2024/06/06

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Alice Pestana (1860 - 1929)

 

(Imagem da autora retirada de Dicionário de educadores portugueses)

 

Alice Evelina Pestana Coelho, também conhecida por Caïel, nasceu a 7 de abril de 1860 em Santarém, filha de Eduardo Augusto Vilar Coelho, funcionário público e de Matilde Laura Soares Pestana. A sua mãe, uma mulher culta e dedicada à literatura, faleceu ao dar à luz o irmão, José Eduardo, quando Alice tinha apenas cinco anos. Foi, assim, criada pela avó materna, Epifânia Alexandrina Soares Pestana.

A sua educação foi feita em casa, tendo aprendido diversos idiomas, rudimentos de matemática e de história, bem como canto e piano. No entanto, este tipo de aprendizagem deixou-a insatisfeita e com vontade de alargar os seus conhecimentos. Recorreu a aulas particulares e em 1877 fez exames de Português e Inglês no Liceu Nacional de Lisboa; em 1879, Francês, Geografia, Cronologia e História; e em 1880, Princípios de Física e Química e Introdução à História Natural.

A partir de 1877, Alice Pestana deu aulas particulares de Inglês e Francês e publicou o seu primeiro artigo na revista The Financial and Mercantil Gazette e n’ O Espectro da Granja. Em 1885 publicou o conto Duas lições nas Repúblicas: revista política e literária. No período compreendido entre 1888 e 1893 fez várias viagens pela Europa e escreveu contos, novelas, ensaios e artigos.

A 2 de novembro de 1888 foi nomeada por José Luciano de Castro para fazer a sua primeira viagem de estudo a Inglaterra, Suíça e França. Em 1892 redigiu O que deve ser a educação secundária da mulher?, apresentado no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, alertando para a necessidade da existência de uma Escola-modelo.

Tornou-se amiga de figuras de renome do panorama intelectual português, com destaque para Bernardino Machado. Através deste, conheceu Francisco Giner de Ríos, o pedagogo fundador da Institución Libre de Enseñanza. De los Ríos defendia a ideia de que a educação não era a mera transmissão de conhecimentos, mas sobretudo uma formação de cidadãos. Nesta instituição conheceu Pedro Blanco Suárez, com quem casou em 1901, passando a residir em Madrid.

Em 1914 lecionou Francês e Inglês na Institución Libre de Enseñanza e dirigiu um Lar de Estudantes, juntamente com o seu marido, acolhendo alunos vindos da província. Ainda neste ano foi bolseira da Junta de Ampliación de Estudios, para realizar um relatório sobre a situação da educação em Portugal. Este relatório foi publicado em 1915 com o título La educación en PortugalEm 1916 fundou o Protectorado del niño delincuente, onde exerceu a função de Secretária até 1925, data em que o projeto terminou pela falta de financiamento.

As bases do seu pensamento foram a educação das crianças e das mulheres, a paz e a solidariedade social. Para ela, a mulher digna e com consciência social deveria ser uma mulher com educação, qualquer que fosse o seu estatuto social.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


 

2024/06/04

Manifesto para as eleições europeias 2024: Bibliotecas para um futuro sustentável



(Imagem do Manifesto para as eleições europeias 2024: Bibliotecas para um futuro sustentável, onde constam os 5 eixos de ação deste manifesto)


As políticas da União Europeia (UE) são fundamentais para as Bibliotecas na Europa, estruturas que adotam nos seus programas e atividades medidas respeitantes à transição ecológica, a diversidade de competências digitais ou a promoção da democracia. Para que tenham eficácia e qualidade na sua ação, podem e devem beneficiar de apoios, recursos e instrumentos da UE. 

É por isso importante que as prioridades da UE estejam em sintonia com as atividades das Bibliotecas, inclusive a nível local, permitindo e desenvolvendo uma visão partilhada para a área das bibliotecas, tornando esta rede muito mais forte a nível europeu.

