2012/07/11

Profissionais e instituições: adaptabilidade do “bibliotecário” a novos contextos profissionais


(Imagem de várias lombadas de livros)

A gestão de informação, na atualidade, lança os “bibliotecários” num labirinto sem contornos epistemológicos, o qual chamamos de hibridez profissional. Devido a tal facto, despontam novas disciplinas que desenvolvem e conceptualizam novos conceitos no domínio da Biblioteconomia. A identificação e divulgação da informação perde-se in illo tempore, contudo é usual referirmos a cultura grega como uma das primeiras sistematizações explícitas do método racional (έπιστήμη), em contraposição com o saber do senso comum (δόξα).

 

A par destas sistematizações, tão familiar aos profissionais de informação, o crescimento exponencial da informação, na atualidade, rompe com os paradigmas tradicionais do conhecimento. Ao nível das Ciências da Informação, despontam novas sagezas e metodologias para identificação da informação referimo-nos sobretudo a domínios tridimensionais, tanto ao nível de softwares, como de recursos humanos e de conteúdos projetáveis. 

 

Na esteira destas vicissitudes paradigmáticas, a análise dos fluxos de informação exige uma reavaliação dos processos cognitivos (enquanto ser experiencial) e gestor de informação (enquanto ser profissional). Esta dupla atitude, mediante a informação, impele o investigador à reinterpretação de conceitos, simbologias e atitudes proactivas face à comunicação de informação. 

 

Nas Ciências da Informação, e em todos os saberes que exigem semânticas metalinguísticas, há um hiato conceptual entre a noção de dado vs informação. Dito de outra forma, a informação é muito mais do que um conjunto ordenado de axiologias linguísticas, dito de outro modo, a ato de informar processa-se através de representações intelectuais os dados e, sobretudo, a informação só ganha sentido através da descodificação de símbolos (o real só o é enquanto descodificado intencionalmente).

 

A Secretaria-Geral, reconhecendo a importância da informação e da gestão do património bibliográfico, arquivístico e museológico da educação (BAME) que se encontra à sua guarda, tem vindo a desenvolver uma visão integrada do património da Educação. Isto é, pensa de forma transversal e articulada o património bibliográfico, o património arquivístico e o património museológico. Ao nível conceptual, o olhar que lança sobre o património tem esse enfoque triplo e um bom exemplo disso são os manuais escolares. Antes de mais, os livros escolares são, como é óbvio, espécies bibliográficas. Mas no nosso entender, sobretudo tendo em conta o espólio que possuímos, os manuais podem também ser vistos como documentos de arquivo e como objetos de valor museológico.

 

Apesar desta potencialidade, à qual a Secretaria-Geral interioriza na sua missão (consagrada na sua Lei orgânica), a informação só ganha sentido enquanto útil (i.e. tomada de decisões). A informação só tem valor/sentido dentro de um certo contexto epistemológico. Desta forma, os projetos da referida Instituição têm como propósito, acima de tudo, a construção de referenciais de (re)conhecimento do património, o que implica a sua referenciação, inventariação, catalogação, tendo sempre como objetivo último a divulgação e o facultar de acesso à informação.

 

No seio desta problemática, Thomas Davenport, investigador e visionário, tende a ultrapassar a noção de tecnologia, entendendo esta como uma mera resolução final da informação. Desta forma, a informação deverá ser perspetivada como o meio ou modo de o homem compreender, criar, usar e distribuir conhecimento (o sentido das metalinguagens reside na sua descodificação). Assim, a Secretaria-Geral recolhesse que os seus destinatários não são apenas investigadores, mas sim, especialmente, os cidadãos em geral, cujas memórias e cuja construção identitária passou, em larguíssima medida, pelo património escolar de que foram utilizadores e reconstrutores, no sentido em que todos deixamos marcas no material escolar que, durante um determinado período, esteve nas nossas mãos.

 

As metalinguagens, usadas nos contextos biblioteconómicos, representam diversas culturas e atitudes científicas (são exemplo os formatos e a classificação: UMIMARC e USMARC; CDU e DDC, etc.). Assim sendo, as metalinguagens (contextos) são chaves hermenêuticas de representações e consequente gestão de informação. A própria seleção quantitativa e qualitativa de informação levar-nos-á, inevitavelmente, a um conjunto de processos cognitivos de reavaliação das organizações, diremos à capacidade de ignorar o que se apresenta não relevante ou não descodificável. Atualmente, esta atitude perante a informação representa, em si mesmo, um desequilíbrio nos novos ambientes informacionais.

 

A Secretaria-Geral do Ministério da Educação tem por missão a preservação, salvaguarda e tratamento do património da Educação. Este desígnio inclui responsabilidades sobre o património quer das escolas, quer das diversas entidades que compõem a estrutura organizacional do Ministério da educação. Por outro lado, e mercê das suas funções e história institucional, a Secretaria-Geral possui um riquíssimo espólio patrimonial, que inclui objetos, espécies bibliográficas e material de arquivo.

 

É exigido aos profissionais da informação a exegese do sentido e, consequentemente, uma súmula dos estímulos recebidos através da informação. Ou seja, a análise da informação requer uma dialética entre as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e novas habilidades de recolha e análise de dados: esta perspetiva requer uma integração harmoniosa entre tecnologia, vivência, cultura e informação. Desta forma, as organizações, atualmente, caracterizam-se por novas formas de gestão que, a seu modo, representam uma rutura com os modelos tradicionais baseados em motivação, recompensa e punição dos recursos humanos.

 

A informação, no contexto atual, deverá repensar-se como informação completa do meio ambiente. Esta visão holística requer, por si, uma análise para além das engenharias, ou seja, todos os processos de informação deverão ter como modelo as TIC, valores e crenças, uso de informação, políticas de disseminação de informação, sistemas de informação e, finalmente, as tecnologias como complemento.

 

Na perspetiva de Lev S. Vygotsky, com grandes influências em Piaget, a esmagadora maioria dos processos de assimilação de conhecimento são, na verdade, processos de internalização. Ou seja, o desenvolvimento cognitivo é sempre o resultado de uma atividade de mediação. O processo de internalização deverá entender-se como a reconstrução interna de uma operação externa: um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal, ou seja, uma operação designada como atividade externa é reconstruída a partir de intuições internas.

 

Não devemos olvidar de que a tomada de decisões numa organização é atribuída, sem exceção, aos indivíduos que a compõem. A atividade profissional é exclusivamente humana, desta forma, o sucesso de modelos de gestão da informação está fortemente vinculado aos comportamentos e ações individuais e coletivas. Portanto, a organização enquanto tal exerce grande influência neste processo interno vs. Externo.

 

Reforça, assim, a ideia de que a condição humana só existe enquanto indivíduo. Ou seja, a consciência tem uma dimensão individual, contudo, todo o ser humano é produto coletivo, social e histórico. O indivíduo conhece por meios universais, vivemos no mundo produzindo os nossos pensamentos pessoais, mas para comunidade o próprio trabalho faz parte da comunidade onde estamos inseridos. Nesta atividade é-nos exigido uma grande capacidade racional, não só individual, mas também de cariz coletivo.

 

Na Secretaria-Geral, nos referidos contornos informacionais, o estudo dos fatores internos e/ou externos manifesta-se com sucesso na criação, seleção, sistematização e disseminação de informação. Sendo que as hermenêuticas da informação são indispensáveis para a criação de significados, construção de conhecimento e tomada de decisões. Dito de outro modo, a reconversão de modelos mentais em conceitos, símbolos, metáforas, etc. são vetores de externalização necessários para a sobrevivência das bibliotecas e da cultura impressa em geral.

