivas potencialidades no domínio do ensino profissional de nível secundário.

 

- A Portaria n.º 989/1999, de 3 de Novembro, alterada pelas Portarias n.º 698/2001 e n.º 392/2002, de 12 de Abril, estabelece o regime que regulamenta a criação, organização e funcionamento dos Cursos de Especialização Tecnológica (CET), cursos de formação pós-secundária, não superior. O Decreto-Lei n.º 88/2006, de 23 de Maio, revoga esta legislação e estabelece novas regras para a organização e funcionamento destes cursos.

 

Partindo deste pressuposto, os novos modelos de organização curricular dos anos noventa são, por assim dizer, frutíferos em publicações e na consolidação de programas formais para todos os cursos que reaparecem no ensino secundário, tanto nos práticos como nos mais teóricos. Formalmente, a importância deste material pedagógico poderá ser confirmada pela reedição consecutiva de alguns documentos (alguns programas são reeditados catorze ou mais vezes).

 

Na Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência, atualmente, estão a ser desenvolvidos esforços para garantir a disseminação de todas as fontes de informação respeitante aos programas escolares. Sendo que os programas da década de noventa, devido à sua grande disparidade de conteúdos, estão a ser, biblioteconomicamente, objeto de atenção especial.

 


Bibliografia:

 

 

Custódio, Pedro Balaus (2010). O novo Programa de Português para o 1º Ciclo do Ensino Básico: Orientações e Perspectivas [on-line]: Actas do I EIELP, 9 março 2010

<http://www.exedrajournal.com/docs/02/22-PEDROBALAUS.pdf> [Consulta: 15 janeiro 2012]

 

 

Diário da República, 1.ª Série, N.º 202 de 1 de setembro de 1990

<http://www.dre.pt/pdf1s/1990/09/20200/35503554.pdf> [Consulta: 15 janeiro 2012]

 

 

Ministério da Educação, Direcção-Geral da Educação e Cultura (2007). Estrutura dos sistemas de ensino, formação profissional e ensino para adultos na Europa [on-line]: Comissão Europeia, Eurydice

<http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice/documents/eurybase/structures/041_PT_PT.pdf> [Consulta: 15 janeiro 2012]

 

 

UNESCO (1990). Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem Jomtien, 1990 [on-line]. ED/90/CONF/205/1

<http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf> [Consulta: 15 janeiro 2012]

 

 

 

P.M.

 



[1] A Lei de Bases do Sistema Educativo foi aprovada pela Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, e alterada pelas Leis n.º 115/97, de 19 de Setembro, 49/2005, de 30 de Agosto, e 85/2009, de 27 de Agosto. As alterações introduzidas pela Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro, visaram especialmente os seguintes aspetos: (i) O regime de acesso ao ensino superior, transferindo para as instituições de ensino superior a competência para, no quadro de um conjunto de princípios que fixou, definir o processo de avaliação da capacidade para a frequência, bem como o de seleção e seriação dos candidatos. (ii) O sistema de graus, atribuindo às instituições de ensino superior politécnico a capacidade para a atribuição direta do grau de licenciado. (iii) O sistema de formação de professores: (a) atribuindo às instituições de ensino superior politécnico a competência para a formação de professores do 3.º ciclo do ensino básico, em condições a definir; (b) Elevando o nível de formação dos educadores de infância e dos professores do 1.º ciclo do ensino básico do bacharelato para a licenciatura.

[2] O Programa Educação Para Todos nasceu em 1990, na sequência de uma Conferência Mundial realizada na Tailândia, tendo como objectivos proporcionar educação básica a todas as crianças e reduzir drasticamente o analfabetismo entre os adultos até ao final da década. O Fórum Mundial da Educação que decorreu em Dacar, no Senegal, em 2000, reafirmou o empenhamento na Educação Para Todos e determinou que até 2015 todas as crianças deveriam ter acesso a educação básica gratuita e de boa qualidade.