João
de Deus Ramos nasceu em Lisboa a 26 de abril de 1878, quarto filho de João de
Deus e de Guilhermina Battaglia. Esteve desde cedo em contato com figuras do
panorama intelectual português e cresceu num ambiente familiar com valores
humanistas.
Fez os
seus primeiros estudos no Colégio de Campolide e em 1897 matriculou-se no curso
de Direito da Universidade de Coimbra que terminou em 1902. Aqui conheceu João
de Barros que se tornou seu grande amigo na defesa dos valores da educação
popular.
A sua
vida pautou-se por três áreas de intervenção em prol da instrução: a ação
política, a ação cívica e a ação pedagógica. No que respeita âmbito da
política, João de Deus Ramos foi deputado (1911 e 1913), Governador Civil da
Guarda (1912) e de Coimbra (1913), Ministro da Instrução Pública (1920) e
Ministro do Trabalho (1924-25). O seu objetivo foi sempre o acesso popular à
instrução e à cultura.
A sua
ação cívica traduziu-se na publicação de artigos no Diário de Lisboa e noutros periódicos, relacionados com a educação,
bem como na participação numa tertúlia cultural com a elite intelectual da
época.
No
campo da pedagogia, este pensador, que iniciou a carreira docente em 1902 no
Liceu Camões, associou-se ao projeto das Escola Móveis de Casimiro Freire.
Juntamente com João de Barros criou várias escolas deste tipo, mas apercebeu-se
das suas limitações: não conseguiram reduzir o analfabetismo e não educavam a
população.
Em
1907, após realizar várias viagens pela Europa para conhecer o funcionamento de
Jardins de Infância que tinham outros métodos de ensino (Montessori, Froëbel
Decrolly), alterou a missão da Associação das Escolas Móveis, incluindo a
criação de Escolas Maternais. Em 1908 o projeto passou a designar-se por
“Associação de Escolas Móveis pelo Método de João de Deus – Bibliotecas
Ambulantes e Jardins-Escolas”.
João
de Deus Ramos preocupou-se com a adoção do método da Cartilha Maternal, não só por uma questão familiar, mas também por
acreditar numa educação ligada à Escola Nova. Na sua opinião, a educação da
criança deveria ter na sua base um método pedagógico adequado, mas também um
ambiente educativo favorável, ligado à preservação dos valores nacionais.
A
partir de 1910 concentrou os seus esforços na criação de uma rede de
Jardins-Escola João de Deus. O primeiro foi inaugurado em Coimbra em 1911, ao
qual se seguiram mais 10. Os valores que lhe presidiram foram a liberdade, o
civismo e a solidariedade. Embora inspirado nos modelos internacionais, manteve
a identidade nacional na arquitetura, ao estilo da “casa portuguesa” do
arquiteto Raul Lino. Quanto à componente pedagógica, ficou marcado pela
disciplina escolar inovadora que remetia para a empatia e para a obediência
ativa.
Em
1917 inaugurou o Museu João de Deus onde se realizariam conferências e debates
sobre temas da cultura nacional.
Em
1928 criou o Bairro Escolar do Estoril, a Escola Nova portuguesa, em sociedade
com João Soares e Américo Limpo de Negrão Buisel.
Entre
as obras publicadas por este autor, podem destacar-se A Reforma da Instrução Primária (2011); A Reforma do Ensino Normal (1912); O Estado Mestre Escola e a Necessidade das Escola Primárias Superiores
(1924); A Criança em Portugal antes da
Educação Infantil (1940).
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS