2024/03/18

Colégio de Campolide - Parte I

 


O Colégio de Campolide foi um estabelecimento de ensino administrado pelos padres da Companhia de Jesus que funcionou durante a segunda metade do século XIX no bairro de Campolide, em Lisboa.

 

“O fundador do colégio de Campolide foi o P.e Carlos João Rademáker, cujo apelido lhe veio do seu bisavô paterno de origem holandesa. Nasceu em Lisboa a 1 de junho de 1828, […] decidido a consagrar-se ao estado eclesiástico, tratou de estudar teologia, vindo a ordenar-se a 20 de outubro de 1851, cantando a primeira missa a 29 do mesmo mês.” (Grainha, 1913, p. XII, ss).

 

Em 1853, Padre Rademáker tomou conta de alunos pobres, acolhendo-os numa casa no Largo da Páscoa. Em 1857 transferiu-os para a Rua de Buenos Aires, em 1858, finalmente, para o Colégio de Campolide:

 

“[…] As Instalações do Colégio: tendo começado por uma modesta casa na Quinta da Torre, em Campolide, comprada pelo seu fundador, o padre Carlos João Rademáker, em breve se transformou numa imponente construção que em 1908 tinha 160 m de comprimento. Actualmente, estas instalações reformuladas, pela sua extensão e capacidade, são usufruídas pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa” (Santos, 2011, p. 157).

Na publicação Historia do Colégio de Campolide da Companhia de Jesus[1] (p. 42 ss.), é descrito o engrandecimento material do Colégio de Campolide com o dinheiro das beatas, dos amigos e dos alunos. O Padre Rademáker comprou na Quinta da Torre, em Campolide, uma pequena casa com 34 metros de comprimento - transformando-a numa construção enorme de 160 metros de comprimento, cuja grandeza comparada com a da primitiva se poderá avaliar pelos desenhos feitos por ocasião do quinquagésimo aniversário do Colégio, onde este aparece nas suas duas fases, de 1858 e 1908:

 


Segundo a Direcção-Geral do Património (2002), foi em 21 de julho de 1858 que foi fundado o Colégio da Companhia de Jesus de Nossa Senhora da Conceição de Campolide pelo padre Carlos Rademaker, na Quinta da Torre, adquirida ao poeta João de Lemos (1818-1890) pela quantia de quatro contos de réis, funcionando aí o Instituto de Caridade. Em 1860 assistiu-se à transferência do Instituto de Caridade para a Casa do Barro, em Torres Vedras.

 

As obras para ampliar o edifício originário começaram logo em 1861, com uma casa para poente, anexa à primitiva, de uns 17 metros de comprido, onde estabeleceram um dormitório em forma de galeria tendo uns camarins em baixo do pavimento e outros tantos por cima destes, num total de 30.

 

Em 1865 construiu-se um novo lanço para nascente, onde, até 1890, no rés-do-chão funcionavam as aulas e no primeiro andar esteve um dormitório, sendo tudo demolido nesse ano para dar lugar á parte central da atual frontaria. De 1867 até 1880, as construções foram feitas do lado da quinta: em 1867, a parte pegada com a nova igreja, cujo primeiro andar se dividiu em 10 quartos para os padres; de 1871 a 1872, as três alas ocupadas pelas salas de estudo, refeitório dos alunos e cozinha; em 1877, mais duas alas parta poente das anteriores, para serviços dos padres, com cave e dois andares, a que em 1902 se acrescentou um terceiro. Em 1879 lançou-se a primeira pedra para a nova igreja, que se concluiu em abril de 1884.

 

Em 1185 começou-se a edificação da nova fachada - o primeiro lanço a nascente, com 25 metros de comprimento, que pôde ser habitado em 1890; o outro lanço até à igreja começou-se em 1891, estando a parte central terminada em 1895 e, por sua vez, a última em 1900.

 

O edifício tinha duas torres elevadas, a mais alta das quais, no extremo ocidental, com 40 metros de altura, abrangendo-se do cimo dela um dos mais extensos panoramas de Lisboa e seus arredores.


P. M. 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

DIREÇÃO-GERAL DO PATIMÓNIO CULTURAL (2002). Colégio de Maria Santíssima Imaculada de Campolide. Colégio de Campolide. Quartel do Batalhão de Caçadores N.º 5. Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa [em linha]. Sacavém: Sistema de Informação para o Património Arquitectónico [Consult.  7 de fevereiro de 2024]. Disponivel: www. monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3138.

 

GRAINHA, M. Borges (1913). História do Colégio da Companhia de Jesus: escrita em latim pelos padres do mesmo Colégio onde foi encontrado o manuscrito. Coimbra: Imprensa da Universidade.

 

SANTOS, Maria Alcina (2011). Elites salazaristas transmontanas no estado novo o caso de Artur Águedo de Oliveira (1894-1978) [em linha]. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra [Consulta 7 de fevereiro de 2024]. Disponível: https://hdl.handle.net/10316/18281.

 



[1] GRAINHA, M. Borges (1913). “Engrandecimento material do Colégio da Campolide com o dinheiro das beatas, dos amigos e dos alunos” in: História do Colégio da Companhia de Jesus: escrita em latim pelos padres do mesmo Colégio onde foi encontrado o manuscrito. Coimbra: Imprensa da Universidade, p. 42-48.

2024/03/14

Peça do mês de março/ 2024

 




Pote para tingimento

 

Pote para tingimento utilizado no sector de Tinturaria dos antigos cursos de têxteis. Tem a função de preparar os corantes para tingir os tecidos. É constituído por uma base em cobre, na qual se encaixam 2 potes em porcelana e um outro em aço inoxidável, com pegas em madeira e aço respetivamente. A base constitui um recipiente que, sujeito a uma fonte de calor, permite o aquecimento dos potes que contêm os corantes.

Está inventariado com o número ME/401092/29 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária Campos Melo.


MJS


2024/03/11

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Agostinho da Silva (1906 - 1994)

(Imagem retirada da internet)

George Agostinho Baptista da Silva nasceu a 13 de fevereiro de 1906 no Porto, filho de Francisco José Agostinho da Silva e de Georgina do Carmo Baptista e Silva. Viveu em Figueira de Castelo Rodrigo até aos 6 anos, regressando ao Porto em 1912 para iniciar os seus estudos na Escola Primária de São Nicolau e posteriormente, em 1914, na Escola Industrial Mouzinho da Silveira. Concluiu os seus estudos secundários no Liceu Rodrigues Freitas em 1924.

Entre 1924 e 1928 concluiu a licenciatura em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto com 20 valores. Em 1930 fez o Doutoramento também na Universidade do Porto com a dissertação O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas. Iniciou igualmente uma colaboração com a revista Seara Nova, que se manteve até 1938.

Em 1931 deslocou-se a Paris para efetuar estudos na Sorbonne e no Collège de France. Regressou a Portugal em 1933 onde lecionou no ensino secundário em Aveiro até 1935. Nesta data foi demitido do ensino por não assinar a Lei Cabral: obrigatoriedade de todos os funcionários públicos a declarem que não participavam em organizações secretas.

Em 1935 conseguiu uma bolsa de estudos para Espanha no Centro de Estudos Históricos de Madrid. A iminência da Guerra Civil fez com que regressasse a Portugal em 1936.

Em 1939 fundou o Núcleo Pedagógico Antero de Quental. Entre 1940 e 1945 publicou os Cadernos Iniciação e entre 1941 e 1946, os Cadernos Antologia. Tendo sido preso pela polícia política em 1943, abandonou o país no ano seguinte e rumou à América do Sul.

Em 1947 passou a viver no Brasil, onde residiu até 1969. Durante estes anos trabalhou no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro; lecionou na Faculdade Fluminense de Filosofia; exerceu funções docentes na Universidade Federal de Paraíba e em Pernambuco; em 1954, juntamente com Jaime Cortesão, organizou a Exposição do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo, entre muitas outras atividades. Em 1958 obteve nacionalidade brasileira, perdendo direito à nacionalidade portuguesa.

O regresso a Portugal, após a morte de Salazar, foi marcado pelo ensino e pela produção literária. Dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Lisboa e foi consultor no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. Em 1987 recebeu a Grã-cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Em 1990, numa colaboração com a RTP concedeu 13 entrevistas que com o título Conversas Vadias.

Em 1992 readquiriu a nacionalidade portuguesa e veia a falecer a 3 de abril de 1994.

No que respeita à sua linha de pensamento, podemos distinguir duas fases, uma anterior à ida para o Brasil e outra, posterior a essa data. Na primeira fase, Agostinho da Silva, foi influenciado pela pedagogia moderna, defendendo o papel da escola na formação de cidadãos preparando-os para a vida ativa. Na obra Sanderson e a Escola de Oundle (1941) Agostinho referiu que no estado atual, a educação tradicional conduzia ao individualismo, dominado pela posse e pela rivalidade. A “nova escola” deveria privilegiar o instinto criador e a descoberta através de uma nova organização da sala de aula que promoveria o trabalho em grupo, sem castigos ou prémios.

Na segunda fase, marcada pela sua deslocação ao interior do Brasil em 1952, o educador encontrou uma realidade social caracterizada pela entreajuda e pelo espírito comunitário, ou seja, uma realidade semelhante à de Portugal durante a I Dinastia.

O autor fez uma análise da história de Portugal, uma vez que pensava ser necessário uma revisão ou correção da sua leitura, destacando alguns momentos. O primeiro foi a fundação de Portugal, que opôs Afonso Henriques à sua mãe. Foi um momento negativo que influenciou para sempre o percurso da nação. O segundo momento, positivo, foi a expansão para o sul através do combate aos muçulmanos, que imbuiu os portugueses do espírito de sacrifício e de despojamento, semelhante ao dos Templários. O outro momento positivo foi a introdução do culto joaquimita da Idade do Espírito Santo pela Rainha Santa Isabel. Por último, Agostinho referiu a organização da população em concelhos autónomos durante a I Dinastia o que contribuiu positivamente para o desenvolvimento de um espirito de partilha comunitária. O foco foi totalmente afastado da época dos Descobrimentos.

Na sua obra Educação de Portugal, escrita em 1970 e apenas publicada em 1989, Agostinho fez uma síntese do seu pensamento educativo: a escola era uma instituição bloqueada que reproduzia os defeitos morais da sociedade. Retomando a teoria do bom selvagem, reconheceu que o problema não estava no indivíduo, mas sim na civilização e na escola que perpetuava as desigualdades sociais. Quando a civilização atual se esgotasse seria a altura do aparecimento de uma nova escola.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS

 

2024/03/07

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adolfo Lima (1874 - 1943)

(Imagem retirada de Dicionário de educadores portugueses)


Adolfo Ernesto Godfroy de Abreu e Lima nasceu em Lisboa a 25 de maio de 1874, filho de Artur Jorge Rubim de Abreu e Lima e de Palmira Olímpia Godfroy de Abreu, uma família abastada de origem nobre. A sua mãe faleceu quando tinha 12 anos de idade.

Frequentou o Colégio Nacional, onde organizou um grupo cénico e um jornal, O Luso. Em Coimbra continuou os estudos universitários licenciando-se em Direito em 1900 e tendo exercido advocacia entre 1902 e 1910.

Desiludido com o meio jurídico, dedicou-se à cultura, à educação e ao teatro. O seu pensamento sobre a educação baseou-se nos ideais da Escola Nova, contrária ao pensamento da massificação escolar. Adolfo Lima defende uma escola flexível, com respeito pela diferença.

Umas das principais críticas de Adolfo Lima ao sistema de ensino vigente era a diferenciação entre a educação profissional, para pobres e a educação clássica, para ricos, que, na sua opinião, reforçava a existência de uma sociedade dividida em classes sociais. Este tipo de pensamento teve por trás uma forte convicção anarquista que acompanhou o pensador durante toda a sua vida. A educação era, assim, uma forma de domínio dos grupos políticos e sociais.

A alternativa passava por uma escola única com um programa que juntasse os aspetos manuais e intelectuais, ou seja, uma educação completa e alargada. A ideia da democratização da sociedade através da escola era um dos pilares do seu pensamento, promovendo o pleno desenvolvimento do aluno.

Como tal, Adolfo Lima centrou-se em dois aspetos fundamentais: a liberdade na educação e o seu caráter integral como forma de desenvolver plenamente o ser humano, contribuindo para combate à desigualdade social.

Tentou por em prática estes princípios na Escola Oficina n.º 1 criada em 1905 e em funcionamento até 1926 em Lisboa, fazendo da instituição uma referência para a pedagogia. Assim alguns dos princípios adotados foram:

-  a existência de trabalhos manuais;

- a proibição de punições físicas;

-  a existência de uma associação de alunos criada em 1910 conhecida como a Solidária que organizava festas, refeições, eventos desportivos, etc.;

- a introdução da dança, do teatro e da música;

- a inexistência de um livro único;

- as aulas eminentemente práticas;

- a abertura da escola a raparigas em 1913, sem disciplinas diferenciadas.

O desenvolvimento estético foi uma das preocupações de Adolfo Lima, sobretudo no que dizia respeito à arte dramática. Em 1914, com a publicação da obra O Teatro na Escola, dá-se pela primeira vez importância a esta vertente disciplinar.

O pensador lecionou no Liceu Pedro Nunes entre 1911 e 1923 e foi nomeado diretor da Escola Normal de Benfica ente 1918 e 1921. Manteve-se como docente até 1933, quando passou a dirigir a Biblioteca-Museu do Ensino Primário.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


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2024/03/04

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adolfo Coelho (1847 – 1919)


(Imagem retirada da internet)


Francisco Adolfo Coelho nasceu em Coimbra a 15 de janeiro de 1847, filho de João Gaspar Coelho e de Francisca do Carmo Coelho. Teve uma infância difícil, perdendo o pai aos 19 meses.

Após os estudos preparatórios, ingressou na Universidade de Coimbra com 15 anos. Ficou bastante desiludido com o ambiente universitário, abandonando os estudos dois anos depois, centrando-se nos autores alemães, marcados pelo positivismo e espirito cientifico, em Comte e Spencer.

As áreas em que mais se destacou foram a filologia, a etnografia e a educação, sobretudo no que dizia respeito à pedagogia e aos métodos de ensino. Adolfo Coelho teceu várias críticas ao estado da educação: os manuais que não se ajustavam do ponto de vista metodológico; a reduzida frequência das escolas; e ainda a deficiente formação dos professores. A sua visão da educação orientou-se para a integração, visando não só a formação letiva, mas também a
formação de caráter. Pretendia a introdução do trabalho manual como parte da componente letiva, orientando o aluno para a sua vida ativa.

No que respeita à pedagogia, apresentou A Questão do Ensino nas Conferências do Casino, publicada em 1872, onde defendeu a importância do ensino para elevar o homem e conduzi-lo ao seu destino. A educação deveria ser uma prioridade no plano de reformas do país, laica e com liberdade de investigação e de pensamento.

Entre 1882 e 1883 participou na criação do Museu Pedagógico Municipal de Lisboa e da sua biblioteca. Em 1883 foi nomeado diretor da Escola Rodrigues Sampaio. Colaborou com Jaime Moniz na reforma do ensino secundário entre 1894 e 1895, tendo redigido os programas de Português, Francês e Geografia.

Em 1901 lecionou a cadeira de Pedagogia na Escola de Habilitação para o Magistério Secundário. Posteriormente em 1911, assumiu essa função na Escola Normal Superior da Universidade de Lisboa, bem como a cadeira de Metodologia Geral das Ciências do Espírito.

 

Ao nível da etnologia, fez várias investigações recolhendo material sobre costumes, festas, crenças e tradições populares por todo o país. Em 1890 apresentou o seu estudo sobre esta matéria no Esboço de um Programa para o Estudo Antropológico, Patológico e Demográfico do Povo Português. Em 1892 publicou Os Ciganos em Portugal e em 1896, o Plano para o estudo da tradição portuguesa – Portugal e Ilhas Adjacentes e o Plano da Exposição Etnográfica Portuguesa. O seu interesse por esta área relacionou-se com a construção de fundamentos para a educação.

