2018/10/17

Arquiteto Fernando da Silva Lima



O arquiteto Fernando Lima, de nome completo Fernando José Miranda de Vasconcelos Mourão da Silva Lima, foi associado número 28 da Mocidade Portuguesa e, simultaneamente, Membro do Conselho Geral da mesma Organização. Foi ilustrador, redator e diretor de uma das mais prestigiadas revistas para graduados da Mocidade Portuguesa: Guião: revista para graduados e Talha-Mar: revista para graduados (o último título é continuação do Guião).

Fernando Lima colaborou na revista Guião a partir da publicação número 11 de janeiro/fevereiro de 1951 até ao seu desfecho, em 20 de setembro de 1953. Nesta publicação periódica ilustrou vários artigos, coordenou a Secção Manta de retalhos (sobre atividades culturais diversas) e também desempenhou funções de redator.

Enquanto redator, destacamos o conto Sou capaz: um problema em que não se repara, onde Fernando Lima (Lima, 1952:9) ressalta a permeabilidade dos jovens para o ato de aprendizagem orientada: “serão […] práticas miúdas que levarão ao autoconvencimento: ‘sou capaz!’ e, daí, à confiança em si indispensável […].” Lima (1952:18) sublinha que uma das pedagogias mais
eficazes para a formação de graduados é o uso de doutrinas pré-estabelecidas, tal como o sistema de construção em série Meccano1:

“Começaremos pela experienciazinha barata (entenda-se por  tal a que não envolve riscos de qualquer espécie). Servem perfeitamente a construção de engenhocas (género ‘Meccano’ ou outras muitas), o microscópio que se compra e pelo qual se desperta o interesse pelas mil formas admiráveis do mundo maravilhoso da Natureza […]” (Lima, 1952:9)
 

O Guião findou a sua publicação em 1953, não obstante, foi reeditado em abril de 1958 com o nome de Talha-mar: revista para graduados. Fernando Lima, então Comandante de Falange, assumiu funções de diretor desta nova revista para graduados desde o número 1 (5 abril de 1958), até ao número 12 (20 de setembro de 1958). Posteriormente, o Comandante de Falange Mouzaco Dias substituiu Fernando Lima, e, assumiu funções de diretor a 4 de outubro de 1959, com o número 13 de Talha-mar.

A dedicação de Fernando Lima a esta nova revista para graduados, segundo entendemos, foi sobretudo na esfera estética a arte, tal como a ciência, para este ilustrador é uma unidade:

“Arte e ciência não são compartimentos estanques, mas sim aspectos dum mesmo todo; visões parcelares e reduzidas, claro duma unidade. É como se tivéssemos filtrado um raio de luz branca num prisma de cristal: não poderíamos dizer, em boa verdade, que essa luz fosse mais vermelha do que azul, mais amarela do que anilada, mais verde ou mais laranja do que violeta. O branco é tudo isso somado!” (Lima, 1958b:5)

A ideia de arte como uma soma de visões parcelares que culminam na unidade é, pois, uma ideia muito cara ao Regime: o Estado Novo é a garantia de independência e unidade da nação, do equilíbrio de todos os seus valores orgânicos e da aliança de todas as energias criadoras.

“Se acham bem, eu chamaria a isto [2.º Encontro Nacional dos Graduados em Viseu] formação portuguesa o amor às terras e às gentes, e ao que estas conseguiram daquelas para chegar ao que nós somos: é por raízes ao sol; mostrar que continua onde muitos creem e afirmam que começa.” (Lima, 1958:7)


A este respeito, Lima (1958a:7) afirma que não procuremos coisas esquisitas; procuraremos coisas boas. O que é novo não é, por simples definição, bom.” Existe, efetivamente, a necessidade de procurar o bom único. Esta valoração acompanhada a ideia de patriotismo, onde gentes e terras são exaltadas.

1Meccano é uma marca inglesa, do início do século XX, que ficou mais intimamente associada, a um "sistema de construção" em forma de "brinquedo educativo" que permitia a construção de mecanismos em miniatura. A marca Meccano foi usada também como nome da empresa que fabricava o brinquedo originalmente, a Meccano Ltd. O Meccano pode ser considerado um brinquedo, no entanto, ele é um sistema complexo o suficiente para também ser utilizado na criação de protótipos em projetos de engenharia.






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Este ilustrador foi responsável por cerca de 30% das ilustrações da publicação periódica Guião. Fernando da Silva Lima assinou as suas criações de formas distintas: F. Silva Lima, F.S.L., FL, e, finalmente, F.S. Lima.

As suas ilustrações versavam sobretudo cenas de acampamentos da Mocidade Portuguesa e jogos de xadrez. Não admira, portanto, que nos anos oitenta Fernando Lima tivesse constituído a associação Grupo de Xadrez de Macau, registada a 9 de março de 1987 no 2.º Cartório Notarial de Macau, para divulgar e desenvolver o xadrez em todas as modalidades e componentes culturais, desportiva e recreativa (Cf. 2.º Cartório Notarial de Macau, 1987).

Fernando Lima, em Guião demostrou ser um ilustrador eclético, ilustrando as hierarquias dos filiados da Mocidade Portuguesa (Guião, n. 13, 1951:8-9), projetando problemas de xadrez (Guião, n. 17-22), para além de desenhar vivências humorísticas da Organização.



O arquiteto Lima, com traços rápidos e curvilíneos, numa estética despojada de pormenores, esboça paisagens onde o homem e as sua obras estão sempre omnipresentes. As ilustrações ganham autonomia e, desta forma, trespassam as mensagens escritas exibem-se, assim, imagens em movimento e repletas de humor, como são o caso dos peixes de guarda-chuva (Guião, n. 18, 1952:20), o acertar do relógio (Guião, n. 17, 1952:19), o que vale são os enfermeiros (Guião, n. 11, 1951:14).







P. M. 



BIBLIOGRAFIA:


2.º CARTÓRIO NOTARIAL DE MACAU (1987). Anúncio: Grupo de Xadrez de Macau [em linha]: escritura lavrada em 9 de março de 1987, a fls. 39 e segs. do livro de notas n.º 433-A, do 1.º Cartório Notarial de Macau.

LIMA, Fernando (1958). “Ao chegar: encontro 58.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 8 (julho 1958), p. 1-7

                             (1958a).  “Linhas  de  rumo:  acampar.”  in:  Talha-mar:  jornal  dos graduados, N. 11 (setembro 1958), p. 1-7.

                              (1952).  “Sou  capaz!”  in:  Guião:  revista  para  graduados,  N.  20 (out./nov. 1952), p. 9, 18.

                                (1958). “Tema à espera:  10 amigos.” in:  Talha-mar: jornal dos graduados, N. 3 (maio 1958b), p. 5.

SILVA, Susana Maria Sousa Lopes (2011). A ilustração portuguesa         para              a infância  no  século  XX  e  movimentos  artísticos:  influências  mútuas,  convergências estéticas [em linha]: [S.l.: Susana M.S.L. Silva], 2011. (Tese de doutoramento em Estudos  da  Criança  (ramo  de  conhecimento  em  Comunicação  Visual  e  Expressão Plástica).]. Disponível em <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/19682>. [Consult. abril 2018].