2011/07/22

Espólio Faria de Vasconcelos na Secretaria Geral



O Prof. Doutor J. Ferreira de Marques ofereceu à Secretaria-Geral dois volumes das Obras Completas de Faria de Vasconcelos - estes abrangem a produção literária de Faria de Vasconcelos de 1925 a 1936. J. Ferreira Marques no prefácio do volume 5 refere-se à importância da parte do espólio de Faria de Vasconcelos existente na Secretaria-Geral: "nas Obras Completas decorrem de ter encontrado um exemplar do referido número da Ágora no seu espólio de publicações existente na Secretaria-Geral do Ministério da Educação quando nele realizava consultas".

A Secretaria-Geral é detentora de um importantíssimo espólio bibliográfico vs arquivístico de Faria de Vasconcelos. O espólio bibliográfico está integrado na coleção da Biblioteca Histórica do Ministério da Educação (MESGBHE), que conta com 1.667 exemplares de pedagogia, educação e outras áreas do conhecimento afins (cotados FV). A cotação FV permite-nos reagrupar todo o acervo bibliográfico (o cliente terá acesso sequencial a todos os documentos para além deste facto, qualquer documento pode ser pesquisado per si). Existem ainda 51 exemplares que foram distribuídos com a cota FVv, o que se deve à data de edição dos documentos- post mortem Faria de Vasconcelos.

A importância dessa coleção bibliográfica, para além do valor epistemológico, reside na seleção personalizada de Faria de Vasconcelos – preocupações pedagógicas da época de então. Para além da coleção bibliográfica, a parte do fundo arquivístico, à guarda da Secretaria-Geral, foi classificada em sete séries: (i) Correspondência; (ii) Imprensa; (iii) Recortes de imprensa; (iv) Textos escritos; (v) Cursos, lições de aprendizagem; (vi) Conferências; (vii) Diversos; (viii) Inquéritos e sindicâncias.

Na série Correspondência conta a correspondência recebida e expedida entre o Presidente da Oficina de Teatro, Diretor-Geral do Ensino Superior e Belas Artes, Reitor da Universidade de Coimbra e Subsecretário de Estado da Juventude e Desportos respeitante ao pedido de autorização para a realização da digressão e pedido de subsídio. Na série seguinte, Imprensa, são descritos recortes de imprensa com artigos de Faria de Vasconcelos e/ou sobre ele e a sua obra enquanto pedagogo; jornais e/ou partes de jornais da época. Por sua vez, a série Recortes de imprensa contém recortes de jornais de publicação de conferências, palestras e discursos de Faria de Vasconcelos proferidos no exercício das suas funções oficiais e/ou sobre o seu pensamento enquanto pedagogo. Contém ainda escritos vários sobre o autor e a sua obra, publicados em jornais, alguns destes já depois da sua morte.

Da série Cursos, lições de aprendizagem destacam-se o “Curso de Psicologia Experimental” da autoria de Faria de Vasconcelos, organizado pela Sociedade de Estudos Pedagógicos (impresso); Listagem de examinandos e respetivas classificações; Apreciação das aprendizagens de alunos; “Lições em 1930” no Instituto de Reeducação (textos datilografados).

Destacam-se, ainda, da série Conferências, seis volumes encadernados com conferências, teses e notas com os seguintes títulos: Três Conferências sobre Oliveira Martins (2 vol.); La Aviación; Cualidades del Aviador; Lo que debe ser un Professor; O Movimento da Orientação e da Seleção Profissional; Notas sobre S. Tomás de Aquino, S. Boaventura, S. Alberto Magno; Seleção Moral (apresentado pelo autor no Congresso do Ensino Secundário, a convite da Associação dos Professores de Liceus); As Sanções em Educação (tese apresentada ao Congresso Internacional de Proteção à Infância, efetuado em Paris, de 19 a 22 de julho de 1937).

Para ter uma ideia mais consistente da importância deste espólio, a breves traços, esboçaremos o perfil psicológico de Faria de Vasconcelos – António de Sana Faria de Vasconcelos, filho e neto de magistrados, nasceu em Castelo Branco, frequentou em Braga o Colégio do Espírito Santo, de missionários franceses, o que pode explicar a sua não contaminação pelo positivismo reinante na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Direito, começando durante o curso uma especialização em Ciências Sociais (1900). Em 1904 doutorou-se em Ciências Sociais na Universidade Nova de Bruxelas (cisão progressista de 1894 e 1918 da Universidade Livre de Bruxelas), onde exerceu atividade docente (1904-1915) e a partir da qual desenvolveu atividades de extensão universitária, de membro da Sociedade Belga de Pedotecnia e se integrou no movimento “Educação Nova”. Em 1912, nos arredores de Bruxelas, Faria de Vasconcelos criou a Escola Nova de Bierges-lez-Ware, considerada uma “Escola Nova modelo” por Adolphe Ferrière. A experiência pedagógica de Bierges funcionou apenas em 1912-13 e 1913-14 na Bélgica e foi dada a conhecer em Genève através de conferências e do livro Une école nouvelle en Belgique (1915), sendo o suficiente para deixar um pequeno, mas intenso rasto luminoso na História da Educação. (Cfr. Rodrigues e Rodrigues, 2005:4960).

 

Bibliografia:

 

BANDEIRA, Filomena (2003). Vasconcelos Cabral Azevedo, António Sena Faria de. Dicionário de educadores portugueses. Porto: Asa.


CUNHA, António Augusto Oliveira (1997). Faria de Vasconcelos: pensamento e acção pedagógica. Dissertação de mestrado. Braga: Universidade do Minho.

 

FERRIÈRE, Adolphe (1915). Préface. VASCONCELOS, António FARIA DE (1915). Une école nouvelle en Belgique. Paris e Neuchâtel: Delachaux & Niestlé e Librarie Fischabacher.

 

GOMES, Joaquim FERREIRA (1980). A. Faria de Vasconcelos. Revista Portuguesa de Pedagogia, XIV, p 231-255. [Estudos de história e de pedagogia. Coimbra: Almedina, 1984].

 

RODRIGUES, Carlos Meireles; RODRIGUES, Abel Martins, (ca 2005). Para uma análise da Escola Nova de Faria de Vasconcelos (1880-1939) [on-line].<http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/453CarlosMeireles_e_Abel.pdf>[Consulta: 21 Julho 2011)


2011/07/15

Peça do mês de julho/2024




Corpo humano


Modelo de corpo humano, inventariado com o número ME/403556/99, pertencente à Escola Básica e Secundária de Carcavelos.

Trata-se de um modelo didático que servia para estudo e observação do corpo humano nas aulas de Ciências Naturais. Permite estudar os músculos e o sistema nervoso, mas também os principais órgãos internos, através da abertura na zona torácica.

O uso de modelos anatómicos tem uma longa tradição em contexto das práticas pedagógicas, quer no ensino básico, quer no ensino universitário. Os séculos XVIII e XIX foram os mais significativos ao nível da produção de modelo didáticos, não só pelo rigor científico que apresentam, mas também, pela sua função eminentemente didática e pelo valor artístico.

A compreensão da estrutura e das funções internas do corpo humano foram, desde sempre, uma necessidade sentida pela maior parte dos investigadores e estudantes desta área. Antes da descoberta do raio X (1895), a única forma de conhecer o corpo era através de operações ou da dissecação de cadáveres. Esta prática, no entanto, colocava alguns problemas morais, para além de que os cadáveres eram difíceis de obter, e mais ainda, de conservar. Assim, o uso de modelos aproximados da realidade tornou-se um imperativo.

A coleção de modelos anatómicos do Museu Virtual da Educação reflete a sua importância para história do ensino das Ciências Naturais. A vantagem destes modelos sobre as imagens parietais deve-se ao seu carácter tridimensional e à representação mais aproximada da realidade. Muitos exemplares permitem a remoção dos órgãos internos, para um conhecimento mais profundo da anatomia e da localização dos mesmos.
Os materiais e as técnicas utilizadas no seu fabrico são variadas, podendo referir-se a cera com pigmentos, o gesso e mais recentemente o plástico.


MJS


2011/07/11

Dia Mundial da População - 11 de julho

 

O Dia Mundial da População foi criado pelas Nações Unidas em 1989, visando a sensibilização para diversas questões relacionadas com esta temática e com a necessidade de se encontrarem soluções para vários problemas. A escolha do dia 11 de Julho relaciona-se com o facto de ter sido nesta data que a população mundial atingiu cinco mil milhões de habitantes.

O Fundo das Nações Unidas para a População levará a cabo várias atividades ao longo deste ano, estando em destaque o tema do aumento populacional - sete mil milhões de habitantes em 2012. Este desafio global levanta questões da maior importância quer ao nível da estrutura da urbanização, quer ao nível da sustentabilidade ambiental. De facto, com uma esperança média de vida cada vez mais longa e um nível baixo de fecundidade em alguns países, há necessidade de uma colaboração mundial em vários aspetos para fazer face ao envelhecimento da população. Por outro lado, em países com um índice de desenvolvimento mais baixo, onde se espera um crescimento populacional mais elevado, deve-se apostar no planeamento familiar, e na criação de infraestruturas de apoio na saúde, educação e trabalho.

Não menos importante é a diversidade sócio cultural da população: a variedade de costumes, religiões, raças e crenças que faz de cada comunidade um micro cosmos único. Assim, a Secretaria-Geral do Ministério da Educação, associa-se à celebração deste Dia através de uma exposição de diapositivos representativos da multiculturalidade; são imagens de ontem que perduram até aos nossos dias. Através destas imagens podemos conhecer as festividades indianas, os mercados de Alexandria, os guerreiros Zulu, as celebrações religiosas no Japão ou em Jerusalém, os trabalhos nos campos de arroz, os comerciantes russos, enfim, as famílias de todo o mundo.


Diapositivo
ME/402436/1887
Escola Secundária de Passos Manuel
Diapositivo que mostra vários trabalhadores agrícolas no Japão.



Diapositivo
ME/402436/1932
Escola Secundária de Passos Manuel
Dispositivo que mostra uma criança e dois adultos na Manchúria.



Diapositivo
ME/402436/1985
Escola Secundária de Passos Manuel
Diapositivo que mostra três crianças a fazer uma refeição nos Estados Unidos da América.



Diapositivo
ME/402436/2200
Escola Secundária de Passos Manuel
Diapositivo que mostra quatro mulheres a tocar instrumentos e a dançar no Havai.


Diapositivo
ME/402849/196
Escola Secundária Sá de Miranda
Diapositivo que mostra duas mulheres sentadas junto de uma janela na Finlândia.



Diapositivo
ME/404652/561
Escola Secundária de Pedro Nunes
Diapositivo que mostra várias pessoas fazendo orações junto ao Muro das Lamentações em Jerusalém. 



MJS



2011/07/07

3.º Colóquio Internacional Manuais Escolares


(Capa do manual escolar Leituras II da autoria de Virgílio Couto)

A Secretaria-Geral do Ministério da Educação fez-se representar no Colóquio Internacional sobre Manuais Escolares que decorreu na passada semana, nos dias 30 de junho e 1 de julho de 2011, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa.

O tema deste ano era “Manuais e novas práticas”. Não obstante, várias comunicações abordaram temas relacionados com manuais escolares de épocas passadas e com as práticas escolares que a eles estiveram ligadas. De facto, os manuais constituem um recurso escolar profundamente influenciado pelo seu contexto histórico e social, e sem compreender o seu papel na construção da cultura escolar de todos os tempos é impossível gizar novas práticas nesta era de profundas transformações que vivemos hoje.

Várias apresentações se debruçaram sobre a componente de “politização” dos manuais escolares, independentemente de qualquer categoria geoespacial ou temporal. Caso paradigmático foi a intervenção do investigador Marcus Otto do Eckert – Institute foi International Textbook research (Alemanha). Os testemunhos de Espanha, França, Brasil e Portugal foram concordantes desta politização, para além de se demarcarem com factos opinativos sobre a constituição formal do material didático.

O Grupo de Investigação MANES, que tem trabalhado sobre manuais ibéricos e latino-americanos, apresentou os novos desenvolvimentos que este grupo tem vindo a investigar, ao nível dos exames e de livros de ponto.

Estes dois projetos internacionais que foram apresentados no Colóquio configuram dois importantíssimos recursos para o estudo da manualística, numa perspetiva de História Comparada, uma vez que reúnem e disponibilizam informação sobre manuais escolares de diversos países, possibilitando abordagens comparativas do maior interesse.

A apresentação a cargo dos representantes da Secretaria-Geral do Ministério da Educação teve lugar no painel da tarde do primeiro dia de trabalhos. Este painel foi ainda constituído por outras duas comunicações da responsabilidade de duas investigadoras na área da História e da Literatura respetivamente.

O conjunto das três revelou-se de uma enorme complementaridade. Com efeito, a apresentação da SG-ME assumiu-se claramente com o propósito de divulgação do espólio e dos projetos em curso no Ministério da Educação; e as duas apresentações seguintes testemunharam a utilidade para os investigadores, deste tipo de iniciativas, isto é, de todas as ações que visem o tratamento e a divulgação de espólios levadas a cabo por instituições detentoras de conjuntos patrimoniais significativos para a História da Educação. 


2011/06/28

Peça do mês de junho/2011


Conjunto de ovos no interior de uma caixa de madeira
ME/402187/175
Escola Secundária Martins Sarmento




Conjunto de ovos no interior de uma caixa de madeira
ME/402187/176
Escola Secundária Martins Sarmento



Ninho com um ovo
ME/402187/182
Escola Secundária Martins Sarmento






Ninho e conjunto de ovos


Ninho e conjunto de ovos pertencentes à Escola Secundária Martins Sarmento, inventariados com os números ME/402187/175, ME/402187/176 e ME/402187/182.
A escola dispõe de uma coleção de ovos de várias espécies de aves, utilizados no estudo e observação em contexto pedagógico nas aulas de Ciências Naturais. Estão colocados em caixas de madeira de formato retangular.
O ninho, também utilizado no estudo e observação de espécies animais, é constituído por um conjunto de pequenos ramos e encontra-se colocado sobre um galho em forma de poleiro, fixo a uma base de madeira quadrada.
Faz parte de uma coleção de vários tipos de ninhos elaborados por diferentes aves
Um ninho é uma estrutura construída por aves, neste caso, ou outro tipo de animais, onde são colocados os ovos. Elaborados com ramos de árvores, ervas ou penas, fornecem proteção às crias, onde são alimentadas até poderem encontrar os seus próprios alimentos.
A maior parte das aves constrói ninhos em árvores ou arbustos, mas podem também optar por zonas rochosas, dependendo da espécie. Cada pássaro tem um padrão de construção do seu ninho.
Os ovos, de diferentes formatos e cores, variam segundo a espécie e o local do ninho. Na coleção pertencente à escola existem vários ovos de espécies portuguesas, permitindo um conhecimento mais profundo das suas diferentes tipologias.

MJS

Bibliografia e informação adicional:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Ninho

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ovo

 

Para consultar a história da Escola Secundária Martins Sarmento:

 

http://www.esmsarmento.pt/

 



2011/06/15

3.º COLÓQUIO INTERNACIONAL MANUAIS ESCOLARES: PARTICIPAÇÃO DA SG-ME


(Capa do manual Aprenda a Desenhar)



Vai realizar-se nos próximos dias 30 de Junho e 1 de Julho de 2011, na Universidade Lusófona, em Lisboa, o 3º Colóquio Internacional sobre Manuais Escolares, subordinado ao tema Manuais e Novas Práticas.

Este evento conta com a participação de especialistas internacionais, nomeadamente os investigadores ligados aos dois grandes projetos nesta área: o projeto MANES, com sede na Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED) de Madrid, focalizado na investigação sobre manuais escolares da Europa e América Latinas, de 1820 à atualidade; e o projeto Eckert, coordenado a partir do Institute for International Textbook Research, na Alemanha.

A Secretaria-Geral do Ministério da Educação irá estar representada neste Colóquio, com a apresentação de uma comunicação intitulada «Contributos para um Roteiro dos Manuais Escolares: Metodologias e Etapas de Projectos em Património da Educação». Nesta ocasião serão apresentadas as estratégias e acções relacionadas com manuais escolares que têm sido desenvolvidas no âmbito da política de preservação e divulgação do Património Cultural da Educação, designadamente o projecto BAME (Bibliotecas, Arquivos e Museus da Educação) e o Repositório de História da Educação, que se encontra em curso.

A Secretaria-Geral do Ministério da Educação possui um riquíssimo espólio bibliográfico de manuais escolares dos mais variados autores, épocas e âmbitos disciplinares, que inclui obras desde o século XVIII até à actualidade, e ainda projectos de manuais que não chegaram a ser editados, apresentados a concurso durante o Estado Novo, como é o caso de exemplares manuscritos por autores como Rómulo de Carvalho. Podemos, portanto, falar dos manuais escolares sob diversos pontos de vista: não apenas bibliográfico, mas também arquivístico e museológico.

Instrumento pedagógico central do processo de escolarização, o manual é um dos objectos mais ricos para a compreensão da prática pedagógica. Nele são espelhados os saberes consagrados em cada época, os valores dominantes transmitidos a par com as matérias, e as concepções pedagógicas e orientações práticas defendidas pelos educadores e especialistas nas diversas áreas curriculares.

Nesta comunicação pretende-se contribuir para a divulgação do importante espólio de manuais escolares da SG-ME e realçar as suas potencialidades para o estudo da evolução das práticas pedagógicas e dos saberes curriculares, abordando a temática dos manuais nas suas vertentes bibliográfica, arquivística e museológica.

O contacto com especialistas e representantes de projetos de dimensão internacional será, para a Secretaria-Geral do Ministério da Educação, uma mais-valia e uma oportunidade de aferição e discussão sobre os projetos em curso, numa lógica de melhoria contínua e de aperfeiçoamento das metodologias e estratégias de trabalho.

2011/06/14

PUPILOS DO EXÉRCITO: 100 ANOS DE ENSINO E DE CIDADANIA


(Logotipo do Instituto dos Pupilos do Exército com a frase "Querer é poder")




No Palácio Valadares, ao Chiado, está patente ao público uma exposição que evoca o centenário da criação do Instituto dos Pupilos do Exército. Esta iniciativa conta com o apoio da Secretaria-Geral, que emprestou, para o efeito, alguns livros pertencentes à Biblioteca Histórica do Ministério da Educação.

 

Esta exposição foi instalada num espaço contíguo àquele em que se encontra a exposição «EDUCAR: Educação para todos. O Ensino na Primeira República». Esta proximidade justifica-se pelo facto deste Instituto, criado em Maio de 1911, ser um expressivo exemplo do investimento dos republicanos na Educação e do seu empenhamento na criação de instituições escolares que traduzissem, na prática, o ideário e os valores da República.

Uma das áreas governativas que mereceu maior preocupação por parte dos republicanos, na sequência da Revolução de 1910, foi, como é sabido, a Educação. De facto, 1911 foi um ano muito fértil em trabalho legislativo, tendo sido promulgados vários documentos legais que reorganizam praticamente todo o sistema de ensino português.

 

As reformas do Ensino Superior e do Ensino Primário, dois sectores prioritários do sistema educativo, são estabelecidas em março desse ano. E pouco depois, no mês de maio, será a vez das áreas mais técnicas. São então criados o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior do Comércio (atual ISEG) por decreto de 23 de maio, a que se segue a reforma de todo o ensino agrícola e da investigação agronómica, consignada em decreto de 26 de maio.

Por estes dias, entre estas duas reformas, é criado, a 25 de maio, o «Instituto Profissional dos Pupilos do Exército». O contexto cronológico desta criação dá bem conta do enquadramento e dos objetivos com que é fundado este Instituto, que mais tarde perderá a designação de «Profissional» e fixará definitivamente o seu nome em «Instituto Militar dos Pupilos do Exército».

 

De facto, os Pupilos do Exército nascem como um instrumento modelar para a concretização dos ideais republicanos. O propósito consignado no decreto fundador de nele se formarem «cidadãos úteis à pátria» traduz bem a intenção de praticar, nesta escola, um ensino profissionalizante, de forte pendor prático, orientado para a promoção da autonomia dos alunos, através da aquisição de competências e conhecimentos em áreas técnicas estratégicas e de vanguarda.

 

O fundador dos Pupilos é o General António Xavier Correia Barreto, um militar com forte intervenção política, que virá a ser Presidente do Senado entre 1915 e 1918 e entre 1919 e 1926, além de ser, por duas vezes, candidato à Presidência da República. Mas este militar e político é também um homem de ciência, especializado na área da Química. Com um importante currículo ligado à invenção e produção de um tipo especial de pólvora, que tão importante virá a ser para o conflito Mundial de 1914/18, ele é um dos fundadores, em 1911, da Sociedade portuguesa de Química.

 

O espírito e a marca do fundador estão ligados à criação, nos Pupilos, de «Aulas de Indústria» e «Aulas de Comércio». O Instituto é, desde cedo, apetrechado com instalações laboratoriais e equipamento técnico que permite um ensino prático nestas áreas. Mas há também, uma preocupação muito forte em proporcionar aos alunos uma ‘educação integral’, com uma componente cultural e artística muito expressiva desde os primeiros anos. Muito importante, neste contexto, é a presença, no Instituto, de professores que virão a constar entre os mais importantes pedagogos da História da Educação portuguesa. Destaque, acima de tudo, para Álvaro Viana de Lemos (1881-1972) uma das figuras mais marcantes da Educação Nova, movimento pedagógico inovador que valorizava a autonomia dos alunos e preconizava um modelo de ensino assente em ‘métodos ativos’, entendendo a escola como um local de trabalho e experimentação prática. Outro pedagogo que deixou forte marca como professor dos Pupilos foi João Soares (1878-1970) que viria, mais tarde, a fundar o Colégio Moderno, e deixaria diversos materiais didáticos na área da História e da Geografia, como um monumental Novo Atlas Escolar Português adotado oficialmente para o ensino, em cuja capa figura como «Professor dos Pupilos do Exército» ou os Quadros da História de Portugal, com ilustrações de Roque Gameiro e Alberto de Sousa, recentemente reeditados pela Gradiva.

 

A orientação patente desde os primeiros tempos irá manter-se e revelar-se, por vezes com alguns constrangimentos, ao longo das décadas seguintes. A escolha, em 1936, de D. João de Castro como Patrono da escola corresponde ao mesmo simbolismo de assumir por referência uma figura da ciência e do saber, movido pela curiosidade e espírito de descoberta.

 

A segunda Guerra Mundial virá a acentuar a investimento no ensino técnico e tecnológico. O desenvolvimento industrial do pós-guerra incentiva a formação de quadros especializados, sendo dada especial atenção às tecnologias de ponta, como é o caso da indústria dos moldes, em que Portugal virá a ser líder.

 

A partir dos anos 1960 assiste-se a uma preocupação mais forte com a instrução física. Todo o contexto de guerra colonial faz redobrar o investimento nas atividades gímnicas e desportivas. O ideal de «serviço à pátria», que vem desde a fundação do Instituto, orienta muitos ex-alunos a seguir a carreira das armas e o carácter profissional do ensino praticado permite a preparação de quadros militares com formação técnica especializada. Mas esse mesmo ideal fará com que um grupo largo, de várias dezenas de ex-alunos militares, venha a participar nas conspirações conducentes à Revolução de 1974: primeiro na revolta de Beja, depois na Intentona das Caldas e finalmente no 25 de Abril.

 

Os novos ventos dos anos 1970 chegam aos Pupilos do Exército por diversas vias. Em 1977 o Instituto dá um salto qualitativo importante que é abrir-se ao Ensino Superior. Os cursos então criados, mais uma vez, são fiéis à linha da formação Técnica e Tecnológica e os seus nomes são disso a melhor expressão: Engenharia de Eletrónica e Telecomunicações; Engenharia de Energias e Sistemas de Potência; Engenharia de Máquinas; e Contabilidade e Administração. Esta é uma iniciativa de vanguarda no âmbito das escolas militares de ensino. A saída dos primeiros bacharéis para o mercado de trabalho, neste final dos anos 1970, reflete a mesma preocupação de sempre com uma educação orientada para habilitar os alunos a um desempenho profissional autónomo, mas agora subindo o nível de qualificações.

 

Outro aspeto não menos relevador da abertura a novos tempos é o facto de, no contexto da criação do Ensino Superior - naturalmente em regime de frequência externa e não de internato– o Instituto passar a ter uma frequência mista, sendo então admitidas as primeiras alunas. Ao mesmo tempo, é por esta altura que as primeiras professoras integram o quadro docente dos Pupilos, até então reservado, como os alunos, ao universo masculino.

 

Este processo tem a sua extensão natural já nos dias de hoje com a decisão de tornar, igualmente, o Ensino Básico e Secundário, de frequência mista, sendo as primeiras alunas destas faixas etárias admitidas em 2009. Entretanto, a orientação profissional dos cursos superiores avançou para áreas relacionadas com ecologia, com novas energias e sustentabilidade, sendo atualmente oferecidos os cursos de Técnico de Gestão; Técnico de Manutenção Industrial (vertentes Mecatrónica e Eletromecânica); Técnico de Gestão do Ambiente; Técnico de Energias Renováveis (vertentes: Sistemas Solares e Sistemas Eólicos). Estando neste momento aberto à frequência externa, o Instituto conserva ainda a possibilidade de internato, que vem da sua fundação. Mais do que uma escola, esta acaba por ser uma Casa para os alunos que nela vivem, regularmente, entre domingo à noite e sexta-feira à tarde. Por outro lado, o regime de internato e as instalações que foi necessário erigir para lhe corresponder, permitem facultar aos alunos uma oferta diversificada para além do tempo letivo, desde um apoio ao estudo com maior proximidade, até às atividades extracurriculares, designadamente algumas práticas desportivas pouco frequentes em estabelecimentos de ensino, como equitação, esgrima ou remo.

 

A orientação e os objetivos que nortearam a criação deste Instituto são característicos de uma época sendo, a esse nível, um caso de estudo interessante. Mas parecem, também, ter sido suficientemente válidos para lhe garantir continuidade e mérito. O espírito de coesão e de camaradagem que é apanágio das instituições com regime de internato, tem vindo, neste caso, a ser articulado com uma permeabilidade ao ambiente exterior e uma capacidade de adaptação às mudanças, essenciais nas instituições de ensino dos tempos que vivemos.