No âmbito da filologia, apresentou um plano de estudos para a criação de uma cadeira no Curso Superior de Letras (que se viria a tornar a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), o que se concretizou em 1878 com o surgimento da Filologia Comparada. Adolfo Coelho foi, assim, professor de Filologia Românica Comparada e de Filologia Portuguesa.

O pensamento educacional de Adolfo Coelho pode sintetizar-se, de forma muito breve e linear, nos seguintes pontos:

- a educação pública era a resposta à decadência moral e cultural do país;

- a educação devia submeter-se à razão crítica;

- a mudança de mentalidade devia ter como base a educação;

- a criança devia ser o sujeito da aprendizagem;

- a existência de jardins-escola era fundamental como forma de educar a criança antes do ensino primário;

- o educador deveria respeitar a atividade mental e física da criança, tendo em conta a sua idade;

- a relação entre a distribuição dos graus de ensino e a seleção social assumia grande relevância;

- a educação não significava apenas instrução;

- a educação popular não se podia limitar à alfabetização;

- a reforma da educação não implicava um corte total com o passado;

- a inclusão de elementos tradicionais na educação, ou seja, o material pedagógico do povo contribuiria para o sucesso educativo;

- a instrução devia partir do simples para o complexo;

- o trabalho manual era imprescindível na educação;

-  o ensino geral e o ensino pessoal deviam ser distintos;

- a articulação entre o ensino primário elementar e o ensino primário superior facilitaria a implementação de um projeto educativo, bem como a criação de uma escola-modelo;

- a formação do cidadão devia ser privilegiada;

- o ensino livresco devia ser abandonado, os professores deviam ter formação e as escolas deveriam ser dotadas de material pedagógico apropriado.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


 


2024/02/29

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Adelaide Cabete (1867 – 1935)

 

(Imagem retirada da internet)


Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete nasceu em Elvas a 25 de janeiro de 1867, filha de Ezequiel Duarte Brazão e Balbina dos Remédios Damas Brazão, trabalhadores rurais. Foi uma das principais figuras do feminismo português, humanista, professora, autora, médica ginecologista e obstetra.

O seu pai morreu quando ainda era bastante jovem, pelo que teve de trabalhar na agricultura desde cedo e em atividades domésticas nas casas das famílias mais abastadas. Dada esta situação, não frequentou a instrução primária, mas aprendeu a ler e escrever sozinha.

Casou aos 18 anos com o sargento e militante republicano Manuel Ramos Fernandes Cabete. Defensor dos direitos das mulheres, incentivou Adelaide a prosseguir os seus estudos: fez o exame de Instrução Primária em 1889, o curso dos liceus em 1894 e os exames da Escola Politécnica em 1895. Posteriormente mudou-se para Lisboa onde prosseguiu a sua instrução na área da medicina. Em 1896 matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica. Concluiu o curso em 1900 com a tese Proteção às mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações, com o objetivo de incentivar o governo a intervir no melhoramento da situação das mulheres grávidas.

Especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia, estabelecendo o seu próprio consultório. Procurou difundir os cuidados materno-infantis, a importância da instrução e os cuidados básicos da grávida e da criança. O seu primeiro artigo foi publicado no Jornal Elvense em 1901 com o título: Instrua-se a mulher.

Em 1908 fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas em parceria com Ana de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo. Pretendiam a emancipação das mulheres e o sufrágio feminino. Adelaide participou em vários movimentos propagandísticos republicanos, escrevendo vários artigos e discursando. Teve uma atividade relevante no 5 de outubro de 1910.

A partir de 1912 envolveu-se em inúmeras organizações que reivindicavam o voto feminino: a Liga Portuguesa Abolicionista, a Cruzada das Mulheres Portuguesas, as Ligas da Bondade e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde assumiu o cargo de presidente desde 1914. Nesse ano trabalhou como médica escolar e professora de Higiene, Puericultura, Anatomia e Fisiologia no Instituto Feminino de Educação e Trabalho em Odivelas.

Em janeiro de 1916 Manuel Cabete faleceu, mas Adelaide continuou o seu trabalho como ativista e como médica.

Em 1929 partiu para Luanda, onde continuou envolvida nas causas femininas e na escrita de artigos de especialidade. Lutou pelo direito de acesso à saúde e reivindicou a construção de uma maternidade pública, o que acabou por acontecer em Lisboa em 1932 com a Maternidade Alfredo da Costa. Em 1933 foi a primeira e única mulher a votar em Luanda.

Após um acidente em 1934, regressou a Lisboa, onde acabou por falecer a 14 de setembro de 1935.

Ao longo da sua vida Adelaide Cabete participou em vários congressos como palestrante: Congresso Internacional das Ocupações Domésticas (Bélgica, 1913), Congresso Internacional Feminino (Itália, 1923), Congresso Internacional das Mulheres (Estados Unidos, 1925), I e II Congressos Feministas da Educação (Lisboa, 1921 e 1928) e os Congressos Abolicionistas (Lisboa, 1956 e 1929).

Foram vários os artigos que publicou, destacando-se sempre a preocupação médica, social e feminista: Papel que o Estudo da Puericultura, da Higiene Feminina, etc deve desempenhar no Ensino Doméstico (1913); Proteção à Mulher Grávida (1924); A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas (1924); artigos diversos nas revistas Alma Feminina (1920-1929), Educação, Educação Social, O Globo, A Mulher e a Criança, Pensamento, O Rebate, Renovação (1925-1926).

Adelaide Cadete, para além da sua reivindicação dos direitos das mulheres, lutou para que as condições de acesso à saúde fossem alargadas, como o direito a uma licença de maternidade de um mês

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


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2024/02/26

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Maria Ulrich (1908 - 1988)


(Imagem retirada da internet)

Maria de Lima Mayer Ulrich nasceu a 9 de março de 1908 em Coimbra, filha de Rui Enes Ulrich, professor catedrático, e de Genoveva Lima Mayer. Estudou em França e Inglaterra e considerava que a ascendência alemã do seu pai e francesa da sua mãe em muito contribuíram para a sua educação e perspetiva da sociedade.

A família Mayer veio para Portugal cerca de 1840. Carlos Mayer, avô de Maria, pertenceu ao grupo d’ Os Vencidos da Vida. A sua mãe esteve sempre ligada à cultura e conviveu com inúmeras personalidades desse mundo.

Maria Ulrich foi educada em casa nos primeiros anos da sua vida, mas em 1921 partiu para França onde prosseguiu os seus estudos no Pensionnat St. Joseph. Em 1934 o seu pai foi nomeado embaixador em Londres e Maria acompanhou a família. Aí teve acesso a uma enorme diversidade cultural e política, contrastante com a situação vivida em Portugal.

Em 1935 regressou e ficou dececionada com o panorama cultural português e com o atraso que se vivia. Conheceu Júlia Guedes, presidente da Ação católica Portuguesa. Em 1938, Maria foi convidada para Presidente da Juventude Independente Católica Portuguesa, aproveitando a organização para dinamizar a sociedade. Participou em várias campanha e inquéritos nacionais e concluiu que a educação era o principal problema em Portugal.

Em 1950 deixou a organização para acompanhar novamente a família a Londres e elaborou as bases de um projeto de formação de educadoras de infância. Contatou com as escolas Montessori e com as escolas de educadoras francesas, aprofundando os seus conhecimentos de pedagogia. Quando regressou fundou em 1954 a Escola de Educadoras de Infância. O seu objetivo era formar profissionais competentes e interventivas socialmente, transmitindo valores humanos e democráticos.

Em 1957 fundou a Associação de Pedagogia Infantil, constituída pela Escola de Educadoras de Infância e pelo Colégio O Nosso Jardim. Em 1969 criou a biblioteca Infantil À Descoberta, aberta a toda a comunidade. Em 1974 inaugurou um Centro de Documentação na Escola de Educadoras de Infância, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1986 criou a Associação Casa Veva de Lima, em homenagem à sua mãe.

Juntamente com Berta Peixoto lançou as bases da Fundação Maria Ulrich, com o objetivo de promover ações de formação nas áreas da educação e cultura. A educadora faleceu em 1988 e em 1989 foi instituída a Fundação, visando a construção de uma nova humanidade.

 


Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003. 


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