São cinco os organismos europeus de Bibliotecas que elaboraram o Manifesto para as eleições europeias 2024: Bibliotecas para um futuro sustentável: EBLIDA – European Bureau of Libraries, Information and Documentation Associations; NAPLE – National Authorities on Public Libraries in Europe; Public Libraries 20-30; LIBER Europe – Association of European Research Libraries e a Secção Europeia da IFLA – International Federation of Libraries Associations and Institutions.

Este Manifesto procura informar e despertar os cidadãos europeus, especialmente os candidatos ao Parlamento Europeu, para o papel que as Bibliotecas desempenham na sociedade e para a sua capacidade de intervenção na construção de um futuro mais justo, democrático, inovador e sustentável.

No Manifesto são identificados cinco eixos de ação, considerados essenciais para a concretização do projeto europeu, para os quais as Bibliotecas podem contribuir de forma ativa:

  1. As Bibliotecas garantem a oportunidade e igualdade de acesso à informação, à cultura e à educação, para todos os cidadãos;
  2. As Bibliotecas contribuem para a formação de cidadãos informados, dotados de espírito crítico;
  3. As Bibliotecas apoiam o desenvolvimento científico e a sua disseminação de forma inclusiva;
  4. As Bibliotecas continuam a ser os locais de salvaguarda e disponibilização da identidade e memória coletivas;
  5. As Bibliotecas desenvolvem, de forma regular, projetos de cooperação com instituições de países parceiros, estendendo a nível global a visão europeia de uma sociedade democrática, livre e justa

Este Manifesto, agora apresentado, pretende ser uma ferramenta disponível para que as instituições e os profissionais de Bibliotecas de toda a União Europeia divulguem a mensagem e sensibilizem os candidatos a eurodeputados para a importância desta atividade e dos requisitos para que a sua missão seja cumprida.


2024/06/03

Instalações para o ensino (1968 a 1972) - Ministério das Obras Públicas - Escolas do Ciclo Primário: Escola Preparatória de António da Costa, Almada

 

- Escola Preparatória de António da Costa -

O Ministério das Obras Públicas concluiu 42 edifícios, no período decorrente de 1968 a 1972, destinados a estabelecimentos dos cursos preparatório, secundário e médio. A título de divulgação, neste post, daremos a conhecer - a Escola Preparatória de António da Costa, Almada.


(No topo, pode ver-se uma zona de entrada/ sala interior. Em baixo, a fachada da escola)


(No topo, pode observar-se uma pequena capela. Em baixo, à esquerda, o ginásio. À direita, a ficha técnica com a identificação da escola, a dimensão da área coberta, a dimensão da superfície de pavimentos, o custo total das instalações, a data de conclusão da obra, a população escolar e a discriminação das dependências)


Ministério das Obras Públicas (1973). Novas Instalações para o ensino construídas entre

 1968 e 1972. Lisboa: Direcção-Geral das Construções Escolares.



P.M.




2024/05/30

As Bibliotecas e a História - A Biblioteca de Nínive ou "De Assurbanípal"

 

«Ao longo da história, a humanidade tem preservado seu legado cultural, científico e literário de diversas maneiras, sendo uma das mais significativas através de bibliotecas. Estes centros de conhecimento não são apenas coleções de escritos e artefactos; eles são cápsulas do tempo, guardiãs do pensamento humano e da evolução social, política e espiritual de civilizações inteiras. No vasto panorama das bibliotecas antigas, poucas conseguem se equiparar tanto em riqueza quanto em relevância histórica à Biblioteca de Assurbanipal em Nínive. Este tesouro literário do mundo antigo serve como um lembrete poderoso da capacidade humana de criar, preservar e disseminar conhecimento através das eras.»

(Cadu Melchior, https://portalmundodigital.com.br, 2023)

 

Imagem da Biblioteca de Nínive na Antiguidade.
Fonte: https://wpd.ugr.es/

 

1. Um importante legado para a História

Fazendo uma “história das bibliotecas” parece haver consenso em considerar a Biblioteca de Nínive, na antiga Mesopotâmia (região que, nos dias de hoje, abarca o Iraque, Irão e Jordânia, no Médio Oriente), como a primeira da história. Também ficou conhecida como Biblioteca de Assurbanípal, pois foi este monarca, rei da Assíria, quem, no ano de 668 a.C., teve a ideia de a mandar erigir na cidade de Nínive, situada na margem ocidental do rio Tigre, capital do império assírio. Esta antiga metrópole havia-se tornado a maior cidade do mundo antigo, apresentando-se com toda a magnificência, riqueza e pujança, que caracteriza um aglomerado com esta importância. As ruínas, que outrora dela faziam parte, estendem-se hoje por uma vasta área que cobre os subúrbios da cidade de Mossul (terceira maior cidade do atual Iraque). Nínive representou, também, outrora, uma junção importante para as rotas comerciais que cruzavam o Tigre. Ocupando uma posição estratégica entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico, unindo o Oriente e o Ocidente, usufruía da vantagem de receber a riqueza que provinha de várias fontes.


2. Berço do livro, das bibliotecas e registo da memória

 

«No século VII a.C. a Assíria tinha deusas da biblioteca, facto um tanto ou quanto ocluído pela famosa biblioteca de Assurbanípal, um projeto de poder para aquele rei assírio, sendo o seu conteúdo maioritariamente constituído por inscrições que o enalteciam.»

(Martin Latham, p. 105, 2023)

 

A Biblioteca de Nínive, conforme referido, passou também à história como “de Assurbanípal”, pois foi ele o ideólogo por detrás da sua construção, sendo esta erigida no perímetro do seu palácio. O acervo da biblioteca era composto por uma coleção de cerca de 25 a 30 000 placas de argila, contendo textos em escrita cuneiforme e alguns mesmo em duas línguas (sumério e arcádio). As placas, ou tabuinhas, foram o antepassado mais próximo dos livros. Propagaram-se por todo o território da antiga Mesopotâmia e, em algumas regiões, continuaram a usar-se até ao início da era cristã. De fabrico artesanal e rudimentar, endureciam-se como os adobes, secando ao sol. Molhando a superfície, tornava-se possível a sua reutilização. De tamanho variável, mas extremamente frágeis, eram guardadas, ao abrigo da humidade, em estantes de madeira e, também, em cestas de vime e jarras. Os assuntos narrados nestas placas eram os mais diversos, porém, a maior parte incidindo sobre as grandes preocupações e temas de reflexão da época como, por exemplo, textos sobre geografia, matemática, astrologia, medicina, religião e leis. Outros, debruçavam-se sobre temas, talvez não tão eruditos, mas de não menos importância para a cultura da época, como exorcismo, manuais de presságio e de profecias, fórmulas de encantamento, relatos de aventuras, hinos sagrados e diversas peças literárias escritas em diferentes dialetos.

 

«A biblioteca do orgulhoso rei Assurbanípal, o precedente mais próximo da Grande Biblioteca de Alexandria, não possuiu a sua universalidade. Era um conjunto de documentos e textos úteis para as cerimónias e rituais públicos. Até as obras literárias tinham o seu lugar ali por motivos práticos, porque o rei precisava de conhecer os mitos fundacionais do seu povo.»

 (Irene Vallejo, pág. 69)

 

Dentro deste acervo encontra-se a famosa epopeia de Gilgamesh (o rei semilendário de Uruque), um antigo poema épico da Mesopotâmia e uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial. Acredita-se que na sua origem estejam diversas lendas e poemas sumérios sobre o mitológico deus-herói Gilgamesh, tendo sido reunidos e compilados no século VII a.C., pelo próprio rei Assurbanípal.


Imagem de Assurbanípal liderando o seu exército.
Fonte: https://historiaeweb.com

 

Nínive, próspera e estrategicamente localizada, era naturalmente cobiçada. Em 612 a.C., a cidade foi sitiada por uma coligação de babilónios, sírios e medos. Durante os tumultos e incêndios que se seguiram, o fogo atingiu o palácio e, consequentemente, a biblioteca que se localizava no seu perímetro. Grande parte dos documentos que albergava, dada a sua frágil natureza (argila e cera, a maioria), ficaram irremediavelmente perdidos.

