2021/01/28

Património Material de Portugal: Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém

(Imagem da fachada do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa. Retirada da internet)


O Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém foram declarados património mundial pela UNESCO em 1983. A importância dos dois monumentos deve-se, não só ao facto de serem peças de arquitetura com inegável valor histórico e artístico, mas também por serem parte integrante da cultura e identidades portuguesas e um símbolo da tolerância e diálogo com outras culturas.

O Mosteiro dos Jerónimos, cuja designação correta é Mosteiro de Santa Maria de Belém é um monumento erigido em Belém, Lisboa, no século XVI, pertencente, à época, à Ordem de S. Francisco.

A sua construção foi iniciada por D. Manuel I e tornou-se um dos epítetos da arte manuelina por excelência. A zona onde foi implantado desenvolveu-se devido ao comércio marítimo e à produção naval. Todo o processo dos Descobrimentos veio a tornar esta área um porto privilegiado, sobretudo a partir da construção da Ermida de Santa Maria de Belém, a mando do Infante D. Henrique em 1452. Instalaram-se serviços da canalização de água, casas e desbravamento de terrenos para a agricultura.

Posteriormente, cerca de 1501, D. Manuel I transformou esta pequena ermida num convento, contribuindo para tal o aumento de verbas proporcionado pelo comércio com o Oriente. O monumento seria um importante elemento de propaganda régia e glorificação de um reinado de exceção.

Utilizando o calcário da zona envolvente, a construção do Convento levou centenas de anos e esteve a cargo de vários mestres. Foi dada a sua utilização à Ordem de São Jerónimo que aqui permaneceu até à época da extinção das ordens religiosas.

Durante o reinado de D. Manuel houve duas fases de construção. Diogo de Boitaca foi responsável pela primeira, sendo da sua autoria o traçado do mosteiro e da igreja. A partir de 1517 e até 1530, João de Castilho coordenou a empreitada, sendo ele o autor da porta axial, porta sul, sala do Capítulo, sacristia, claustro, refeitório e capelas do coro. A sua presença alterou grandemente o estilo decorativo, passando-se do gótico para o classicismo renascentista.

(Imagem dos claustros do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa. Retirada da internet)

O claustro é a primeira construção do género em Portugal, com dois andares e planta quadrada, considerado uma obra prima da arquitetura mundial. Nele se pode ver a influência de Diogo de Boitaca, que o projetou, de João de Castilho que o alterou e Diogo de Torralva que marcou a sua conclusão. Aqui se misturam uma profusão de estilos e géneros, com símbolos religiosos, régios e elementos naturalistas.

Mais tarde, Diogo de Torralva assume este cargo até 1551. Jerónimo de Ruão irá concluir o edifício, tendo trabalhado no projeto de 1563 a 1601 marcando uma viragem para o estilo manuelino.

A planta original incluía a igreja, o claustro e várias dependências anexas, havendo inúmeros acrescentos e alterações posteriores.

No século XX foram feitas várias obras de restauro e de conclusão de algumas áreas, nomeadamente a inclusão de vitrais da autoria de Abel Manta.

No âmbito da Exposição do Mundo Português, em 1940, o Estado Novo efetuou várias alterações e restauros.

A Torre de Belém, cuja designação correta é Torre de S. Vicente é uma fortificação que se situa nas imediações do Mosteiro dos Jerónimos. Inicialmente cercada por água, a Torre foi envolvida progressivamente pela praia. É igualmente uma das grandes construções de D. Manuel I, iniciada em 1514, conjugando a tradicional torre de menagem com o baluarte, ou seja, fazendo a transição entre a arquitetura medieval e o renascimento. Esta Torre pertence a um plano defensivo iniciado por D. João II, que inclui um conjunto de várias torres na linha da costa do Tejo, como a Torre de São Sebastião da Caparica (1481) e a Torre de Santo António de Cascais (1488).

(Imagem da Torre de Belém em Lisboa. Retirada da internet)

O arquiteto Francisco de arruda foi o responsável pelo inicio da obra em 1514 e pelo traçado do monumento, que se caracteriza pela profusão de elementos manuelinos, com aplicações ornamentais icónicas e influências islâmicas. Na decoração exterior observamos brasões de armas de Portugal e cruzes da Ordem de Cristo, a par das cordas e elementos marítimos. Ao nível da estrutura, é composta por dois elementos, a torre e o baluarte, com guaritas cilíndricas que terminam em forma de cúpulas. A torre está dividida em cinco andares: Sala do Governador, Sala dos Reis, Sala de Audiências, Capela e Terraço da torre.

Diogo Boitaca, também encarregue da construção dos Mosteiro dos Jerónimos, continuou esta empreitada que se concluiu em 1520. O primeiro alcaide da Torre foi Gaspar de Paiva.

A sua função defensiva foi perdendo importância, sobretudo a partir do domínio filipino, quando se tornou uma masmorra para prisioneiros políticos.

(Imagem da Torre de Belém em Lisboa. Retirada da internet)

Após o terramoto de 1755, a Torre foi utilizada para controlar os navios que chegavam ao Tejo, numa tentativa de evitar o saque da cidade.

Durante o reinado de D. Maria I a Torre assumiu um papel defensivo de grande importância, sobretudo aquando das Invasões Francesas.

Com D. Miguel I, este espaço voltou a ser utilizado como masmorra para oponentes políticos, a par do uso como controlo alfandegário.

D. Maria II procedeu a várias reformas na Torre de Belém que também passou a apoiar as comunicações através da instalação de um telégrafo (1810) e de um farol (1965).

A Torre de Belém é, assim, um dos mais emblemáticos monumentos de Portugal, refletindo a identidade portuguesa, o espirito das descobertas e a paixão pelo mar.


MJS

 

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