2025/07/17

Peça do mês de julho/2025

 




Conjunto de insetos

 

Conjunto de insetos utilizado em contexto das práticas pedagógicas de Ciências Naturais. Trata-se de um conjunto incompleto de 14 exemplares conservados em resina, para demonstração das características dos animais: besouro tropical, libélula asiática, aranha teia de funil, percevejo negro, fulgorídeo de Samatra, escaravelho veado, percevejo de chumbo, larva de libélula, vespa papeleira, cerambicídeo vermelho, aranha espinhosa, escaravelho veado do Bornéu, escaravelho adulador e tarântula. Todos os insetos estão identificados individualmente com etiquetas e numeração.

Está inventariado com o número ME/404652/717 e pertence ao espólio museológico da Escola Básica e Secundária Anselmo de Andrade.

 MJS


2025/07/14

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: João dos Santos (1913 – 1987)

  

(Imagem do autor retirada da internet)


João Augusto dos Santos nasceu a 15 de setembro de 1913 em Lisboa, no seio de uma família de republicanos e defensores da classe operária. Filho de Augusto Santos, alfaiate e de Justina de Jesus Santos, frequentou a escola primária a partir de 1919, enfrentando um problema de dislexia que o marginalizou. O seu pai proporcionou-lhe uma vida ao ar livre e o contato com pessoas de várias profissões.

A partir de 1924 passou para o Liceu Gil Vicente e em 1929 ingressou na Escola Superior de Educação Física que concluiu em 1936. Durante este período interessou-se por obras de pedologia, pedagogia e psicologia. Lecionou no ensino particular e deu aulas gratuitas de ginástica às crianças dos bairros carenciados de Alfama e Barcarena.

Em 1931 frequentou o curso de Medicina, em Coimbra, que abandonou ao final de um ano. Conheceu Viana de Lemos que se tornou se amigo e que João dos Santos considerou sempre um modelo de pedagogo.

Em 1934 retomou Medicina em Lisboa, tendo concluído o curso em 1939. Em 1940 seguiu a especialização em Psiquiatria Infantil sob a orientação de Vítor Fontes, no Instituto Aurélio da Costa Ferreira. Em 1941, especializou-se em Psiquiatria Geral, orientado por Barahona Fernandes nos Hospitais Miguel Bombarda e Júlio de Matos.

Em 1944 procedeu a mudanças estruturais na Secção Infantil do Hospital Júlio de Matos: maior rigor científico, observações psicopatológicas, novas terapias, formação do pessoal hospitalar, educação e formação das crianças.

Em 1945 fez um estágio no serviço de Neurologia do Hospital Escolar, orientado por António Flores. No Instituto Aurélio da Costa Ferreira, João dos Santos rompeu com a médico-pedagogia da instituição, pois não concordava com a “psiquiatrização” das dificuldades de aprendizagem das crianças, que eram rotulados como “débeis mentais”. As dificuldades destas crianças deviam-se, em grande parte dos casos, a problemas familiares e a ambientes sociais desfavoráveis. Como tal, abandonou o Instituto e ainda em 1945 foi transferido para os Serviços de Psiquiatria Geral do Hospital Júlio de Matos.

Em outubro deste ano participou numa reunião do MUD (Movimento de Unidade Democrática) assinando um documento que pedia eleições livres, lutando por ideais de democracia e liberdade. Em consequência, em 1946, foi despedido do seu cargo e proibido de entrar em qualquer hospital de Lisboa. Recorreu ao exílio, em Paris, onde trabalhou como funcionário público.

Os anos em Paris foram profícuos no desenvolvimento intelectual do educador que contatou com vários vultos internacionais da psicologia e psiquiatria, bem como cientistas, artistas e políticos. Em 1947 foi admitido pela Comissão de Ensino da Sociedade Psicanalítica de Paris e em 1948 participou no Congresso Mundial dos Intelectuais para a Paz.

1950 foi o ano de regresso a Portugal, tendo começado a trabalhar na clínica de Barahona Fernandes. Durante este período lutou por uma ação concertada entre a educação e a saúde e tornou-se participante de um grupo da Seara Nova, estudando a reforma do ensino. Promoveu inúmeras palestras na área da Psiquiatria infantil e incentivou a criação de equipas nos Serviços de Saúde Mental que interagissem com os pacientes e a respetiva família.

Entre 1951-52 fundou os primeiros centros psicopedagógicos em Portugal a funcionar n’ A Voz do Operário e no Colégio Moderno. Em 1952, em colaboração com a enfermeira Rosélia Campos, criou a Secção de Higiene Mental no Centro de Assistência Materno-Infantil de Campo de Ourique que se especializou na prevenção de distúrbios infantis através da ajuda à grávida, uma iniciativa verdadeiramente inovadora em todo o mundo.

Em 1954 participou na fundação do Colégio Eduardo Claparède e criou um Seminário Psicopedagógico promovendo o diálogo entre professores e técnicos e, posteriormente, entre pais, alunos, professores e técnicos.

Em 1955 criou o Centro de Recuperação Visual e Classes de Amblíopes (mais tarde Centro Infantil Hellen Keller) na Liga da Profilaxia da Cegueira em conjunto com Henrique Moutinho e Maria Amália Borges. Voltou a ser admitido no Hospital Júlio de Matos, dirigindo a Secção Infantil.

Juntamente com outros profissionais fundou, em 1956, a Liga Portuguesa dos Deficientes Motores; em 1958, a Associação Portuguesa de Surdos e a Secção de Paralisia Cerebral da Liga Portuguesa de Deficientes Motores; em 1959, o Dispensário e Centro de Reabilitação para Cegos da Fundação Sain; em 1964, a Secção de Saúde Mental no Centro Materno-Infantil José Domingos Barreiros; em 1965, o Centro de Saúde Mental Infantil de Lisboa; em 1971, a Liga Portuguesa contra a Epilepsia; em 1973, a Sociedade Portuguesa de Psicanálise.

Após o 25 de abril de 1974 integrou uma Comissão para regulamentar a política de proteção à saúde materno-infantil, tendo projetado a criação do Instituto da Criança. Em 1975 foi responsável pelo projeto A Casa da Praia que fornecia apoio pedagógico às crianças da área em que se inseria.

Com a criação da nova Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa em 1977, passou a lecionar aqui, coordenando o Curso de Psicopatologia Dinâmica até 1982. Até falecer participou em rúbricas na rádio e publicou vários artigos.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


2025/07/10

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo II – Os Edifícios dos Centenários (Parte I)

 

(Imagem da capa do Mapa Definitivo das Obras das Escolas Primárias - Plano dos Centenários)


 

II – Os Edifícios dos Centenários

    1. A Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias

    2. Os Novos Projetos

 

Em 1943 foram distribuídos 500 exemplares do Mapa Definitivo das Obras de Escolas Primárias: Plano dos Centenários junto dos Governos Civis, Juntas de Província e Câmaras Municipais. Procedeu-se igualmente à implementação de um Questionário que deveria ser preenchido pelos Municípios e que permitiu avaliar as condições locais para iniciar as construções.

Para dar resposta ao tratamento administrativo de todas estas questões, foi criada a Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias. Em 1944 deu-se inicio à I Fase do Plano dos Centenários. Os planos tipo inicialmente previstos foram reapreciados, baseando-se nas mesmas plantas e obedecendo a dois tipos: edifícios para um só sexo ou edifícios com separação para os dois sexos. A economia de construção esteve subjacente a este planeamento, reduzindo-se os pormenores arquiteturais à exceção da “chaminé algarvia” que caraterizou o Tipo Alentejo.

No que respeitou à Direção dos Edifícios Nacionais do Norte, a cargo do Arquiteto Manuel Fernandes de Sá, os projetos foram os seguintes:

 

(Imagem dos Projetos Aprovados em 1944 do Arquiteto Manuel Fernandes de Sá)

 

(Peças desenhadas dos edifícios de 1 Sala Tipo Douro - Granito e Douro Tijolo (lado esquerdo) e do Tipo Minho- Granito e Minho-Xisto (lado direito)


(Peças desenhadas dos edifícios de 2 Salas, 2 sexos - Tipo Douro - Granito e Douro Tijolo (lado esquerdo) e do Tipo Minho- Granito e Minho-Xisto (lado direito)




Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.

MJS


2025/07/07

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: João Diogo (1868 – 1923)

 

(Imagem do autor retirada da internet)


 

João Diogo do Carmo nasceu a 14 de abril de 1868, em Lamego, filho de um médico que faleceu quando tinha 11 anos. Frequentou a Escola Politécnica do Porto onde se formou em Ciências Físico-Naturais.

A sua vida profissional iniciou-se com a docência no Liceu e no Colégio de Lamego. Mais tarde, já no Porto, exerceu funções de professor no Colégio de Santa Maria, no Colégio Nossa Senhora da Glória e no Colégio São João da Foz do Douro.

Em 1902 publicou A nova reforma do ensino secundário em França. Em 1905 tornou-se proprietário do Colégio de Nossa Senhora da Boavista, no Porto, do qual foi diretor até 1923. Em 1906 criou um jardim de infância anexo ao Colégio, tendo adotado o método fröbeliano. Este método encarava a educação como um processo global de transmissão de conhecimentos académicos, físicos, emocionais e sociais. Salientava a importância do brincar e da exploração do mundo ao redor da criança, sendo o educador um mediador no processo de aprendizagem.

Em 1909 introduziu os trabalhos manuais de cartonagem e modelação na instrução primária e em 1912, os trabalhos em madeira, vidro e ferro. Neste ano fundou igualmente a Biblioteca da Educação, uma coleção de livros da Livraria Chardron, com o objetivo de orientar pais e professores na educação da criança.

Em 1913 apresentou ao parlamento a proposta de criação de uma Escola Nova de caráter público, que foi rejeitada. João Diogo sempre defendeu esta corrente, criticando a escola tradicional. A Base XII da proposta de lei definiu alguns princípios básicos da escola nova portuguesa:

- educação física: vida ao ar livre, trabalhos manuais obrigatórios, agricultura e jardinagem;

- educação intelectual: ausência de memorização, privilegiando a reflexão, adoção do método científico e aplicação da psicologia;

- educação moral: liberdade moral que remeta para uma regra individual que venha de dentro para fora, educação para a responsabilidade e autonomia, mérito pessoal e neutralidade religiosa.

No seu Colégio, o educador pôs em prática estes princípios, valorizando os trabalhos manuais, encaminhando os alunos para as suas aptidões profissionais, fazendo visitas de estudo, colónias de férias, sociedades literária e musicais, entre outros. João Diogo instituiu um código de conduta, os 13 preceitos de Franklin: “temperança, silêncio, ordem, resolução, economia, trabalho, sinceridade, justiça, moderação, asseio, tranquilidade, castidade e humildade”. 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


2025/07/03

As Bibliotecas e a História - A Casa da Sabedoria - Bagdade (atual, Iraque)

 

«Uma biblioteca, antes de o leitor exercer uma escolha, é como o caldo primordial de átomos do qual toda a vida emergiu. Está tudo ao alcance de uma pergunta: cada ideia, cada metáfora, cada história, a identidade de cada leitor individual.»

                                                           (Alberto Manguel, pág. 16)

 

A capital do Iraque, Bagdade*, desde sempre tem desempenhado um papel de grande relevo na vida cultural árabe, sendo o lar de escritores, músicos e artistas de todas as áreas. Se recuarmos ao século IX e percorrermos as artérias da atual capital do Iraque, deparamos com um verdadeiro caldo de culturas e uma miscelânea de línguas e de ideias. Na verdade, desde cedo, esta grande cidade tornou-se rapidamente um centro cultural mundial, acolhendo mais de um milhão de habitantes.

* Nota: Bagdá ou Bagdade ou Baguedade ou Bagdad; Fonte: https://pt.wikipedia.

 

Retrato de al-Mansur.
Fonte: https://pt.wikipedia

 

História e Fundação

Em meados do século IX, no coração deste fervilhar de diversidade, foi criada a Grande Biblioteca de Bagdade, também conhecida como Casa da Sabedoria (“Bayt al-Hikma”). Foi mandada erigir pelo segundo califa da dinastia abássida Abu Jafar al-Mansur, ou Almançor (reinou: 754 - 775), homem de elevado intelecto e amante das artes e da ciência, sendo mais tarde ampliada pelo seu filho Almamune (reinou: 813 - 833).

Muitos mestres eruditos muçulmanos fizeram parte deste centro educacional, partilhando informação, ideias e cultura. Como diríamos nos tempos de hoje, a Grande Biblioteca tornou-se um centro incubador do saber, atraindo estudiosos e académicos de todo o mundo, todos contribuindo para o progresso e o conhecimento do mundo. Durante a vigência de Almamune, foram construídos observatórios e a Casa da Sabedoria tornou-se o centro de estudo das humanidades e das ciências, agrupando a matemática, a astronomia, a medicina, a alquimia e a química, a zoologia, a geografia e a cartografia. Partindo de textos persas, indianos e gregos (ex.: Pitágoras, Aristóteles, Hipócrates, Euclides), os estudiosos acumularam uma grande coleção de saber sobre o qual desenvolveram as bases para novas descobertas. Bagdade tornou-se conhecida como a cidade mais rica do mundo e verdadeiro centro do desenvolvimento intelectual.

 

«À semelhança dos seus predecessores de Alexandria, os bibliotecários europeus procuraram Aristóteles e encontraram-no, meticulosamente editado e anotado por eruditos muçulmanos como Averróis e Avicena, seus principais intérpretes no Oriente e no Ocidente.

A adoção de Aristóteles pelos árabes começa por um sonho. Certa noite do início do século IX, o califa al-Ma’mun, filho do quase lendário Harune Arraxide, sonhou com uma conversa. O interlocutor do califa era um homem pálido, de olhos azuis, fronte ampla e cenho franzido, sentado num trono, como um rei. O homem (o califa reconheceu-o com a segurança que nos assiste a todos num sonho) era Aristóteles, e as palavras secretas que trocaram inspiraram o califa a recomendar aos eruditos da Academia de Bagdade que consagrassem os seus esforços, dessa noite em diante, à tradução do filósofo grego.»

 

(Alberto Manguel, págs. 254 - 255)

 

Atividade e Importância

As atividades da Biblioteca eram muito diversas e intensas. Nesta espécie de “academia”, tradutores, cientistas, escribas, autores, homens de letras e escritores costumavam reunir-se no final de cada dia a fim de traduzir, ler, escrever, debater e dialogar. O conceito de "catálogo de biblioteca" foi introduzido na Casa da Sabedoria e noutras bibliotecas medievais, nas quais os livros eram organizados por géneros e categorias específicas.  De referir que muitos manuscritos e livros sobre os mais variados assuntos científicos, e em diversos idiomas, foram traduzidos na Casa da Sabedoria. De facto, uma das facetas mais desenvolvidas pela biblioteca foi a da tradução. Como consequência, a Casa da Sabedoria ou Casa do Saber, para além das funções de biblioteca ganhou renome como centro de traduções à época. Foi, mesmo, uma instituição chave no denominado “movimento das traduções”.

 

O Movimento das Traduções

O “movimento de tradução” não era apenas um projeto; era uma cruzada empreendida pelo conhecimento. Foi iniciado pelo Califa Almamune, o responsável pela expansão da Casa da Sabedoria. Enviou estudiosos às bibliotecas do mundo inteiro para compulsar os seus textos mais antigos; textos que acumulavam o saber de milénios. Chegados a Bagdade, estes textos de autoria dos mais reputados sábios e filósofos não eram apenas traduzidos –  eram lidos, vertidos para o árabe, glosados com comentários e enriquecidos com ulteriores apontamentos. Este acumular de ideias despoletou novas correntes filosóficas e propalou o avanço das mais diversas disciplinas: matemática, medicina, engenharia, etc. A Casa da Sabedoria adquiriu reputação como centro de aprendizagem e em muito contribuiu para que Bagdade se tornasse o epicentro do mundo medieval.

 

Cerco de Bagdade (1258).
Fonte: https://pt.wikipedia

 

Invasão e Catástrofe

Em 1258 uma calamidade atingiu a Casa da Sabedoria. A geopolítica do Oriente e da Europa, viu-se ameaçada por um poder militar que não encontrava paralelo: o Império Mongol e a sua imparável vontade e poder expansionista. Bagdade, cidade onde tanta riqueza se havia acumulado, era um alvo cobiçado. Com a chegada e o assalto dos mongóis, séculos de tesouros e bens acumulados foram vandalizados e saqueados. Mesquitas e palácios, tudo foi destruído e incendiado. O mesmo fim teve a Casa da Sabedoria, meca para a comunidade mundial de estudiosos, reduzida a ruínas e cinzas. Segundo reza a lenda, foi atirado para o rio Tigre um número tão elevado de manuscritos que as suas águas ficaram tingidas do negro da tinta. A destruição do edifício e dos manuscritos que continha no seu interior representou a quase completa extinção de todo um vasto conjunto de conhecimento acumulado. Conhecimento tão vasto e importante que poderia ter alterado de modo radical o curso da história da humanidade. Trabalhos de investigação com caráter único e importância sem paralelo – por exemplo nas áreas da matemática e álgebra –, foram, simplesmente, dizimados.

Esta catástrofe significou a perda para o mundo, de um momento para o outro, da possibilidade de grandes descobertas e avanços. A perda de obras como a de Euclides “Elementos de Geometria”, por exemplo, não só apagou traços fundacionais da geometria e do cálculo, como também restringiu avanços que poderiam ter surgido mais cedo, por exemplo, na área da arquitetura. Se a Casa da Sabedoria não tem ardido não se teriam perdido, igualmente, avanços importantes efetuados no domínio da astronomia, há muito iniciados com Ptolomeu.

 

Em conclusão, a história da Casa da Sabedoria representou o esforço de um povo na preservação e disseminação do conhecimento; mas não só na preservação da sua própria história, como também da história de muitas civilizações antigas.

 

JMG


REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA:

(BIBLIOGRAFIA, WEBGRAFIA e ILUSTRAÇÕES)

 

BARBIER, Frédéric (2018). De Alexandria às bibliotecas virtuais. São Paulo: EDUSP.

FÉBVRE, Lucien; MARTIN, Henri-Jean (2000). O aparecimento do livro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

LYONS, Jonathan (2011). A casa da sabedoria. Lisboa: Editorial Presença.

MANGUEL, Alberto (2010). Uma história da leitura. Lisboa: Editorial Presença.

THOMPSON, James Westfall (1940). Ancient libraries. Berkeley: University of California Press.

VALLEJO, Irene (2020). O infinito num junco. Lisboa: Bertrand Editora.

WIKIPEDIA (2025). Al-Mansur. [em linha]. [Consult. 22.04.2025]. Disponível: https://en.wikipedia.org/wiki/Al-Mansur

WIKIPEDIA (2024). Almançor (califa). [em linha]. [Consult. 06.05.2025]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alman%C3%A7or_(califa)

WIKIPEDIA (2024). Bagdade. [em linha]. [Consult. 14.05.2025]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bagd%C3%A1

WIKIPEDIA (2024). Casa da sabedoria. [em linha]. [Consult. 17.04.2025]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_da_Sabedoria

WIKIPEDIA (2023). Cerco de Bagdá. [em linha]. [Consult. 20.05.2025]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Bagd%C3%A1_%281258%29


2025/06/30

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo I – O Plano dos Centenários (Parte 2)

 

(Imagens do edifício Rogério de Azevedo - Tipo Douro (1935) e, em baixo, o mesmo edifício modificado pela DENN)


 

I – O Plano dos Centenários

3.    As Primeiras Escolas dos Centenários

 

Em 1941 a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais decidiu avançar com a construção de 200 edifícios que se distribuiriam da seguinte forma:

Região Norte – Braga, Porto e Viana do Castelo;


(Imagem da geminação de um edifício de 1 sala - Tipo Alto Minho - Alçado principal e planta)


Região Centro – Aveiro, Coimbra e Leiria;


(Imagem da geminação de um edifício de 1 sala - Tipo Beira Litoral - Alçado principal e planta)


Região Lisboa – Lisboa, Santarém e Setúbal;


(Imagem da geminação de um edifício Raul Lino de 1 sala - Tipo Alentejo e Ribatejo, 1942)


Região Sul – Beja e Faro.

(Imagem do projeto especial para a Escola primária de Monte Branco, vendas Novas do Arq. Alberto de Sousa)


Cada uma destas regiões contaria com um total de 50 escolas:

30 de 1 sala de aula;

10 de 2 salas de aula;

6 de 3 salas de aula;

4 de 4 salas de aula.