 

«Sem exceção, todas as bibliotecas do Próximo-Oriente deixaram de existir e caíram no esquecimento. Os escritos daqueles grandes impérios permaneceram sepultados nas areias dos desertos ao pé das suas cidades destruídas, e os restos descobertos da sua escrita eram indecifráveis. O esquecimento foi tão completo que, quando os viajantes encontraram inscrições cuneiformes nas ruínas das cidades aqueménidas muitos pensaram que eram simples decorações nas jambas das janelas e portas. Depois de séculos de silêncio, foi a paixão dos investigadores que desenterrou os seus vestígios e conseguiu decifrar as línguas esquecidas das suas tabuinhas.»

 

(Irene Vallejo, pág. 70)

 

 

A coleção de Assurbanípal foi a maior, mais ampla e mais importante biblioteca já reunida em mais de 3500 anos. Até ao surgimento da Biblioteca de Alexandria, era a biblioteca mais significativa da antiguidade. Com a morte de Assurbanípal e o assalto a Nínive, a biblioteca sucumbiu. O tempo exerceu a sua ação e tanto a biblioteca como o seu legado, foram sendo esquecidos. Somente no início do século XIX, em 1842, uma equipa de arqueólogos ingleses descobriu os destroços da antiga cidade e desenterrou milhares de tabuletas e fragmentos que haviam sobrevivido soterrados centenas de anos, até voltarem a ver a luz do dia. Contudo, por mais paradoxal que possa parecer, enquanto que livros ou quaisquer outros documentos de papel, ou pergaminho, teriam inevitavelmente sido destruídos, as tabuinhas de argila tornaram-se, em boa parte, mais duras, tornando-as os documentos mais bem preservados da longa história da Mesopotâmia. Assim se deve a Assurbanípal, líder político e temível guerreiro, mas também um rei letrado e patrono das artes, da literatura e da erudição, termos hoje uma série de documentos – dos mais variados saberes, disciplinas e conteúdos – que nos permite conhecer e restituir à vida, o vasto e rico contexto da sociedade da antiga Mesopotâmia.


JMG


REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA:

(BIBLIOGRAFIA, WEBGRAFIA e ILUSTRAÇÕES)

BÁEZ, Fernando (2004). Nueva historia universal de la destrucción de los libros: de las tablillas sumérias a la era digital. Barcelona. Ediciones Destino.

BARBIER, Frédéric (2018). De Alexandria às bibliotecas virtuais. São Paulo: EDUSP.

BATTLES, Matthew (2003). A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Planeta do Brasil.

CASSON, Lionel (2001). Libraries in the ancient world. New Haven and London: Yale University Press.

LATHAM, Martin (2023). Crónicas de um livreiro. Lisboa. Coimbra: Edições 70.

MENANT, Joachim M. (2012). La bibliotheque du palais de Ninive: decouvertes assyriennes (Éd. 1880). Paris: Hachette BNF.

MURRAY, Stuart A.P. (2009). The library: an illustrated history. New York, Chicago: ALA Editions.

NATIONAL GEOGRAPHIC EN ESPAÑOL (2022). FISCHER, Andrea. Así fue Nínive, la capital más poderosa del Imperio Asirio que destruyó el Estado Islámico. [em linha]. [Consult. 02.05.2024]. Disponível: https://www.ngenespanol.com/historia/ninive-la-primera-capital-del-imperio-asirio/.

OIKONOMOPOULOU, Katerina; WOOLF, Greg (2013). Ancient libraries. St. Andrews: Cambridge University Press.

PORTAL MUNDO DIGITAL (2023). MELCHIOR, Cadu. Saiba sobre a biblioteca de Assurbanipal em Ninive. [em linha]. [Consult. 23.04.2024]. Disponível: https://portalmundodigital.com.br/biblioteca-de-assurbanipal-em-ninive/

THOMPSON, James Westfall (1940). Ancient libraries. Berkeley: University of California Press.

UNIVERSIDAD DE GRANADA (2024). Biblioteca armonica: musica, libros y pintura – la biblioteca de Ninive. [em linha]. [Consult. 30.04.2024]. Disponível: https://wpd.ugr.es/~agamizv/?page_id=421

VALLEJO, Irene (2020). O infinito num junco. Lisboa: Bertrand Editora.

WIKIPÉDIA (2020). Biblioteca de Nínive. [em linha]. [Consult. 12.04.2023]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bibliotheca_Alexandrina

2024/05/27

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Alice Moderno (1867 - 1946)

 

(Imagem da autora retirada da internet)


Alice Augusta Pereira de Melo Maulaz Moderno nasceu em Paris em 1867, filha de João Rodrigues Pereira Moderno, médico homeopata e de Celina Pereira de Melo Maulaz. Sendo os seus pais de origem açoriana, emigrados em França, a família passou alguns meses na Ilha Terceira, após o nascimento da filha. Regressaram a França, onde Alice concluiu os estudos primários. Em 1876, a família voltou definitivamente aos Açores, fixando-se na Ilha de S. Miguel.

Aos 16 anos, Alice decidiu viver sozinha em Ponta Delgada, dando explicações de Português e Francês. Retomou os estudos em 1887 e foi a primeira mulher a frequentar o ensino liceal em Ponta Delgada.

Em 1893 os seus pais emigraram para os Estados Unidos, mas Alice Moderno continuou a residir em S. Miguel onde se tornou uma das primeiras ativistas feministas neste arquipélago.

Em 1903 adquiriu uma tipografia onde foram impressos os primeiros números do jornal anarquista Vida Nova e do jornal O Proletário da Federação Operária e do Operariado. Fundou igualmente os jornais O Recreio das Salas (1888) e A Folha (1902 – 1917) e colaborou com o Diário dos Açores, A Pátria, Açoriano Oriental, Almanaque Micaelense, Correio dos Açores, Viagem, O Primeiro de Janeiro ou a Revista Pedagógica.

Em 1909 adquiriu uma propriedade onde iniciou o cultivo de ananases, representando outros produtores e exportadores através da fundação do Sindicato Agrícola Micaelense.

Foi professora da instrução secundária do ensino livre e, a partir de 1913, lecionou nas Escolas Móveis e no Sindicato dos Empregados no Comércio e Indústria.

Os valores e ideais republicanos, bem como a defesa dos direitos da mulher foram causas que abraçou desde cedo. Após a instauração da República participou ativamente na vida social e política. Tornou-se sócia da Associação de Propaganda Feminista e em 1915 aderiu à Associação Feminina de Propaganda Democrática.

Foi autora e tradutora de diversos artigos e publicou vários livros de poemas, romances e peças de teatro. Muitos destes artigos versavam a temática da educação, abordando a instrução popular e a criação de liceus femininos. Para Alice Moderno o analfabetismo era um dos maiores problemas da sociedade portuguesa, sendo absolutamente necessário investir não só no ensino, mas também em todas as infraestruturas subjacentes como edifícios, formação de professores ou material didático.

A defesa dos direitos dos animais esteve igualmente presente na vida da educadora que fundou a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Desenvolveu várias iniciativas para postos veterinários na ilha, programas de educação para os mais novos e diversas petições para banir as touradas  de morte.

Alice Moderno faleceu a 20 de fevereiro de 1946 e deixou os seus bens a várias instituições de beneficência, entre os quais o Hospital Veterinário de S. Miguel.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

 MJS

 

2024/05/23

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Alfredo Betâmio de Almeida (1920 – 1985)

 

(Imagem do autor retirada de Dicionário de educadores portugueses)


Alfredo Betâmio de Almeida concluiu o curso de Desenho na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1944. Iniciou de imediato a carreira docente no Liceu Pedro Nunes, fazendo o exame de estágio com o ensaio Desenho à Vista. A partir de então tornou-se lente efetivo de Desenho nesta instituição.

Em 1947/48 participou na Reforma do Ensino Liceal de Pires de Lima, elaborando o programa de Desenho Livre (1.º e 2.º anos) e o manual escolar Compêndio de Desenho para o 1.º Ciclo dos Liceus, livro único atualizado em 1948 e 1967.

Entre 1957 e 1958, Almeida afirmou-se como pedagogo, tornando-se “professor metodólogo” do grupo de Desenho e Trabalhos Manuais. Iniciou nestes anos uma reflexão sobre a didática do desenho e tornou-se cofundador da Palestra – Revista de Pedagogia e Cultura (1958- 1973).

Em 1968 participou na reforma de Veiga Simão como autor dos novos programas de Desenho para o 2.º ciclo dos Liceus. Em 1970, como membro da Junta Nacional de Educação, preparou o novo programa de Desenho.

Após o 25 de Abril de 1974 foi nomeado Diretor-Geral do Ensino Liceal. Em 1975 lançou o Ensino Secundário Unificado, mas acabou por pedir a exoneração do cargo. Em 1977, e até ao final da sua vida, foi presidente do Instituto de Tecnologia Educativa – ITE.

A sua atividade como educador focou-se sobretudo no reconhecimento da sua área de ensino. Para Almeida, a educação estética deveria processar-se em todas as disciplinas.

Uma das suas reflexões sobre a Didática do Desenho teve como base a variável das competências de aprendizagem relacionada com as idades mentais dos alunos. Isto permitiu-lhe isolar as características e expressões gráficas do desenho infantil e do desenho de transição para uma visão adulta.

Para Almeida, o “desenho livre”, deveria valorizar a atmosfera criativa e ser uma projeção verdadeira dos alunos. O professor seria responsável por estimular as necessidades expressivas da criança ou do adolescente e posteriormente introduzir as melhores técnicas para essa criatividade.

A par da educação, Betâmio de Almeida foi também artista plástico e historiador local em Benavente. Teve uma intensa atividade de pintura em tinta pastel, aguarela e guache, com temáticas relacionadas com naturezas mortas e pintura abstrata.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


 

2024/05/20

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Agostinho de Campos (1870 – 1944)

 

(Imagem do autor retirada da internet)


Agostinho Celso de Azevedo Campos nasceu no Porto a 14 de fevereiro de 1870, numa família da pequena burguesia comercial. Teve um percurso escolar comum e ingressou no curso de Direito da Universidade de Coimbra que concluiu em 1892.

Não foi um curso que o estimulasse e Campos optou pelo ensino da língua e cultura portuguesas em Hamburgo, na Alemanha, entre 1893 e 1894. Durante este período colaborou com o jornal O Comércio do Porto na área de política externa. Em 1895 regressou a Portugal.

A par da docência, o jornalismo permaneceu sempre um dos pontos fulcrais da sua vida, quer n’ O Comércio do Porto quer no Diário de Notícias. Entre 1901 e 1906 tornou-se redator principal n’ O Diário Ilustrado.

Exerceu funções de professor no Liceu Central de Lisboa (Pedro Nunes), entre 1896- 1905 e 1910- 1932. Desempenhou atividades letivas na Casa Pia de Lisboa e no Instituto Superior do Comércio e foi igualmente professor na Faculdade de Letras das Universidades de Coimbra e de Lisboa entre 1932 e 1940.

No que respeita às questões educativas, Agostinho de Campos defendeu o conceito de “educar de cima para baixo”. Os problemas da nação podiam resolver-se através de um modelo de funcionamento social e de um sistema de ensino que deveria partir das classes superiores. As elites dirigentes encontravam-se mal preparadas devido à ausência de produção pedagógica adequada à realidade e à falta de valorização dos docentes. Neste âmbito, Campos foi responsável por um Decreto de 1906 que concedia bolsas de estudo a professores que quisessem estudar fora de Portugal.

Em 1929 foi nomeado para vogal da Junta de Educação Nacional, ocupando a presidência da seção de Letras até 1931.

Outra das questões frequentemente debatidas por Campos diz respeito à educação que não se faz apenas na escola, mas também na vida. Para este educador era inconcebível que houvesse investimento nas instituições escolares se existia um desprezo pelo trabalho e pelo mérito.

Agostinho Campos acabou por se retirar da política dedicando-se à carreira docente e ao jornalismo. Para o autor houve uma descrença no poder político como reformador educativo: as reformas deveriam ser feitas por professores/educadores/pedagogos e não pela classe política.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS