2022/05/09

Mulheres na ciência: Janaki Ammal (1897 - 1984)

 

(Imagem de Janaki Ammal retirada da internet)

Janaki Ammal Edavalath Kakkat, nasceu na Índia em 1897, filha de Dewan Bahadur Edavalath Kakkat Krishnan, juiz assistente e de Devi Kuruvayi, filha ilegítima de John Child Hannyngton, administrador da colónia e da sua amante.

Foi considerada a “mãe” da botânica moderna indiana, tendo trabalhado com citogenética e fitogeografia. Para além disso, tornou-se a primeira mulher do país a ter um grau de doutoramento na área da botânica.

Estudou no Convento do Sagrado Coração em Tellicherry e posteriormente no Queen Mary´s College, em Madras. Licenciou-se em botânica no Presidency College e aproveitou uma bolsa de estudo para prosseguir a sua formação na Universidade de Michigan, em 1924. Em 1926 tinha concluído o mestrado em botânica.

Regressando à India, lecionou no Women´s Christian College, em Madras, durante alguns anos. Conseguiu uma nova bolsa de estudos e concluiu o doutoramento em 1931 também na Universidade de Michigan.

Entre 1932 e 1934 lecionou botânica no Maharaja’s College of Science em Kerala. Foi nesta altura que iniciou os seus trabalhos com a cana de açúcar, juntamente com Charles Alfred Barber, tentando criar variações híbridas dessa planta.

Em 1939 participou no 7.º Congresso Internacional de Genética em Edimburgo. Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, não conseguiu sair do país. Trabalhou no Centro John Innes, em Londres, juntamente com C. D. Darlington, coautor de vários estudos, entre os quais Chromosome Atlas of Cultivated Plants (1945).

Tornou-se pesquisadora convidada da Royal Horticultural Society, entre 1945 e 1951. Durante este período dedicou-se ao estudo das magnólias e do seu processo de hibridização.

Ammal distinguiu-se sobretudo pelo trabalho com a cana-de-açúcar e com a beringela e notabilizou-se pela pesquisa sobre plantas tropicais e o seu valor económico. Em 1951 foi convidada pelo Primeiro Ministro indiano para organizar o Botanical Survey of India, onde trabalhou como diretora do laboratório de botânica. Janaki viajou por todo o país em busca de plantas desconhecidas, recolhendo contos e histórias locais sobre essas plantas e flores.

Aposentou-se em 1970, mas continuou como pesquisadora na Universidade de Madras. Em 1977 recebeu do governo indiano o prémio Padma Shri. Faleceu em fevereiro de 1984.

Imagem Parietal de espécie vegetal/Cana-de-açúcar

ME/402436/19

Escola Secundária de Passos Manuel

Quadro com fundo negro contrastante com os desenhos coloridos, alguns dos quais em corte, bastante ampliados, por vezes tridimensionais, de grande realismo e de grande rigor científico.


MJS



2022/05/05

Exposição na Torre do Tombo: Projeto Tesouros Digitais Europeus - "Exílios, fluxos migratórios e solidariedade"

(Cartaz alusivo à exposição na Torre do Tombo: Projeto Tesouros Digitais Europeus - "Exílios, fluxos migratórios e solidariedade", retirado da internet)


A nova exposição “Exílios, Fluxos Migratórios e Solidariedade”, na Torre do Tombo até 30 de junho de 2022 e de entrada gratuita, permite explorar 47 documentos-chave de vários arquivos europeus, que ajudam a compreender melhor estas e outras questões que preocupam a Europa atual.

Esta é a última de três exposições transmedia lançadas no âmbito do projeto "Tesouros Digitais Europeus", que traz a Portugal alguns dos tesouros documentais europeus guardados em arquivo desde tempos remotos, e que podem agora ser explorados usando jogos e realidade aumentada.

Esses tesouros incluem documentos relacionados com o “Passaporte de Nansen”, o processo contra o diplomata português Aristides de Souza Mendes, o fim da perseguição dos judeus em Portugal e as lotarias para apoio aos refugiados.

Numa altura em que a Europa enfrenta graves crises migratórias, esta exposição, fruto da cooperação europeia, analisa questões como exílios e fluxos migratórios numa perspetiva histórica ao longo de vários séculos até à atualidade.

O catálogo da exposição pode ser consultado on-line, bem como o press release. Para mais informações consulte o site da DGLAB


Informações Gerais:

Duração
28 de abril a 30 de junho de 2022

Localização

Edifício da Torre do Tombo, Alameda da Universidade

1649-010 LISBOA

Horário

Segunda a sexta: 9h30-19h30

Sábado: 9h30-12h30

Entrada livre

Entidades promotoras

A exposição “Exílios, Fluxos Migratórios e Solidariedade” foi desenvolvida no âmbito do projeto Tesouros Digitais Europeus por um consórcio formado pelos Arquivos Nacionais de Portugal, Espanha, Malta, Noruega e Hungria, bem como as organizações internacionais Ícarus e MTU – Munster Technological University, apoiado pelo programa europeu “Europa Criativa”.


MJS


Mulheres na ciência: Seomara da Costa Primo (1895 -1986)

(Imagem de Seomata da Costa Primo retirada da internet)

Seomara da Costa Primo (1895-1986) distinguiu-se em diversas áreas, quer como professora do Ensino Liceal e Universitário, quer como investigadora, bem como como desenhadora e ilustradora. Transcrevemos o texto de Guida Aguiar de Carvalho, com ligeiras alterações, disponível no site da Escola Secundária Seomara da Costa Primo

 

“Filha de Maria Luísa Buttuller e de Manuel da Costa Primo, nasceu em Lisboa, na freguesia do Socorro, no dia 10 de Novembro de 1895 e veio a falecer na Amadora, onde viveu cerca de meio século, no dia 2 de Abril de 1986.

Frequentou como aluna o liceu Passos Manuel, enquanto vivia com seu pai na Rua de S. João da Praça. Nesse liceu, terminou o Curso Complementar de Ciências em 1913, entrando de seguida na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde concluiu o Curso de Ciências Histórico-Naturais em 1919.

No decurso do ano letivo de 1917-18 frequentou na Faculdade de Medicina as cadeiras de Histologia e Embriologia. Em 1942 defendeu a Tese de Doutoramento, tendo sido a primeira mulher a doutorar-se em Ciências, o que lhe valeu a divulgação do ocorrido na Imprensa quotidiana bem como o acesso à cátedra de Botânica na Faculdade de Ciências de Lisboa em 1943.

Foi como professora do Ensino Liceal - cargo que viria a acumular com a docência Universitária entre 1921 e 1942 - que desenvolveu intensa atividade tanto no campo científico e pedagógico como no associativo.

Tendo frequentado o Curso do Magistério Liceal, diplomou-se pela Escola Normal Superior e concluiu o Exame de Estado no ano de 1922. Lecionou no antigo Liceu Almeida Garrett e no seu sucessor, Maria Amália Vaz de Carvalho, tendo deixado nas suas alunas uma forte impressão abonatória, que ainda hoje é vivamente recordada.

Foi autora de diversos compêndios para o Ensino Liceal, de Botânica, de Biologia e de Zoologia -profusamente ilustrados com aguarelas e carvões executados por si- que acompanharam gerações de alunos do Ensino Liceal, entre os anos trinta e setenta. O seu gosto pelo desenho e pela pintura permite encontrar no seu espólio um número muito significativo de aguarelas, representando plantas e animais.

O nome de Seomara da Costa Primo surge também associado à Federação das Associações dos Professores dos Liceus Portugueses (cujos Estatutos foram aprovados em Maio de 1926), não só pelo facto de desde 1927, ter feito parte dos seus corpos gerentes, mas igualmente por ter apresentado diversas comunicações nos Congressos realizados pela Associação. 

Pintura

ME/402760/81

Escola Secundária Seomara da Costa Primo

Pintura de aguarela, representando dois pássaros sobre um galho de árvore, de forma realista e pormenorizada. 



Foi pela mão da Professora Seomara que o cinema educativo se estreou no Liceu Maria Amália, no dia 24 de Junho de 1929, com o filme "Chang", de que o suplemento de "O Século" (o "Cinéfilo") faz eco, ao publicar um extenso artigo de Seomara intitulado "«Chang», Uma lição no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho", onde, para além de uma história breve do Cinema, são salientadas as vantagens do cinema educativo como forma de aproximar os alunos da realidade.

No suplemento de "O Século", o "Modas & Bordados", dirigido por Maria Lamas, é revelado o interesse de Seomara relativamente à Cruz Vermelha Infantil, organização ligada à Sociedade das Nações, ao proferir, em Lisboa, no dia 25 de Junho de 1930, uma conferência sob o título "A educação e a cruz vermelha da mocidade".

Quanto à educação, Seomara pensava que: "A educação não consiste já na acumulação de noções por vezes demasiada, numa exagerada fase intelectual -conjunto de noções mal fixadas umas, mal interpretadas outras, por vezes mal usadas todas- consiste antes na preparação do indivíduo para a vida, visando aquela seleção e cultura das qualidades da raça, tornando-o apto a agir e a vencer no meio a que é destinado" (Primo, 1939). Mas, para além desta visão global da educação, também se pronuncia relativamente à necessidade de adoção de novos métodos de ensino - o que, aliás, o discurso curricular oficial irá propor, sem no entanto realizar - e tomando uma posição crítica relativamente aos programas do ensino liceal : "...transformação dos métodos de ensino em métodos ativos, que tendem a favorecer a atividade pessoal da criança, procurando rodeá-la das mesmas condições que encontrará na vida, levando-a a resolver problemas em que é colocada, dentro das suas forças e da sua mentalidade, o que é certo é que também nos nossos programas muito pouco se cuida dos problemas da vida." (Primo, 1930).

Também a especificidade feminina foi objeto de referência, no que concerne ao papel da mulher na sociedade e à educação das raparigas: "Quanto mais esclarecida (...) for [a mulher], tanto mais elevará a sua missão de mãe. A cultura nunca fará mal às raparigas. Poderá resultar melhor até, porque é a mulher, de facto, quem exerce mais influência no espírito dos filhos. Fomentar, pois, a sua cultura, elevar a sua mentalidade, é pedra de toque de um país verdadeiramente civilizado" (Primo, 1943).

Seomara foi autora de inúmeros artigos de índole científica, publicados na imprensa da especialidade, bem como em órgãos de divulgação, tendo sido citada na imprensa estrangeira. Efetuou diversas viagens de estudo de âmbito científico e pedagógico, à França, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suíça.

Imagem parietal de hereditariedade

ME/402436/444

Escola Secundária de Passos Manuel

Quadro de fundo creme, com desenhos de pormenor sobre as Leis de Mendel, a negro e a cores, demonstrando grande rigor científico. 


Apesar de ter lutado pela dignificação da profissão docente e pelo estatuto da mulher na sociedade portuguesa e de ter veiculado esses princípios junto das pessoas que com ela conviveram, os seus últimos anos de vida foram passados com grandes dificuldades de subsistência.”

No decorrer da sua vida, Seomara publicou várias obras de caráter cientifico, alguns manuais escolares e imagens parietais. No Museu Virtual da Educação estão identificados 155 registos da autoria de Seomara da Costa Primo, entre os quais, pinturas, desenhos e imagens parietais de ciências naturais. Este espólio encontra-se distribuído por várias escolas, entre as quais a Escola Secundária D. João de Castro, Escola Secundária de Passos Manuel, Escola Secundária Josefa de Óbidos, Escola Secundária Rainha D. Amélia, Escola Secundária Rainha D. Leonor, Escola Secundária Alves Martins e Escola Secundária Seomara da Costa Primo.

 

MJS 

2022/05/02

Mulheres na ciência: Alice Ball (1892 - 1916)

 

(Imagem de Alice Ball retirada da internet)

Alice Augusta Ball nasceu em Seattle em 1892, filha de James Presley, editor de um jornal, fotógrafo e advogado, e de Laura Louise Ball, no seio de uma família da classe média. Foi uma química norte-americana que desenvolveu o primeiro tratamento eficaz para a lepra. Trata-se da primeira mulher afroamericana a obter uma licenciatura e um mestrado na Universidade do Havai.

A sua família mudou-se para o Havai em 1903, mas regressou aos Estados Unidos um ano e meio depois, devido à morte do seu avô, James Presley Ball, um famoso fotógrafo.

Alice estudou química na Universidade de Washington e obteve graus de bacharelato nas áreas de farmácia e química. Juntamente com o seu orientador, publicou um artigo no Journal of the American Chemical Society com o título de Benzoylations in Ether Solution.

Ball recebeu uma bolsa de estudo para a Universidade do Havai, onde obteve o mestrado em química, tornando-se a primeira mulher afroamericana a obter este grau nesta instituição.

A sua pesquisa de pós-graduação incidiu sobre a composição química e principio ativo de uma planta natural das Ilhas do Pacífico, a kava (Piper methysticum). Procurou igualmente desenvolver um método para isolar os princípios ativos do óleo de chaulmoogra. Este óleo era utilizado para tratar a lepra, mas o seu uso prolongado causava alguns problemas de estômago.

A lepra, doença de Hansen ou hanseníase é uma infeção causada por bactérias. Leva ao aparecimento de granulomas nos nervos, pulmões, pele e olhos que formam lesões e infeções sucessivas. É transmitida por via oral (tosse ou muco nasal) e pode ser tratada atualmente através de antibióticos ou outros medicamentos.

(Desenho de Alice Ball junto à planta Kava, retirado da internet)

Alice desenvolveu um processo para isolar os compostos a fim de os tornar injetáveis. No entanto, faleceu antes de publicar os seus resultados. Foi Arthur L. Dean, presidente da Universidade do Havai, que continuou a pesquisa, publicando os resultados, sem dar créditos a Alice e iniciando a produção em larga escala. Harry T. Hollmann, que já tinha trabalhado com Alice, alertou para esta situação de apropriação de propriedade intelectual.

O método concebido por Ball foi usado até aos anos 40, altura em que surgiram outro tipo de medicamentos.

Alice Ball faleceu aos 24 anos a 31 de dezembro de 1916 em Seattle de causa indeterminada: tuberculose ou envenenamento por cloro.

 

 

MJS

2022/04/28

Mulheres na ciência: Karen Horney (1885 - 1952)

 

(Imagem de Karen Horney retirada da internet)

Karen Danielsen, posteriormente Karen Horney, nasceu na Alemanha em 1885, filha de Berndt Wackels Danielsen, capitão de um barco e extremamente religioso e de Clotilde van Ronzelen. Foi uma importante psicanalista que questionou a visão tradicional freudiana e fundou a psicanálise feminista.

A sua mãe, Clotilde, tinha um espírito bastante mais aberto do que o seu pai. Karen encarava-o como uma figura disciplinadora, sem afeto e com uma clara preferência pelo seu irmão. Desta forma, ficou sempre muito ligada à mãe, que acabou por deixar o pai, levando consigo os filhos. Ainda bastante jovem, Karen teve os primeiros episódios depressivos que a iriam acompanha toda a vida.

Em 1906 entrou no curso de medicina contra a vontade dos seus pais na Universidade de Freiburg. Em 1908 foi transferida para a Universidade de Göttingen e posteriormente para Berlim. Concluiu a licenciatura em 1913. Foi durante a época de estudante que conheceu o seu futuro marido, Oskar Horney, com quem casou em 1909. Em 1920, Karen começou a lecionar no Instituto de Psicanálise de Berlim.

Em 1923, a empresa do seu marido entrou em insolvência. Oskar contraiu meningite, o que lhe alterou profundamente o temperamento. Para além disso, neste ano morreu o irmão de Karen. Tudo isto contribuiu para um agravamento do seu estado mental.

Em 1926, saiu de casa com as suas três filhas e quatro anos mais tarde mudou-se para Brooklyn nos Estados Unidos. Aqui existia uma forte comunidade intelectual judaica, onde Karen conheceu vários académicos de renome.

O primeiro cargo que assumiu foi como Diretora do Instituto de Psicanálise de Chicago. Durante esta época desenvolveu as suas teorias acerca da neurose e da personalidade, publicadas em 1937 na obra The Neurotic Personality of Our Time.

Em 1941 passou a trabalhar no American Institute of Psychoanalysis. No entanto, o seu desvio da psicologia Freudiana fez com que abandonasse o cargo, começando a lecionar na Universidade de Nova Iorque, onde ficaria até à sua morte.

Horney decidiu fundar a sua própria organização, uma vez que considerava a comunidade de psicanálise bastante austera e conservadora: The Association for the Advancement of Psychoanalysis. Foi igualmente responsável pela publicação do The American Journal of Psychoanalysis.

(Imagem de Karen Horney retirada da internet)

A perspetiva de Horney sobre a neurose era diferente da de outros psicanalistas da época que acreditavam que a neurose era uma disfunção mental em resposta a estímulos externos ou experiências negativas durante a infância e adolescência.

Para ela, a neurose era um processo continuo que ocorria ao longo de vida de um indivíduo. Acreditava que a ênfase devia ser colocada na relação parental e na perspetiva infantil dos eventos. Horney estabeleceu as dez necessidades neuróticas: 1. A necessidade de afeto e aprovação; 2. A necessidade de um parceiro; 3. A necessidade de poder; 4. A necessidade de manipulação; 5. A necessidade de reconhecimento social; 6. A necessidade de valorização; 7. A necessidade de realizações pessoais; 8. A necessidade de autossuficiência e independência; 9. A necessidade de perfeição; 10. A necessidade de ter uma vida discreta.

A teoria do narcisismo também foi objeto de reflexão por parte de Horney. Para ela é um tipo de autoestima que não se baseia em realizações genuínas.

Em conjunto com Alfred Adler, Karen fundou a escola Neo-Freudiana. Apesar de reconhecerem o trabalho de Freud, defendiam que as maiores influências na personalidade do indivíduo são as ocorrências sociais na infância e não os desejos sexuais reprimidos. Ao contrário de Freud, Horney pensava que as mulheres tinham apenas “inveja” do poder masculino no mundo. Os homens, por sua vez, “invejavam” a maternidade, o poder de gerar um ser vivo. O complexo de Édipo também foi reformulado por ele. No final da sua vida, Horney sintetizou as suas ideias na obra Neurosis and the Human Growth. The Struggle Toward Self-Realization (1950).

Horney foi igualmente pioneira na área da psiquiatria feminista, uma vez que o comportamento feminino tinha sido negligenciado ao longo do tempo. Na obra The Problem of Feminine Masochism, afirma que a mulher era socialmente incentivada a depender do homem para obter amor, prestígio, riqueza ou proteção. A mulher não buscava a sua autorrealização, mas sim o desejo de agradar, sendo valorizada pelo seu papel na família.

Karen Horney faleceu a 4 de dezembro de 1952 em nova Iorque.

 

MJS

2022/04/25

Mulheres na ciência: Emmy Noether (1882 - 1935)

(Desenho de Emmy Noether junto de algumas das suas equações matemáticas retirado da internet)

Amalie Emmy Noether nasceu em Erlangen, na Alemanha em 1882, no seio de uma família judia, filha de Max Noether, matemático e de Ida Amalie Kaufmann. Foi uma importante matemática, tendo contribuído para um enorme desenvolvimento ao nível da física teórica e da álgebra abstrata. Criou o Teorema de Noether que explica a conexão entre a simetria e as leis de conservação.

Viveu uma infância tranquila, demonstrando ser uma criança bastante inteligente e perspicaz. Sendo a filha mais velha, teve três irmãos: Alfred, doutorado em química; Fritz que fez carreira na área da matemática aplicada; e Gustav Robert que faleceu bastante jovem.

Emmy era fluente em inglês e francês, mas optou por frequentar a Universidade de Erlangen onde era uma das duas alunas do sexo feminino. Apesar das dificuldades, como a necessidade de pedir autorização para participar em algumas aulas, licenciou-se em 1903. Entre 1903 e 1904 estudou na Universidade de Göttingen, onde teve como professores algumas importantes personalidades científicas da época.

(Imagem de Emmy Noether retirada da internet)

Retornou a Erlangen onde escreveu a sua tese, sob a orientação da Paul Gordan, Sistemas Completos de Invariantes para Formas Biquadráticas Ternárias, em 1907.

Entre 1908 e 1915 lecionou na Universidade de Erlangen, sem qualquer tipo de remuneração, substituindo ocasionalmente o seu pai que se encontrava doente. Entre 1910 e 1911, Emmy publicou uma extensão da sua tese. O seu orientador, Paul Gordan, faleceu em 1912, tendo sido sucedido no cargo por Ernst Fischer.

Ernst Fischer seria uma grande influência para Emmy, sobretudo quando lhe deu a conhecer a obra de David Hilbert. De 1913 a 1916, Noether publicou diversos artigos que ampliaram os métodos de Hilbert em objetos matemáticos. Este é o inicio da sua atividade no campo da álgebra abstrata.

Em 1915 David Hilbert e Felix Klein convidaram Emmy para lecionar em Göttingen, o que causou grande polémico pelo facto de ser mulher. Acabou por impor a sua presença, apesar de, nos primeiros anos, não ter tido qualquer salário nem posição oficial. Demonstrou a sua capacidade de provar o Teorema de Noether, que explica como a lei de conservação de energia está associada com a simetria de um sistema físico.

