António
Sérgio de Sousa nasceu em Damão, na Índia, a 3 de setembro de 1883, filho do
vice-almirante António Sérgio de Sousa (1842 – 1906) e neto do vice-almirante e
Governador-Geral da Índia, com o mesmo nome. Não frequentou a escola durante a
infância, dividida entre a Índia e África, devido ao facto do seu pai ter sido
Governador do Congo Português.
Em
1893 chegou a Lisboa, frequentando o Colégio Militar, a Escola Politécnica e
mais tarde a Escola Naval. Chegou à posição de segundo-tenente da Marinha de
Guerra quando foi proclamada a República. Abandonou a carreira militar, uma vez
que era afeto à monarquia.
Entre
1901 e 1903, influenciado pela obra de Antero de Quental, redigiu as Notas sobre os Sonetos e as Tendências
Gerais da Filosofia, editadas em 1909.
Casou
com Luísa Epifâneo da Silva e em 1912 concorreu para lente de Filosofia na
Universidade de Lisboa. Entre 1914 e 1916 frequentou o Instituto Jean-Jacques
Rousseau, um dos grandes centros da Escola Nova.
Entre
1918-19 lançou a revista Pela Grei em
que participaram vários especialistas. Em 1920 integrou a direção da Seara Nova e em 1923 assumiu a pasta da
Educação no governo de Álvaro de Castro. Neste âmbito tinha como objetivo criar
uma Junta de Ampliação de Estudos para apoio a bolseiros no estrangeiro e
financiamento de institutos e escolas. Este projeto só se veio a concretizar em
1929 com a Junta de Educação Nacional.
Entre
1926 e 1933 viveu em Paris, exilado, após a queda da primeira República.
Regressou ao país nessa data tornando-se ativista do movimento cooperativista e
do socialismo democrático.
Fez
parte do Movimento de Unidade Democrática, juntamente com um enorme grupo de
intelectuais. Mais tarde apoiou a candidatura de Humberto Delgado. Foi preso em
1958, após a derrota de Delgado e em 1959 abandonou a vida de intervenção e a
escrita.
O seu
pensamento pedagógico, orientado por pensadores como John Dewey, Guglielmo
Ferrero, Ramsay MacDonald ou Georg Kerschensteiner, pautou-se pelas seguintes
ideias:
-
Criação de novos processos de educação na infância, nomeadamente através do
método Montessori;
-
Ligação entre a instrução popular e as atividades económicas da região;
-
Interpretação da história de Portugal sobre uma perspetiva económica e social;
-
Instituição de bolsas de estudo no estrangeiro para estudantes portugueses;
-
Recusa do ensino apoiado unicamente na mnemónica;
-
Utilização dos métodos da democracia política na formação dos estudantes;
-
Desenvolvimento de um ensino de continuação;
-
Promoção da divisa “Trabalho e Autonomia”.
Vários
foram os desenvolvimentos estratégicos desta linha de pensamento, que se
concretizaram em várias conclusões:
-
Crítica à importância dada à aprendizagem do alfabeto, uma vez que ler deve ser
um instrumento de trabalho;
-
Crítica aos conteúdos académicos, sendo que as ciências (matemática, física ou
biologia) e a história deveriam ser simples pretextos ou instrumentos;
-
Necessidade de reforma da instrução e da construção de mais escolas;
-
Necessidade de preparação e formação de professores no estrangeiro, sob a
orientação da Escola Nova;
- Descentralização
do ensino que devia ser gerido por uma Conselho de Instrução Pública eleito por
professores;
-
Difusão de novos métodos de ensino;
-Consciencialização
de que a inovação pedagógica é um processo que se encontra em constante
movimento.
A sua
posição relativamente à história de Portugal, com a publicação em 1941 do
primeiro tomo da História de Portugal,
Introdução Geográfica, voltou-se para as causas da decadência do país,
inspirado por Antero de Quental. Para António Sérgio essas causas eram a
importância da aristocracia militar que não permitiu o desenvolvimento de uma
burguesia forte; o ensino para as armas e não para o trabalho criador; a
corrupção gerada pelo sistema de conquistas; os descobrimentos encarados como
um prolongamento da reconquista cristã e a presença da Inquisição.
Na sua
vasta bibliografia merecem destaque os Ensaios
(1920-1958) onde analisou questões literárias, refletindo o seu humanismo, a
intervenção cívica e a pedagogia. Nos Diálogos
de Doutrina Política (1933), o autor expressou a sua contestação ao ideário
e ao pensamento de Salazar.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS