2021/07/12

Lisboa Histórica, Cidade Global - Parte II

 

(Vista da cidade de Lisboa, com o Castelo de S. Jorge, o Tejo e a Margem Sul. Retirada da internet)


O Terramoto de 1755 é um marco na história da cidade e vem alterar toda a situação pois Lisboa fica em ruínas. O responsável pela reconstrução da cidade vai ser Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. As suas reformas são extremamente abrangentes. A nível social, o poder da Igreja é substancialmente reduzido e os Jesuítas são expulsos do país; a aristocracia tradicional é executada e afastada; a Inquisição é extinta e os cristãos-novos acedem a altos cargos governamentais. Ao nível económico fomenta-se o desenvolvimento da indústria e terminam os impostos e direitos alfandegários prejudiciais ao comercio.

Lisboa é reconstruída de acordo com as novas teorias de organização urbana. O projeto é financiado, em parte, pelo ouro do Brasil. A capital enche-se de estaleiros de obras. A nobreza refugia-se nas suas quintas e o Rei instala-se em Belém num palácio provisório.

O projeto de reconstrução é da autoria de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, baseando-se no espírito iluminista e pragmático. As ruas tornam-se largas e retilíneas com uma disposição ortogonal, com iluminação e arejamento. A segurança é reforçada com maior patrulhamento e facilidade de acesso. As regras de construção dos edifícios também são alteradas: existe um esqueleto de madeira, a gaiola pombalina, que tinha uma malha retangular com travamentos das diagonais. O objetivo era que a flexibilidade da madeira conseguisse suportar um terramoto. A madeira assentava num embasamento em alvenaria que daria peso ao conjunto. O rés do chão da maior parte dos prédios destinava-se ao comércio, oficinas ou armazéns. Os edifícios assentavam em estacas que eram inseridas no solo para garantir a solidez da construção. Os prédios teriam paredes corta-fogos a separá-los.

O processo foi acelerado devido à opção de estandardização de fachadas, janelas, portas e azulejos na entrada. O centro da cidade seria a Rua Augusta que ligava o Rossio aos limites norte e sul. Nesta época constrói-se o arco da Rua Augusta e o Terreiro do Paço destinava-se a armazéns e casas comerciais, mas acabou por ser ocupado por ministérios e tribunais. Foi também projetado o espaço da Praça da Figueira, o novo mercado.


(Imagem do Arco da Rua Augusta na Baixa lisboeta. Retirada da internet)

A reconstrução da cidade só terminou cerca de 1806 devido à falta de capacidade económica. Há novos bairros na Estela, Rato, Alcântara, Ajuda, Sapadores e Amoreiras, estimulando a classe média a investir. Surgem igualmente os primeiros cafés como o Martinho da Arcada e o Nicola.

Com o reinado de D. Maria I, o Marquês de Pombal é afastado e a nobreza e o clero retomam as suas posições de destaque. É construída a Basílica da Estrela e o Teatro de São Carlos.

As invasões francesas alteram novamente as circunstâncias, sobretudo com a saída da Família Real para o Brasil. A de tropas inglesas prejudicou grandemente a burguesia lisboeta. De seguida, os vários anos de lutas liberais enfraqueceram o país.

No entanto, é implantado o projeto de iluminação pública de Lisboa, entre 1823 e 1848. São construídas novas redes de estradas, surgem os barcos a vapor e lança-se o caminho de ferro em 1856. Lisboa é uma cidade pobre e suja, inserida num país com um enorme atraso económico, educativo e mesmo civilizacional.

Fontes Pereira de Melo leva a cabo várias reformas: a rede de caminhos de ferro com ligação entre Lisboa e Porto; novas estações de comboios como a Estação do Rossio e a Estação de Santa Apolónia; a implementação da luz elétricas em 1878.

Torna-se premente fazer uma reabilitação urbana. Nesse sentido, apoia-se o uso de azulejos ou a pintura rosa das fachadas dos prédios. São criados sistemas de esgotos e de tratamento de água, as ruas tornam a ser calcetadas, surgem os transportes coletivos, elétricos e elevadores. O Chiado é o centro cultural e comercial da cidade, com novos cafés, grémios e grandes armazéns da moda.

Em 1886, o Passeio Público é substituído pela Avenida da Liberdade da autoria de Ressano Garcia. A partir daqui surge um novo eixo urbano apoiado pela Praça do Marquês e pelas Avenidas Novas. Os edifícios públicos são uma constante, como o Liceu Camões (1907) ou a Maternidade Alfredo da Costa (1909). Com a construção da Avenida Fontes Pereira de Melo, este eixo estende-se até à Praça Duque de Saldanha e à Avenida da República. Em 1892 o Campo Pequeno acolhe a Praça de Touros.

A cidade transforma-se com o surgimento de novos bairros: Campo de Ourique, Estefânia, Avenida Almirante Reis. A Baixa perde a sua importância, embora funcione como centro comercial. Surgem teatros, jardins (Jardim da Estrela) e posteriormente, bairros operários. Com o desenvolvimento industrial, os proletários que trabalham nas fábricas vivem em bairros degradados, espalhados por várias zonas da cidade.

Em finais do século XIX, a indústria predominante em Lisboa é a do tabaco, a par dos têxteis, vidros, conservas e borrachas. As zonas industriais localizam-se em Alcântara, Bom Sucesso e Santo Amaro. As classes mais pobres vivem em bairros de lata nos arredores da cidade ou instalam-se em terrenos abandonados construindo núcleos fechados conhecidos como pátios. Os bairros operários multiplicam-se.

Com o fim da monarquia, o período da República é bastante turbulento. Segue-se o período de ditadura liderado por Salazar. Nesta época Lisboa tem um enorme crescimento demográfico favorecido pela recuperação económica.

O êxodo rural atinge níveis elevados, sobretudo nos anos 50 e 60. Os arredores de Lisboa estão cheios de bairros miseráveis, onde se agrupavam estes camponeses desenraizados.

Após o 25 de abril de 1974 e com a adesão a União Europeia em 1986, surgem novos planos urbanísticos de realojamento desta população. A renovação de espaços como a Mouraria e o impulso dado pela Expo 98 contribuíram decisivamente para um novo traçado de Lisboa.


MJS

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