2024/03/07

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adolfo Lima (1874 - 1943)

(Imagem retirada de Dicionário de educadores portugueses)


Adolfo Ernesto Godfroy de Abreu e Lima nasceu em Lisboa a 25 de maio de 1874, filho de Artur Jorge Rubim de Abreu e Lima e de Palmira Olímpia Godfroy de Abreu, uma família abastada de origem nobre. A sua mãe faleceu quando tinha 12 anos de idade.

Frequentou o Colégio Nacional, onde organizou um grupo cénico e um jornal, O Luso. Em Coimbra continuou os estudos universitários licenciando-se em Direito em 1900 e tendo exercido advocacia entre 1902 e 1910.

Desiludido com o meio jurídico, dedicou-se à cultura, à educação e ao teatro. O seu pensamento sobre a educação baseou-se nos ideais da Escola Nova, contrária ao pensamento da massificação escolar. Adolfo Lima defende uma escola flexível, com respeito pela diferença.

Umas das principais críticas de Adolfo Lima ao sistema de ensino vigente era a diferenciação entre a educação profissional, para pobres e a educação clássica, para ricos, que, na sua opinião, reforçava a existência de uma sociedade dividida em classes sociais. Este tipo de pensamento teve por trás uma forte convicção anarquista que acompanhou o pensador durante toda a sua vida. A educação era, assim, uma forma de domínio dos grupos políticos e sociais.

A alternativa passava por uma escola única com um programa que juntasse os aspetos manuais e intelectuais, ou seja, uma educação completa e alargada. A ideia da democratização da sociedade através da escola era um dos pilares do seu pensamento, promovendo o pleno desenvolvimento do aluno.

Como tal, Adolfo Lima centrou-se em dois aspetos fundamentais: a liberdade na educação e o seu caráter integral como forma de desenvolver plenamente o ser humano, contribuindo para combate à desigualdade social.

Tentou por em prática estes princípios na Escola Oficina n.º 1 criada em 1905 e em funcionamento até 1926 em Lisboa, fazendo da instituição uma referência para a pedagogia. Assim alguns dos princípios adotados foram:

-  a existência de trabalhos manuais;

- a proibição de punições físicas;

-  a existência de uma associação de alunos criada em 1910 conhecida como a Solidária que organizava festas, refeições, eventos desportivos, etc.;

- a introdução da dança, do teatro e da música;

- a inexistência de um livro único;

- as aulas eminentemente práticas;

- a abertura da escola a raparigas em 1913, sem disciplinas diferenciadas.

O desenvolvimento estético foi uma das preocupações de Adolfo Lima, sobretudo no que dizia respeito à arte dramática. Em 1914, com a publicação da obra O Teatro na Escola, dá-se pela primeira vez importância a esta vertente disciplinar.

O pensador lecionou no Liceu Pedro Nunes entre 1911 e 1923 e foi nomeado diretor da Escola Normal de Benfica ente 1918 e 1921. Manteve-se como docente até 1933, quando passou a dirigir a Biblioteca-Museu do Ensino Primário.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


 MJS

 

2024/03/04

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adolfo Coelho (1847 – 1919)


(Imagem retirada da internet)


Francisco Adolfo Coelho nasceu em Coimbra a 15 de janeiro de 1847, filho de João Gaspar Coelho e de Francisca do Carmo Coelho. Teve uma infância difícil, perdendo o pai aos 19 meses.

Após os estudos preparatórios, ingressou na Universidade de Coimbra com 15 anos. Ficou bastante desiludido com o ambiente universitário, abandonando os estudos dois anos depois, centrando-se nos autores alemães, marcados pelo positivismo e espirito cientifico, em Comte e Spencer.

As áreas em que mais se destacou foram a filologia, a etnografia e a educação, sobretudo no que dizia respeito à pedagogia e aos métodos de ensino. Adolfo Coelho teceu várias críticas ao estado da educação: os manuais que não se ajustavam do ponto de vista metodológico; a reduzida frequência das escolas; e ainda a deficiente formação dos professores. A sua visão da educação orientou-se para a integração, visando não só a formação letiva, mas também a
formação de caráter. Pretendia a introdução do trabalho manual como parte da componente letiva, orientando o aluno para a sua vida ativa.

No que respeita à pedagogia, apresentou A Questão do Ensino nas Conferências do Casino, publicada em 1872, onde defendeu a importância do ensino para elevar o homem e conduzi-lo ao seu destino. A educação deveria ser uma prioridade no plano de reformas do país, laica e com liberdade de investigação e de pensamento.

Entre 1882 e 1883 participou na criação do Museu Pedagógico Municipal de Lisboa e da sua biblioteca. Em 1883 foi nomeado diretor da Escola Rodrigues Sampaio. Colaborou com Jaime Moniz na reforma do ensino secundário entre 1894 e 1895, tendo redigido os programas de Português, Francês e Geografia.

Em 1901 lecionou a cadeira de Pedagogia na Escola de Habilitação para o Magistério Secundário. Posteriormente em 1911, assumiu essa função na Escola Normal Superior da Universidade de Lisboa, bem como a cadeira de Metodologia Geral das Ciências do Espírito.

 

Ao nível da etnologia, fez várias investigações recolhendo material sobre costumes, festas, crenças e tradições populares por todo o país. Em 1890 apresentou o seu estudo sobre esta matéria no Esboço de um Programa para o Estudo Antropológico, Patológico e Demográfico do Povo Português. Em 1892 publicou Os Ciganos em Portugal e em 1896, o Plano para o estudo da tradição portuguesa – Portugal e Ilhas Adjacentes e o Plano da Exposição Etnográfica Portuguesa. O seu interesse por esta área relacionou-se com a construção de fundamentos para a educação.

No âmbito da filologia, apresentou um plano de estudos para a criação de uma cadeira no Curso Superior de Letras (que se viria a tornar a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), o que se concretizou em 1878 com o surgimento da Filologia Comparada. Adolfo Coelho foi, assim, professor de Filologia Românica Comparada e de Filologia Portuguesa.

O pensamento educacional de Adolfo Coelho pode sintetizar-se, de forma muito breve e linear, nos seguintes pontos:

- a educação pública era a resposta à decadência moral e cultural do país;

- a educação devia submeter-se à razão crítica;

- a mudança de mentalidade devia ter como base a educação;

- a criança devia ser o sujeito da aprendizagem;

- a existência de jardins-escola era fundamental como forma de educar a criança antes do ensino primário;

- o educador deveria respeitar a atividade mental e física da criança, tendo em conta a sua idade;

- a relação entre a distribuição dos graus de ensino e a seleção social assumia grande relevância;

- a educação não significava apenas instrução;

- a educação popular não se podia limitar à alfabetização;

- a reforma da educação não implicava um corte total com o passado;

- a inclusão de elementos tradicionais na educação, ou seja, o material pedagógico do povo contribuiria para o sucesso educativo;

- a instrução devia partir do simples para o complexo;

- o trabalho manual era imprescindível na educação;

-  o ensino geral e o ensino pessoal deviam ser distintos;

- a articulação entre o ensino primário elementar e o ensino primário superior facilitaria a implementação de um projeto educativo, bem como a criação de uma escola-modelo;

- a formação do cidadão devia ser privilegiada;

- o ensino livresco devia ser abandonado, os professores deviam ter formação e as escolas deveriam ser dotadas de material pedagógico apropriado.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS