2013/05/02

Bibliografia Temática - História da Educação (I)




Bibliografia temática
História da educação

(I)



  


"What is a thematic biography?

A thematic biography is not merely a biography, which is an account of the events of a particular person’s life. One could easily write a biography without ever engaging in the more intimate, more interesting questions a thematic biography entails." (Yourdictionary, 2013)






Uma bibliografia é, antes de mais, uma lista estruturada e ordenada de referências bibliográficas (ex.: autores, títulos, artigos de revistas, etc.) com características comuns. Para além desta noção biblioteconómica, o conceito de bibliografia designa, também, a incursão à bibliográfica estatística ou mesmo aos repertórios bibliográficos – a estruturação de referências bibliográficas em bibliografia e consequente estudo bibliométrico é, na atualidade, uma área em plena expansão científica e transversal a todos as áreas métricas do saber estatístico das ciências sociais.

Entre nós, em Portugal, dão-se os primeiros passos (a esmagadora maioria dos mestrados em ciências documentais ainda não integraram a disciplina nos seus curricula). Ainda assim, surgem alguns mestrados de grande valor epistemológico que, em si mesmo, são um fruto de investigações ao mais alto nível da estruturação de bibliografia. A título de exemplo destacamos a investigação de Mestrado, em biblioteconomia, da Mestre Lígia de Melo Arruda. A investigação intitulada Efeito Bradfordiano na Produção Documental no Tempo de D. Pedro V: 1837-1861[1] é, acima de tudo, uma homose entre a bibliografia e a estatística, ou seja, entre a sageza quantitativa e qualitativa.

Pretendemos sublinhar que, já nos finais do século dezanove, se podem encontrar as primeiras investigações sobre o estudo da matéria-prima bibliografia – Paul Otlet[2], como bem verificou Santos (2007), deu à bibliografia um caráter científico. As suas propostas estão expostas no Traité de Documentation: le livre sur le livre: théorie et pratique, publicado em 1934.

Na contemporaneidade, os estudos sobre a obra de Otlet têm sido retomados por inúmeros pesquisadores, tais como W. Boyd Rayward, professor da Universidade de Chicago, biógrafo de Otlet; Michael Buckland, professor da Universidade da Califórnia; Bernd Frohmann, professor da Faculdade de Estudos de Informação e Média do Canadá; José Lopes Yepes, da Universidade Complutense de Madrid, entre outros.

As bibliografias são, como verificamos, matéria-prima de diversas áreas do saber. Neste contexto, as bibliografias temáticas são as mais aconselháveis a não-especialistas e a investigadores que começam a esboçar e rasurar caminhos metodológicos. Este material didático, que em si mesmo é um documento, pode muito bem, estar reintegrado em documentos primários, tais como finais de monografias ou seriados, enciclopédias, revistas, etc. Não obstante, existem extensas bibliografias temáticas que são elaboradas ad hoc – por editoras, bibliotecas especializadas, entre outras.

A esmagadora maioria das bibliografias temáticas são produto direto de pesquisas em bases de dados especializadas, umas altamente especializadas (por ex.: Web of Knowledge, Scielo – Scientific Electronic Library Online, Scopus, Mediline, etc.), outras, são elaboradas por gestores de informação (i.e. bibliotecários, arquivistas e museólogos). Ainda assim, é indispensável a realização de bibliografias imparciais e representativas:

“[…] é importante a realização de bibliografias com base na imparcialidade, representatividade e exaustividade: estes são critérios objetivos de avaliação científica. Citar é muito mais do que prefaciar a ideia de um autor, citar é sobretudo, tomar conhecimento da ciência através de outrem — projetando conhecimentos no futuro e, intersubjectivamente, informamos e divulgamos a ciência.” (Maximino, 2006:63)

Em virtude da diversidade dos núcleos temáticos do trabalho, a bibliografia temática tem o objetivo de facilitar a consulta às fontes de informação utilizadas na nossa pesquisa. Como toda categorização, a designação dos textos nos assuntos está subordinada a um critério de escolha, que, nesse caso, consiste na identificação da matriz temática de cada fonte de informação (cf. Freires, 2007:193)

As bibliografias, vistas deste modo, devem apresentar-se de uma forma analítica, para que sejam um forte manancial científico de informação para todo o tipo de investigadores. Sejam quais forem os tipos de modelos que se utilizem, a verdade é que todas as bibliografias têm um uso potencial porque representam um grupo de material reunido por um princípio comum.

“[…], enfatizamos a importância que demos às comparações, complementações e confrontos das situações, bem como às experiências e temas comuns relatados pelas fontes orais, sempre em diálogo com a bibliografia temática, no sentido de compreender e conceber a história, a partir da experiência vivida pelo sujeito.” (Bezerra, 2012:17)


No entender de Bezerra (2012:17), o diálogo entre as bibliografias temáticas e as experiencias vividas é um modo e meio de compreensão da história factual.

A anterior noção de bibliografia com acento intersubjetivo ultrapassa qualquer definição encestada por Faria e Pericão (2008) no Dicionário do livor Estas autoras entendem a bibliografia temática como conjunto de referências bibliográficas ordenadas e subordinadas a uma determinada matéria – esta percetiva sintetiza conceitos tradicionalistas da biblioteconomia – a bibliografia como forma aliada a um dado conteúdo. Desta forma, desenraíza-se a bibliografia, de uma forma definitiva, das ciências sociais e do individuo que a produz!

Em suma, uma bibliografia temática não é apenas uma bibliografia, mas, um relato dos acontecimentos da vida das pessoas em particular (Cf. Yourdictionary, 2013).






Bibliografia:



ARRUDA, Lígia Maria de Melo (2012).  Efeito Bradfordiano na produção documental no tempo de D. Pedro V : 1837-1861 [on-line]:  Dissertação para apresentação da obtenção do grau de Mestre em Ciências Documentais no Curso de Mestrado em Ciências Documentais.
[Consulta: 22 de abril 2013]


BEZRRRA, Edmundo Cunha Monte (2012). Migrações xukuru do ororubá: memórias e história, (1950-1990) [on-line]: Universidade federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Mestrado em História.
[Consulta: 22 de abril 2013]


FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça (2008). Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico. Coimbra : Almedina.


FREIRES, Thiago Gaudêncio Siebert (2007). Relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação: um estudo dos conceitos de representação documentária, mediação e comunicação científica [on-line] : Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.
[Consulta: 22 de abril 2013]



MAXIMINO, Pedro (2006). Metodologia para a avaliação de coleções: estudo aplicado a uma biblioteca portuguesa [on-line]: Association of European Research Libraries; The DART-Europe E-theses Portal (DEEP); CUBC: Universitat de Barcelona, Cop. 2005-2007
[Consulta: 8 junho de 2012]


SANTOS, Paola (2007). “Paul Otlet: um pioneiro da organização das redes mundiais de tratamento e difusão da informação registrada” [on-line]:  Ciência da Informação; Vol. 36, N.º 2 (may/aug. 2007).
 [Consulta: 22 de abril 2013]


UNIVERSITÉ DE LIMOGES ( 2013 ).” Nouveaux actes sémiotiques”  [on-line]: PULIM = Presses Universitaires de Limoges; ISSN - 1961-8999
[Consulta: 22 de abril 2013]


 YOURDICTIONARY (2013). What is a thematic biography? [on-line]: April 17th, 2013 [Consulta: 22 de abril 2013]



P.M


[1] Esta dissertação incide sobre a produção documental em Portugal, no período de vida do monarca D. Pedro V, 1837-1861. As bases de dados de recolha de informação foram: a Biblioteca Nacional de Portugal, a Biblioteca Nacional Digital e o catálogo da Rede Municipal de Bibliotecas de Lisboa. Tendo em conta as várias formulações no campo da bibliometria, o denominado efeito bradfordiano foi o foco desta investigação com a análise dos autores, casas editoriais/ tipografias, locais de produção, tipo de documentos e áreas temáticas mais produtivos.
[2] O Traité de Documentation expressa a maturidade do pensamento de Paul Otlet sobre a organização do conhecimento. É, de fato, a primeira sistematização sobre a documentação, que resultou de suas reflexões sobre o trabalho realizado no IIB. Nele, Otlet expõe os princípios fundamentais da documentação e da bibliologia. A bibliologia, contudo, não é uma criação de Otlet. O termo foi cunhado em 1802 por Gabriel Peignot, que a caracterizou como uma ciência que estudava o livro. No Traité de Documentation, Otlet toma a bibliologia como ponto de partida para o desenvolvimento da documentação. Ao longo dos cinco capítulos do Traité de Documentation, Otlet define os principais conceitos do novo campo - como o termo documento -, desenvolve as metodologias do trabalho da documentação, define seu campo de estudos e suas relações com as demais ciências, faz um estudo detalhado do livro, apresenta os produtos do desenvolvimento tecnológico de sua época e suas aplicações à documentação, propondo, por fim, uma rede universal de informação e documentação. (cfr. Santos, 2007)