2013/04/16

Ensino da Música - II




Ensino da música
II

A música[1] é uma forma de arte que se constitui basicamente pelo combinar de sons e silêncio. Assim sendo, é uma representação, por excelência, das práticas culturais e humanas – não existem, na atualidade, civilizações que não possuam manifestações ou representações musicais próprias. A escola, em si mesma, enquanto referência cultural, é um elo de promoção de múltiplas experiências e, acima de tudo, consolida vivências e saberes quer ao nível epistemológico quer ao nível estético.

Na monografia música na escola primária da autoria de Edna Almeida del Valle e Niobe Marques da Costa (4.ª edição brasileira de 1971) são delineadas, primeiramente, algumas considerações sobre as vantagens da aprendizagem da música. Entre inúmeras vantagens, o canto, enquanto expressão artística é vista como uma etapa fundamental do desenvolvimento intelectual:

“O canto envolve uma série de ações que proporcionam o desenvolvimento: — da acuidade auditiva, uma vez que do bem ouvir dependerá, em grande parte, a reprodução dos sons.” (Valle e Costa, 1971:10)



Na Figura 1, índice da monografia acima referenciada, são apresentadas metodologias e pedagogias decorrentes do ensino da música:
ü  Coadjuvante de matérias curriculares;
ü  Incentivo à educação cívica;
ü  Estrutura disciplinadora e estruturante;
ü  Auxiliar do sentido critico-estético.

Como verificamos, a música, em si mesma, não aparece desgarrada das atividades holísticas de aprendizagem, ao invés, é vista como coadjuvante e como forma de ligação interdisciplinar. Para além deste facto, destaca-se a educação musical como uma estrutura disciplinadora e estruturante:


“[…] a obtenção de disciplina ativa, a disciplina que vem de dentro para fora, consciente, disciplina autónoma -  em que o próprio aluno, movido pelo interesse da música, se impõe a si mesmo […].”(Valle e Costa, 1971:20)

Para além deste princípio proactivo e autónomo, o aluno atento aguça o seu sentido crítico e abre-se a novas e exigentes experiências estéticas — a educação musical, tomada quer como promotora de conteúdos específicos e/ou facilitadora da socialização, interage com o trabalho escolar e relações de cooperação dentro e fora da escola, que só podem afirmar mais-valias de cidadania.

“Criar, vivenciar, apreciar e interpretar músicas são práticas que devem constituir a base das aulas de música. Certamente tais parâmetros precisam ser realizados e inter-relacionados a partir de objetivos claros, tendo o cuidado de que nenhuma atividade seja aplicada aleatoriamente. Mas é preciso, também, ter consciência de que, no contexto das escolas, a brincadeira e o prazer que podem envolver uma atividade dessa natureza são requisitos, muitas vezes, fundamentais para que o professor obtenha sucesso na sua proposta educativa.” (Queirós e Marinho, 2009:65)

Queirós e Marinho (2009:65) estão conscientes de que a música é muito mais do que práticas estruturantes, a música, em si mesmo, é fruição – o sucesso do bem-fazer, hoje e sempre, são uma prática pedagógica aliada à aprendizagem prazerosa. A criatividade, seja na música, seja em qualquer área do saber, constrói pontes, dinâmicas imaginante que se instalam em semânticas viventes e para viventes.

O capítulo três e quatro são dedicados, inteiramente, a procedimentos didáticos, tais como, as técnicas para o ensino da música e exercícios preparatórios. Para além desta parte teórica, são contempladas algumas aplicabilidades do uso da música em contexto escolar – o capítulo cinco, todo ele, está vocacionado para a organização das festas na escola. Por fim são apresentados alguns hinos oficiais, enfim, é apresentado, na prática, o por quê do estudo da música:

“O processo de ensino e aprendizagem da educação musical consiste na interação de um conjunto de atividades relacionadas com a audição, interpretação e composição. Esta interação carateriza-se por três aspetos essenciais: o primeiro é que todas estas atividades são atividades criativas; o segundo, diz respeito ao facto de que as práticas musicais podem envolver mais do que uma atividade em simultâneo. O terceiro e último aspeto diz respeito ao fato de ouvir, interpretar e compor estar interligado com os contextos de criação e ação artística, sociais, culturais, históricos e estéticos através de abordagens nomeadamente a outras artes e áreas científicas, humanas e tecnológicas.” (Vasconcelos, 2006:5)



Bibliografia:


CARVALHO, Rómulo de (1986). História do ensino em Portugal, desde a nacionalidade até ao fim do regime de Salazar-Caetano. Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian.

IRIA, Alexei Valerievich Kozlov (2011). O ensino da música em Portugal – desde 25 de Abril de 1974 [online]: Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Música.
[Consulta: 2 abr. 2013].


NETO, Borges Hermínio; SANTANA, José Rogério (2001). “Fundamentos Epistemológicos da Teoria de Fedathi no Ensino de Matemática” [on-line]: Anais do XV EPENN - Encontro de pesquisa educacional do nordeste: educação, desenvolvimento humano e cidadania; Vol. Único (junho 2001), p. 59-71
[Consulta: 2 abr. 2013].


VALLE, Adna Almeida del; COSTA, Niobe Marques da (1971). Música na escola primária. Rio de Janeiro: Liv. José Olympo.

VASCONCELOS, António Ângelo (2006). Ensino básico: 1.º ciclo do ensino básico: orientações programáticas. Lisboa: Ministério da Educação.

QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. “Práticas para o ensino da música nas escolas de educação básica.” [ONLINE]: Música na educação básica. Porto Alegre; Vol.  1, N. 1 (out. 2009).
\http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/revista_musica_na_escola/5_praticas_para_o_ensino.pdf> [Consulta: 2 abril 2013].


P. M.


[1] Música, do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas