2022/05/05

Exposição na Torre do Tombo: Projeto Tesouros Digitais Europeus: Exposição - "Exílios, fluxos migratórios e solidariedade"



A nova exposição “Exílios, Fluxos Migratórios e Solidariedade”, na Torre do Tombo até 30 de junho de 2022 e de entrada gratuita, permite explorar 47 documentos-chave de vários arquivos europeus, que ajudam a compreender melhor estas e outras questões que preocupam a Europa atual.

Esta é a última de três exposições transmedia lançadas no âmbito do projeto "Tesouros Digitais Europeus", que traz a Portugal alguns dos tesouros documentais europeus guardados em arquivo desde tempos remotos, e que podem agora ser explorados usando jogos e realidade aumentada.

Esses tesouros incluem documentos relacionados com o “Passaporte de Nansen”, o processo contra o diplomata português Aristides de Souza Mendes, o fim da perseguição dos judeus em Portugal e as lotarias para apoio aos refugiados.

Numa altura em que a Europa enfrenta graves crises migratórias, esta exposição, fruto da cooperação europeia, analisa questões como exílios e fluxos migratórios numa perspetiva histórica ao longo de vários séculos até à atualidade.

O catálogo da exposição pode ser consultado on-line, bem como o press release. Para mais informações consulte o site da DGLAB


Informações Gerais:

Duração
28 de abril a 30 de junho de 2022

Localização

Edifício da Torre do Tombo, Alameda da Universidade

1649-010 LISBOA

Horário

Segunda a sexta: 9h30-19h30

Sábado: 9h30-12h30

Entrada livre

Entidades promotoras

A exposição “Exílios, Fluxos Migratórios e Solidariedade” foi desenvolvida no âmbito do projeto Tesouros Digitais Europeus por um consórcio formado pelos Arquivos Nacionais de Portugal, Espanha, Malta, Noruega e Hungria, bem como as organizações internacionais Ícarus e MTU – Munster Technological University, apoiado pelo programa europeu “Europa Criativa”.

Mulheres na ciência: Seomara da Costa Primo (1895 -1986)


Seomara da Costa Primo (1895-1986) distinguiu-se em diversas áreas, quer como professora do Ensino Liceal e Universitário, quer como investigadora, bem como como desenhadora e ilustradora. Transcrevemos o texto de Guida Aguiar de Carvalho, com ligeiras alterações, disponível no site da Escola Secundária Seomara da Costa Primo

 

“Filha de Maria Luísa Buttuller e de Manuel da Costa Primo, nasceu em Lisboa, na freguesia do Socorro, no dia 10 de Novembro de 1895 e veio a falecer na Amadora, onde viveu cerca de meio século, no dia 2 de Abril de 1986.

Frequentou como aluna o liceu Passos Manuel, enquanto vivia com seu pai na Rua de S. João da Praça. Nesse liceu, terminou o Curso Complementar de Ciências em 1913, entrando de seguida na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde concluiu o Curso de Ciências Histórico-Naturais em 1919.

No decurso do ano letivo de 1917-18 frequentou na Faculdade de Medicina as cadeiras de Histologia e Embriologia. Em 1942 defendeu a Tese de Doutoramento, tendo sido a primeira mulher a doutorar-se em Ciências, o que lhe valeu a divulgação do ocorrido na Imprensa quotidiana bem como o acesso à cátedra de Botânica na Faculdade de Ciências de Lisboa em 1943.

Foi como professora do Ensino Liceal - cargo que viria a acumular com a docência Universitária entre 1921 e 1942 - que desenvolveu intensa atividade tanto no campo científico e pedagógico como no associativo.

Tendo frequentado o Curso do Magistério Liceal, diplomou-se pela Escola Normal Superior e concluiu o Exame de Estado no ano de 1922. Lecionou no antigo Liceu Almeida Garrett e no seu sucessor, Maria Amália Vaz de Carvalho, tendo deixado nas suas alunas uma forte impressão abonatória, que ainda hoje é vivamente recordada.

Foi autora de diversos compêndios para o Ensino Liceal, de Botânica, de Biologia e de Zoologia -profusamente ilustrados com aguarelas e carvões executados por si- que acompanharam gerações de alunos do Ensino Liceal, entre os anos trinta e setenta. O seu gosto pelo desenho e pela pintura permite encontrar no seu espólio um número muito significativo de aguarelas, representando plantas e animais.

O nome de Seomara da Costa Primo surge também associado à Federação das Associações dos Professores dos Liceus Portugueses (cujos Estatutos foram aprovados em Maio de 1926), não só pelo facto de desde 1927, ter feito parte dos seus corpos gerentes, mas igualmente por ter apresentado diversas comunicações nos Congressos realizados pela Associação. 

Pintura

ME/402760/81

Escola Secundária Seomara da Costa Primo

Pintura de aguarela, representando dois pássaros sobre um galho de árvore, de forma realista e pormenorizada. 



Foi pela mão da Professora Seomara que o cinema educativo se estreou no Liceu Maria Amália, no dia 24 de Junho de 1929, com o filme "Chang", de que o suplemento de "O Século" (o "Cinéfilo") faz eco, ao publicar um extenso artigo de Seomara intitulado "«Chang», Uma lição no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho", onde, para além de uma história breve do Cinema, são salientadas as vantagens do cinema educativo como forma de aproximar os alunos da realidade.

No suplemento de "O Século", o "Modas & Bordados", dirigido por Maria Lamas, é revelado o interesse de Seomara relativamente à Cruz Vermelha Infantil, organização ligada à Sociedade das Nações, ao proferir, em Lisboa, no dia 25 de Junho de 1930, uma conferência sob o título "A educação e a cruz vermelha da mocidade".

Quanto à educação, Seomara pensava que: "A educação não consiste já na acumulação de noções por vezes demasiada, numa exagerada fase intelectual -conjunto de noções mal fixadas umas, mal interpretadas outras, por vezes mal usadas todas- consiste antes na preparação do indivíduo para a vida, visando aquela seleção e cultura das qualidades da raça, tornando-o apto a agir e a vencer no meio a que é destinado" (Primo, 1939). Mas, para além desta visão global da educação, também se pronuncia relativamente à necessidade de adoção de novos métodos de ensino - o que, aliás, o discurso curricular oficial irá propor, sem no entanto realizar - e tomando uma posição crítica relativamente aos programas do ensino liceal : "...transformação dos métodos de ensino em métodos ativos, que tendem a favorecer a atividade pessoal da criança, procurando rodeá-la das mesmas condições que encontrará na vida, levando-a a resolver problemas em que é colocada, dentro das suas forças e da sua mentalidade, o que é certo é que também nos nossos programas muito pouco se cuida dos problemas da vida." (Primo, 1930).

Também a especificidade feminina foi objeto de referência, no que concerne ao papel da mulher na sociedade e à educação das raparigas: "Quanto mais esclarecida (...) for [a mulher], tanto mais elevará a sua missão de mãe. A cultura nunca fará mal às raparigas. Poderá resultar melhor até, porque é a mulher, de facto, quem exerce mais influência no espírito dos filhos. Fomentar, pois, a sua cultura, elevar a sua mentalidade, é pedra de toque de um país verdadeiramente civilizado" (Primo, 1943).

Seomara foi autora de inúmeros artigos de índole científica, publicados na imprensa da especialidade, bem como em órgãos de divulgação, tendo sido citada na imprensa estrangeira. Efetuou diversas viagens de estudo de âmbito científico e pedagógico, à França, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suíça.

Imagem parietal de hereditariedade

ME/402436/444

Escola Secundária de Passos Manuel

Quadro de fundo creme, com desenhos de pormenor sobre as Leis de Mendel, a negro e a cores, demonstrando grande rigor científico. 


Apesar de ter lutado pela dignificação da profissão docente e pelo estatuto da mulher na sociedade portuguesa e de ter veiculado esses princípios junto das pessoas que com ela conviveram, os seus últimos anos de vida foram passados com grandes dificuldades de subsistência.”

No decorrer da sua vida, Seomara publicou várias obras de caráter cientifico, alguns manuais escolares e imagens parietais. No Museu Virtual da Educação estão identificados 155 registos da autoria de Seomara da Costa Primo, entre os quais, pinturas, desenhos e imagens parietais de ciências naturais. Este espólio encontra-se distribuído por várias escolas, entre as quais a Escola Secundária D. João de Castro, Escola Secundária de Passos Manuel, Escola Secundária Josefa de Óbidos, Escola Secundária Rainha D. Amélia, Escola Secundária Rainha D. Leonor, Escola Secundária Alves Martins e Escola Secundária Seomara da Costa Primo.

 

MJS 

2022/05/02

Mulheres na ciência: Alice Ball (1892 - 1916)

 


Alice Augusta Ball nasceu em Seattle em 1892, filha de James Presley, editor de um jornal, fotógrafo e advogado, e de Laura Louise Ball, no seio de uma família da classe média. Foi uma química norte-americana que desenvolveu o primeiro tratamento eficaz para a lepra. Trata-se da primeira mulher afroamericana a obter uma licenciatura e um mestrado na Universidade do Havai.

A sua família mudou-se para o Havai em 1903, mas regressou aos Estados Unidos um ano e meio depois, devido à morte do seu avô, James Presley Ball, um famoso fotógrafo.

Alice estudou química na Universidade de Washington e obteve graus de bacharelato nas áreas de farmácia e química. Juntamente com o seu orientador, publicou um artigo no Journal of the American Chemical Society com o título de Benzoylations in Ether Solution.

Ball recebeu uma bolsa de estudo para a Universidade do Havai, onde obteve o mestrado em química, tornando-se a primeira mulher afroamericana a obter este grau nesta instituição.

A sua pesquisa de pós-graduação incidiu sobre a composição química e principio ativo de uma planta natural das Ilhas do Pacífico, a kava (Piper methysticum). Procurou igualmente desenvolver um método para isolar os princípios ativos do óleo de chaulmoogra. Este óleo era utilizado para tratar a lepra, mas o seu uso prolongado causava alguns problemas de estômago.

A lepra, doença de Hansen ou hanseníase é uma infeção causada por bactérias. Leva ao aparecimento de granulomas nos nervos, pulmões, pele e olhos que formam lesões e infeções sucessivas. É transmitida por via oral (tosse ou muco nasal) e pode ser tratada atualmente através de antibióticos ou outros medicamentos.


Alice desenvolveu um processo para isolar os compostos a fim de os tornar injetáveis. No entanto, faleceu antes de publicar os seus resultados. Foi Arthur L. Dean, presidente da Universidade do Havai, que continuou a pesquisa, publicando os resultados, sem dar créditos a Alice e iniciando a produção em larga escala. Harry T. Hollmann, que já tinha trabalhado com Alice, alertou para esta situação de apropriação de propriedade intelectual.

O método concebido por Ball foi usado até aos anos 40, altura em que surgiram outro tipo de medicamentos.

Alice Ball faleceu aos 24 anos a 31 de dezembro de 1916 em Seattle de causa indeterminada: tuberculose ou envenenamento por cloro.

 

 

MJS