2011/04/29

Peça do mês de abril/2011





Pintura

Aguarela da autoria de Seomara da Costa Primo, representando um elemento de botânica, Impaticus, datado de 1977.

A pintura pertence à Escola Secundária Seomara da Costa Primo, com o número de inventário ME/402760/04.

Seomara da Costa Primo (1895 – 1986) nasceu em Lisboa, filha de Maria Luísa Buttuler e Manuel da Costa Primo.

Estudou no Liceu Passos Manuel, onde terminou o Curso Complementar de Ciências em 1913. Posteriormente ingressou na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa tendo concluído o Curso de Ciências Histórico-Naturais em 1919. Frequentou o Curso do Magistério Liceal e concluiu o Exame de Estado em 1922. No período decorrente entre 1921 e 1942 foi professora do ensino liceal, a par da docência universitária, tendo lecionado no antigo Liceu Almeida Garrett e no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho.

A sua atividade desenvolveu-se ao nível do ensino liceal, tendo sido autora de numerosos compêndios de Ciências Naturais, ilustrados com as suas aguarelas e carvões.

Seomara da Costa Primo esteve igualmente ligada à Federação das Associações dos Professores dos Liceus Portugueses (1926), tendo feito parte dos corpos dirigentes.

A sua visão da educação foi verdadeiramente inovadora. Promoveu o cinema educativo que se estreou em 1929 no Liceu Maria Amália, a par de um artigo publicado n’”O Século”, da sua autoria, chamando a atenção para as vantagens do cinema na tarefa educativa. Para Seomara da Costa Primo a educação deve não só preparar o aluno para a vida, mas também adoptar novas metodologias mais activas. Em relação à mulher defende que a sua educação e nível cultural “é pedra de toque de um país verdadeiramente civilizado".

Em 1942 defendeu a sua tese de doutoramento, sendo a primeira mulher a obter este grau na área das Ciências. Foi autora de vários artigos de natureza científica, publicados na imprensa da especialidade, tendo efectuado diversas viagens de estudo a países europeus.
A aguarela que apresentamos faz parte do “Núcleo Seomara da Costa Primo”, existente na Escola Secundária Seomara da Costa Primo, antiga Escola Secundária da Venteira, na Amadora. Em 1989, a escola tornou-se um pólo agregador do espólio de Seomara, a partir de doações feitas por diversas entidades e particulares (Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, Museu-Escola Jardim Botânico ou pela Drª. Maria Luísa Azevedo Neves). O espólio é constituído por cerca de 600 peças, entre as quais publicações, apontamentos, fotografias, objetos pessoais e parte da sua biblioteca pessoal.


MJS


2011/04/27

Escola Básica 2,3 Marquesa de Alorna


(Desenho da Escola Técnica Elementar Marquesa de Alorna - Lisboa)

Em 1949 foi aprovada a construção da Escola Técnica Elementar Marquesa de Alorna. O terreno, com uma área de 10.240 metros quadrados, foi cedido pela Câmara Municipal de Lisboa e o projeto foi elaborado pelos serviços técnicos da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário.

O anteprojeto da Escola Marquesa de Alorna foi aprovado em 1955 e construção inicia-se em 1956. Em 1958 estava concluída. Composta de dois corpos (formando frentes para dois arruamentos do Bairro Azul), um grande pátio e uma mata, a Escola fui cuidadosamente projetada para receber 1.000 alunas, tendo sido dada particular atenção à generosidade dos espaços, dignidade e durabilidade dos materiais e às questões da luz e boa exposição solar.

A 9 de outubro de 1958 a escola denomina-se Escola Técnica Elementar Marquesa de Alorna (feminina). As aulas começam a 10 de outubro do mesmo ano e acolhia alunos das freguesias de S. Sebastião da Pedreira, Nossa Senhora de Fátima e Campolide. Em 1969 a escola passa a denominar-se Escola do Ciclo Preparatório Marquesa de Alorna. Pós 25 de abril, mais precisamente em 1993, a escola é redenominada por Escola Básica 2,3 Marquesa de Alorna, atualmente, em 2004-2005. A referida escola passa a ser sede do Agrupamento de Escolas Marquesa de Alorna.

José Sobral Blanco, o arquiteto responsável pelo projeto de construção da escola, requentou o curso secundário no Liceu Passos Manuel, e formou-se em arquitetura Na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, curso que terminou em finais da década de 20. Posteriormente, fez parte das equipas de arquitetos projetistas da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário. Nesta instituição, participou no Plano de Novas Construções, Ampliações e Melhoramentos de Edifícios Liceais (Plano de 1938) e projetou e acompanhou a construção dos liceus de Setúbal em 1945, Porto – Carolina Michäelis de Vasconcelos em 1951, Oeiras em 1953 e Portimão em 1965.

Existe na Escola um busto da Marquesa de Alorna, datado de 1957, da autoria do escultor Raul Xavier (1894 – 1964). Nascido em Macau, Raul Maria Xavier foi discípulo do escultor Costa Mota (sobrinho). Desenvolveu uma obra escultórica de feição clássica, marcada pela serenidade e pela depuração das formas, tendo-se dedicado especialmente ao retrato em estátuas ou bustos. De entre os seus melhores trabalhos destaca-se o baixo-relevo representando a Batalha de Aljubarrota e a estátua de São Vicente (exibida na Exposição Mundo Português em 1940), as alegorias à Ciência e à Arte (Pavilhão dos Desportos, Parque Eduardo VII, Lisboa), a estátua de Vasco da Gama (Aquário vasco da Gama), entre outros.

Em 2010-2011 foi doado à Secretaria-Geral do Ministério da Educação parte do “antigo” acervo bibliográfico que a referida escola detinha desde a sua fundação. Este acervo foi doado em duas tranches, o grosso da doação data de 12 de fevereiro de 2010, a segunda de 9 de fevereiro de 2011. As duas doações foram integradas na Biblioteca Histórica da Educação (MESGBHE) do Ministério da Educação – 430 títulos monográficos e 31 de publicações periódicas.

Da primeira doação constam publicações periódicas e monografias sobre educação, incluindo material didático, manuais escolares, guias e outros documentos próprios das práticas letivas do Estado Novo. Estes documentos apresentam uma dispersão de valores que vai desde os anos 30 até aos anos 80, aproximadamente.

Da segunda doação consta um grupo homogéneo de documentos sobre a educação da mulher – publicações periódicas sobre a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF). Ainda que a MPF fosse criada em 1937 (Dec.-lei n.º 2862 de 8 de dezembro), a esmagadora maioria dos documentos da então Escola Técnica Elementar Marquesa de Alorna são da década de 60 e 70.

O referido acervo da Escola Básica 2, 3 Marquesa de Alorna está disponível online através do portal Sistema Integrado de Bibliotecas do Ministério da Educação (SIBME) em: http://sibme.sg.min-edu.pt

 


Bibliografia:


Comissão de Moradores Bairro Azul (2008). Escola Marquesa de Alorna, 50 anos, reabilitação do património [on-line]. http://www.bairroazul.net/mesquita/ema+aniv.pedf [Consulta: 18 de abril de 2011]


Dia Mundial do Livro - 2011 - Livros, Rosas, Namorados e Sant Jordi



(Imagem de um livro cujas páginas formam uma rosa)


Em 1926, o escritor e editor valenciano Vicente Clavel i Andrés propôs à Cámara Oficial del Libro de Barcelona a instauração e comemoração do dia do livro (Fiesta del Libro). Esta efeméride seria uma forma de divulgação do livro e, simultaneamente, de promoção da leitura (omitiam-se razões comerciais).

A data inicialmente proposta para a Fiesta del Libro foi 7 de outubro, dia do nascimento de Miguel de Cervantes, razão mais do que suficiente para os espanhóis comemorarem tal efeméride na data mencionada. Esta proposta foi aceite, mas rapidamente alterada: a partir de 1930 a data foi mudada para 23 de abril. Os motivos alegados para tal mudança foi a comemoração da data da morte de Cervantes e de Shakespeare.

A reafirmação do espírito catalão não se fez esperar, dia 23 de abril é o dia de Sant Jordi, patrono da Catalunha. O patrono catalão sempre foi celebrado com la feria de la rosa. Ou seja, no dia 23 os catalães ofereciam rosas vermelhas uns aos outros. Na atualidade, estas efemérides são conhecidas pela festa da rosa e do livro (Fiesta de la rosa y el libro) e, acima de tudo, comemora-se o patrono da região semiautónoma espanhola – la Diada de Sant Jordi.

“La Diada de Sant Jordi, nom amb que es coneix la festa del 23 d’abril, és un dia molt especial a Catalunya, dia en què se celebra el dia del enamorats i el dia del llibre. Homes i dones intercavien roses i llibres amb la seva parella i les persones volgudes. La tradició de regalar roses sembla ser que es remunta al segle XV, quan es repartien roses a les dones que anaven a la missa oficiada a la capella de sant Jordi del Palau de la Generalitat.” (Deputació de Barcelona, 2011)

Atendendo às palavras da Deputació de Barcelona (2011), ainda hoje, o dia 23 de abril é muito importante para a história da Catalunha. Em primeiro lugar, deve-se à Catalunha a paternidade do Dia Mundial do Livro. Por outro lado, associa-se esta efeméride à comemoração do seu patrono e, para alem desse facto, celebra-se o dia dos namorados. Diremos, então que é a festa do livro, da rosa, dos namorados e do patrono da Catalunha – uma forma lendária de encarar os factos.


Diz a lenda que há muitos e muitos anos um terrível dragão aterrorizava o povo Montblanc da Catalunha e comia todos os animais. Para acalmá-lo, os habitantes escolhiam todos os dias alguém para alimentar o dragão. Num dia em que reinava a escuridão, a eleita foi a filha do rei. Quando esta estava a ponto de ser engolida pelo dragão, apareceu Sant Jordi, que cravou a sua lança no coração do dragão – do sangue derramado brotou uma bela rosa.

Essa é a lenda oficial adotada pela Catalunha para explicar a razão de Sant Jordi ser o seu padroeiro e para representar o grande evento que acontece na Catalunha no dia 23 de abril todos os anos.

Com a junção das respetivas tradições, mudaram-se os hábitos sociais – o cavalheiro oferece uma rosa vermelha (símbolo do sangue do dragão) à amada e esta oferece um livro ao cavalheiro.

“Como cada 23 de abril Catalunya celebrará la Diada de Sant Jordi (Festividad de San Jorge), conocida también por la fiesta de la rosa y el libro, y en que las calles de pueblos y ciudades de catalunya disfrutan, si lo permite el tiempo, del inicio de la primavera y de esta magnifica jornada de vocación de universal”. (F. B., 2009)

Atualmente, O Dia Mundial do Livro é uma comemoração celebrada a nível internacional com o objetivo de fomentar a leitura, a indústria editorial e a proteção da propriedade intelectual (direitos de autor). A origem da Diada de Sant Jordi tem origens medievais, onde os cavaleiros ofereciam rosas vermelhas às suas amadas e, a partir de 1926, as senhoras agradecem as rosas aos cavalheiros com a oferta de um livro.

“The idea for this celebration originated in catalonia where on 23 April, Saint George’s Day, a rose is traditionally given as a gift for each book sold. The success of the World Book and Copyright Day will depend primarily on the support received from all parties concerned (authors, publishers, teachers, librarians […].” (UNESCO, 2011)

Segundo a Mensagem do Diretor-Geral da UNESCO por ocasião do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor (23 de abril de 2003), o futuro do Livro e do Direito de Autor é uma questão que nos diz respeito a todos.

Numa época caracterizada pela explosão das redes elétricas e televisivas, o livro constitui um instrumento excecional para a expressão das identidades culturais. A sua projeção é um fator decisivo para a promoção da diversidade cultural. Recordemos o papel primordial dos tradutores, sem os quais o diálogo intercultural através dos livros não seria possível (Cf. Comissão Nacional da UNESCO, 2011).

A UNESCO (2011) confirma a originalidade da celebração da Diada de Sant Jordi, não obstante, apela para os direitos de autor: o sucesso do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Esta osmose de valores socioculturais impulsionada pela Generalitat de Catalunya y de la Federación de Gremios de Editores de España, em 1995, levou a UNESCO a declarar o dia 23 de abril como Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. As razões alegadas foram:

- o livro foi durante séculos o fator mais poderoso para o desenvolvimento do conhecimento;

- o desenvolvimento de uma consciência coletiva mais completa sobre as tradições culturais no mundo;

- a organização de eventos para divulgar os livros e a promoção da leitura.

A leitura é, como sabemos, o principal instrumento de aprendizagem. É o meio mais eficaz de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade humana. Através do ato de ler, o individuo entra em contato com realidades transversais do conhecimento universal – consciência coletiva.

 

Bibliografia:

 

COMISSÃO NACIONAL DA UNESCO (2011). Mensagem do Diretor-Geral da UNESCO por ocasião do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor (23 de abril de 2003) [on-line]: Koïchiro Matsuura, PC/dialivro.doc

http://www.unesco.org/culture/bookday/gs_03_portugais.pdf

[Consulta: 19 de abrik 2011].

 

DEPUTACIÓ DE BARCELINA (2011). Diada de Sant Jordi a Rofes (la Llacuna) [on-line]: Propera edició, 23/04/2011

http://www.festacatalunya.cat/articles-mostra-1703-cat-diada_de_sant_jordi_a_rofes_la_llacuna.htm

[Consulta: 19 de abril de 2011].

 

F. B., David (2009). Sat Jordi, la fiesta del libro y dela rosa [on-line]. Los Viajeros.com

http://www.losviajeros.com/noticias.php?n=191

 

UNESCO (2011). World Book and Copyright Day, April, 23 [on-line]

http://portal.unesco.org/culture/en/ev.php-URL_ID=5125&URL_SECTION=201.html