2020/06/25

Exposição virtual: "Instrumentos para o trabalho dos têxteis no Museu Virtual da Educação"


O ensino da área dos Têxteis ou Lavores tem uma longa tradição no nosso país. Utilizando instrumentos diversificados, a aprendizagem desta área era bastante profunda e pormenorizada. Entre os diversos equipamentos utilizados em contexto de sala de aula apresenta-se, nesta exposição 6 objetos selecionados, como é o caso da roda de encher canelas que é um instrumento tradicional e que permitia encher canelas para o tear. Temos igualmente a lançadeira que permite efetuar o cruzamento dos fios na tecelagem. O tear é, de fato, uma das peças chave em todo este processo. O tear é instrumento, mecânico ou elétrico, que serve para a tecelagem, ou seja, fabricar tecido, através do cruzamento de fios verticais (urdidura ou teia) que estão presos entre os órgãos do tear, com os fios horizontais (trama) que são transportados pela lançadeira (ou navete) que vai entrelaçando este fio com a teia. Este tipo de aparelhos era utilizado nas aulas de Têxteis ou Lavores para a realização de trabalhos de alunos. Os teares existentes são bastante diversificados, consoante a peça que se deseja obter. Na tapeçaria pode utilizar-se um tear de alto liço ou de baixo liço, sendo que o liço permite a abertura para a passagem do fio da trama. No caso dos teares de alto liço, os liços ficam acima da área que está a ser tecida. Nos teares de baixo liço, como é o caso do apresentado, os liços ficam abaixo da superfície tecida. O tear de padronagem, por exemplo, é geralmente pequeno e possibilita a execução de trabalhos semelhantes aos de um grande tear de pedal. É muito usado para estudo e pesquisa de padrões, possibilitando a execução rápida de pequenas amostras para a visualização imediata de determinados efeitos. O tear jacquard é utilizado na indústria têxtil para fabricar tecidos com desenhos complexos, permitindo que o padrão seja incorporado no tecido e não impresso, criando padrões no tecido por meio do controle da maneira pela qual os fios são levantados ou colocados para baixo. Por último temos igualmente o carreto de ourelas, a dobadoura e vários potes de tingimento para colorir os têxteis.

ME/401092/11
Roda de encher canelas
Escola Secundária Campos Melo
Roda em pinho com a função de encher canelas, composta por um fuso cravado num pequeno carretel disposto horizontalmente e por uma roda com um eixo e aro metálico liso e largo, montados sobre uma espécie de mesa de 4 pés.

ME/401092/13
Lançadeira
Escola Secundária Campos Melo
Peça em madeira, com forma cónica, com recortes circulares gravados superficialmente, com a extremidade em aço. Esta peça, depois de ter sido cheia com fio na caneleira, é encaixada na lançadeira para se proceder ao cruzamento do fio no tear.

ME/401092/15
Tear de pedal
Escola Secundária Campos Melo
Tear manual vertical construído em madeira, de quatro perchadas. Produz tecido através do cruzamento ortogonal dos fios da teia com os da trama, sendo acionado manualmente.

ME/401092/20
Carreto de Ourelas
Escola Secundária Campos Melo
A peça apresenta um dispositivo que permite enrolar as ourelas (remate do tecido) à saída do tear.

ME/401092/22
Dobadoura
Escola Secundária Campos Melo
Instrumento utilizado nas aulas de Tecelagem dos antigos cursos de têxteis para a preparação de meadas de 1 metro ou 1 jarda e determinação do título do fio. Trata-se de um sistema manual com manivela e um indicador mecânico de voltas. Na parte superior do quadrante, tem uma placa metálica dourada, aparafusada ao centro, com a seguinte inscrição: "Instruments de précision M. Claeysen nº 7, Rue La Quintinie - Paris".

ME/401092/29
Pote para tingimento
Escola Secundária Campos Melo
Pote para tingimento utilizado no sector de Tinturaria dos antigos cursos de têxteis. Tem a função de preparar os corantes para tingir os tecidos. É constituído por uma base em cobre, na qual se encaixam 2 potes em porcelana e um outro em aço inoxidável, com pegas em madeira e aço respetivamente. A base constitui um recipiente que, sujeito a uma fonte de calor, permite o aquecimento dos potes que contêm os corantes.

MJS

2020/06/22

Vergílio Ferreira (1916 - 1996)


Vergílio Ferreira deu nome a inúmeras ruas em todo o país, a uma biblioteca em Gouveia (Distrito da Guarda) e a uma escola secundária em Lisboa, na freguesia de Carnide, denominada Escola Secundária Vergílio Ferreira.  

Vergílio António Ferreira nasceu em Melo (Gouveia), a 26 de janeiro de 1916, e faleceu em Lisboa, a 1 de março de 1996. Em 1920, os pais emigram e Vergílio Ferreira é entregue, juntamente com os seus irmãos, aos cuidados de tias maternas.

Em 1922, com dez anos de idade, ingressa no Seminário do Fundão onde permanecerá até 1932:

“Vergílio Ferreira narra com competência, munido de conhecimento próprio, a vida no seminário nas décadas de 30 e 40. A angústia, a solidão e o temor a Deus e aos padres perfeitos. A incerteza da vocação e os castigos da palmatória. A dúvida constante. O penar facilmente concebível no semblante de António, que se trava de razões pessoais e familiares, maldizendo a própria existência, é cruelmente exposto pela mãe, que a certa altura lamenta a tristeza do filho e se interroga se a morte na infância não teria sido melhor destino.” (Silva, 2020).


Em 1940, conclui a licenciatura em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 1942 começou a sua carreira como professor de Português, Latim e Grego. Foi como escritor que se distinguiu no panorama da literatura portuguesa a partir dos anos quarenta do século XX.

Foi em 1953 que Vergílio publicou sua primeira coletânea de contos, “A Face Sangrenta”. Em 1959 publicou a “Aparição”, livro que lhe rendeu o Prêmio “Camilo Castelo Branco” da Sociedade Portuguesa de Escritores. No mesmo ano, ingressou no Liceu Camões, em Lisboa, e ficou até a sua aposentadoria, em 1982. Dois anos depois, em 84, foi eleito sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras.

“[…] Vergílio Ferreira torna-se ainda mais frontal, mais assertivo.  O queixume e o sarcasmo das suas anotações transformam-se em ironia e auto-ironia. Finalmente consegue não estar sempre em carne viva. Passa a ser até capaz de gozar consigo mesmo: de modo que o anúncio do Conta-Corrente I, já noticiada nos jornais e nos cafés, está a despertar uma grande efervescência. Às pessoas a quem já dei o livro morderam nele com avidez […].” (Marques, 2016).



Suas obras receberam influências do existencialismo, dos clássicos gregos, do neorrealismo, da perspetiva metafísica, da simbólica e, de certa forma, do niilismo. Essa mistura de abordagens e influências resultou em um vasto acerto e na originalidade dos escritos do autor:

“[…] é muito interessante a descrição fenomenológica que Vergílio Ferreira nos apresenta dos sentidos, de tal modo que nos diz: ‘os nossos sentidos não são uma relação parcial de nós com o mundo e a vida, mas um modo específico de despertar a nossa unidade, um pretexto especializado ou acentuado de reevocar através dele a nossa totalidade’.“(Ganho, 2012).


Em 1992 foi eleito para a Academia das Ciências de Lisboa, além disso, recebeu o Prêmio Camões, atribuído por um júri luso-brasileiro.[1]

Literariamente, começou por ser neorrealista (anos 40), com "Vagão Jota" (1946), "Mudança" (1949), etc. Mas, a partir da publicação de "Manhã Submersa" (1954) e, sobretudo, de "Aparição" (1959), Vergílio Ferreira adere a preocupações de natureza metafísica e existencialista. A sua prosa, que entronca na tradição queirosiana, é uma das mais inovadoras dos ficcionistas deste século.

O ensaio é outra das grandes vertentes da sua obra que, aliás, acaba por influenciar a sua criação romanesca. Temas como a morte, o mistério, o amor, o sentido do universo, o vazio de valores, a arte, são recorrentes na sua produção literária. Além disto, Vergílio Ferreira deixou-nos vários volumes do diário intitulado "Conta-Corrente". Das suas últimas obras destacam-se: "Espaço do Invisível", "Do Mundo Original" (ensaios), "Para Sempre" (1983), "Até ao Fim" (1997) e "Na tua Face" (1993). Recebeu o Prémio Camões em 1992.

 P.M.



BIBLIOGRAFIA:



 

CALAFATE, Pedro (s.d.)  “Vergílio Ferreira (1916-1997)”. [em linha]: Filosofia Portuguesa [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/1910j.html

 

GANHO, Maria de Lourdes Sirgado (2012). Vergílio Ferreira: uma aproximação existencial [em linha]: Cultura: Revista de História e Teoria dasd ideias, Vol. 30, 2012, p.  215-224 [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://journals.openedition.org/cultura/1707

 

 

MARQUES, Joana Emídio (2016). “As polémicas de um escritor em contracorrente” [em linha]: Observador, 28 de janeiro de 2016 [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://observador.pt/especiais/vergilio-ferreira-um-escritor-corrente/

 

 

PENSADOR (s.d). Biografia de Vergílio Ferreira [em linha]. Matosinhos: 7graus. [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://www.pensador.com/autor/vergilio_ferreira/biografia/

SECRETARIA-GERAL DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA (s.d.). Escola Secundária Vergílio Ferreira, Lisboa [em linha]. Lisboa: Direção de Serviços de Documentação e de Arquivo [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: http://arquivo-ec.sec-geral.mec.pt/details?id=50591


SILVA, Ivo Rocha da (2020). “O confinamento na Manhã Submersa de Vergílio Ferreira” [em linha]: Público, 15 de abril de 2020. [Consult. 22 de maio de 2020]. Disponível: https://www.publico.pt/2020/04/15/p3/cronica/confinamento-manha-submersa-vergilio-ferreira-1912057





[1] Prémio Camões - instituído em 1988 pelos governos português e brasileiro com vista a estreitar os laços culturais entre os vários países lusófonos e enriquecer o património literário e cultural da língua portuguesa. O Prémio Camões foi instituído inicialmente pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da República Federativa do Brasil, de 7 de setembro de 1966, que cria o Prémio Camões, assinado em Brasília, em 22 de junho de 1988, aprovado por Portugal através do Decreto n.º 43/88, de 30 de novembro.