João
Augusto dos Santos nasceu a 15 de setembro de 1913 em Lisboa, no seio de uma
família de republicanos e defensores da classe operária. Filho de Augusto
Santos, alfaiate e de Justina de Jesus Santos, frequentou a escola primária a
partir de 1919, enfrentando um problema de dislexia que o marginalizou. O seu
pai proporcionou-lhe uma vida ao ar livre e o contato com pessoas de várias
profissões.
A
partir de 1924 passou para o Liceu Gil Vicente e em 1929 ingressou na Escola
Superior de Educação Física que concluiu em 1936. Durante este período
interessou-se por obras de pedologia, pedagogia e psicologia. Lecionou no
ensino particular e deu aulas gratuitas de ginástica às crianças dos bairros
carenciados de Alfama e Barcarena.
Em
1931 frequentou o curso de Medicina, em Coimbra, que abandonou ao final de um
ano. Conheceu Viana de Lemos que se tornou se amigo e que João dos Santos
considerou sempre um modelo de pedagogo.
Em
1934 retomou Medicina em Lisboa, tendo concluído o curso em 1939. Em 1940
seguiu a especialização em Psiquiatria Infantil sob a orientação de Vítor
Fontes, no Instituto Aurélio da Costa Ferreira. Em 1941, especializou-se em
Psiquiatria Geral, orientado por Barahona Fernandes nos Hospitais Miguel
Bombarda e Júlio de Matos.
Em
1944 procedeu a mudanças estruturais na Secção Infantil do Hospital Júlio de
Matos: maior rigor científico, observações psicopatológicas, novas terapias,
formação do pessoal hospitalar, educação e formação das crianças.
Em
1945 fez um estágio no serviço de Neurologia do Hospital Escolar, orientado por
António Flores. No Instituto Aurélio da Costa Ferreira, João dos Santos rompeu
com a médico-pedagogia da instituição, pois não concordava com a “psiquiatrização”
das dificuldades de aprendizagem das crianças, que eram rotulados como “débeis
mentais”. As dificuldades destas crianças deviam-se, em grande parte dos casos,
a problemas familiares e a ambientes sociais desfavoráveis. Como tal, abandonou
o Instituto e ainda em 1945 foi transferido para os Serviços de Psiquiatria
Geral do Hospital Júlio de Matos.
Em
outubro deste ano participou numa reunião do MUD (Movimento de Unidade
Democrática) assinando um documento que pedia eleições livres, lutando por
ideais de democracia e liberdade. Em consequência, em 1946, foi despedido do
seu cargo e proibido de entrar em qualquer hospital de Lisboa. Recorreu ao
exílio, em Paris, onde trabalhou como funcionário público.
Os
anos em Paris foram profícuos no desenvolvimento intelectual do educador que
contatou com vários vultos internacionais da psicologia e psiquiatria, bem como
cientistas, artistas e políticos. Em 1947 foi admitido pela Comissão de Ensino
da Sociedade Psicanalítica de Paris e em 1948 participou no Congresso Mundial
dos Intelectuais para a Paz.
1950
foi o ano de regresso a Portugal, tendo começado a trabalhar na clínica de Barahona
Fernandes. Durante este período lutou por uma ação concertada entre a educação
e a saúde e tornou-se participante de um grupo da Seara Nova, estudando a reforma do ensino. Promoveu inúmeras
palestras na área da Psiquiatria infantil e incentivou a criação de equipas nos
Serviços de Saúde Mental que interagissem com os pacientes e a respetiva
família.
Entre
1951-52 fundou os primeiros centros psicopedagógicos em Portugal a funcionar n’
A Voz do Operário e no Colégio Moderno. Em 1952, em colaboração com a
enfermeira Rosélia Campos, criou a Secção de Higiene Mental no Centro de
Assistência Materno-Infantil de Campo de Ourique que se especializou na
prevenção de distúrbios infantis através da ajuda à grávida, uma iniciativa
verdadeiramente inovadora em todo o mundo.
Em
1954 participou na fundação do Colégio Eduardo Claparède e criou um Seminário
Psicopedagógico promovendo o diálogo entre professores e técnicos e,
posteriormente, entre pais, alunos, professores e técnicos.
Em
1955 criou o Centro de Recuperação Visual e Classes de Amblíopes (mais tarde
Centro Infantil Hellen Keller) na Liga da Profilaxia da Cegueira em conjunto
com Henrique Moutinho e Maria Amália Borges. Voltou a ser admitido no Hospital
Júlio de Matos, dirigindo a Secção Infantil.
Juntamente
com outros profissionais fundou, em 1956, a Liga Portuguesa dos Deficientes
Motores; em 1958, a Associação Portuguesa de Surdos e a Secção de Paralisia
Cerebral da Liga Portuguesa de Deficientes Motores; em 1959, o Dispensário e
Centro de Reabilitação para Cegos da Fundação Sain; em 1964, a Secção de Saúde
Mental no Centro Materno-Infantil José Domingos Barreiros; em 1965, o Centro de
Saúde Mental Infantil de Lisboa; em 1971, a Liga Portuguesa contra a Epilepsia;
em 1973, a Sociedade Portuguesa de Psicanálise.
Após o
25 de abril de 1974 integrou uma Comissão para regulamentar a política de proteção
à saúde materno-infantil, tendo projetado a criação do Instituto da Criança. Em
1975 foi responsável pelo projeto A Casa da Praia que fornecia apoio pedagógico
às crianças da área em que se inseria.
Com a
criação da nova Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade
de Lisboa em 1977, passou a lecionar aqui, coordenando o Curso de
Psicopatologia Dinâmica até 1982. Até falecer participou em rúbricas na rádio e
publicou vários artigos.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS