2024/11/25

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: António Sérgio (1883 – 1969)

  

(Imagem do autor retirada da internet)

António Sérgio de Sousa nasceu em Damão, na Índia, a 3 de setembro de 1883, filho do vice-almirante António Sérgio de Sousa (1842 – 1906) e neto do vice-almirante e Governador-Geral da Índia, com o mesmo nome. Não frequentou a escola durante a infância, dividida entre a Índia e África, devido ao facto do seu pai ter sido Governador do Congo Português.

Em 1893 chegou a Lisboa, frequentando o Colégio Militar, a Escola Politécnica e mais tarde a Escola Naval. Chegou à posição de segundo-tenente da Marinha de Guerra quando foi proclamada a República. Abandonou a carreira militar, uma vez que era afeto à monarquia.

Entre 1901 e 1903, influenciado pela obra de Antero de Quental, redigiu as Notas sobre os Sonetos e as Tendências Gerais da Filosofia, editadas em 1909.

Casou com Luísa Epifâneo da Silva e em 1912 concorreu para lente de Filosofia na Universidade de Lisboa. Entre 1914 e 1916 frequentou o Instituto Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes centros da Escola Nova.

Entre 1918-19 lançou a revista Pela Grei em que participaram vários especialistas. Em 1920 integrou a direção da Seara Nova e em 1923 assumiu a pasta da Educação no governo de Álvaro de Castro. Neste âmbito tinha como objetivo criar uma Junta de Ampliação de Estudos para apoio a bolseiros no estrangeiro e financiamento de institutos e escolas. Este projeto só se veio a concretizar em 1929 com a Junta de Educação Nacional.

Entre 1926 e 1933 viveu em Paris, exilado, após a queda da primeira República. Regressou ao país nessa data tornando-se ativista do movimento cooperativista e do socialismo democrático.

Fez parte do Movimento de Unidade Democrática, juntamente com um enorme grupo de intelectuais. Mais tarde apoiou a candidatura de Humberto Delgado. Foi preso em 1958, após a derrota de Delgado e em 1959 abandonou a vida de intervenção e a escrita.

O seu pensamento pedagógico, orientado por pensadores como John Dewey, Guglielmo Ferrero, Ramsay MacDonald ou Georg Kerschensteiner, pautou-se pelas seguintes ideias:

- Criação de novos processos de educação na infância, nomeadamente através do método Montessori;

- Ligação entre a instrução popular e as atividades económicas da região;

- Interpretação da história de Portugal sobre uma perspetiva económica e social;

- Instituição de bolsas de estudo no estrangeiro para estudantes portugueses;

- Recusa do ensino apoiado unicamente na mnemónica;

- Utilização dos métodos da democracia política na formação dos estudantes;

- Desenvolvimento de um ensino de continuação;

- Promoção da divisa “Trabalho e Autonomia”.

Vários foram os desenvolvimentos estratégicos desta linha de pensamento, que se concretizaram em várias conclusões:

- Crítica à importância dada à aprendizagem do alfabeto, uma vez que ler deve ser um instrumento de trabalho;

- Crítica aos conteúdos académicos, sendo que as ciências (matemática, física ou biologia) e a história deveriam ser simples pretextos ou instrumentos;

- Necessidade de reforma da instrução e da construção de mais escolas;

- Necessidade de preparação e formação de professores no estrangeiro, sob a orientação da Escola Nova;

- Descentralização do ensino que devia ser gerido por uma Conselho de Instrução Pública eleito por professores;

- Difusão de novos métodos de ensino;

-Consciencialização de que a inovação pedagógica é um processo que se encontra em constante movimento.

 

A sua posição relativamente à história de Portugal, com a publicação em 1941 do primeiro tomo da História de Portugal, Introdução Geográfica, voltou-se para as causas da decadência do país, inspirado por Antero de Quental. Para António Sérgio essas causas eram a importância da aristocracia militar que não permitiu o desenvolvimento de uma burguesia forte; o ensino para as armas e não para o trabalho criador; a corrupção gerada pelo sistema de conquistas; os descobrimentos encarados como um prolongamento da reconquista cristã e a presença da Inquisição.

Na sua vasta bibliografia merecem destaque os Ensaios (1920-1958) onde analisou questões literárias, refletindo o seu humanismo, a intervenção cívica e a pedagogia. Nos Diálogos de Doutrina Política (1933), o autor expressou a sua contestação ao ideário e ao pensamento de Salazar.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS