Júlio Gil,
nome completo Júlio Coelho da Silva Gil,
nasceu em Lisboa, 24 de abril de 1924 e veio a falecer a 11 de abril de 2004,
foi um ilustrador, cartoonista, arquiteto, pintor e
escritor português.
Júlio Gil, em colaboração com os fotógrafos Augusto
Cabrita e Nuno Calvet, publicou uma série estudos sobre arquitetura portuguesa,
sendo o primeiro destes As mais belas vilas
e aldeias de Portugal (1984). Em colaboração com o fotógrafo Nuno Calvet,
escreveu Nossa Senhora de Portugal,
Santuários Marianos. Entre outras, a publicação pos mortem, editada em 2014 - Azulejos
da Igreja de São Lourenço – Matriz de Alhos Vedros[1],
também da sua autoria.
Iniciou a sua carreira de cartoonista na “escola” da
Mocidade Portuguesa, ao ilustrar as publicações oficiais da referida
Organização. A revista Guião: cristandade, lusitanidade, ordem
social em 1957 refere e homenageia Júlio Gil da seguinte forma:
“Em fevereiro de 1945, num
catálogo da exposição de desenhos do filiado Júlio Gil escrevia-se: ‘Ilustrador
de grande merecimento, dotado de uma maneira muito pessoal, revolucionária e
presente, tem ilustrado centenas de assuntos, criando, inventando, desenhando
às mãos cheias por livros, jornais e revistas. É, atualmente, aluno da Escola
de Belas Artes de Lisboa e talvez caiba à Mocidade essa sedutora
responsabilidade. O Júlio Gil está a começar – e bem. Não é ainda aquilo que
queremos que seja – mas daqui a alguns anos, quando ele for o ‘arquiteto Júlio
Gil’, seja de facto aquilo que queremos’.
12 anos volvidos, esta
página do ‘Guião’ vem confirmar as esperanças que a Mocidade um dia depositou
em Júlio Gil ao franquear-lhe as portas do Salão Nobre do Palácio da
Independência para a sua primeira exposição individual.
Para os que não creem no
futuro, para os que negam a obra da Organização, esta página é um fervoroso
desmentido, um irrefutável argumento contra o azedo ‘dizer mal’ dos incrédulos
da nossa terra.
Agora redobram as centenas de ilustrações
suas. E, como desejou o autor das linhas do catálogo, o arquiteto Júlio Gil
continua a ser um nosso camarada, um artista da Mocidade.
Esta simples e pequena
página – quantos desenhos tivemos de pôr de lado – não é, pois, mais do que um
preito de amizade ao nosso primeiro artista; não um reconhecimento piegas, um
elogio burguês de quem se sente aliviado por dizer que gosta dos seus desenhos;
mas, antes, um reconhecimento franco, viril, com espírito M. P. - que é uma
coisa que Júlio Gil faz transbordar dos seus desenhos – pela sua obra dentro da
Organização e fora dela.” (Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social, 1957,
p. 7).
Júlio Gil, como verificamos, começou a dar os
primeiros na sua arte de ilustrar, nas primeiras publicações periódicas da
Mocidade Portuguesa, nomeadamente, em o Guião:
revista para graduados, por tal, foi amplamente reconhecido pela Mocidade
Portuguesa com um “um reconhecimento franco, viril, com espírito M. P.”
Na década de 50, como sabemos, o contexto
artístico vive numa dualidade extremada. Por um lado, existem produções “românticas” que espelhavam ideias de folclóricos de felicidade (esboços de
lides quotidianas) e, por outro, exibe-se o rigor das artes aplicadas, por
exemplo na feitura de parietais e outro tipo de material pedagógico.
Neste contexto, o Estado Novo difundiu obras
que tinham como objetivo prioritário a apologia do regime vigente, tendo como
detentor as virtudes, a raça e a continuidade das glórias passadas, esta
condicionante origina obras de caráter histórico e/ou apologético e, acima de
tudo, o reforço das tendências moralizantes em detrimento da realidade vivida.
Júlio Gil, fortemente impregnado destes
ideais, deixa transparecer nas ilustrações da revista Guião atitudes apologéticas e fortemente moralizantes, quer através
de orações explícitas, quer através de evocações gloriosas. Para além deste
aspeto, verifica-se que os traços dominantes espelham uma cultura dominada pelas
imagens da What Disney, bem como pela
BD que invadia a europa. Nesta linha estética de Gil aparece grandes nomes das
artes portuguesas, tais como, Noronha da Costa, José de Lemos e Tòssan, entre
outros.
“Júlio Gil das técnicas de impressão que marcam a expressão de muitos ilustradores desta época.
Grandes manchas de cor planas complementadas por um desenho de contornos negros
que pretende acrescentar apenas alguns pormenores à imagem.” (Silva, 2011, p.
124)
As ilustrações de Gil são muito datadas,
ainda assim, como afirma Susana Silva, são reconhecidas pelas suas “cores
planas” acompanhadas com traços espessos (manchas) e outros mais finos
pormenorizados.
Estas ilustrações que fazem parte
da publicação periódica Guião: revista
para graduados, ilustrações estas que, acompanham todo o percurso da
revista, desde o seu começo 1949 (n. 1, 28 de maio 1949) até ao seu términos em
1953 (n. 22, fev. 1953).
Bibliografia:
Câmara
Municipal da Moita. Apresentação do livro “Azulejos da Igreja de São
Lourenço” [em linha]. Moita:
Município da Moita, 2014. [Consult. 28 julho 2015]. Disponível em
Guião: cristandade,
lusitanidade, ordem social. A. 1949-1953
Júlio Coelho da Silva
Gil. Rolho:
cursilhos de cristandade, Torres Vedras, Mafra [em linha]. N. 103 (mai./jun.
2004), p. 3. [Consult. 28 julho 2015]. Disponível em
Julio Gil: um artista
da Mocidade.
Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social. N. 66 (mai. 1957), p. 7
Silva,
Susana Maria Sousa Lopes - A ilustração
portuguesa para a infância no século XX e
movimentos artísticos: influências mútuas, convergências estéticas [em
linha]: [S.l.: Susana M.S.L. Silva],
2011. (Tese de doutoramento em Estudos da Criança (ramo de conhecimento em
Comunicação Visual e Expressão Plástica). [Consult. 28 julho 2015]. Disponível
em
P. M.
[1] No âmbito das comemorações dos 500 anos do Foral de Alhos
Vedros, o presidente da Câmara Municipal da Moita e a comissão executiva
convidam para a apresentação do livro "Azulejos da Igreja de São Lourenço
Matriz de Alhos Vedros", de Júlio Gil.