A gestão de informação, na atualidade, lança os
“bibliotecários” num labirinto sem contornos epistemológicos, o qual chamamos
de hibridez profissional. Devido a tal facto, despontam novas disciplinas que
desenvolvem e conceptualizam novos conceitos no domínio da Biblioteconomia. A
identificação e divulgação da informação perde-se in illo tempore, contudo é usual referirmos a cultura grega como
uma das primeiras sistematizações explícitas do método racional (έπιστήμη), em
contraposição com o saber do senso comum (δόξα).
A par destas sistematizações, tão familiar aos
profissionais de informação, o crescimento exponencial da informação, na
atualidade, rompe com os paradigmas tradicionais do conhecimento. Ao nível das
Ciências da Informação, despontam novas sagezas e metodologias para
identificação da informação — referimo-nos
sobretudo a domínios tridimensionais, tanto ao nível de softwares, como de
recursos humanos e de conteúdos projetáveis.
Na esteira destas vicissitudes paradigmáticas,
a análise dos fluxos de informação exige uma reavaliação dos processos
cognitivos (enquanto ser experiencial) e gestor de informação (enquanto ser
profissional). Esta dupla atitude, mediante a informação, impele o investigador
à reinterpretação de conceitos, simbologias e atitudes proactivas face à
comunicação de informação.
Nas Ciências da Informação, e em todos os
saberes que exigem semânticas metalinguísticas, há um hiato conceptual entre a
noção de dado vs informação. Dito de outra forma, a informação é muito mais do que
um conjunto ordenado de axiologias linguísticas, dito de outro modo, a ato de
informar processa-se através de representações
intelectuais —os dados e,
sobretudo, a informação só ganha sentido através da descodificação de símbolos
(o real só o é enquanto descodificado intencionalmente).
A Secretaria-Geral,
reconhecendo a importância da informação e da gestão do património bibliográfico, arquivístico e museológico
da educação (BAME) que se encontra à sua guarda, tem vindo a desenvolver uma visão integrada do património da
Educação. Isto é, pensa de forma transversal e articulada o património
bibliográfico, o património arquivístico e o património museológico. Ao nível
conceptual, o olhar que lança sobre o património tem esse enfoque triplo e um
bom exemplo disso são os manuais escolares. Antes de mais, os livros escolares
são, como é óbvio, espécies bibliográficas. Mas no nosso entender, sobretudo
tendo em conta o espólio que possuímos, os manuais podem também ser vistos como
documentos de arquivo e como objetos de valor museológico.
Apesar desta potencialidade, à qual a Secretaria-Geral
interioriza na sua missão (consagrada na sua Lei orgânica), a informação só ganha sentido enquanto útil (i.e.
tomada de decisões). A informação só tem valor/sentido dentro de um certo
contexto epistemológico. Desta forma, os projetos da referida Instituição têm
como propósito, acima de tudo, a construção de referenciais de (re)conhecimento
do património, o que implica a sua referenciação, inventariação, catalogação,
tendo sempre como objetivo último a divulgação e o facultar de acesso à
informação.
No seio desta problemática, Thomas
Davenport, investigador e visionário, tende
a ultrapassar a noção de tecnologia, entendendo
esta como uma mera resolução final da
informação. Desta forma, a informação deverá ser perspetivada como o meio ou modo de o homem compreender,
criar, usar e distribuir conhecimento (o sentido das metalinguagens reside na
sua descodificação). Assim, a Secretaria-Geral recolhesse que os seus
destinatários não são apenas investigadores, mas sim, especialmente, os
cidadãos em geral, cujas memórias e cuja construção identitária passou, em
larguíssima medida, pelo património escolar de que foram utilizadores e
reconstrutores, no sentido em que todos deixamos marcas no material escolar
que, durante um determinado período, esteve nas nossas mãos.
As metalinguagens, usadas nos contextos
biblioteconómicos, representam diversas culturas e atitudes científicas (são
exemplo os formatos e a classificação: UMIMARC e USMARC; CDU e DDC, etc.).
Assim sendo, as metalinguagens (contextos) são chaves hermenêuticas de
representações e consequente gestão de informação. A própria seleção
quantitativa e qualitativa de informação levar-nos-á, inevitavelmente, a um
conjunto de processos cognitivos de reavaliação das organizações, diremos à
capacidade de ignorar o que se apresenta não relevante ou não descodificável.
Atualmente, esta atitude perante a informação representa, em si mesmo, um
desequilíbrio nos novos ambientes informacionais.
A Secretaria-Geral do
Ministério da Educação tem por missão a preservação, salvaguarda e tratamento
do património da Educação. Este desígnio inclui responsabilidades sobre o património
quer das escolas, quer das diversas entidades que compõem a estrutura
organizacional do Ministério da educação. Por outro lado, e mercê das suas
funções e história institucional, a Secretaria-Geral possui um riquíssimo
espólio patrimonial, que inclui objetos, espécies bibliográficas e material de
arquivo.
É exigido aos profissionais da informação a exegese do
sentido e, consequentemente, uma súmula dos estímulos recebidos através da
informação. Ou seja, a análise da informação requer uma dialética entre as
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e novas habilidades de recolha e
análise de dados: esta perspetiva requer uma integração harmoniosa entre
tecnologia, vivência, cultura e informação. Desta forma, as organizações, atualmente, caracterizam-se por novas
formas de gestão que, a seu modo, representam uma rutura com os modelos
tradicionais baseados em motivação, recompensa e punição dos recursos humanos.
A informação, no contexto atual, deverá repensar-se
como informação completa do meio ambiente.
Esta visão holística requer, por si, uma análise para além das engenharias, ou
seja, todos os processos de informação deverão ter como modelo as TIC, valores
e crenças, uso de informação, políticas de disseminação de informação, sistemas
de informação e, finalmente, as tecnologias como complemento.
Na perspetiva de Lev S. Vygotsky, com
grandes influências em Piaget, a esmagadora maioria dos processos de
assimilação de conhecimento são, na verdade, processos de internalização. Ou
seja, o desenvolvimento cognitivo é sempre o resultado de uma atividade de
mediação. O processo de internalização deverá entender-se como a reconstrução interna de uma operação
externa: um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal,
ou seja, uma operação designada como atividade externa é reconstruída a partir
de intuições internas.
Não devemos olvidar de que a tomada de decisões
numa organização é atribuída, sem exceção, aos indivíduos que a compõem. A
atividade profissional é exclusivamente humana, desta forma, o sucesso de
modelos de gestão da informação está fortemente vinculado aos comportamentos e
ações individuais e coletivas. Portanto, a organização enquanto tal exerce
grande influência neste processo interno vs. Externo.
Reforça, assim, a ideia de que a condição
humana só existe enquanto indivíduo. Ou seja, a consciência tem uma dimensão
individual, contudo, todo o ser humano é produto coletivo, social e histórico.
O indivíduo conhece por meios universais, vivemos no mundo produzindo os nossos
pensamentos pessoais, mas para comunidade —o próprio trabalho faz parte da comunidade onde estamos
inseridos. Nesta atividade é-nos exigido uma grande capacidade racional, não só
individual, mas também de cariz coletivo.
Na Secretaria-Geral, nos referidos
contornos informacionais, o estudo dos fatores internos e/ou externos
manifesta-se com sucesso na criação, seleção, sistematização e disseminação de
informação. Sendo que as hermenêuticas da informação são indispensáveis para a
criação de significados, construção de conhecimento e tomada de decisões. Dito
de outro modo, a reconversão de modelos mentais em conceitos, símbolos,
metáforas, etc. são vetores de externalização necessários para a sobrevivência
das bibliotecas e da cultura impressa em geral.
O ambiente organizacional, em si mesmo,
impele a atitudes cognitivas de interpretação do meio circundante. Esta
situação exegética desencadeia a criação de significados e exige, por si,
empenho dos recursos humanos da organização para a interpretação novos
ambientes com a finalidade de aprofundar inter-relações, a todos os níveis. A
complexidade da ciência e da tecnologia exigem alternativas urgentes e mais
sofisticadas para otimizar os impactos cumulativos de uma sobre a outra:
Qual será a postura do “bibliotecário” perante as
novas exigências na gestão do conhecimento?
Sebastià i Salat, uma
investigadora reconhecida nesta área, reporta-se ao problema atual dos curricula vitae face às novas exigências
de informação. Digamos, a descontinuidade
e a competitividade são as palavras-chave
para a compreensão do problema proposto anteriormente em forma de pergunta. A
descontinuidade entende-se como as mudanças de estratégias e de alternativas na
gestão de conhecimento, por tal, impõe-se a competitividade através da
especialização que, a seu modo, assegura o “equilíbrio” exigido das novas
arquiteturas de informação.
No caso particular dos “bibliotecários” é
imprescindível a sua adaptabilidade às novas tecnologias — capacidade de comunicação interpessoal, disposição para a aceitar e assumir mudanças, tanto ao
nível tecnológico como cognitivo. Assim, as confluências da inovação e das
condições favoráveis de mercado produzem novos serviços que, a seu modo,
requerem novas competências e perfis profissionais:
Como verificamos na Figura 1, o
mercado em geral (criação e consumo de informação, no nosso caso) e a inovação
tecnológica potenciam novos serviços e perfis profissionais. Esta indagação é
um alerta para os bibliotecários do futuro, na medida em que o sucesso do seu
estatuto profissional requer novos perfis e mutação na cadeia de valores
(eliminação da resistência à mudança). Qualquer perfil profissional requer
conhecimentos, habilidades e atitudes (componentes científicos, cognitivos, afetivos e motivacionais). Perante tal
complexidade, Muñoz Cruz (1998) nas sextas Jornadas
Españolas de la Documentación interroga-se sobre o perfil e o papel dos
novos gestores de informação:
“¿Cuál
es el perfil del gestor de la Información? El gestor de
información se ocupará de la planificación estratégica y la coordinación de
todos los recursos relacionados con la información y participará en el diseño e
implantación del sistema de información de la organización, a través de la
coordinación de todos aquellos departamentos que manejan información. Esa es la
labor que tiene encomendada para el siglo XXI y su formación ha de estar en
consonancia con esta necesidad potencial que se detecta desde hace algunos
años.” (Muñoz Cruz, 1998)
Como verificamos, Muñoz Cruz interroga-se acerca da hibridez e atitude dos
bibliotecários perante a gestão da informação no século XXI. A globalização
impõe-se em todos os domínios do saber e, por conseguinte, a matéria-prima do bibliotecário já não é o documento mas a informação:
a gestão da informação e a respeitabilidade da missão e a estrutura cognitiva
da biblioteca são os ativos invisíveis com maior impacto de competitividade.
O desenvolvimento dos serviços de informação
requer técnicas de investigação que permitam os gestores de informação
analisarem novas necessidades e antecipar formas de uso: o gestor deve conhecer
metodologias tanto qualitativas como quantitativas para analisar o uso e aceção
dos serviços dentro da biblioteca.
PM
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