D. João
V (1689-1750), “o Magnânimo”, era filho de D. Pedro II e de D. Maria Sofia de
Neuburgo. Casou em 1708 com D. Maria Ana de Áustria.
Este foi o monarca absoluto por excelência em
Portugal, não tendo reunido Cortes durante todo o seu reinado. O principal
ministro foi o Cardeal da Mota.
Numa época de conflitos europeus, D. João
manteve uma política de neutralidade, empenhando-se na defesa dos interesses
portugueses ao nível do comércio ultramarino. Neste sentido assinou o Tratado
de Utreque em 1714 com França e Espanha para que a suserania de Portugal sobre
o Brasil fosse reconhecida.
A chegada do ouro do Brasil marcou todo este
reinado e permitiu um enorme investimento cultural, técnico, científico e educativo.
Tendo em conta a política de opulência, D. João
V mandou edificar inúmeros edifícios, procurando transformar Lisboa numa
capital europeia de prestigio. Podem referir-se alguns projetos como a Igreja do Menino Deus, edificada em 1711
e a reconstrução da zona do Terreiro do Paço. O grande edifício da época foi
sem dúvida o Palácio de Mafra e o
Mosteiro, o maior monumento do barroco português – o Barroco Joanino. As obras
iniciaram-se em 1717 sob a orientação de João Frederico Ludovice.
Com a
construção do Convento de Mafra houve necessidade de recorrer a escultores
estrangeiros. A. Giusti, escultor italiano começou a dirigir a Escola de Escultura de Mafra em 1753. O
Convento também funcionou como Casa de
Risco, orientada por João Frederico Ludovice. A Casa do Risco de Lisboa, deverá ter-se tornado insuficiente para a
procura.
Houve,
assim, uma renovação das artes devido à vinda de pintores e técnicos
desenhadores que ensinaram os operários nas construções. Estas alterações
verificaram-se não só ao nível arquitetónico, mas também ao nível das artes
decorativas, pintura, escultura, ourivesaria, mobiliário, azulejaria e talha
dourada.
A importância dada por D. João V à cultura
levou-o a construir a chamada Biblioteca
Joanina (1717 – 1728) da Universidade de Coimbra e a Torre da Universidade,
concluída em 1733. Como forma de promover o estudo e a investigação aumentou a
verba da Universidade para a compra de livros.
Entre 1730 e 1740 construiu-se o Aqueduto das Águas Livres que prendia
trazer água até à capital. O arquiteto responsável foi Manuel da Maia. Também o
Miradouro de São Pedro de Alcântara
foi edificado neste período.
O projeto mais extravagante foi a Capela de São João Batista, projetada
por Nicola Salvi e Luigo Vanvitelli. Foi construída em Roma e posteriormente
transportada para Lisboa para ser montada na Igreja de São Roque.
A produção literária foi uma das formas de
afirmar Portugal como grande nação, abordando temas como a história, a
geografia ou a língua portuguesa. Com este objetivo foi fundada a Real Academia Portuguesa de História em
1722. A obra de maior relevo da Academia foi a História Genealógica da Casa Real Portuguesa da autoria de António
Caetano de Sousa. Destacaram-se autores como Jacob de Castro Sarmento, António
Ribeiro Sanches, Francisco Xavier de Oliveira.
A música foi outra das áreas de investimento
deste reinado.com a fundação de um seminário de música em 1713. D. João V
introduziu a ópera italiana em Portugal, cerca de 1730 e mandou construir um
teatro de ópera no Palácio de Belém em 1739.
As ciências foram igualmente privilegiadas pelo
monarca, sobretudo a medicina, com traduções de obras estrangeiras. Em 1731 foi
fundada uma escola de cirurgia no Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa e
em 1746, foram aprovados os estatutos de uma academia cirúrgica no Porto. As
outras ciências não tiveram desenvolvimentos particularmente notórios devido ao
papel da Inquisição.
A
necessidade de uma instrução popular generalizada e gratuita começou a tomar
forma durante o reinado de D. João V, apoiado pelas ideias de Martinho de
Mendonça (1693 – 1743) e de Luís António Verney (1713-1792) através do Verdadeiro Método de Estudar.
Martinho
de Mendonça foi um pedagogo cuja preocupação se centrava no processo de
aprendizagem que deveria ocorrer em espaços que motivassem a criança,
fomentando a sua curiosidade natural. Os livros utilizados deviam ter imagens
que captassem a atenção dos alunos. A leitura foi igualmente objeto de estudo e
o pedagogo sugeriu a utilização de jogos e atividades lúdicas para auxiliar
neste processo. O perfil do professor poderia condicionar a aprendizagem e,
desta forma, Martinho de Mendonça mostrou-se contra os mestres autoritários e
despóticos.
Por
seu lado, Verney afirmou que as crianças só teriam condições para a
aprendizagem a partir dos 7 anos. Apesar destas teorias, a prática demonstrava
o contrário: educação rígida, severa e autoritária.
No que
respeita aos Mestres-Escola, a sua diversidade era notória até meados do século
XVIII, uma vez que exerciam estas funções cumulativamente com outras atividades
profissionais. Mesmo quando se dedicavam em exclusivo a esta profissão, a sua
remuneração era variável e indeterminada. Todas as suas ações eram controladas
e supervisionadas pela Igreja.
A
vinda de estrangeirados para Portugal e a divulgação das novas ideias
iluministas diminuiu a esfera de influência da Igreja. A instrução passou a
estar cada vez mais sob a alçada estatal, estabelecendo-se um plano de rede
escolar, consoante a densidade populacional. Criaram-se 479 escolas primárias
que subiu para 526 em 1773. Mais tarde seria lançado um imposto sobre o
consumo, o “subsídio literário”, que financiava estas escolas.
MJS
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