No que respeitava ao tipo de projetos ficou decidido que o Norte iria adotar os tipos Rogério de Azevedo, com modificação da porta do tipo Douro. No Centro vigoraria o tipo Beira Litoral de Rogério de Azevedo (Aveiro e Coimbra) e o tipo Estremadura – Cantaria de Raúl Lino (Leiria).

Nos casos em que a falta de instalações obrigasse à frequência de alunos de ambos os sexos, determinou-se em 1939, que essa frequência fosse feita por dois turnos, evitando a coeducação. Existiam igualmente as Escolas Duplas, edifícios geminados, totalmente independentes.

A execução das primeiras escolas do Plano dos Centenários foi difícil, uma vez que os materiais escasseavam, em virtude do eclodir da Segunda Guerra Mundial.

O balanço das 200 escolas que se pretendiam construir foi, em 1945, o seguinte:

Direção dos Edifícios do Norte – 44 edifícios com 94 salas;

Direção dos Edifícios do Centro – 25 edifícios com 48 salas;

Direção dos Edifícios do Sul – 1 edifício com 2 salas;

Direção dos Edifícios Lisboa – 0 edifícios.

 

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS


2025/06/26

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Jaime Cortesão (1884 – 1960)

 

 

(Fotografia do autor retirada da internet)


Jaime Zuzarte Cortesão nasceu a 29 de abril de 1884 em Ançã, Cantanhede, filho de António Augusto da Silva Cortesão, médico e professor e de Norberta Cândida Zuzarte.

Realizou os seus estudos liceais em Coimbra e decidiu cursar Medicina, tendo frequentado as Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra onde concluiu o curso em 1910. A sua tese final versou sobre A Arte e a Medicina (Antero de Quental e Sousa Martins). Ainda durante o curso fundou em 1907, juntamente com outros intelectuais, a revista Nova Silva e em 1910, A Águia. Impulsionou a Renascença Portuguesa e dirigiu o seu periódico, A Vida Portuguesa, iniciado em 1912, ano em que casou com Carolina Ferreira Cortesão.

Este movimento da Renascença Portuguesa pretendia divulgar publicações de pedagogia cívica e de consciência moral, colocando em primeiro lugar a importância da educação popular como motor do progresso. A educação do povo era a solução para a sua precaridade financeira e cultural.

Fixou residência no Porto lecionando no Liceu Rodrigues de Freitas entre 1911 e 1915, altura em que foi eleito deputado. Defensor da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, integrou o Corpo Expedicionário Português como capitão-médico.

Em 1916 publicou a Cartilha do Povo que obteve grande divulgação. No ano de 1919 foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional. Em 1921 foi um dos fundadores da Seara Nova, colaborando em várias obras.

Participou na tentativa de golpe de estado contra a ditadura, motivo pelo qual teve de abandonar o cargo na Biblioteca Nacional, em 1927, e exilou-se no estrangeiro, onde continuou a atividade política. Em 1940, em virtude da invasão da França no deflagrar da Segunda Guerra Mundial, voltou a Portugal onde esteve preso. Foi-lhe permitida a saída para o Brasil, onde viveu até 1955 desempenhando funções como professor e historiador, especializando-se na época dos Descobrimentos.

Regressou a Portugal em 1957 onde se envolveu na campanha de Humberto Delgado. Esteve preso, mais uma vez e em 1958 foi eleito presidente da Sociedade Portuguesa Escritores.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


 MJS

 

2025/06/23

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo I – O Plano dos Centenários (Parte I)

 

I – O Plano dos Centenários

        1     As Comemorações

        2     Uma Nova Rede Escolar

 

Em 1938, as disposições governamentais denotaram uma prioridade clara na educação política do povo e só depois na instrução das crianças. Era necessário estabelecer uma rede de escolas, mas de malha pouco densa evitando gastos supérfluos, na construção de edifícios e na colocação de professores.


(Imagem do Pavilhão do Recreio Infantil do Jardim do Campo Pequeno, 1949)


No que respeitava à escolaridade dos adultos, o governo previa que o analfabetismo fosse suprido através da emigração, do serviço militar e de outras condicionantes legais.


(Imagem do Recreio Infantil do Campo Pequeno, 1949)



Como tal, embora a educação do povo não fosse a prioridade, era necessário construir edifícios escolares que tivessem impacto social e político. Em 1940 o governo anuncia a execução de um plano geral da rede escolar que viria a ser denominado como as “Escolas dos Centenários”, no seguimento da celebração da fundação de Portugal e da Restauração (1140 – 1940).


(Imagem do Parque Infantil do Jardim de S. Pedro de Alcântara, 1932)


Foram várias as iniciativas que melhoraram ou criaram vários jardins-infantis em diversas cidades. Data de 1931 a legalização da Associação Nacional de Parques Infantis, seguindo-se a criação do primeiro parque no Jardim de S. Pedro de Alcântara em 1932 e o do Campo Grande em 1934.


(Imagem do original manuscrito do Plano dos Centenários, 1939)


Quanto à definição da Rede Escolar, o processo foi mais demorado até à publicação da Rede de Escolas do ensino primário elementar e dos postos escolares. Aqui se encontravam mapas de estimativas de despesas, distribuição de verbas e o número de escolas e salas de aula a construir por concelho.

 

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS


2025/06/19

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Jaime Carvalhão Duarte (1897 – 1972)

 

(Imagem do autor retirada da internet)

Jaime Carvalhão Duarte nasceu em Tinalhas, Castelo Branco, a 9 de junho de 1897. Frequentou o ensino primário nesta localidade e ingressou na Escola Normal de Castelo Branco onde concluiu o magistério primário em 1915.

O exercício da docência fez com que tivesse lecionado em várias escolas até ter sido colocado em Vila Moreira, Alcanena, entre 1919 e 1927.

Entre 1927 e 1931 foi professor na escola primária do Instituto do Professorado Primário em Lisboa. Durante 1928 e 1935 acumulou este cargo com o de professor de ginástica pedagógica no Refúgio da Tutoria Central da Infância, de onde foi afastado por motivos políticos.

Carvalhão Duarte foi inspirado pelas teorias da Escola Nova e do ensino ativo. Teve uma importante atividade ao nível do sindicalismo na direção da União do Professorado, ilegalizada em 1930. Neste ano entrou para o jornal República e tornou-se seu diretor entre 1941 e 1972, fomentando a oposição ao regime e acompanhando as atividades do MUD.

No que respeita ao seu pensamento pedagógico, o educador privilegiou os seguintes temas:

- a existência de uma escola pública, assente no principio de igualdade e gratuidade;

- a coeducação;

- a instituição da escolaridade obrigatória;

- a utilização de meios de ação educativa inspirados pelas teorias da Escola Nova;

- a democratização do acesso à escola e novos princípios básicos de estruturação curricular;

- a formação de professores.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

 

2025/06/16

Peça do mês de junho/2025

 



Imagem parietal de espécie animal/Estrela-do-mar

 

Quadro parietal com a representação da anatomia de uma estrela-do-mar para ilustração das matérias de zoologia e biologia. O quadro encontra-se dividido em duas partes: a parte superior ocupa cerca de um terço do espaço total e é preenchida por uma ilustração de duas estrelas-do-mar no seu habitat natural; a parte inferior ocupa os restantes dois terços do espaço e apresenta uma ilustração sobre fundo preto com cortes do corpo de uma estrela-do-mar no qual é possível ver alguns dos seus órgãos.

Está inventariado com o número ME/401250/1944 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária D. Dinis.


MJS

 

2025/06/12

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 - Apresentação

 

Da autoria de Filomena Beja, Júlia Serra, Estella Machás e Isabel Saldanha, a obra Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70, tem como propósito contribuir para um conhecimento mais amplo dos projetos-tipo escolares construídos dos anos 40 aos anos 70. Abarca não apenas o contexto arquitetónico, mas também as ocorrências políticas, sociais e conceções de ensino.

Os artigos que se seguirão dão a conhecer um pouco desta obra, seguindo a lógica interna da subdivisão por capítulos (p. 7):

 

(Imagem do Índice da obra)

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS

2025/06/09

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Irene Lisboa (1892 – 1958)


(Fotografia da autora retirada da internet)


Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu a 25 de dezembro de 1892 em Arruda dos Vinhos, filha de Luís Emílio Vieira Lisboa, advogado e de Maria Catarina, uma jovem camponesa. Aos 3 anos foi abandonada pela mãe e passou a viver com a companheira do seu pai e também sua madrinha, dividindo o seu tempo entre Lisboa e a quinta da Arruda dos Vinhos.

Foi educada no Convento do Sacramento onde estudou durante quatro anos, seguindo-se o Colégio Inglês, onde entrou com 10 anos como aluna interna. Depois de um confronto com o pai e a sua nova companheira, Irene mudou-se definitivamente para Lisboa e ingressou no Liceu Maria Pia aos 15 anos. Apercebendo-se que a quinta da Arruda estava a ser delapidada, pretendeu tomar a direção da casa, mas acabou por ser deserdada. Sem qualquer fonte de rendimento, trabalhou como governanta em casas particulares e foi viver para Belas com o seu padrinho.

Este contexto familiar tumultuoso foi bastante importante no desenvolvimento da autora: a ausência de vínculos afetivos e familiares na construção da sua identidade, bem como o facto de nunca ter sido reconhecida como filha legitima do seu pai em muito contribuíram para a sua dedicação à pedagogia infantil.

Em 1911 iniciou a frequência da Escola Normal Primária de Lisboa e em 1913 começou a escrever para o jornal estudantil Educação Feminina. Em 1914 concluiu o curso e lecionou em várias escolas como professora primária. Tornou-se efetiva na Escola do Beato, onde contatou com uma população pobre e carenciada. Este facto fez com que se centrasse nos problemas socioeconómicos e na forma como estes podiam influenciar a instrução e a aprendizagem, bem como na maneira de encarar a função do professor.

Com a abertura de duas classes infantis na Escola da Tapada da Ajuda, e devido à falta de professores especializados, a educadora preparou-se para lecionar a crianças desta idade. Neste sentido, inscreveu-se no primeiro curso de especialização em ensino infantil na Escola Normal de Lisboa que concluiu em 1923.

A sua experiência profissional permitiu-lhe compreender a importância da articulação da teoria e da prática em sala de aula. Para enfatizar este tema publicou o artigo “Escola atraente” na Revista Escolar em 1926.

No que respeita à sua produção textual, surgiram dois tipos de escrita: a literatura para crianças e os textos pedagógicos, fruto do desempenho das suas funções. Em 1929 publicou O livro da 2.ª para eu ler, com ilustrações de Ilda Moreira. Também neste ano iniciou a sua colaboração com a Seara Nova. Durante a década de 20 foram inúmeras as publicações para os mais novos.

Entre 1929 e 1934 foi bolseira do Instituto Nacional da Educação o que lhe permitiu prosseguir estudos em Genebra, Bruxelas e Paris. Frequentou o Instituto Jean-Jacques Rousseau, onde contatou com figuras como Jean Piaget ou Édouard Claparède.

Em 1933, já em Portugal, foi nomeada Inspetora-orientadora do ensino primário e infantil. Em 1935, durante uma palestra em Coimbra, Irene Lisboa defendeu alguns dos seus conceitos chave para o ensino: o professor devia ser autónomo e o responsável pela mudança de paradigmas. Por outro lado, a inovação deveria assentar quer na experiência de ensino, quer no estudo teórico. Durante este ano começou a dar aulas de Pedagogia e Didática Especial na Escola do Magistério Primário em Lisboa.

Devido às suas posições, que contestavam o controlo ideológico do estado em relação aos docentes, a educadora foi afastada dos seus cargos passando a desempenhar funções burocráticas no Instituto de Alta Cultura. Em 1937 as classes infantis foram extintas e Irene Lisboa foi forçada a aceitar um lugar na Escola do Magistério Primário em Braga. Não aceitou a situação e pediu a aposentação.

A partir de então, dedicou-se à escrita: literatura infantil, poesia, textos de pedagogia, contos, crónicas e novelas. As suas críticas à forma de organização do ensino e o apelo à liberdade e criatividade do pessoal docente fez com que muitas vezes publicasse sob pseudónimos como João Falco, Manuel Soares ou Maria Moira.

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

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