Após o final da Primeira Guerra Mundial, houve uma mudança social significativa que se refletiu num aumento dos direitos das mulheres. Em 1919 a universidade permitiu o ingresso de Emmy e em 1922 recebia o título de Professora, apesar de continuar a não ser remunerada.

Em 1920 Noether, em colaboração com W. Schmeidler, publicou um artigo sobre anéis. No ano seguinte, surge outro artigo sobre a mesma temática, dando origem ao termo anel Noetheriano.

Entre 1924 e 1930, vários matemáticos de todo o mundo chegam à Universidade de Göttingen, entre os quais Bartel Leendert van der Waerden e Pavel Alexandrov, que reconhecem o trabalho verdadeiramente inovador de Emmy.

Nos anos de 1928 e 1929, Noether continuou a sua pesquisa na Universidade de Moscovo, a convite de Pavel Alexandrov.

Em 1932 Emmy Noether e Emil Artin recebem o Prémio memorial Ackermann-Teubner devido às suas contribuições para a matemática.

Em janeiro de 1933 Adolf Hitler tornou-se chanceler da Alemanha e rapidamente se iniciaram as perseguições a judeus. Como tal, Emmy foi despedida da Universidade. Tentou regressar a Moscovo, embora nunca se tenha concretizado, acabando por ser contratada por duas instituições de renome: o Bryn-Mawr College nos Estados Unidos e o Somerville College, em Inglaterra.

Emmy, após várias negociações, optou pelo Bryn-Maer College, onde iniciou os seus trabalhos ainda em 1933. Nesta instituição vai conhecer Anna Wheeler de quem se torna bastante amiga.

Em 1934, começou a lecionar no Instituto de Estudos Avançados, em Princeton. Em abril de 1935, Noether foi submetida a uma cirurgia, tendo falecido em consequência da mesma.

 

MJS 

2022/04/21

Mulheres na ciência: Carolina Beatriz Ângelo (1878 - 1911)

 

(Imagem de Carolina Beatriz Ângelo retirada da internet)

Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda em 1878, filha de Viriato António Ângelo, jornalista e de Emília Clementina de Castro Barreto. Foi a primeira mulher cirurgiã em Portugal e a primeira mulher a votar.

Beatriz viveu a sua infância num ambiente liberal, sendo o seu pai apoiante do Partido Progressista. Frequentou o Liceu da Guarda onde concluiu os estudos primários e secundários.

Com a mudança da família para Lisboa, prosseguiu o seu percurso académico na Escola Politécnica e na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Aqui concluiu o curso de Medicina em 1902, tendo sido a única mulher na sua turma.

(Imagem de Carolina Beatriz Ângelo acompanhada da sua turma na Faculdade de Medicina retirada da internet)

Beatriz casou a 3 de dezembro de 1902 com Januário Gonçalves Barreto Duarte (1877-1910), médico e ativista republicano, do qual teve uma filja, Maria Emília Ângelo Barreto (1903-1981).

Em 1903 apresentou a sua dissertação Prolapsos Genitaes (Apontamentos) e tornou-se a primeira mulher a operar no Hospital de São José. Trabalhou no Hospital Psiquiátrico de Rilhafoles, com a orientação de Miguel Bombarda e acabou por estabelecer o seu próprio consultório particular onde exerceu a especialidade de ginecologia.

A par da carreira profissional, Carolina envolveu-se nos vários movimentos feministas que despontavam pela Europa. Em 1906 ingressou no comité português da organização La Paix et le Désarmement par les Femmes, bem como na Maçonaria. Em 1909 integrou a comissão fundadora da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas que defendia o sufrágio feminino, o direito ao divórcio, a educação das crianças e igualdade de direitos e deveres entre ambos os sexos.

O seu marido vem a falecer em 1910, antes da implantação da República. Com o 5 de outubro, Beatriz envolveu-se na fundação da Associação de Propaganda Feminista que pretendia fundar uma escola de enfermeiras e promover a emancipação das mulheres.

Em 1911, com as primeiras eleições da república, Beatriz Ângelo viu na lei eleitoral uma oportunidade de a reverter a seu favor. De acordo com a mesma, podiam votar “cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”. Considerando preencher todos os requisitos fez um requerimento ao Presidente da Comissão Recenseadora para ser incluída no recenseamento. O pedido foi recusado e carolina apresentou recurso em tribunal que lhe veio a dar razão. Desta forma, tornou-se a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto.

Faleceu a 3 de outubro de 1911 vítima de uma síncope cardíaca.

 

 

MJS