2025/10/02

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: João de Deus Ramos (1878 – 1953)

 

 

(Imagem do autor retirada da internet)

João de Deus Ramos nasceu em Lisboa a 26 de abril de 1878, quarto filho de João de Deus e de Guilhermina Battaglia. Esteve desde cedo em contato com figuras do panorama intelectual português e cresceu num ambiente familiar com valores humanistas.

Fez os seus primeiros estudos no Colégio de Campolide e em 1897 matriculou-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra que terminou em 1902. Aqui conheceu João de Barros que se tornou seu grande amigo na defesa dos valores da educação popular.

A sua vida pautou-se por três áreas de intervenção em prol da instrução: a ação política, a ação cívica e a ação pedagógica. No que respeita âmbito da política, João de Deus Ramos foi deputado (1911 e 1913), Governador Civil da Guarda (1912) e de Coimbra (1913), Ministro da Instrução Pública (1920) e Ministro do Trabalho (1924-25). O seu objetivo foi sempre o acesso popular à instrução e à cultura.

A sua ação cívica traduziu-se na publicação de artigos no Diário de Lisboa e noutros periódicos, relacionados com a educação, bem como na participação numa tertúlia cultural com a elite intelectual da época.

No campo da pedagogia, este pensador, que iniciou a carreira docente em 1902 no Liceu Camões, associou-se ao projeto das Escola Móveis de Casimiro Freire. Juntamente com João de Barros criou várias escolas deste tipo, mas apercebeu-se das suas limitações: não conseguiram reduzir o analfabetismo e não educavam a população.

Em 1907, após realizar várias viagens pela Europa para conhecer o funcionamento de Jardins de Infância que tinham outros métodos de ensino (Montessori, Froëbel Decrolly), alterou a missão da Associação das Escolas Móveis, incluindo a criação de Escolas Maternais. Em 1908 o projeto passou a designar-se por “Associação de Escolas Móveis pelo Método de João de Deus – Bibliotecas Ambulantes e Jardins-Escolas”.

João de Deus Ramos preocupou-se com a adoção do método da Cartilha Maternal, não só por uma questão familiar, mas também por acreditar numa educação ligada à Escola Nova. Na sua opinião, a educação da criança deveria ter na sua base um método pedagógico adequado, mas também um ambiente educativo favorável, ligado à preservação dos valores nacionais.

A partir de 1910 concentrou os seus esforços na criação de uma rede de Jardins-Escola João de Deus. O primeiro foi inaugurado em Coimbra em 1911, ao qual se seguiram mais 10. Os valores que lhe presidiram foram a liberdade, o civismo e a solidariedade. Embora inspirado nos modelos internacionais, manteve a identidade nacional na arquitetura, ao estilo da “casa portuguesa” do arquiteto Raul Lino. Quanto à componente pedagógica, ficou marcado pela disciplina escolar inovadora que remetia para a empatia e para a obediência ativa.

Em 1917 inaugurou o Museu João de Deus onde se realizariam conferências e debates sobre temas da cultura nacional.

Em 1928 criou o Bairro Escolar do Estoril, a Escola Nova portuguesa, em sociedade com João Soares e Américo Limpo de Negrão Buisel.

Entre as obras publicadas por este autor, podem destacar-se A Reforma da Instrução Primária (2011); A Reforma do Ensino Normal (1912); O Estado Mestre Escola e a Necessidade das Escola Primárias Superiores (1924); A Criança em Portugal antes da Educação Infantil (1940).

  

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS

 

2025/09/29

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo V – As Cantinas

 

 

A ideia da “cantina social” como instituição cívica tinha vindo a ser abandonado desde 1926. No entanto, o Estado Novo considerou ser uma boa imagem de propaganda política ajudar a “matar a fome” às crianças de famílias carenciadas.

Só através da iniciativa de particulares, através de doações, se conseguiu arranjar capitais para a construção de cantinas. Foi o caso da Escola-Cantina D. América da Rocha Melo em Novelas, Penafiel, cujo projeto dos Arquitetos Baltazar de Castro e Rogério de Azevedo data de 1932; e da Escola-Cantina D. Maria do Carmo da Rocha Melo em Convento, sede de freguesia de Bustelo em Penafiel, com um projeto do Arquiteto Joaquim Areal de 1934.


(Imagem do alçado e planta da Escola-Cantina D. América da Rocha Melo, Novelas)


Muitos outros edifícios foram igualmente construídos por todo o país, até que em 1946 o Estado acumulou a obrigação de edificar as cantinas, uma vez que tinha aceite os fundos de manutenção. O Arquiteto Fernandes de Sá apresentou um projeto intitulado Cantinas Escolares – Edifícios Tipo que incluía sala de jantar, lavabos, quarto da ecónoma, instalações sanitárias, despensa, cozinha e anexos e carvoeira. O projeto foi aprovado reduzindo as divisões para um refeitório, cozinha, despensa e telheiro para lenha.


(Imagem do alçado principal e planta de uma Cantina Escolar para 8 salas - Tipo Urbano)


As obras iniciaram-se em zonas do Norte: Trás-os-Montes, Minho e Douro. No Alentejo e Algarve, o projeto-tipo foi da autoria do Arquiteto Alberto de Sousa, aprovados em 1949. Rapidamente se percebeu que uma cantina com apenas um refeitório não era suficiente para escolas com 8 ou mais salas de aula. Depois do pedido feito pela Obra das Mães e pela Câmara de Reguengos de Monsaraz, o governo autorizou a construção de uma cantina compatível com a população escolar. Em 1955 foi aceite que as cantinas tivessem lavabos.

Nas zonas do Centro e de Lisboa, os trabalhos desenvolvidos tiveram em conta os projetos do Norte e do Sul, repetindo-se as plantas e adaptando-se algumas zonas da fachada.

Em 1966 foi feito um novo estudo para os edifícios das cantinas, introduzindo-se uma estrutura antissísmica.

 

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS