2015/10/28

A revista "Esmeraldo: Política e Humanismo"

A revista
ESMERALDO: POLÍTICA E HUMANISMO



"Esmeraldo é uma nova revista editada pelo Comissariado da Mocidade Portuguesa de Lisboa, que acaba de sair a lume [1954]. O subtítulo, Política e Humanismo, indica suficientemente os objetivos que pretende atingir esta nova publicação e quais os caminhos para onde endireita os seus passos. O título ‘bela e misteriosa palavra que um sábio e um herói português escolheu para princípio da obra’, tem o seu quê de misterioso verbo, sabe a roteiro sempre antigo, sempre novo e sempre português. Esmeraldo quer ser um roteiro em Politica e em Humanismo. À nova Revista, sob a direção do Dr. Luís Ribeiro Soares, auguramos longa e próspera vida (Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, Lisboa).”
Tavares (1954:188)

O ano da publicação, 1954, será, pois, uma escolha sensata de instrução e “princípio de obra” humanista e sociopolítica. O humanismo, nesta época, apresenta-se como um conjunto de ideais e princípios que valorizam as ações humanas, ou seja, esta corrente ideológica sedimenta-se em categorias morais e, desta forma, recoloca o homem como ente principal no mundo. Como verificamos, esta perspetiva ética atribui importância à dignidade e às capacidades humanas, particularmente, à racionalidade, tal como Esmeraldo professa ao logo dos 13 números de publicação.

“É entretanto no Criador de todos os seres que deparamos o Sumo Bem – Ele é o próprio Bem. Logo há um compromisso de analogia entre o Ser por excelência e os demais seres. Estes são bens, embora infinitamente menores.” (Costa, 1954:29).

Em Esmeraldo, o humanismo é perspetivado de uma forma cristã. São enumeros os artigos sobre tal temática, onde a epistemologia e a religião se intercruzam. O cristianismo, como sabemos, tem uma concepção elevada do ser humano e reafirma a dignidade e a sacralidade da vida: todo o indivíduo reflete a imagem do Criador, como afirma Costa (1954:29), o Criador é o Sumo Bem. Ao longo dos séculos, essas convicções enraizam-sem no indivíduos, comunidades e nações.

A par destas preocupações sociopolíticas, tão próprias da época, no N. 1 da revista – “princípio Esmeraldo porquê e para quê?” –, são esboçados (i) objetivos, (ii) conteúdos e (iii) finalidades da sua publicação que, segundo entendemos, podem ser esquematizados do seguinte modo:

1.     Estrutura – “bela e misteriosa palavra
2.     Objetivo“roteiro português
3.     Modelos de investigação “vanguarda e juventude pelo estar”
4.     Nacionalismo“Deus nos plantou aqui à beira mar”
5.     Saudosismo“como um rosário, outras palavras”

São apresentadas as orientações metodológicas em Esmeraldo e delineados conteúdos a seguir (reflexões humanistas e sociopolíticas). Não esquecendo, porém, os contornos nacionalistas vs. saudosismo tão próprio da época do Portugal de então, vejamos:

“Esmeraldo é obra que faz e guarda, contém algo, algo que é, muito singelamente, um roteiro, um roteiro português […]. Qualquer coisa que indica caminho bom e seguro, entre tantos possíveis, […] aquilo que guia e orienta, que cota a solidão e a vastidão […]. E assim, Esmeraldo, que surge, misteriosamente como principio de obra, só por força de beleza do seu mistério […]. Pois tememos à beira-mar do nosso mar a primeira palavra de roteiro. A palavra de arranque: Esmeraldo! Atrás dela hão-de vir, saídas de misteriosos fundos, presas umas às outras como contas de rosário, […]” (Mocidade Portuguesa, 1954:3).

A revista Esmeraldo começa a sua publicação em 1954 e termina dois anos mais tarde, em 1956, com publicações irregulares distribuída por treze números. O diretor é Luís Ribeiro Soares[1] e a propriedade, como não podia deixar de ser, é do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa e a composição é efetuada nas Oficinas de Coimbra Editora. No que diz respeito ao preço, a assinatura é 30$00 cada seis números e os números avulso custam 7$50 cada.

As primeiras duas capas apresentam uma organização minimalista: letras brancas, ao logo de toda a capa – ESMERALDO - em fundo verde. As capas posteriores apresentam uma lista na parte superior (15x5 cm) com a designação ESMERALDO Política & humanismo e, na parte inferior, a descrição do Autor / Artigo (por ex.: Mário de Albuquerque * É contra a honra).

A esmagadora maioria dos artigos apresentam conteúdos científicos (epistemologia, humanismo, etc.) e, consequentemente, estão munidos de referências bibliográficas e, mesmo, com pequenas bibliografias, ainda que elementares:



Fonte: Ribeiro, (1954:43)

A bibliografia encontra-se alfabetada, a palavra de ordem privilegia o título em relação ao autor. Alguma das vezes, a bibliografia é substituída por referências bibliográficas ao longo do texto. Veja-se a este respeito, por exemplo, o artigo Direito e psicologia da autoria de António João Bispo. Todas as páginas apresentam várias referências bibliográficas, não obstante, estas não são organizadas em bibliografia final (Cf. Bispo, 1956:47 ss).



Bibliografia:


BISPO, António João. “Direito e psicologia”. in: Esmeraldo: Política e humanismo, N. 1 (1956), p. 35-46.


COSTA, João Afonso Viana da. “Fundamentos augustinianos para u humanismo” in: Esmeraldo: Política e humanismo, N. 1 (1954), p. 23-31.


ESMERALDO: POLITICA E HUMANISMO. Lisboa: Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, 1954-1956.


MOCIDADE PORTUGUESA. Ao princípio… Esmeraldo porquê e para quê? in: Esmeraldo: Política e humanismo, N. 1 (1954), p. 3-4.


RIBEIRO, João Maria Salvado. “Cibernética e máquina pensantes”. In: Esmeraldo: Política e humanismo, N. 1 (1954), p. 32-43.


TAVARES, Severiano. “No centenário da morte de Platão” in: Revista Portuguesa de Filosofia, T. 10, fasc. 2 (Abr./Jun. 1954), p. 188.



P. M. 





[1] Luís Ribeiro Soares (Lisboa, 14 de novembro de 1911Lisboa, 28 de julho de 1997), reconhecido filósofo e professor. Fez os seus estudos secundários no Liceu Camões e cursou depois a Faculdade de Direito onde foi aluno de Marcelo Caetano mas acabaria por se formar em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em julho de 1950. Com 22 anos entrara para o Banco de Portugal, no qual já trabalhava seu pai e onde ascendeu em 1951 a Conservador da Biblioteca. Nos anos 40 fez parte da redação do jornal Acção e nesta década até inícios da seguinte (1952) exerceu importante atividade no âmbito da política cultural portuguesa através do Secretariado Nacional de Informação, dirigido pelo jornalista e escritor modernista António Ferro, onde ocupou as funções de chefe de secção.