 

O ambiente organizacional, em si mesmo, impele a atitudes cognitivas de interpretação do meio circundante. Esta situação exegética desencadeia a criação de significados e exige, por si, empenho dos recursos humanos da organização para a interpretação novos ambientes com a finalidade de aprofundar inter-relações, a todos os níveis. A complexidade da ciência e da tecnologia exigem alternativas urgentes e mais sofisticadas para otimizar os impactos cumulativos de uma sobre a outra:

 As bibliotecas espelham os bibliotecários e vive-verse. O indivíduo constitui o pilar fundamental de todas as organizações. Grosso modo, é neste patamar que é comparável a Organização com o Indivíduo, no sentido em que o conhecimento emana do ser vivente e reflete-se na sua criação. Para além deste facto, a valoração do indivíduo como “cérebro” e gestor de informação é uma questão a salutar.

 

Qual será a postura do “bibliotecário” perante as novas exigências na gestão do conhecimento?

 

Sebastià i Salat, uma investigadora reconhecida nesta área, reporta-se ao problema atual dos curricula vitae face às novas exigências de informação. Digamos, a descontinuidade e a competitividade são as palavras-chave para a compreensão do problema proposto anteriormente em forma de pergunta. A descontinuidade entende-se como as mudanças de estratégias e de alternativas na gestão de conhecimento, por tal, impõe-se a competitividade através da especialização que, a seu modo, assegura o “equilíbrio” exigido das novas arquiteturas de informação. 

 

No caso particular dos “bibliotecários” é imprescindível a sua adaptabilidade às novas tecnologias — capacidade de comunicação interpessoal, disposição para a aceitar e assumir mudanças, tanto ao nível tecnológico como cognitivo. Assim, as confluências da inovação e das condições favoráveis de mercado produzem novos serviços que, a seu modo, requerem novas competências e perfis profissionais:


(Esquema que apresenta a criação de necessidades e perfis profissionais: as inovações e o mercado geram necessidade de novos serviços e estes exigem novos profissionais)
 

Como verificamos na Figura 1, o mercado em geral (criação e consumo de informação, no nosso caso) e a inovação tecnológica potenciam novos serviços e perfis profissionais. Esta indagação é um alerta para os bibliotecários do futuro, na medida em que o sucesso do seu estatuto profissional requer novos perfis e mutação na cadeia de valores (eliminação da resistência à mudança). Qualquer perfil profissional requer conhecimentos, habilidades e atitudes (componentes científicos, cognitivos, afetivos e motivacionais). Perante tal complexidade, Muñoz Cruz (1998) nas sextas Jornadas Españolas de la Documentación interroga-se sobre o perfil e o papel dos novos gestores de informação:


“¿Cuál es el perfil del gestor de la Información? El gestor de información se ocupará de la planificación estratégica y la coordinación de todos los recursos relacionados con la información y participará en el diseño e implantación del sistema de información de la organización, a través de la coordinación de todos aquellos departamentos que manejan información. Esa es la labor que tiene encomendada para el siglo XXI y su formación ha de estar en consonancia con esta necesidad potencial que se detecta desde hace algunos años.” (Muñoz Cruz, 1998)

Como verificamos, Muñoz Cruz interroga-se acerca da hibridez e atitude dos bibliotecários perante a gestão da informação no século XXI. A globalização impõe-se em todos os domínios do saber e, por conseguinte, a matéria-prima do bibliotecário já não é o documento mas a informação: a gestão da informação e a respeitabilidade da missão e a estrutura cognitiva da biblioteca são os ativos invisíveis com maior impacto de competitividade.

 

O desenvolvimento dos serviços de informação requer técnicas de investigação que permitam os gestores de informação analisarem novas necessidades e antecipar formas de uso: o gestor deve conhecer metodologias tanto qualitativas como quantitativas para analisar o uso e aceção dos serviços dentro da biblioteca.

 

PM

 

 

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